Edmund Husserl

Conheça os principais pensamentos do filósofo conhecido por ser o fundador da fenomenologia, um método de investigar os fenômenos.

Filósofo e matemático, Edmund Husserl foi o fundador da fenomenologia. Nesta matéria, conheça a teoria de Husserl voltada à fenomenologia. Além disso, aprenda também sobre o conceito de intencionalidade da consciência que importante para a mudança na análise do pensamento filosófico da época.

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Índice do conteúdo:

Biografia

Retrato de Edmund Husserl. Fonte: Wikimedia

Edmund Husserl (1859-1938) foi um filósofo e matemático alemão, conhecido por ser o pai da fenomenologia. Nasceu em uma família judaica, na região da República Tcheca, na época, dominada pela Alemanha. Seus primeiros estudos, nas universidades de Leipzig (1876) e de Berlim (1878), foram voltados para a matemática.

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É em Viena, em 1884, que Husserl se forma em Filosofia e começa a se dedicar a essa disciplina graças a grande influência de Franz Hermann Brentano, um filósofo e psicólogo alemão. Em 1887, Husserl se converte ao cristianismo e se integra à Igreja Luterana e no mesmo ano se torna professor-tutor de Filosofia na Universidade de Halle. Em 1916, muda-se para Friburgo e leciona na universidade de lá. Aposentou-se em 1928, mas continuava trabalhando nas instituições da cidade, até que, por conta da política de discriminação racial antissemita de Hitler, Husserl foi demitido por “não ser ariano”, pelo governador de Baden, Robert Wagner, em 1933.

Deixou cerca de 40 mil págicas taquigrafadas, além de toda sua pesquisa bibliográfica. O pensamento de Husserl influenciou muitos filósofos que seguiram a fenomenologia ou a utilizaram em algum momento, seja como crítica ou como ferramenta, como Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Merleau-Ponty, Michel Henry e Jacques Derrida.

Contribuições filosóficas

Sua principal contribuição para a filosofia foi, sem dúvidas, a criação da fenomenologia, um método ou uma forma de dispor o pensamento para examinar os fenômenos. Os fenômenos são o modo como as coisas se apresentam para a consciência. Para Husserl, a única forma de conhecer é construir perspectivas, que são diversas, para, então, produzir a intuição a respeito da essência da coisa; porém, isso só é possível se essas perspectivas da consciência forem organizadas e retiradas de suas particularidades.

Na verdade, a consciência vai progressivamente desvelando o objeto, ao mesmo tempo em que lhe atribui sentido. O conhecimento é um processo infinito, de constante exploração e análise do mundo.

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Além da elaboração do método fenomenológico, Husserl também se debruçou sobre os problemas da intersubjetividade – como a comunicação acerca de um objeto pode ser entendida como referindo-se à mesma entidade ideal, ou seja, a relação entre o objeto aparente e a suposta essência desse objeto. Criticou também o historicismo e o psicologismo na lógica.

Principais obras de Edmund Husserl

Suas principais obras foram:

  • Investigações lógicas (1901);
  • A filosofia como ciência rigorosa (1911);
  • Ideias para uma filosofia pura e uma filosofia fenomenológica (1913);
  • Meditações cartesianas (1931).

A fenomenologia de Husserl

A fenomenologia de Husserl é uma crítica à filosofia empirista em sua expressão positivista que toma forma no século XIX. Além disso, é, também, uma tentativa de resolver os problemas postos desde a época cartesiana sobre as contradições entre corpo-mente e sujeito-objeto. Mas é, sobretudo, um método de investigação para apreensão do fenômeno.

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Fenomenologia vem da junção de dois termos gregos: phainesthai, aquilo que aparece ou aquilo que se mostra ou se apresenta e logos, explicação ou estudo. Portanto, para Husserl, a fenomenologia é um processo de analisar o fluxo da consciência humana, ao mesmo tempo em que é capaz de representar um objeto fora dessa consciência, haja vista que aborda esse objeto do conhecimento tal qual ele se apresenta à consciência.

Em outras palavras, a fenomenologia estuda os fenômenos, ou seja, o modo como as coisas aparecem no mundo e se mostram à nossa consciência e essa, por sua vez, é responsável por dar sentido aos fenômenos. Na obra de Husserl, o sujeito é o protagonista, pois é ele o portador da consciência que atribui sentido ao objeto.

A consciência, para Husserl, é sempre intencional. O conceito de intencionalidade significa dirigir-se para ou visar a alguma coisa. Por isso a consciência é sempre intencional, já que sempre visa a algo fora de si mesma ou sempre tende para algo. Ao atribuir sentido a um objeto, a consciência visa algo (o objeto) que está fora dela mesma.

Husserl elaborou o método fenomenológico chamado de redução fenomenológica. Por meio da epoché (suspensão dos juízos), Husserl defendia que era preciso deixar em suspenso os conhecimentos que temos sobre o mundo natural, a fim de nos concentrarmos na apreensão dos fenômenos, na forma como eles se apresentam à consciência intencional.

Críticas ao positivismo e ao empirismo

A crítica ao empirismo positivista está relacionada à intencionalidade da consciência e à própria definição de fenômeno. Para os empiristas, existe um objeto em si. Tal afirmação não faz sentido na filosofia de Husserl, porque não existe objeto em si na fenomenologia, o objeto é sempre para o outro, para um sujeito que lhe dá sentido e significado.

Soma-se a isso a crítica ao positivismo que tem uma visão muito objetiva da ciência e a considera neutra e desprovida de subjetividade. A fenomenologia, por sua vez, propõe uma nova visão, na qual a relação entre ser humano e mundo, sujeito e objeto seja inseparável.

5 frases de Edmund Husserl

Confira cinco frases do filósofo que definem os conceitos trabalhados até agora:

  1. Toda consciência é consciência de algo.
  2. Desta maneira, na consciência desperta eu sempre me encontro referido a um único e mesmo mundo, sem jamais poder modificar isso, embora este mundo varie em seu conteúdo. Ele continua sempre a estar “disponível” para mim, e eu mesmo sou membro dele. Este mundo, além disso, não está para mim aí como um mero mundo de coisas, mas, em igual imediatez como mundo de valores, como mundo de bens, como mundo prático.
  3. A Fenomenologia – designa uma ciência, uma conexão de disciplinas científicas; mas, ao mesmo tempo e acima de tudo, ‘fenomenologia” designa um método e uma atitude intelectual: a atitude intelectual especificamente filosófica, o método especificamente filosófico.
  4. A intencionalidade, enquanto propriedade fundamental da minha vida psíquica, designa uma peculiaridade que me pertence realmente a mim enquanto homem e também a cada homem quanto à sua realidade psíquica.
  5. [A intencionalidade da consciência] Trata-se, exclusivamente, do halo de consciência inerente à essência de uma percepção efetuada no modo do “estar voltado para o objeto” e, mais ainda, daquilo que está contido na própria essência desse halo mesmo. Ora, faz parte dessa essência que certas modificações do vivido originário sejam possíveis, modificações que designamos como livre mudança do “olhar” – não exatamente e meramente do olhar físico, mas do “olhar do espírito”

Nessas frases, é possível ver que o pensamento de Husserl se manifesta em seus textos. Nas duas primeiras frases, vê-se a ideia de que a consciência é sempre para algo. A terceira frase é uma das definições dadas por Husserl para a fenomenologia.

Enquanto a quarta e quinta frase se relacionam com o caráter intencional da consciência. A mudança de olhar, sugerida na última frase é a aplicação do método fenomenológico de suspender (“colocar entre parênteses”, no vocabulário husserliano) todos os conhecimentos que temos sobre o mundo, para podermos examinar o fenômeno tal como ele aparece.

Saiba mais sobre Edmund Husserl

Confira alguns vídeos para compreender mais detalhes sobre a vida e a obra de Husserl e aprofunde seus conhecimentos:

Principais ideias de Edmund Husserl

Nesse vídeo, revise as principais ideias defendida por Edmund Husserl. Com uma aula rápida e cheia de exemplo, aproveite o vídeo para revisar o conteúdo estudado.

Husserl e o método fenomenológico

Mateus Salvadori explica, nesse vídeo, a consciência intencional. É interessante que nesse vídeo, é trabalhado o contexto de debate filosófico de Husserl, a crítica aos nominalistas e as correntes as quais Husserl se aproxima. Ele também explora o método fenomenológico mais profundamente.

Por dentro da vida de Husserl

Esse vídeo faz uma boa revisão da biografia de Husserl, com detalhes de onde estudou e lecionou. Aperte o play e veja mais detalhes sobre esse importante filósofo.

Nessa matéria vimos alguns dos principais conceitos da fenomenologia de Husserl, sobretudo acerca da intencionalidade da consciência. Gostou do tema? Aproveite para conferir a corrente filosófica que Husserl tanto criticou, o Positivismo.

Referências

ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2009.
BORBA, J. M. P., A fenomenologia em Husserl. Rev. NUFEN vol.2 no.2 Julho/Dezembro São Paulo, 2010. pp 90-111.
GOMES, A. M. A., PAIVA, E. S., VALDÉS, M. T. M., et. al. Fenomenologia, humanização e promoção da saúde: uma proposta de articulação. Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.1, p.143-152, 2008. pp.143-152.
HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas – Primeiro volume – Prolegómenos à Lógica Pura: de acordo com o texto da Husserliana XVIII editado por Elmar Holenstein. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2005.
PIRES, J. J. Considerações sobre o conceito de intencionalidade em Edmund Husserl. Kínesis – Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia. v. 4 n. 07, 2012
ZILLES, U. Fenomenologia e teoria do conhecimento em Husserl. Revista da Abordagem Gestáltica – XIII(2), jul-dez, 2007. pp. 216-221

Marilia Duka
Por Marilia Duka

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.

Como referenciar este conteúdo

Duka, Marilia. Edmund Husserl. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/edmund-husserl. Acesso em: 26 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UNICENTRO (2010)]

1- Qual o postulado básico da fenomenologia?

A – A fenomenologia afirma que o conhecimento não passa de uma interpretação da realidade, isto é, de uma atribuição de sentidos determinada por uma escala ontológica de valores, constituindo-se, portanto, numa metafísica dos costumes.

B – Em nome da verdade subjetiva, a fenomenologia recusa o projeto da filosofia moderna, recusando o pensamento analítico. Seu postulado básico afirma que o real deixa de ser racional.

C – A fenomenologia procede por decomposição, enumeração e categorização dos objetos, fragmentando-os. Seu postulado básico é estabelecer a dicotomia entre razão e experiência.

D – A fenomenologia pretende realizar a superação da dicotomia razão-experiência no processo do conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional, ou seja, o objeto só existe para um sujeito que lhe dá significado

E – O postulado básico da fenomenologia é a metafísica fenomenológica, isto é, voltada para o reconhecimento do ser em si dos fenômenos, portanto, vinculada a uma noção de ser abstrata e a uma consciência transcendental.

Alternativa D é a correta.

O pressuposto básico da fenomenologia é superação da dicotomia razão x experiência e corpo x mente. E o faz a partir do conceito de consciência intencional.
Lembrando que não existe uma coisa em si, pois o fenômeno é sempre para algo.

2. [UEM (2010) - modificada]

A filosofia de método fenomenológico foi criada na Alemanha pelo matemático e filósofo Edmund Husserl. A fenomenologia como teoria do conhecimento contesta tanto o empirismo quanto o idealismo. Para a fenomenologia, o empirismo conduz ao ceticismo, e o idealismo reduz o conhecimento a uma atividade puramente psicológica.

Sobre a fenomenologia, assinale a alternativa correta.

a) Para a fenomenologia, só podemos alcançar a verdade reproduzindo, pelas experiências realizadas nos laboratórios, os fenômenos que observamos na natureza.

b) Edmund Husserl buscou nos Cursos de filosofia positiva, de August Comte, os princípios que irão fundamentar um método seguro para alcançar a verdade científica.

c) Da mesma maneira que Platão, a fenomenologia considera que o mundo sensível apresenta-se sob o engano da aparência. A verdade deve ser procurada no mundo inteligível das ideias.

d) A fenomenologia considera que a consciência é intencionalidade, ou seja, a consciência é sempre consciência de alguma coisa. Por isso, a fenomenologia não busca explicar a consciência, mas descrevê-la no ato do conhecimento. É a partir da intencionalidade da consciência que devemos entender como se produz o conhecimento.

Alternativa D está correta.

A alternativa contempla as principais características da fenomenologia de Husserl.
As demais alternativas apresentam erros, como o apoio ao empirismo (no caso da A) e do positivismo (como na B).
Husserl também não busca a essência no mundo das ideias, como fez Platão, mas sim na análise dos fenômenos.

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