Theodor Adorno

Embora conhecido pelo conceito de indústria cultural, Theodor Adorno teorizou também sobre a racionalidade instrumental e sua crítica ao capitalismo.

Theodor Adorno foi um importante filósofo e sociólogo que levou a teoria marxista a novas reflexões. Logo, ele foi responsável por tecer críticas e apontar limitações nas ideias de Marx, produzindo novas teorias para o seu próprio tempo. Saiba mais sobre esse importante autor para a sociologia:

Publicidade

Biografia

Theodor W. Adorno. Autor desconhecido, 1958.

Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno foi um alemão nascido na cidade de Frankfurt, em 1903. Inicialmente, dedicou-se aos estudos na música, e ampliou sua teoria na filosofia e sociologia ao se filiar ao Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt.

Relacionadas

Desigualdade social
A desigualdade social é um problema persistente nas sociedades modernas, e é necessário entendê-la de forma não individualista. A sociologia ajuda a compreender suas causas e consequências.
Estado de Bem-Estar Social
Os direitos sociais e as políticas públicas são alguns dos aspectos centrais no Estado de Bem-Estar Social.
Exclusão Social
A exclusão social trata da segregação de uma parcela da sociedade aos diretos básicos do convívio social provocados por/para determinados grupos.

Adorno e outros teóricos – como Max Horkheimer e Herbert Marcuse – são conhecidos, assim, por compor a primeira geração da Escola de Frankfurt: uma verdadeira corrente de pensamento que se formou, denominada teoria crítica.

A proposta da teoria crítica era se basear e ao mesmo tempo questionar as ideias de Karl Marx, atualizando-as para o seu tempo. Nesse contexto, Adorno, que era judeu, e seus colegas foram perseguidos pela Alemanha nazista sob domínio de Hitler, na Segunda Guerra Mundial.

Assim, semelhantemente a outros teóricos, Adorno passou anos fora da Alemanha, na Inglaterra, desenvolvendo suas teorias. Ao término da Guerra, retornou ao país e reabriu o Instituto, ocupando a posição de diretor. Faleceu em 1969 com uma doença cardíaca.

Teorias

Um dos grandes projetos teóricos de Adorno com sua teoria crítica era de fazer um diagnóstico ou uma leitura das condições sociais do seu mundo contemporâneo. Assim, um dos pontos centrais de seu argumento se voltou à racionalidade do esclarecimento.

Publicidade

O esclarecimento, referente ao iluminismo, pregou pelo menos desde o século XVIII que a Ciência, por meio da Razão, conseguiria estudar a natureza como um objeto e dominá-la. Ou seja, o objetivo era se afastar dos mitos e das religiões, e chegar à verdade com a Ciência.

Contudo, ao transformar tudo em “coisa” da natureza, a própria racionalidade se torna um mero objeto – o que foi chamado de racionalidade instrumental. Logo, os sujeitos da sociedade moderna e capitalista fazem “cálculos” a todo momento, visando alcançar seus objetivos.

Portanto, essa é a racionalidade impregnada nas pessoas ao viverem em uma sociedade capitalista: os indivíduos são instrumentos, cada um com sua função e servindo para um fim. Ao mesmo tempo, tudo se torna mercadoria – incluindo, claro, o próprio trabalho.

Publicidade

Esse diagnóstico de uma sociedade baseada na racionalidade instrumental mostra também os prejuízos psicológicos nos indivíduos; afinal, quando tudo é mera questão de necessidade e de alcançar fins, a vida começa a perder sentido.

Adorno e Horkheimer

Max Horkheimer foi colega de Adorno, ambos associados ao Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. Também alemão e filho de judeus, nasceu em Stuttgart, em 1895. Assim, ambos tiveram trajetórias parecidas produzindo teoria social, e fugindo da violência nazista.

Particularmente, a relação de Horkheimer com Adorno foi importante porque publicaram juntos obras bastante conhecidas, como A Dialética do Esclarecimento. É nesse livro que conceitos como da racionalidade instrumental são explicados, além da indústria cultural.

Escola de Frankfurt e a indústria cultural

Quando se fala sobre Theodor Adorno, incluindo Max Horkheimer, imediatamente são associados termos importantes: a Escola de Frankfurt e a indústria cultural. O que eles significam? Veja a seguir:

Escola de Frankfurt

Embora existam controvérsias, os teóricos filiados ao Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt acabaram criando uma verdadeira corrente de pensamento: a teoria crítica. Apesar de haver uma diversidade de ideias, essa vertente de autores é chamada de Escola de Frankfurt.

Assim, Adorno e Horkheimer fazem parte da chamada primeira geração da Escola de Frankfurt, inaugurando interesses de pesquisa que foram seguidos pelos seus sucessores. Um dos mais conhecidos, Walter Benjamin, faz parte da terceira geração dessa vertente.

Assim, a Escola de Frankfurt não diz respeito necessariamente a um lugar físico, mas a uma corrente filosófica e sociológica. Nela, se juntaram autores marxistas que não queriam simplesmente repetir a teoria de Marx, mas criticá-la e reformulá-la para os tempos atuais.

Indústria cultural

Na obra A Dialética do Esclarecimento, publicada por Adorno e Horkheimer, foi mencionada pela primeira vez o conceito de indústria cultural. Por esse termo, os autores demonstram como manifestações culturais como a arte e a música se tornam simples mercadoria no sistema capitalista.

Desse modo, o próprio nome expressa uma ideia central: a “cultura” é transformada em mercadoria e produzida em larga escala, como em um processo industrial. Para exemplos, basta lembrar as rádios, a televisão, e a mais recente internet e a indústria musical.

Logo, o grande problema da indústria cultural é que, ao invés de ser uma ferramenta de crítica ao sistema, a arte acaba funcionando como um modo de alienar as pessoas conforme a lógica capitalista – afinal, ela passa a ser monopolizada pela burguesia que a produz.

Assim, a ideologia do capitalismo acaba se disseminando cada vez mais na sociedade por meio da música, da pintura, do cinema e outros meios artísticos. Além disso, as expressões culturais, ao se tornarem mercadoria, passam a ser consumidas diferentemente pelas elites e pelo “povo.”

Por fim, o conceito de indústria cultural, teorizada por Adorno e Horkheimer, é uma marca importante da vertente de pensamento da Escola de Frankfurt. De fato, esse termo mostra a tentativa de diagnóstico e crítica da sociedade dos nossos tempos.

Frases de Theodor Adorno

A seguir, confira uma série de citações de Adorno, dando a possibilidade de ter contato direto com seus textos:

  • “[…] o esclarecimento exprime o movimento real da sociedade burguesa como um todo sob o aspecto da encarnação de sua Ideia em pessoas e instituições.”
  • “Para além da cabeça dos indivíduos formalmente livres, a lei do valor se impõe. Eles são desprovidos de liberdade, de acordo com a intelecção de Marx, enquanto os seus executores involuntários.”
  • “Nele [o “tempo livre”] prolonga-se não a liberdade, tão desconhecida da maioria das pessoas não livres como a sua não-liberdade em si mesma.”
  • “Nenhuma satisfação pode ser inerente ao trabalho que, aliás, perde a sua modéstia funcional na totalidade dos fins, nenhuma faísca da reflexão pode irromper durante o tempo livre, porque poderia saltar para o mundo do trabalho e pô-lo em chamas.”
  • “[…] aquele que se embriaga como espectador com batalhas, revoluções e catástrofes silencia quanto a se a libertação, da qual ele fala de modo burguês, não deveria se libertar destas categorias.”
  • “A filosofia, que um dia pareceu ultrapassada, mantém-se viva porque se perdeu o instante de sua realização.”
  • “Só por teimosia se poderia supor hoje esta possibilidade igual a do tempo de Marx. O proletariado ao qual Marx se dirigia não estava todavia integrado, se empobrecia a olhos vistos […].”

Assim, Adorno é uma referência interessante para pensar a respeito de possíveis desdobramentos da teoria marxista – e seus limites, bem como os desafios.

Vídeos sobre Theodor Adorno

Além de seus próprios textos, é interessante ouvir e debater sobre o assunto para estudar o autor. Assim, confira uma seleção de vídeos que trará temas e abordagens diferentes sobre Adorno, auxiliando em seu estudo:

Quem foi Theodor Adorno?

No vídeo acima, entenda mais sobre a biografia de Adorno e revise as principais ideias que foram teorizadas pelo autor. Não se esqueça de ativar as legendas disponíveis.

Teoria com Max Horkheimer

Max Horkheimer foi uma parceria central para Adorno em suas reflexões e na sistematização de suas teorias. Saiba mais.

Sobre indústria cultural

Um dos conceitos mais conhecidos relacionados a Adorno é o da indústria cultural. Com ela, é feita uma das críticas recorrentes às produções culturais na atualidade.

Educação em Adorno

Como pensar Theodor Adorno no campo da educação? Esse é um tema interessante a ser debatido, tendo em vista as suas ideias sobre a racionalidade instrumental.

A dialética do esclarecimento

O que significa o esclarecimento para Adorno? Entenda sobre esse tema central em sua teoria, e até as razões do autor ser considerado um pessimista.

Assim, Theodor Adorno é uma referência importante principalmente para quem é interessado nos desdobramentos das teorias marxistas. Para saber mais, veja sobre luta de classes e classe social.

Referências

Capitalismo e racionalidade instrumental: reflexões acerca do tempo livre em Theodor Adorno – André Campos Rocha;

Theodor Adorno – Manoela Groh;

Theodor W. Adorno: um crítico na era dourada do capitalismo – Amaro de Oliveira Fleck.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Theodor Adorno. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/theodor-adorno. Acesso em: 13 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UEL]

Leia o texto a seguir.
O modo de comportamento perceptivo, através do qual se prepara o esquecer e o rápido recordar da música de massas, é a desconcentração. Se os produtos normalizados e irremediavelmente semelhantes entre si, exceto certas particularidades surpreendentes, não permitem uma audição concentrada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes, estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes de uma audição concentrada. Não conseguem manter a tensão de uma concentração atenta, e por isso se entregam resignadamente àquilo que acontece e flui acima deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o ouvem sem atenção excessiva.
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p.190. Coleção Os Pensadores.)

As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memorização e com forte apelo à cultura de massa.
A respeito do tema da regressão da audição na Indústria Cultural e da relação entre arte e sociedade em Adorno, assinale a alternativa correta.
a) A impossibilidade de uma audição concentrada e de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de que a música tornou-se um produto de consumo, encobrindo seu poder crítico.
b) A música representa um domínio particular, quase autônomo, das produções sociais, pois se baseia no livre jogo da imaginação, o que impossibilita estabelecer um vínculo entre arte e sociedade.
c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade de manifestar criticamente conteúdos racionais expressos no modo típico do comportamento perceptivo inato às massas.
d) A tensão resultante da concentração requerida para a apreciação da música é uma exigência extramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente mais próxima da desconcentração.
e) Audição concentrada significa a capacidade de apreender e de repetir os elementos que constituem a música, sendo a facilidade da repetição o que concede poder crítico à música.

Resposta: a

Justificativa: um dos efeitos da indústria cultural é transformar a arte em bem de consumo, retirando seu caráter crítico.

2. [UEL]

Leia o texto de Adorno a seguir.
Se as duas esferas da música se movem na unidade da sua contradição recíproca, a linha de demarcação que as separa é variável. A produção musical avançada se independentizou do consumo. O resto da música séria é submetido à lei do consumo, pelo preço de seu conteúdo. Ouve-se tal música séria como se consome uma mercadoria adquirida no mercado. Carecem totalmente de significado real as distinções entre a audição da música “clássica” oficial e da música ligeira.
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: BENJAMIN, W. et all. Textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987. p. 84.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Adorno, é correto afirmar:
a) A música séria e a música ligeira são essencialmente críticas à sociedade de consumo e à indústria cultural.
b) Ao se tornarem autônomas e independentes do consumo, a música séria e a música ligeira passam a realçar o seu valor de uso em detrimento do valor de troca.
c) A indústria cultural acabou preparando a sua própria autorreflexividade ao transformar a música ligeira e a séria em mercadorias.
d) Tanto a música séria quanto a ligeira foram transformadas em mercadoria com o avanço da produção industrial.
e) As esferas da música séria e da ligeira são separadas e nada possuem em comum.

Resposta: d

Justificativa: todas as produções musicais são integradas, pouco a pouco, na lógica instrumental da indústria capitalista.

3. [UFPA]

Desde Platão se discute a função sociocultural da arte, o que confere à sua autonomia uma certa relatividade. Recentemente, com a Escola de Frankfurt, cunhou-se para a determinação social da arte termos como “indústria cultural” e “cultura de massa”, porque, como diz Theodor Adorno, no regime econômico capitalista sacrifica-se “o que fazia a diferença entre a lógica da obra [de arte] e a do sistema social.” Com relação à interpretação de Adorno sobre a função social da arte no regime capitalista, considere as afirmativas abaixo:

I. Na sociedade capitalista, o desenvolvimento técnico-industrial conduziu à padronização do gosto em beneficio do mercado.

II. Não há gozo da arte, na sociedade liberal, se a criação for massificada.

III. Ao sacrificar a lógica da obra às determinações do sistema, o artista está garantindo não só seu lucro como a própria sobrevivência da arte, já que a nossa economia é capitalista.

IV. Com a indústria cultural, ocorre a perda completa da ideia de autonomia da arte.

V. Adorno não concorda com Platão quanto à ideia de que a experiência estética, como acontece hoje em dia, necessita de um nexo funcional para cumprir seu papel na vida social e política do homem.

Estão corretas as afirmativas:
a) I e II
b) II e V
c) I e IV
d) II, III, V
e) I, III, IV e V

Resposta: c

Justificativa: os efeitos da indústria cultural incluem a massificação dos gostos das pessoas e a perda da autonomia da arte, pois ela fica submetida aos interesses da classe burguesa.

4. [UEL]

Leia o texto a seguir.
O saber que é poder não conhece nenhuma barreira, nem na escravização da criatura, nem na complacência em face dos senhores do mundo. Do mesmo modo que está a serviço de todos os fins da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha, assim também está à disposição dos empresários, não importa sua origem.
(ADORNO, T. W. & HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. p. 20.)

Com base no texto e no conhecimento dos conceitos de esclarecimento e racionalidade instrumental em Adorno e Horkheimer sobre o referido saber, é correto afirmar:
a) Seu conteúdo é racional por si mesmo e de natureza crítico-reflexiva.
b) É principalmente técnico e carente de conteúdo racional por si mesmo.
c) Tem uma dimensão reflexiva e seus objetivos são racionais por si mesmos.
d) É caracterizado por forças sobrenaturais indomáveis que animam tudo.
e) Estabelece limites para o domínio nas relações socioeconômicas.

Resposta: b

Justificativa: o paradoxo da racionalidade instrumental é torná-lo objeto e retirar dele seu próprio conteúdo racional, sendo puramente técnico.

Compartilhe

TOPO