Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens é um importante autor do simbolismo brasileiro. Viveu em Minas Gerais e produziu uma obra mística envolvendo amor, morte e religiosidade.

Alphonsus de Guimaraens é considerado um dos principais autores simbolistas do Brasil. Possui uma extensa obra literária, entre prosa e poesia, que se destaca pela ênfase no misticismo, na espiritualidade, no imaginário e na fantasia. Conheça melhor esse escritor!

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Biografia

Retrato de Alphonsus de Guimaraens(Fonte: WikiMedia)

Alphonsus de Guimaraens ou Afonso Henrique da Costa Guimarães (Ouro Preto, 1870 – Mariana, 1921) foi um poeta, cronista e jornalista, sobrinho-neto de Bernardo Guimarães, autor do romance Escrava Isaura. Iniciou a faculdade de Engenharia, mas a abandonou após o falecimento de sua prima e noiva Constança, vítima de tuberculose em 1889. Tal fato o abalou muito e influenciou sua escrita, caracterizada pelo tema da morte da mulher amada.

Relacionadas

Cruz e Sousa
Nascido e crescido em meio hostil ao negro, deparou-se ao longo de sua vida com inúmeras barreiras raciais; artífice virtuoso, foi precursor do Simbolismo no Brasil.
Soneto
O soneto é um poema de forma fixa que surgiu no Renascimento. É composto por 14 versos distribuídos em 4 estrofes, sendo 2 quartetos e 2 tercetos.
Cláudio Manuel da Costa
Cláudio Manuel da Costa foi um escritor e poeta brasileiro com ideais iluministas e fundamentos do arcadismo.

Em 1980, foi para a cidade de São Paulo, onde cursou direito, trabalhou na imprensa e frequentou círculos de artistas simbolistas. Tornou-se amigo do poeta Cruz e Sousa. Após concluir os estudos, retornou a Minas Gerais atuando como juiz e promotor. Em 1897, casou-se com Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos, e publicou suas primeiras obras de inspiração simbolista em 1899. Morreu aos 50 anos em Mariana (MG).

Características

A obra de Alphonsus de Guimaraens é suave e lírica, apresenta uma linguagem simples com temas ligados à estética do simbolismo. Veja outras características do escritor:

  • Forma clássica: o poeta utilizou a forma clássica na composição dos poemas, em sua maioria, sonetos de versos decassílabos, mas também explorou outras métricas, como os versos alexandrinos e a redondilha maior.
  • Sentimentalismo e musicalidade: a abordagem de sentimentos humanos e os vocábulos sonoros caracterizam a escrita de Guimaraens. A obra Setenário das Dores de Nossa Senhora, por exemplo, mais do que um conjunto de poemas, forma um oratório musical que versa sobre uma busca pela vivência poética do mistério.
  • Recursos sensoriais e sinestesia: os textos de Guimaraens são repletos de descrições sensoriais que promovem imagens sobre o que o corpo sente e como ele reage às intempéries da vida.
  • Melancolia: o sentimento de melancolia caracteriza os textos simbolistas e está presente nos poemas de Guimaraens que abordam o amor por um viés pessimista e a morte como a única certeza humana.
  • Misticismo: o poeta usa os moldes medievais para retratar a figura da amada como uma divindade perfeita e acessível apenas através da morte. Por vezes, as figuras da amada e da Virgem Maria, da qual o poeta era devoto, fundem-se na escrita. Assim, seus textos abrangem temas relacionados ao misticismo, ao amor, à morte e à religiosidade.

Tais características configuram a produção de Alphonsus de Guimaraens, conforme você verá nos textos apresentados a seguir.

Principais obras

A poesia se destaca na obra de Alphonsus de Guimaraens. Abaixo, apresentamos três textos, o primeiro é “Ismália”, seu poema mais famoso e representante do simbolismo brasileiro. O segundo é “Noiva”, poema que tematiza a morte da noiva do poeta, e o terceiro é “Ai dos que vivem, se não fora o sono”, poema que versa sobre os caminhos da vida os quais resultam na morte.

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Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

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E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…

Noiva
N’as-tu pas senti le gout des éternelles amours?
H. DE BALZAC

Noiva… minha talvez… pode bem ser que o sejas.
Não me disseste ao certo o dia em que voltavas.
O céu é claro como o teto das igrejas:
Vens de lá com certeza. Humildes como escravas,

Curvadas ainda estão as estrelas morosas;
E bem se vê que algum excelso vulto branco
Passou por elas, entre arcarias de rosas,
Revolto o manto de ouro, afagando-lhe o flanco.

Há tanto tempo que te espero, e espero embalde…
Não sabia que assim tão diferente vinhas.
Tinhas negro o cabelo: entanto a nuvem jalde,
Que o doura todo, o faz tão outro do que tinhas!
[…]

Ai dos que vivem, se não fora o sono
Ai dos que vivem, se não fora o sono!
O sol, brilhando em pleno espaço, cai
Em cascatas de luz; desce do trono
E beija a terra inquieta, como um pai.

E surge a primavera. O áureo patrono
Da terra é sempre o mesmo sol. Mas ai
Da primavera, se não fora o outono,
Que vem e vai, e volta, e outra vez vai.

Ao níveo luar que vaga nos outeiros
Sucedem sombras. Sempre a lua tem
A escuridão dos sonhos agoureiros.

Tudo vem, tudo vai, do mundo é a sorte…
Só a vida, que se esvai, não mais nos vem.
Mas ai da vida, se não fora a morte!

Depois de conhecer alguns poemas, veja baixo os livros de Alphonsus de Guimaraens listados por ordem de lançamento:

  • Câmara Ardente (1899);
  • Dona Mística (1899);
  • Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899);
  • Kiriale (1902);
  • Mendigos (1920);
  • Pauvre Lyre (1921);
  • Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923);
  • Nova Primavera (1938);
  • Escada de Jacó (1938);
  • Pulvis (1938).

Alphonsus de Guimaraens elaborou uma extensa obra literária, sendo que alguns títulos foram publicados postumamente. Da lista acima, Mendigos é a única obra em prosa.

Vídeos sobre a vida e a obra de um poeta sentimental

Selecionamos três vídeos para aprofundar seus conhecimentos sobre Alphonsus de Guimaraens. Neles, você verá falas sobre a vida do autor e seu estilo de escrita, acompanhe!

A vida literária de Alphonsus de Guimaraens

O professor Lucas Limberti faz uma visita ao museu casa Alphonsus de Guimaraens em Mariana (MG) e contextualiza a obra do autor, confira!

Curiosidades sobre o autor

Nesse vídeo, veja várias curiosidades sobre o escritor, desde a escolha de seu pseudônimo até as relações entre os temas das obras e sua vida particular.

Análise do poema “Ismália”

Assista a esse vídeo e confira uma análise do poema “Ismália”, um dos mais famosos de Guiamaraens. Além disso, você terá acesso a mais comentários sobre o escritor.

Agora que você já conhece esse importante autor simbolista, continue aprendendo sobre o tema lendo a nossa matéria Simbolismo no Brasil!

Referências

Alphonsus de Guimaraens – Obra completa (1960) – Alphonsus de Guimaraens Filho (organização).

Érica Paiva Rosa
Por Érica Paiva Rosa

Professora, redatora e produtora cultural. Mestre em Letras pela UEM.

Como referenciar este conteúdo

Paiva Rosa, Érica. Alphonsus de Guimaraens. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/alphonsus-de-guimaraens. Acesso em: 19 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UFSCar-SP]

A ênfase na seleção de vocabulário poético, com o objetivo de transferir ao poema o máximo de correspondência sensorial, é uma característica do:

a) Romantismo, sobretudo na obra de Castro Alves.
b) Barroco, principalmente em Gregório de Matos.
c) Simbolismo, representado pelas obras de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.
d) Parnasianismo, representado pela obra de Alberto de Oliveira.
e) Pré-Modernismo, principalmente em Jorge de Lima.

Resposta: C
Justificativa: Uma das características do simbolismo é o vocabulário poético que transmite sensações, como ocorre nas obras de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.

2. [PUC-RS]

“Ninguém anda com Deus mais do que eu ando,
Ninguém segue os seus passos como eu sigo,
Não bendigo a ninguém e nem maldigo:
tudo é morte num peito miserando.
Vejo o sol, vejo a luz e todo bando
Das estrelas no olímpico jazigo.
A misteriosa mão de Deus o trigo
Que ela plantou aos poucos vai ceifando.”

Um dos temas marcantes da poesia simbolista de Alphonsus de Guimaraens é a _________ profunda e pessoal, como ilustram as estrofes acima:

a) delicadeza.
b) melancolia.
c) religiosidade.
d) ternura.
e) evasão.

Resposta: C
Justificativa: A religiosidade é um tema marcante de Alphonsus de Guimaraens presente no trecho exposto.

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