Sinestesia

Figura de linguagem relacionada à fusão de elementos sensoriais e que auxilia na expressividade de um texto

O fazer literário é permeado por diversos elementos, que estão presentes para trazer expressividade a um texto. As figuras de palavras, uma subdivisão das figuras de linguagem, estão nesse rol de ferramentas que um autor pode utilizar. A sinestesia entra nesse grupo e é amplamente utilizada em poemas, por exemplo. Neste texto, você aprenderá, a partir de exemplos, a como identificá-la em um texto.

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O que é sinestesia?

A sinestesia, como salientado anteriormente, é uma figura de palavras. Ela é constituída a partir da fusão das sensações em um texto, mais especificamente da fusão dos sentidos humanos, aqueles que você aprende na aula de Biologia: olfato, audição, tato, paladar e visão. Nesse contexto, a palavra “sinestesia” vem do grego “sunaísthesis” e significa “sensação ou percepção simultânea”.

Sinestesia
“Mr. Bad Guy”, de Jack Coulter. O pintor é conhecido por fundir suas impressões sensoriais à pintura. Fonte: Wikimedia Commons.

Ao escrever um texto, principalmente na Literatura, um autor pode fundir elementos que são percebidos por sentidos diferentes, justamente para criar uma espésie de confusão ou misto sensorial que, no fim, expande a expressividade da descrição que foi elaborada.

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Figuras de linguagem
Conhecer as diversas estratégias para a construção dos textos pode proporcionar uma maior expressividade na interpretação do leitor.
Estilística
A estilística é a vertente da linguística que estuda o uso das variações da língua segundo seu contexto e/ou aplicação.
Figuras de Palavras
As figuras de palavras são a antonomásia, a sinestesia, a catacrese, a comparação, a metonímia e a metáfora.

Para simplificar o entendimento, imagine que um texto é uma bebida que você gostava muito na infância. Ao bebê-la, você não sente apenas o gosto (paladar), mas consegue ouvir, por um desencadeamento memorialístico, sua mãe conversando com você.

É essa fusão de sentidos que caracteriza a sinestesia: dois ou mais sentidos que, por padrão, não se concretizariam juntos, mas que estão ali e aumentam o poder sensorial de uma descrição ou de um momento.

Agora é hora de conferir como a sinestesia aparece efetivamente em textos, essencialmente de caráter literário.

Exemplos na Literatura

A sinestesia é encontrada, principalmente, em textos literários. É importante salientar que a sinestesia é utilizada com bastante frequência em poemas simbolistas, por exemplo. A seguir, você poderá conferir diversos excertos retirados de obras de autores brasileiros e portugueses.

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Avista-se o grito das araras. (João Guimarães Rosa)
Há o sentido da visão (avista-se) e da audição (grito).

Tem cheiro a luz, a manhã nasce. (Alphonsus de Guimaraens)
Há o sentido do olfato (cheiro) e da visão (luz).

[…] João Romão observava durante o dia quais as obras em que ficava material para o dia seguinte, e à noite lá estava ele rente, mais a Bertoleza, a removerem tábuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua, com tamanha habilidade que se não ouvia vislumbre de rumor. (Aluísio Azevedo)
Há o sentido da audição (ouvia) e da visão (vislumbre).

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[…] Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro e doce, um sol de junho; eram as fisionomias risonhas dos transeuntes; e o mundo, que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe surgia claro e doce. (Lima Barreto)
Há o sentido da visão (claro) e do paladar (doce).

[…] O tempo cobre o chão de verde manto, / Que já coberto foi de neve fria, / E em mim converte em choro o doce canto. (Camões)
Há o sentido do paladar (doce) e da audição (canto).

[…] Ele entrou no seu passo macio, sem ruído, não chegava a ser felino: apenas um andar discreto. Polido. (Lygia Fagundes Telles)
Há o sentido do tato (macio) e da audição (sem ruído).

[…] ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho / e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada. (Ferreira Gullar)
Há o sentido da visão (branco) e do paladar (sabor).

Como você pôde conferir, a sinestesia ocorre de diversas formas, mas sempre está vinculada ao uso dos sentidos. Esse processo permite a um escritor expandir o escopo expressivo do texto, alinhado também a metáforas e a rimas sensoriais.

Vamos aprender mais sobre sinestesia?

Agora que você aprendeu sobre a figura de linguagem sinestesia, é importante sedimentar o conteúdo com ainda mais exemplos e explicações adicionais. A seguir, há três vídeos que ajudarão nesse processo de compreensão.

A figura de linguagem focada nas sensações

Neste vídeo, você encontrará uma explicação concisa e mais rápida sobre a sinestesia.

Existem outras figuras de linguagem também!

Além da sinestesia, há outras figuras de linguagem. Neste vídeo, você encontrará a explicação de algumas delas, até porque não basta saber de apenas uma, não é mesmo?

Se você chegou até aqui, aprendeu um pouco mais sobre sinestesia, uma figura de linguagem focada na percepção de sentidos. Lembre-se de que ela é apenas uma dos muitos recursos estilísticos utilizados em textos. Para aprender mais sobre eles, clique aqui.

Referências

Dicionário de Termos Literários (2013) – Massaud Moisés.
Interpretação de Texto (2016) – André Oliveira Guadalupe.

Leonardo Ferrari
Por Leonardo Ferrari

Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. É professor assistente em colégio de ensino médio. Nas horas livres, dedica-se à família, aos amigos, à sétima arte e à leitura.

Como referenciar este conteúdo

Ferrari, Leonardo. Sinestesia. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/sinestesia. Acesso em: 30 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [FMJ]

Leia o poema “Cristais”, de Cruz e Sousa.

Cristais
Mais claro e tino do que as tinas pratas
O som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas.
Tanta harmonia melancolizava.

Filtros sutis de melodias, de ondas
De cantos voluptuosos como rondas
De silfos leves, sensuais, lascivos…

Como que anseios Invisíveis, mudos,
Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores Vivos.

No poema, o autor faz uso, sobretudo,

a) da sinestesia.
b) da ironia.
c) da hipérbole.
d) do paradoxo.
e) do eufemismo.

Gabarito: [A].

Explicação: Podemos perceber a sinestesia em diversos trechos. Veja: “O som [audição] da tua voz deliciava [paladar]”; “Era um som [audição] feito luz [visão], eram volatas”.

No poema, não há ironia, hipérbole, paradoxo ou eufemismo. Por isso, as demais alternativas estão incorretas.

2. [Insper]

“Ah, Scarlett, mulher sinestesia, seu nome tem o som da cor dos seus lábios: Scarlett, scarlet, escarlate.”
(Álvaro Pereira Júnior, em referência à atriz Scarlett Johansson. Folha de São Paulo, 17/09/2011)

O que melhor explica o aposto “mulher sinestesia” atribuído à atriz é o(a)

a) jogo de palavras com apelo sonoro ao final do período.
b) enumeração ascendente que intensifica a ideia relacionada à cor vermelha.
c) junção de planos sensoriais diferentes numa só impressão.
d) modo exagerado e dramático como o autor se refere à beleza da atriz.
e) personificação dos lábios da mulher, atribuindo-lhe vida própria.

Gabarito: [C].

Explicação: Podemos perceber a sinestesia em “tem o som [audição] da cor [visão] dos seus lábios”. Com essa referência, além de somado com a própria descrição “mulher sinestesia”, temos a fusão de diversos sentidos para descrever a atriz em questão.

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