Criticismo

A filosofia crítica de Kant é um método de investigação que determina os limites da razão e os critérios para o conhecimento.

Método proposto por Kant, o criticismo é um posicionamento filosófico que busca investigar os limites da razão, entender o modo como um objeto é definido e estabelecer quais os critérios para esse conhecimento. A seguir, conheça a origem e as características da filosofia crítica de Kant.

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O criticismo e sua origem

O criticismo é uma posição metodológica desenvolvida pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804). O método foi criado para investigar os fundamentos do conhecimento e para superar tanto o empirismo quanto o racionalismo. O criticismo questiona seu objeto de estudo, isto é, o próprio conhecimento e seus limites.

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Dogmatismo
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O momento ideal é o responsável pela origem do universo. O conhecimento verdadeiro só é possível por meios inteligíveis. Conheça a corrente filosófica do Idealismo.
Fenomenologia
A fenomenologia é uma filosofia que propõe um modo de conhecer os fenômenos na relação direta com a experiência.

O contexto de debate kantiano é a epistemologia, ou seja, ocupa-se do conhecimento científico. As visões que predominavam na época eram a empirista e a racionalista. O empirismo, defendido por David Hume, John Locke e George Berkeley, entendia que o conhecimento é obtido primeiramente pelos sentidos e pela experiência. Já o racionalismo, representado por René Descartes, Baruch Spinoza, Blaise Pascal e Gottfried Wilhelm Leibniz, defendia que o conhecimento só é alcançado por meio de um processo racional e inteligível.

Kant propõe uma teoria com a tentativa de superar as duas anteriores, pois, segundo ele, o conhecimento resulta da junção das duas faculdades, sensibilidade e entendimento, para então constituir o sujeito do conhecimento. Na teoria kantiana, o criticismo surge na segunda fase do filósofo, iniciada a partir de 1781 com a publicação da Crítica da razão pura.

Características do criticismo

Composto pela três críticas de Kant, Crítica da razão pura, Crítica da razão prática e Crítica do juízo, o criticismo se empenha em responder quatro perguntas fundamentais, que guiarão a metodologia kantiana:

  • O que posso saber?: relacionada à metafísica, essa questão busca investigar as possibilidades e legitimidades do conhecimento humano. Na Crítica da razão pura, Kant formula a ideia de filosofia transcendental, ou seja, uma filosofia que se ocupará do modo como conhecemos um objeto. A partir dos juízos sintéticos e analíticos, o filósofo tentará explicar o problema levantado. Os juízos analíticos são lógicos e não produzem conhecimento, apenas explicitam uma relação (ex. “todo triângulo tem três lados”, é um juízo que não acrescenta nada de novo), portanto, são a priori, ou seja, não dependem da experiência. Já os juízos sintéticos dependem da experiência e são a posteriori (ex. “a água ferve a 100ºC). Por fim, existem os juízos sintéticos a priori, que dizem respeito à condição de possibilidade da experiência.
  • O que devo fazer?: nesse caso, o criticismo kantiano atua pela moral. Diferente da área epistemológica (que fala sobre o conhecimento e trata o homem como sujeito do conhecimento), no campo ético, Kant entende o homem como um agente livre e racional. Para ele, a ética é prescritiva, ou seja, é uma ética do dever, que consiste na obediência a uma lei universal que se impõe a todos os seres, chamada de imperativo categórico.
  • O que posso esperar?: essa questão trata do problema da esperança abordado pela religião. Segundo Kant, não é possível conhecer objetos suprassensíveis, ou seja, os assuntos da religião. Para ele, a esperança está ligada ao mundo e às ações que seguem o imperativo categórico, portanto, é possível esperar uma recompensa final – dentro da fé eclesiástica – desde que as ações morais tenham sido guiadas pela ética universal.
  • O que é o homem?: pergunta que é objeto da antropologia, porém, precisa das três perguntas anteriores para alcançar uma resposta. Desse modo, é possível entender o que, de fato, é o ser humano, um sujeito racional, livre e agente.

O criticismo é contrário ao dogmatismo, porque, para Kant, o dogmatismo é um procedimento que dá todo poder à razão, sem sujeitá-la a uma crítica para investigar seus próprios poderes e limites. Portanto, a função do criticismo é traçar os limites da razão e estabelecer os critérios para um conhecimento legítimo.

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Kant: o filósofo do criticismo

Como apresentado anteriormente, Kant é o filósofo que introduziu o método do criticismo para conseguir suplantar sua teoria, que tinha como objetivo superar a dicotomia entre empirismo e racionalismo. A filosofia crítica de Kant quer dar conta da possibilidade do homem conhecer algo real e agir de modo livre. Veja as principais obras do filósofo:

  • Crítica da razão pura (1781);
  • Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? (1783);
  • Fundamentação da metafísica dos costumes (1785);
  • Crítica da razão prática (1788);
  • Crítica do juízo (1790);

Sua obra Crítica da razão pura é, sem dúvidas, uma das mais influentes na história da filosofia. Já Crítica do juízo serviu de influência para a estética do romantismo alemão.

Empirismo e criticismo

De acordo com o empirismo, o conhecimento verdadeiro só pode provir da experiência. Os filósofos empiristas que mais influenciaram Kant foram David Hume e Francis Bacon, para esse último, Kant dedicou a obra Crítica da razão pura.

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O contato com o empirismo foi importante para Kant perceber que a experiência exercia um papel fundamental na obtenção do conhecimento. Daí a concepção dos juízos analíticos e sintéticos. Com esses dois conceitos, o criticismo kantiano foi capaz de conceber o conhecimento tanto pela sensibilidade (empiria) quanto pela racionalidade (ratio).

Portanto, existe um ponto em comum entre empirismo e criticismo: ambos consideram a experiência para a obtenção de conhecimento. A grande diferença é que, para o criticismo de Kant, a experiência sozinha não basta, o entendimento também é necessário. Para Kant, a sensação diz respeito às formas puras de sensibilidade, ou seja, as intuições de espaço e tempo. Já o entendimento se relaciona com as contribuições dos conceitos puros, as categorias. Com isso, para a filosofia kantiana, o foco do conhecimento passa a ser o sujeito e não mais o objeto, essa inversão ficou conhecida como Revolução Copernicana.

Aprofunde-se no criticismo kantiano

Com esses quatro vídeos, você poderá ter um panorama bem mais completo da filosofia kantiana, passando pelas teorias que Kant critica e, por fim, é possível aprofundar-se no caminho percorrido pelo filósofo, com uma excelente fala do professor Daniel Omar Perez.

Origem do criticismo kantiano

Nesse vídeo do canal Boteco Humanístico, é feita uma explicação panorâmica do contexto de debate kantiano, recapitulando as teorias do racionalismo e do empirismo, para então explicar os conceitos kantianos que partem da Crítica da razão pura.

Criticismo x dogmatismo e ceticismo

No vídeo do canal Conexão Filosófica, Marcos Ramon apresenta o método do criticismo. No vídeo, o criticismo é posto em contradição ao dogmatismo e ao ceticismo, teorias combatidas por Kant. Também são bem explicados os conceitos de juízos sintéticos e analíticos.

Projeto crítico kantiano

Esse vídeo da Casa do Saber é muito interessante porque mostra um percurso da vida e da filosofia de Kant. O professor da UNICAMP Daniel Omar Perez explica o projeto da Crítica da razão pura de forma didática e paciente, retomando os trabalhos anteriores do filósofo.

Continuando o projeto crítico kantiano

Esse vídeo é a continuação do vídeo anterior, completando o pensamento apresentado do percurso das críticas kantianas. O professor Daniel Omar Perez explica o objeto ético kantiano e o imperativo kantiano.

Gostou dessa matéria? Confira o pensamento do filósofo responsável por mudar o pensamento de Kant, David Hume.

Referências

KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Gulbenkian, 1989.
KANT, I. Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1974.
MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
SALVADOR, A. J. O que posso esperar? Ética e Esperança em Immanuel Kant. Anais. v. 5 n. 5 (2020): II Encontro de Pesquisa FAJE, 2021.

Marilia Duka
Por Marilia Duka

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.

Como referenciar este conteúdo

Duka, Marilia. Criticismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/criticismo. Acesso em: 30 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UNCISAL (2011)]

No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant formulou as hipóteses de seu idealismo transcendental. Segundo Kant, todo conhecimento logicamente válido inicia-se pela experiência, mas é construído internamente por meio das formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas do entendimento. Dessa maneira, para Kant, não é o objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscente, mas sim o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas sensíveis e intelectuais.

De acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que:

a) A mente humana é como uma “tabula rasa”, uma folha em branco que recebe todos os seus conteúdos da experiência.

b) Os conhecimentos são revelados por Deus para os homens.

c) Todos os conhecimentos são inatos, não dependendo da experiência.

d) Kant foi um filósofo da antiguidade.

e) Para Kant, o centro do processo de conhecimento é o sujeito, não o objeto.

A alternativa E é a correta.
Kant propõe que o conhecimento parte do sujeito, na junção da sensibilidade (intuição) e do entendimento (categorias).

2. [UEMA 2011]

Na perspectiva do conhecimento, Immanuel Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém informações corretas sobre o criticismo kantiano é:
a) A razão estabelece as condições de possibilidade do conhecimento; por isso independe da matéria do conhecimento.
b) O conhecimento é constituído de matéria e forma. Para termos conhecimento das coisas, temos de organizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo.
c) O conhecimento é constituído de matéria, forma e pensamento. Para termos conhecimento das coisas temos de pensá-las a partir do tempo cronológico.
d) A razão enquanto determinante nos conhecimentos fenomênicos e noumênicos (transcendentais) atesta a capacidade do ser humano.
e) O homem conhece pela razão a realidade fenomênica porque Deus é quem afinal determina este processo.

A alternativa B é a correta.
Para Kant, o conhecimento é composto por matéria e forma, empiria e ratio. Mas só podemos conhecer quando nos submetemos às formas puras da sensibilidade (intuição) de tempo e espaço.

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