Os Lusíadas

A obra se constitui como epopeia das glórias heroicas que fazem parte da história do povo de Portugal ao explorar os mares em busca de novas terras.

Os Lusíadas é uma epopeia épica, de Luís Vaz de Camões, escrita entre 1556-1571, e publicada em 1572. Inspirada nas epopeias clássicas Odisseia, de Homero, e Eneida, de Virgílio, o poema retrata as conquistas do povo português durante as grandes navegações e expensão marítima. Um cânone literário de valor inestimável para a Língua Portuguesa. A seguir, compreenda essa obra!

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Resumo da obra

Wikipédia

Por mares antes nunca navegados, Vasco da Gama desbrava os perigos marítimos em busca da Índia. A narrativa começa em media res, isto é, com a tripulação já em Melinde, no oceano Índico. Em paralelo, os deuses se reúnem para decidir o futuro dos navegantes. Baco não é amigável com os portugueses, mas esses são protegidos por Vênus e Marte. Seguindo viagem, a tripulação se distrai com os feitos dos heróis lusitanos quando a fúria de Netuno atinge a embarcação. No entanto, as ninfas marinhas ajudam os portugueses a chegarem em Calecute.

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Um dos momentos mais marcantes da narrativa é a passagem pelo Cabo das Tormentas, personificado no gigante Adamastor. Após várias tramas de Baco, os portugueses desembarcam na Ilha dos Amores e são recebidos com um banquete oferecido por Vênus. A volta para casa é tranquila. Por fim, o poeta encerra a epopeia em tom de lamento, pois o povo português está surdo e endurecido.

Personagens

As personagens de Os Lusíadas são figuras mitológicas, ninfas, titãs, deuses gregos, divindades com o espírito messiânico e também há a evocação do Deus cristão. Ainda, aparecem muitas figuras históricas que marcaram Portugal. A seguir, conheça algumas dessas lendárias personagens.

  • Vasco da Gama: personagem histórica, protagonista e narrador principal da epopeia;
  • Paulo Gama: irmão e interlocutor de Vasco da Gama;
  • Marinheiro Veloso: também interlocutor de Vasco da Gama. Ele narra alguns feitos heroicos;
  • Velho do Rastelo: um pessimista que representa todos aqueles que não acreditavam no descobrimento da Índia;
  • Gigante Adamastor: um titã terrível que ameaça aniquilar a embarcação;
  • Tétis: uma ninfa do mar que profetiza ao som de música;
  • Júpiter: deus do céu e do trovão;
  • Tágides: ninfas que o poeta evoca em busca de inspiração;
  • Netuno: deus do mar;
  • Inês de Castro: personagem histórica. Viveu um caso de amor com D. Pedro I e foi executada por ordem de D. Afonso IV;
  • D. Fernando: rei apaixonado por Leonor Teles;
  • D. Nuno Álvares Pereira: é elogiado na epopeia por ser um bravo guerreiro português;
  • Baco: deus que fará de tudo para destruir a embarcação de Vasco da Gama;
  • Vênus: deusa do amor que protege os tripulantes portugueses.

Além das personagens citadas, muitas outras aparecem, principalmente, nos feitos contatos por Vasco da Gama aos interlocutores. Muitos dos reis portugueses têm seu reinado lembrado. Também há a presença de personagens menores que surgem para ajudar ou atrapalhar os protagonistas.

Estrutura

O poema é dividido em dez cantos, 1.102 estrofes, cada uma com oito versos decassílabos heroicos. O esquema rimático segue a estrutura ABABABCC. Seguindo a tradição das epopeias clássicas, o enredo é dividido em cinco partes: preposição: síntese do assunto, com exaltação do ser humano; invocação das Tágides: pedido de inspiração e proteção; dedicatória ao Rei D. Sebastião: um menino de 14 anos quando assumiu o trono, o rei é visto como um símbolo de esperança; narração: as peripécias marítimas são contadas, ressaltando os interesses do ser humano; e epílogo: em tom pessimista, critica a decadência de Portugal e continua ressaltando as qualidades do rei.

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Características

O poema é elaborado em um plano temático que aborda: viagem; história de Portugal; mitologia; e as considerações do poeta. A linguagem arcaica pode causar estranhamento no leitor moderno, entretanto, na época de sua publicação, influenciou e revolucionou a ortografia da Língua Portuguesa. Confira algumas características da obra:

  • O estilo in media res (em plena ação) começa no meio da viagem de Vasco da Gama e regride por meio de flashback.
  • A escolha do gênero épico resulta em uma narrativa minuciosa e detalhada, com personagens sem desenvolvimento psicológico e o tempo estendido, como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta.
  • Há uma crítica ao egocentrismo do ser humano, que não consegue sair de si e olhar para o outro.
  • Há três episódios principais na obra: o trágico amor de Inês de Castro; o Gigante Adamastor; e o Velho do Restelo.
  • Há um ecletismo religioso na obra, isto é, a mistura da mitologia greco-romana com elementos do catolicismo.

O herói da epopeia é coletivo, o povo lusitano. Camões é o principal narrador, ele abre a narrativa e retoma a palavra em diversas ocasiões. Embora seja um texto narrativo-descritivo, é possível encontrar elementos da lírica no decorrer dos cantos. A seguir, confira algumas curiosidades que marcaram a obra.

Curiosidades

  • Luís de Camões demorou mais de 12 anos para concluir a epopeia.
  • A obra foi levemente censurada por abordar temas sobre o amor carnal e a luxúria.
  • Camões apresentou a obra para D. Sebastião e obteve permissão para publicar assim que passasse pela avaliação inquisitorial.
  • A palavra Lusíadas significa povo de Luso, ou seja, os portugueses.
  • Pela obra, Camões recebeu uma pensão anual de 15 mil réis paga com irregularidade.

Os Lusíadas serviu de inspiração para vários poetas que sonharam em contar os feitos heroicos de seus países. Em terras brasileiras, vários poetas se arriscaram nesse gênero, entretanto, nenhuma epopeia alcançou os louros de Camões.

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Trechos

Para compreender algumas das principais características da obra, confira os trechos selecionados. É importante prestar atenção na linguagem, no esquema rimático e nas imagens descritivas.

Canto II
Já neste tempo o lúcido Planeta
Que as horas vai do dia distinguindo,
Chegava à desejada e lenta meta,
A luz celeste às gentes encobrindo;
E da casa marítima secreta he estava o Deus
Nocturno a porta abrindo,
Quando as infidas gentes se chegaram
Às naus, que pouco havia que ancoraram.

Canto IV
—Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

Canto V
Estas sentenças tais o velho honrado
Vociferando estava, quando abrimos
As asas ao sereno e sossegado
Vento, e do porto amado nos partimos.
E, como é já no mar costume usado,
A vela desfraldando, o céu ferimos,
Dizendo:- Boa viagem!; logo o vento
Nos troncos fez o usado movimento.

Canto IX
Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.

A epopeia camoniana realmente é incrível! Para não deixar nenhuma informação importante passar despercebida, continue estudando com a melhor seleção de vídeos.

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Referências

Historia de Camões (1873) – Teófilo Braga
Os Lusíadas (1572) – Luís Vaz de Camões
A Literatura Portuguesa (1972)- Massaud Moisés

Por Suélen Domingues
Como referenciar este conteúdo

Domingues, Suélen. Os Lusíadas. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/os-lusiadas. Acesso em: 27 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [PUC-PR]

Sobre o narrador ou narradores de os Lusíadas, é lícito afirmar que:

a) existe um narrador épico no poema: o próprio Camões;
b) existem dois narradores no poema: O eu-épico, Camões fala através dele, e o outro, Vasco da Gama, que é quem dá conta de toda a História de Portugal.
c) o narrador de Os Lusíadas é Luiz Vaz de Camões;
d) O narrador de os Lusíadas é o Velho do Restelo;
e) O narrador de Os Lusíadas é o próprio povo português.

Resposta: B

Justificativa: É possível perceber a presença de Camões no eu-épico que permeia todo o poema. Entretanto, as aventuras marítimas e os feitos do povo português são contadas por Vasco da Gama.

2. [FUVEST]

Em Os Lusíadas, as falas de Inês de Castro e do Velho do Restelo têm em comum:

a) a ausência de elementos de mitologia da Antiguidade clássica.
b) a presença de recursos expressivos de natureza oratória.
c) a manifestação de apego a Portugal, cujo território essas personagens se recusavam a abandonar.
d) a condenação enfática do heroísmo guerreiro e conquistador.
e) o emprego de uma linguagem simples e direta, que se contrapõe à solenidade do poema épico.

Resposta: B

Justificativa: as falas de Inês de Castro e do Velho do Restelo são construídas com grande eloquência e expressividade, características comuns do poema épico.

3. [UNISA]

A obra épica de Camões, Os Lusíadas, é composta de cinco partes, na seguinte ordem:

a) Narração, Invocação, Proposição, Epílogo e Dedicatória.
b) Invocação, Narração, Proposição, Dedicatória e Epílogo.
c) Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo.
d) Proposição, Dedicatória, Invocação, Epílogo e Narração.
e) N.d.a.

Resposta: C

Justificativa: Tendo em vista que Os Lusíadas foi escrito com a mesma estrutura das epopeias clássicas, a única resposta possível e correta é a opção C. As outras alternativas estão com a ordem de apresentação dos fatos alterada.

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