Princesa Isabel

Princesa Isabel, herdeira do trono real e filha mais velha de D. Pedro II, desafiou e superou as convenções políticas de seu tempo. Conheça a vida dessa mulher nessa matéria!

Filha de D. Pedro II e herdeira do trono do Brasil, durante alguns anos a Princesa Isabel atuou como regente do império na ausência de seu pai. Sua imagem foi eternizada no imaginário brasileiro devido à atuação da princesa na assinatura da Lei Áurea, responsável por abolir o regime escravocrata no país. Saiba mais sobre essa figura importante da história brasileira.

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Biografia de uma princesa em ascensão

Wikimediacommons

Infância e educação

Apesar de ser conhecida como Princesa Isabel, o seu nome de registro é extenso e surpreendente, pois revela a herança e tradição política que a princesa trazia consigo em sua formação: Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon.

A princesa nasceu na antiga capital do império, Rio de Janeiro, no dia 29 de julho de 1846. Ela foi a segunda filha do imperador D. Pedro II com sua esposa Teresa Cristina. Após a morte do primeiro filho do imperador, Isabel foi designada herdeira presuntiva, sendo a melhor possibilidade para herdar o trono na ausência de seu pai.

Anos depois, o imperador e a imperatriz geraram outro filho, que foi apontado como o novo herdeiro do trono, mas ele acabou falecendo ainda na infância. Assim, desde cedo a princesa Isabel lidou com os desafios de, um dia, assumir o trono real.

Diante das incertezas, a princesa passou por um processo educacional criterioso e que abrangia diversas áreas do conhecimento, sendo elas: história, literatura, astronomia, física, filosofia, geografia e geologia. Ela também estudou alguns idiomas e teve contato com atividades e práticas ligadas à cultura, como o desenho, piano e dança.

Segundo o historiador Lourenço Luiz Lacombe, de todos os professores que a princesa teve contato, “D. Pedro […] foi o mais severo e atento professor”, pois o imperador se conformou com a perda dos dois filhos e entendeu a necessidade de educar Isabel, assim como a sua outra irmã, Leopoldina.

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Já a pesquisadora Regina Echeverria complementa que “as princesas mal saíam de casa, onde recebiam as amigas para as poucas horas livres que teriam no rígido esquema de estudos programado pelo pai. Mas não viviam totalmente reclusas”.

Uma das cartas de Isabel enviada ao seu pai, no dia 9 de fevereiro de 1855, demonstra seu processo educacional rígido: “Meu caro Papai, eu estimo que chegasse bem e que o tempo desse lugar fosse o que desejava. Eu dei bem minhas lições e ainda vou ler esta tarde com o mestre. Adeus, Papai, aceite um abraço e deite sua Bênção a Sua filha do coração, Isabel Cristina”.

Dessa forma, a Princesa Isabel viveu sua infância no Paço do São Cristóvão e teve poucas aparições na esfera pública, mantendo-se no isolamento até o início de sua vida adulta.

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Casamento e filhos

Isabel se casou quando tinha 18 anos, com Luís Filipe Maria Fernando Gastão, mais conhecido como Conde d’Eu. Após onze anos de casamento com o conde, Isabel gerou sua primeira filha, Luísa Vitória, que não conseguiu sobreviver ao parto. Após alguns anos do ocorrido, a princesa tratou uma questão ligada à infertilidade e o casal gerou mais três filhos: Pedro, Luís e Antônio.

De acordo com alguns documentos da época, o Conde d’Eu não era muito bem-visto na corte brasileira, pois ele era considerado um homem com posturas grosseiras. Além disso, ele não sabia falar em português e muitos se incomodavam com a sua surdez. Entretanto, o casamento de Isabel com o conde está intimamente relacionado à Guerra do Paraguai.

Assim, enquanto o casal estava na viagem de lua de mel à Europa, o conflito estava se iniciando. Já na volta, o Conde d’Eu foi nomeado por liberais e conservadores como comandante das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai, substituindo Duque de Caxias.

Vida política

Mesmo sendo considerada a herdeira presuntiva do trono real, Isabel não gostava de se relacionar diretamente com a esfera pública em relação aos assuntos políticos que moviam a sociedade brasileira.

Apesar disso, Regina Echeverria classifica a atuação política da princesa em três momentos: a primeira regência entre 1871 e 1872, a segunda regência entre 1876 e 1877 e a terceira entre 1887 e 1889. Ao contrário do que muitos pensam, a atuação política da princesa não foi imediatamente bem-vista e aceita por parte da classe política.

Devido à morte de Leopoldina, Isabel precisou assumir o trono pela primeira vez. Em uma carta, Isabel escreve: “Ontem teve lugar meu primeiro despacho, mas primeiro que lhe diga que quando Papai partiu pareceu-me coisa tão esquisita ver-me assim do pé para a mão uma espécie de imperador sem mudar de pele, sem ter uma barba, sem ter uma barriga muito grande. Perdoe, isso é uma maldade”.

A princesa passou por várias dificuldades na vida política, principalmente relacionada com o fato de reinar sem nenhuma experiência prévia. Apesar disso, a classe política aceitou a regência da princesa, mas com algumas exceções. Um exemplo é o poeta, escritor e deputado conservador José de Alencar, que considerava inadequado a princesa assumir o poder.

Apesar disso, Isabel manteve bem o seu governo e, mesmo não sendo estimada pelos políticos mais tradicionais, apesar de ser respeitada por suas virtudes, os pequenos momentos da sua regência foram tranquilos e sem muitas polêmicas.

Seu papel na abolição da escravatura

No processo de instauração da abolição da escravatura, o Barão de Cotegipe advertia Isabel, afirmando que: “redimistes uma raça, mas perdestes vosso trono”. A princesa Isabel lidou com esse dilema de agir em prol da causa abolicionista, sabendo que tal ato decretaria o fim do império monárquico no Brasil.

Assim, no dia 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea, que colocava fim na estrutura escravocrata. Nesse processo, a princesa teve uma postura significativa, mas sua atuação não foi determinante e suficiente e, portanto, não deve ser vista isoladamente.

Além das repercussões imediatas em torno da abolição, houve manifestações populares e festas em diversas cidades, sendo elogiada pelos abolicionistas e políticos liberais do império. Depois, Isabel ainda precisou enfrentar a crise final do regime monárquico e o descontentamento dos escravocratas.

O seu papel na abolição vem sendo questionado pelos historiadores, visto que, apesar da importância para a causa do movimento abolicionista, foi limitado à esfera pública.

Exílio e morte

Com a Proclamação da República no ano 1889, a família real foi expulsa do Brasil. Junto a isso, a Princesa Isabel partiu do país com o seu esposo, sendo que ambos ficaram exilados na França junto a D. Pedro II, que já se encontrava doente. Mas não foi de forma instantânea e rápida que a monarquia foi deposta e a família real expulsa.

A saída da princesa Isabel do país também está ligada a uma série de insatisfações com a monarquia, como a perda de prestígio e reconhecimento por parte dos grupos sociais e políticos ligados ao escravismo. Após a abolição da escravatura, ficou nítido que a monarquia não iria se estender.

Segundo a pesquisadora Regina Echeverria, “a abolição dos escravos caiu como uma pedra sobre os donos de terra no Brasil. Teriam que se acostumar a pagar pelo trabalho que contratassem. Teriam que se acostumar a trabalhar”. Somado a isso, houve a difusão dos ideais republicanos, enfraquecendo mais as bases monárquicas.

Entretanto, também houve um movimento para apoiá-la, denominado “Guarda Negra” ou “Guarda Negra da Redentora”. Esse movimento foi formado por brancos e negros alforriados, cujo objetivo era agir clandestinamente contra os inimigos políticos do regime monárquico e, consequentemente, se colocar à disposição da princesa.

No dia 16 de novembro de 1889, a família imperial sitiada no Paço, recebe a mensagem da derrubada da monarquia, assinada por Deodoro da Fonseca. Assim, a família real foi obrigada a se retirar, sendo que a “a monarquia tinha acabado sem que os que a representavam se tivessem apercebido”.

A Princesa Isabel morre em 14 de novembro de 1921, com 75 anos de idade, devido a uma saúde já deteriorada e desgastada. Inicialmente enterrada na França, Isabel ilustra a trajetória de uma mulher que soube comandar com maestria um Império agitado e turbulento.

Curiosidades sobre a princesa Isabel

Abaixo, confira algumas curiosidades sobre a vida e trajetória da Princesa Isabel, a fim de conhecê-la nas mais variadas facetas:

  • Foi instituída herdeira do trono real brasileiro aos 11 meses de idade;
  • Isabel dominava 4 idiomas: inglês, francês, alemão e latim;
  • Historiadores afirmam que Isabel era realmente apaixonada pelo Conde d’Eu;
  • Assumiu a regência no Brasil em três ocasiões de intensa agitação política;
  • A princesa Isabel morre no exílio, em 1921, na cidade de Paris.

Todas as curiosidades refletem um pouco de uma princesa que, desde cedo, foi preparada para reinar e governar o Brasil diante das agitações políticas e sociais.

Videoaulas sobre a Princesa Isabel

Isabel morreu aos 75 anos de idade, colecionando diversos feitos. Para conhecer mais de perto a biografia da Princesa Isabel e fixar o conteúdo, assista aos vídeos abaixo:

Uma princesa que governou além do gênero

Nesse vídeo, o “canal História e Tu” expõe de forma didática e acessível a biografia da Princesa Isabel, assim como os seus maiores desafios ao governar o Brasil. Essa videoaula é perfeita para complementar as informações biográficas dessa matéria.

Uma princesa esquecida?

Acima, confira a trajetória da Princesa Isabel e as convicções com as quais a princesa carregava mediante a vida privada e pública na esfera política brasileira.

O que aconteceu com os filhos da Princesa Isabel

Mas afinal, o que aconteceu com os filhos da Princesa Isabel? Nesse vídeo, o pesquisador Paulo Rezzutti explica as tramas que ocorreram com a família real logo após a expulsão do Brasil.

Gostou da matéria? Então compartilhe com os seus amigos e lembre-se de investigar e difundir as raízes da história. Confira também a matéria sobre o Brasil Colônia e entenda os contextos políticos que a Princesa Isabel estava lidando.

Referências

A História da Princesa Isabel – Amor, liberdade e exílio – Regina Echeverria;
Princesa Isabel do Brasil: Gênero e poder no século XIX – Roderick J. Barman;
Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi – José Murilo de Carvalho.

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Princesa Isabel. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/princesa-isabel. Acesso em: 26 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [Princesa Isabel, herdeira do trono real e filha mais velha de D. Pedro II, desafiou e superou as convenções políticas de seu tempo. Conheça a vida dessa mulher nessa matéria!]

Em 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil, Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição […]. A decisão veio após mais de três séculos de escravidão, que resultaram em 4,9 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho.
(Amanda Rossi e Camilla Costa, postado em 13 de maio de 2018 – BBC Brasil em São Paulo. Disponível em: https://www.bbc.com/ portuguese/brasil-44091469. Acesso em 25 de junho de 2019.)

De acordo com o trecho acima, considere as seguintes afirmativas:
1. A chamada “Lei Áurea”, assinada pela princesa Isabel, não pode ser vista como uma concessão da monarquia, sendo resultado de um longo processo de luta e resistência que contou com a presença ativa de escravizados e escravizadas para sua libertação do cativeiro.
2. No período imediato que sucedeu à abolição, os libertos puderam contar com medidas de apoio na forma de distribuição de pequenos lotes de terra, tal como aconteceu nos Estados Unidos após a Guerra Civil, com a chamada “Reconstrução”.
3. Escravizados e escravizadas receberam apoio de muitos setores da sociedade da época ligados ao movimento abolicionista, sendo Luís Gama, filho de escrava e advogado autodidata, um dos personagens mais célebres e atuantes, empenhando-se na libertação de centenas de cativos e cativas.
4. Os segmentos da sociedade adeptos do regime escravista defendiam a “emancipação gradual” e nutriam o profundo receio de que a abolição imediata da escravidão trouxesse desorganização econômica e provocasse o caos social.

Assinale a alternativa correta.

A) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
B) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
C) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
D) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
E) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

D) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

A abolição da escravatura não é resultado direto da ação da Princesa Isabel e, portanto, não deve ser estudado de modo isolado sem considerar outros agentes históricos, como os próprios escravizados.

2. [UNICENTRO]

“A Lei Áurea era mesmo popular e conferia nova visibilidade à princesa Isabel e à Monarquia. No entanto, politicamente, o Império tinha seus dias contados ao perder o apoio dos fazendeiros do Vale do Paraíba. Apesar do clima de euforia reinante, parecia ser o último ato do teatro imperial. […]. Nos jornais e nas imagens da época, Isabel passa a ser retratada como uma santa a redimir os escravos, que aparecem sempre descalços e ajoelhados, como a rezar e a abençoar a padroeira. Já a princesa surge de pé e ereta, contrastada com a posição curvada e humilde dos ex-escravos, que parecem manter a sua situação – se não mais real, ao menos simbólica. Aos escravos recém-libertos só restaria a resposta servil e subserviente, reconhecedora do tamanho do “presente” recebido. Estava inaugurada uma maneira complicada de lidar com a questão dos direitos civis. Sem a compreensão de que a abolição era resultado de um movimento coletivo, permaneceríamos atados ao complicado jogo das relações pessoais, suas contraprestações e deveres: chave do personalismo e do próprio clientelismo. Nova versão para uma estrutura antiga em que as relações privadas se impõem sobre as esferas públicas de atuação. Como se fôssemos avessos a qualquer associação com a violência, apenas reproduzimos hierarquias que, de tão assentadas, pareciam legitimadas pela própria natureza. Péssima lição de cidadania: a liberdade combinada com humildade e servidão, distante das noções de livre-arbítrio e de responsabilidade individual. ”
SCHWARCZ, Lilia. Abolição como Dádiva. In: FIGUEIREDO, Luciano (org.) A Era da Escravidão. Rio de Janeiro: Sabin, 2009, p. 88-90.

A respeito da Lei Áurea é correto afirmar

A) Além da liberdade, foi concedida para cada ex-escravizado uma gleba de terras para que pudesse trabalhar e manter sua família.
B) Foi estipulada uma indenização individual de um conto de réis para cada ex-escravizado a título de indenização pelo seu trabalho compulsório anterior.
C) A lei estipulou um sistema jurídico que punia como crime contra a humanidade qualquer forma de exploração e preconceito.
D) A Abolição da escravidão proporcionou, ao Imperador Pedro II, maior apoio dos cafeicultores e, dessa forma, protelou a Proclamação da República.
E) A assinatura da Lei Áurea não significou o fim do preconceito racial e não propiciou acesso à terra ou a qualquer outra forma de indenização às populações libertas.

E) A assinatura da Lei Áurea não significou o fim do preconceito racial e não propiciou acesso à terra ou a qualquer outra forma de indenização às populações libertas.

Apesar da imensa importância da Lei Áurea para o fim da estrutura escravagista no Brasil, vai salientar que esta ainda foi cultivada no imaginário social.

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