David Hume

O filósofo autor da emblemática frase: "Que o sol não nascerá amanhã é tão contraditório quanto afirmar que o sol nascerá amanhã". Entenda as suas principais ideias de Hume.

Filósofo, historiador, diplomata e ensaísta, David Hume foi um importante pensador iluminista escocês do século XVIII. Dentre seus principais pensamentos, encontra-se a defesa do empirismo como método de obtenção de conhecimento. Hume, junto de John Locke e Berkeley compõe a tríade dos filósofos empiristas britânicos.

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Biografia

David Hume. Fonte: Wikimedia

Hume nasceu no dia 7 de maio de 1711 em Edimburgo e morreu no dia 25 de agosto de 1776, na mesma cidade. De família nobre, teve acesso à educação formal e desde jovem apresentava simpatia pela Filosofia e pelas Artes. Em 1734 foi para França, onde teve contato com diversos filósofos que influenciaram seu trabalhado, como Pierre Bayle e Nicolas Melebranche. Foi na França que Hume escreveu uma de suas principais obras: O tratado da natureza humana. De volta à França, em 1748, Hume escreve “Investigações sobre o entendimento humano”, sua obra-prima.

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O filósofo britânico era considerado um cético por alguns pensadores pelo modo como ele compreendia nossa apreensão do conhecimento e da realidade. Para Hume, o ato de conhecer a realidade que nos cerca está subordinado aos processos psicológicos e perceptivos do ser humano.

Hume desenvolveu seus estudos focando na teoria do conhecimento e na lógica. O filósofo se debruçou, entre outros assuntos, sobre o problema da causalidade, um tema que compõe o arsenal das questões filosóficas desde os gregos antigos. Além disso, outro tema muito trabalhado é o do conhecimento em si, o que podemos conhecer? Como podemos conhecer? E, principalmente, até onde podemos conhecer?

A teoria do conhecimento de Hume

A primeira grande contribuição de Hume é: não é possível alcançar o conhecimento absoluto na ciência indutiva. Ele fundamentou sua teoria do conhecimento nas percepções humanas que se diferem de acordo com o grau de vivacidade. Dessa forma, as percepções com alto grau de vivacidade são chamadas de impressões e as que são menos intensas, são chamadas de pensamento ou de ideias.

As ideias, por serem mais fracas, são cópias das nossas impressões, que se fundamentam nos nossos sentidos. Ainda sobre as ideias, Hume as separa em ideias simples e compostas. As simples são as coisas primárias, como as cores, por exemplo. As compostas são as coisas que podemos formas a partir das ideias simples, a imagem de uma quimera, por exemplo, é a junção de duas criaturas já existentes.

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Para Hume, o pensamento se forma a partir das impressões, seja de uma impressão imediata ou de uma anterior (como uma lembrança). No entanto, o filósofo distingue a apreensão do conhecimento em duas formas: as relações de ideias e as questões de fato.

Relações de ideias

Hume não acredita na existência de ideias inatas, haja vista que defende que todo o conteúdo do conhecimento seja formado a partir das percepções que temos do mundo. Existe, contudo, um conhecimento necessário e certo, como a matemática e a lógica, que são desdobramentos de conceitos e relações entre ideias.

O filósofo dá o exemplo de que três vezes cinco é metade de trinta. Segundo David Hume, isso é uma afirmação certa e necessária justamente porque a proposição “três vezes cinco” é idêntica à “metade de trinta” e independe das percepções do mundo.

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Questões de fato

Diferente das relações entre ideias, as questões de fato dependem da relação entre dois (ou mais) eventos ou fatos. Não pode ser compreendida apenas pelo pensamento, é preciso que a experiência tome parte no processo. As questões de fato fazem nosso conhecimento expandir, mas diferente das relações entre ideias, admitem contradições lógicas.

A famosa frase “o Sol pode não nascer amanhã” diz respeito justamente a isso. Essa afirmação é tão contraditória quanto a que diz que o sol nascerá amanhã, pois não é possível tomar tal afirmação como certa e necessária, já que não há nada que obrigue o Sol a nascer ou a deixar de nascer.

O empirismo de Hume

É nesse contexto da teoria do conhecimento que Hume defende o empirismo, ou seja, o uso da experiência para apreendermos a realidade e obtermos o conhecimento. É preciso salientar, no entanto, que para o filósofo, o conhecimento absoluto a respeito das coisas do mundo não é possível.

Para Hume, alcançamos o conhecimento por três mecanismos: semelhança (identidade), contiguidade tempo-espacial e causa e efeito. A semelhança é o processo resultante da relação das ideias e não produz um conhecimento novo, mas afirma a certeza de uma declaração já existente. A contiguidade no tempo e no espaço é o que faz as coisas terem seu lugar no mundo e, no caso das ideias, é o que dá ordem aos nossos pensamentos e lembranças.

O grande problema reside na causalidade. De acordo com Hume, não podemos provar a força externa ao nosso pensamento da causalidade, ou seja, não podemos provar que ela independe da nossa percepção. Por isso, Hume defende que a causalidade, na verdade, é um hábito.

Para ele, não existe nada que relacione “o Sol” com “nascer amanhã”, nada que a nossa experiência possa relacionar e nada que alguma ideia lógica possa relacionar, portanto, não existe a necessidade de que o Sol nasça. O que existe é o hábito: como o Sol nasceu todos os dias até agora, então acreditamos que também nascerá amanhã.

Principais obras de David Hume

Após rever os conceitos trabalhados em sua primeira obra, “Tratado da natureza humana”, Hume escreveu uma série de textos para aperfeiçoar o que foi estudado no livro anterior. Além disso, a partir de 1750, o filósofo passa a escrever uma série de ensaios que passaram por constantes revisões.

  • Tratado da Natureza Humana (1739);
  • Ensaios Morais, Políticos e Literários (1742);
  • Investigação sobre o entendimento Humano (1748);
  • A História da Inglaterra (1757);
  • História Natural da Religião (1757).

Cada obra de Hume foram essenciais e fizeram com ele fosse reconhecido como um importante filósofo empirista.

5 frases de David Hume

Veja a seguir as principais frases de Hume que traduzem as suas principais ideias e pensamentos. Acompanhe:

  1. “O hábito é o grande guia da vida humana”.
  2. “Assim como “o entendimento nunca observa uma conexão real entre objetos”; assim como “mesmo a união de causa e efeito, quando rigorosamente examinada, reduz-se a uma associação habitual de ideias”, da mesma forma “a identidade não é alguma coisa que pertença realmente a essas diferentes percepções e que as una umas às outras; é apenas uma qualidade que lhes atribuímos quando refletimos sobre elas, em virtude da união de suas ideias na imaginação”.
  3. “O papel principal da memória é conservar não simplesmente as ideias, mas a sua ordem e a sua posição.”
  4. “Quando uma bola de bilhar choca com outra, a segunda ‘deve’ mover-se.”
  5. “A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.”

Nessas frases de Hume, podemos encontrar alguns de seus pensamentos, como por exemplo, o problema da causalidade, a questão da identidade e o papel da memória. Assim como refletir sobre a natureza das coisas e aquilo que pensamos ser intrínseco a elas.

Saiba mais sobre David Hume

Confira a seleção a seguir para se aprofundar nos conceitos estudados durante o texto. Vale a pena assistir!

As principais ideias de Hume

Nesse vídeo, Mateus Salvadori faz uma análise do pensamento de Hume a partir dos conceitos de relações de ideias e questões de fato. Além de explicar detalhadamente sobre as impressões e as ideias.

Um resumo do pensamento de Hume

Nesse vídeo do canal da Lana Patrícia, você encontra um resumo dos conceitos de impressões e ideias, de forma sintética e visual. Aproveite para fazer uma revisão do conteúdo.

Sobre o problema da ciência indutiva

Assista esse vídeo para entender melhor sobre a crítica de Hume à ciência indutiva.

David Hume foi um importante filósofo que defendia o empirismo como método de obtenção do conhecimento. Continue seus estudos em filosofia e conheça as ideias de Francis Bacon, outro importante filósofo empirista.

Referências

COELHO, Jonas, Gonçalves. Hume: Ceticismo e demarcação .Ciência & Educação, v. 6, n. 2, p. 141-149, 2000
HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
MONTEIRO, J.P.G., Sobre a interpretação da epistemologia de Hume. Kriterion, Belo Horizonte, nº 124, Dez./2011, p. 279-291.

Marilia Duka
Por Marilia Duka

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.

Como referenciar este conteúdo

Duka, Marilia. David Hume. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/david-hume. Acesso em: 24 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM (2018)]

Quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram, a um exame mais atento, ser derivadas dela.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
Depreende-se deste excerto da obra de Hume que o conhecimento tem a sua gênese na

A) convicção inata.
B) dimensão apriorística.
C) elaboração do intelecto.
D) percepção dos sentidos.
E) realidade trascendental.

A alternativa D é a correta.
Para Hume, tudo o que podemos conhecer tem origem na percepção (impressões, mais fortes, e ideias, mais fracas). Como as ideias são menos vívidas que as impressões, todas nossas ideias são cópias de nossas impressões.
Hume não defendia o caráter inato, apriorístico ou transcendental das ideias.

2.

O texto abaixo comenta a correlação entre ideias e impressões em David Hume.
Em contrapartida, vemos que qualquer impressão, da mente ou do corpo, é constantemente seguida por uma ideia que a ela se assemelha, e da qual difere apenas nos graus de força e vividez. A conjunção constante de nossas percepções semelhantes é uma prova convincente de que umas são as causas das outras; […].

HUME, D. Tratado da natureza humana. São Paulo: Editora da Unesp/Imprensa Oficial do Estado, 2001. p. 29.
Assinale a alternativa que, de acordo com Hume, indica corretamente o modo como a mente adquire as percepções denominadas ideias.

A) Todas as ideias são formas a priori da mente e, mediante essas ideias, organizamos as respectivas impressões na experiência.

B) Todas as nossas ideias advêm das nossas experiências e são cópias das nossas impressões, as quais sempre antecedem nossas ideias.

C) Todas as ideias são cópias de percepções inteligíveis, que adquirimos através de uma experiência metafísica, que transcende toda a realidade empírica.

D) Todas as nossas ideias já existem de forma inata, e são apenas preenchidas pelas impressões, no momento em que temos algum contato com a experiência.

A alternativa B está correta.
Nossas ideias são compostas pela nossa experiência. Como Hume é empirista, o conhecimento só pode ter sua origem na experiência. Nada é a priori, transcendente ou inato.

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