Fenomenologia

A fenomenologia é uma filosofia que propõe um modo de conhecer os fenômenos na relação direta com a experiência.

A fenomenologia foi um movimento filosófico bastante importante no século XX. Na época, ela emergiu como uma ideia que confrontava os fundamentos teóricos tradicionais. Assim, foi alvo de polêmicas e até chamada ironicamente de “positivista”. Saiba mais sobre esse tema a seguir.

Publicidade

O que é Fenomenologia

A fenomenologia é uma atitude ou método de conhecimento formulada por volta de 1900 por Edmund Husserl, influenciado sobretudo por Franz Brentano. Mais tarde, na década de 1910, ela tornou-se um movimento filosófico.

Relacionadas

Empirismo
O empirismo afirma que todo o conhecimento e a verdade é baseada na experiência e nos sentidos.
Filosofia Moderna
A filosofia moderna deu espaço a novas formas de pensar, deixando a religião de lado e dando mais autonomia ao ser humano.
Racionalismo
"Penso, logo existo", uma das frases mais conhecidas da filosofia pertence a um dos grandes racionalistas: René Descartes.

O objetivo da fenomenologia é conhecer os fenômenos tal como eles se apresentam na consciência humana. Assim, a proposta é a de suspender, à princípio, as generalizações científicas ou filosóficas: o início da investigação deve ser o próprio fenômeno.

Portanto, a fenomenologia não é um sistema de pensamento, mas uma forma de conhecer e de descrever aquilo que se manifesta como um “fenômeno”.

Fenomenologia e Husserl

Edmund Husserl foi um filósofo alemão que viveu de 1859 até 1938. Na época, ele enfrentava um problema na filosofia sobre o conhecimento. Nesse contexto, o debate era dividido entre dois grupos: de um lado, os empiristas e, de outro, os idealistas.

Contudo, a fenomenologia não se dá nessa oposição. Segundo Husserl, conhecer um fenômeno é uma vivência da consciência – ou seja, é um ato intencional. Portanto, a ação de conhecer não está na realidade do objeto ou no campo das ideias, mas na experiência direta com o fenômeno.

Publicidade

Desse modo, a fenomenologia rompe com a oposição entre sujeito e objeto. Ao invés dessa dualidade, sujeito-objeto torna-se uma relação.

Essa defesa da relação direta com o objeto de conhecimento fez Husserl se considerar, ironicamente, como um “positivista”. Apesar disso, suas ideias deram início a um movimento fenomenológico na década de 1910, com diversos autores aderindo ao seu pensamento.

Fenomenologia e Hermenêutica

A fenomenologia não se consagra como um sistema filosófico fechado e pronto. Assim, após se tornar um movimento aderido por muitos, ela serviu como um ponto de partida para diferentes autores pensarem questões diversas.

Publicidade

Por sua vez, hermenêutica se refere à arte de interpretar, ou as diferentes formas de interpretação existentes. Sendo assim, alguns autores pensaram a fenomenologia como um método interpretativo dos fenômenos. Um desses pensadores foi Heidegger.

Martin Heidegger

Heidegger foi um filósofo alemão, e é um dos expoentes da fenomenologia hermenêutica. Para ele, sua filosofia é um trabalho de interpretação daquilo que se manifesta no mundo, ou seja, o fenômeno.

Portanto, em uma abordagem fenomenológica, deve-se investigar algo como se fosse perseguindo-o, aos poucos. Mesmo que o que conhecemos de um objeto seja apenas uma perspectiva, ele se revela aos poucos, em uma relação direta com a experiência de quem o estuda.

Fenomenologia existencial

O existencialismo é uma corrente teórica na filosofia que se tornou bastante conhecida principalmente com Jean-Paul Sartre, por volta de 1945. Entretanto, antes dele, Martin Heidegger já pensara em uma relação entre fenomenologia e existencialismo.

Outro autor que aprofundou nessa relação foi Maurice Merleau-Ponty. Para ele, a preocupação do existencialismo com a existência ou o “ser” estava relacionada com o foco da fenomenologia na experiência.

Assim, conforme Merleau-Ponty, a consciência não pode ser pensada como separada do próprio corpo e sua vivência. Consequentemente, ele foi um filósofo responsável por teorizar a existência e a percepção de modo integrado com o corpo.

Videoaulas sobre a abordagem fenomenológica

Em suma, a fenomenologia é um modo de conhecer e de investigar sobre o mundo. Por isso, a partir dessa postura filosófica, diversos autores estudam os fenômenos de uma variedade de campos. Sendo assim, confira a seguir uma seleção de vídeos que trabalham com o tema:

A proposta da fenomenologia

No vídeo acima, retome algumas premissas básicas da fenomenologia, além de sua relação com uma abordagem psicológica do assunto. Assistir a um especialista abordar o tema pode ajudar a compreender melhor o conteúdo trabalhado.

As ideias de Husserl

Edmund Husserl foi o principal representante do movimento fenomenológico. A partir dele, dois grupos surgiram: Círculo de Göttingen e Círculo de Munique. Portanto, entender mais sobre esse autor é imprescindível ao tratar de fenomenologia.

Fenomenologia X existencialismo

O existencialismo emergiu fortemente em momentos próximos com a fenomenologia, principalmente na França após a Segunda Guerra Mundial. No vídeo acima, saiba mais sobre as relações entre essas duas abordagens filosóficas.

Fenomenologia e Gestalt-terapia

Uma das áreas mais influenciadas por essa filosofia é a psicologia. Dentre as abordagens psicológicas, a Gestalt-terapia é uma que a tem como uma de suas bases. Confira no vídeo essa relação e como o método fenomenológico é aplicado na psicologia clínica.

Assim, a fenomenologia faz parte de um momento importante da história recente da filosofia no século XX. Para uma maior compreensão dos debates filosóficos sobre o conhecimento e das abordagens atuais da psicologia, é imprescindível entender mais da ideia fenomenológica.

Referências

Acerca da fenomenologia existencial de Maurice Merleau-Ponty – José Luiz de F. Filho;

Considerações sobre a fenomenologia hermenêutica de Paul Ricoeur – Antonio Vicente Marafioti Garnica;

Fenomenologia e existencialismo: articulando nexos, costurando sentidos – Ariane P. Ewald;

Três definições da fenomenologia – Cristiano Perius.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Fenomenologia. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/fenomenologia. Acesso em: 16 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UEM]

“O pensamento moderno, não por objeção frontal, mas pelo desenvolvimento do próprio saber, leva a uma revisão das categorias clássicas, a uma reforma da ontologia clássica do sujeito e do objeto. O núcleo desse desenvolvimento – que deve levar, por sua vez, a uma nova filosofia – consiste na descoberta de que a situação, seja do ‛objeto’, seja do ‛sujeito’, não é mais passível de exclusão da trama do conhecimento. Dito de outra forma: o objeto ‛verdadeiro’, aquele de que a ciência trata, não é mais aquele objeto absoluto de que falavam os clássicos, mas se torna, intrinsecamente, relativo. Em suma, não há mais um objeto puro, em si, um objeto tal como o próprio Deus (isto é, um observador absoluto) o veria. Também não há mais esse sujeito absoluto, aquele que começava por afastar toda manifestação sensível, isto é, que começava por afastar, correlativamente, seu próprio corpo para colocar-se como puro espírito.”
(MOUTINHO, L. D. Merleau-Ponty: entre o corpo e a alma. In: Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEEDPR, 2009, p. 494.)

Sobre a nova filosofia de que fala o texto, assinale o que for correto.
01) A fenomenologia critica as distinções clássicas, tais como alma e corpo, sujeito e objeto, matéria e espírito, coisa e representação.
02) O ponto de vista de Deus não é mais possível, nem necessário, para a renovação da filosofia.
04) O positivismo é esta filosofia nova, pois revoga a ontologia clássica.
08) Merleau-Ponty privilegia o corpo, pois, através dele, o homem constitui-se de uma consciência fática ou concreta.
16) A situação do objeto e do sujeito é relativa, pois a fenomenologia é o retorno à isegoria dos gregos e ao “meio termo” de Aristóteles.

Resposta: 01 + 02 + 08 = 11

Justificativa: apesar de ironicamente se denominar como um “verdadeiro positivismo”, a fenomenologia não se confunde com ela, e nem propõe um retorno à filosofia aristotélica. No entanto, ela reitera a importância de retirar de cena a oposição entre sujeito e objeto, vendo-o como uma relação, e, no caso de Merleau-Ponty, dar ênfase no corpo para entender a experiência do conhecimento.

2. [UEM]

A fenomenologia é um método e uma filosofia que surge no final do século XIX, com Franz Brentano, tendo como um dos principais representantes o filósofo Edmund Husserl. Sobre a fenomenologia, assinale o que for correto.
01) A fenomenologia de Edmund Husserl procura superar as teorias do conhecimento empirista e idealista, como também o dualismo entre o sujeito e o objeto.
02) Para a fenomenologia, a consciência é sempre consciência de alguma coisa; portanto, não há uma realidade pura, isolada do homem, mas a realidade enquanto ser percebido.
04) O filósofo alemão Martin Heidegger, pertencente à escola fenomenológica, resgata um conceito de verdade desenvolvido pelos gregos arcaicos: o conceito de alétheia, que significa o não oculto, aquilo que se mostra ou se desvela.
08) O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty defende uma concepção dualista para a matéria e o espírito. De um lado, estão os objetos e o corpo, de outro, o sujeito e a consciência.
16) A gestalt, corrente da Psicologia que se desenvolveu no começo do século XX, ao reconhecer a influência da fenomenologia, opõe-se à psicologia de tendência positivista.

Resposta: 01 + 02 + 04 + 16 = 13

Justificativa: a fenomenologia não defende uma oposição entre sujeito e objeto, espírito e matéria. Ao contrário, se opõe a essas dualidades clássicas e considera o processo de conhecimento na experiência mais concreta na relação da consciência com o mundo percebido. Tendo como Heidegger um de seus principais representantes, uma abordagem psicológica que se inspira na fenomenologia é a Gestalt.

3. [UNICENTRO]

Qual o postulado básico da fenomenologia?
a) A fenomenologia afirma que o conhecimento não passa de uma interpretação da realidade, isto é, de uma atribuição de sentidos determinada por uma escala ontológica de valores, constituindo-se, portanto, numa metafísica dos costumes.
b) Em nome da verdade subjetiva, a fenomenologia recusa o projeto da filosofia moderna, recusando o pensamento analítico. Seu postulado básico afirma que o real deixa de ser racional.
c) A fenomenologia procede por decomposição, enumeração e categorização dos objetos, fragmentando-os. Seu postulado básico é estabelecer a dicotomia entre razão e experiência.
d) A fenomenologia pretende realizar a superação da dicotomia razão-experiência no processo do conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional, ou seja, o objeto só existe para um sujeito que lhe dá significado.
e) O postulado básico da fenomenologia é a metafísica fenomenológica, isto é, voltada para o reconhecimento do ser em si dos fenômenos, portanto, vinculada a uma noção de ser abstrata e a uma consciência transcendental.

Resposta: d

Justificativa: a fenomenologia retira a dualidade entre sujeito e objeto para propor que o conhecimento se produz na experiência de uma consciência vivida e intencional.

4. [UEM]

A filosofia de método fenomenológico foi criada na Alemanha pelo matemático e filósofo Edmund Husserl. A fenomenologia como teoria do conhecimento contesta tanto o empirismo quanto o idealismo. Para a fenomenologia, o empirismo conduz ao ceticismo, e o idealismo reduz o conhecimento a uma atividade puramente psicológica. Sobre a fenomenologia, assinale o que for correto.
01) Para a fenomenologia, só podemos alcançar a verdade reproduzindo, pelas experiências realizadas nos laboratórios, os fenômenos que observamos na natureza.
02) Edmund Husserl buscou nos Cursos de filosofia positiva, de August Comte, os princípios que irão fundamentar um método seguro para alcançar a verdade científica.
04) Da mesma maneira que Platão, a fenomenologia considera que o mundo sensível apresenta-se sob o engano da aparência. A verdade deve ser procurada no mundo inteligível das ideias.
08) A fenomenologia considera que a consciência é intencionalidade, ou seja, a consciência é sempre consciência de alguma coisa. Por isso, a fenomenologia não busca explicar a consciência, mas descrevê-la no ato do conhecimento. É a partir da intencionalidade da consciência que devemos entender como se produz o conhecimento.
16) O filósofo francês Jean-Paul Sartre encontrou na fenomenologia os fundamentos para elaborar a filosofia existencialista e sua concepção de liberdade.

Resposta: 08 + 16 = 24

Justificativa: a consciência é intencionalidade, e é vivida na experiência do conhecimento. Essa premissa fenomenológica foi uma premissa para filósofos existencialistas se inspirarem, e aí a sua relação tão próxima. Assim, a fenomenologia não é empirista, ressaltando o conhecimento obtido em laboratório como “experiência”, nem é equivalente ao positivismo; por outro lado, também não se filia ao idealismo que tem sua tradição em Platão.

Compartilhe

TOPO