Sionismo

O sionismo foi um movimento político surgido no século XIX e que buscou a fundação do Estado nacional istaelita. Abaixo, confira o contexto de sua criação e os seus desdobramentos nos dias atuais.

O Sionismo surge de uma tentativa de, a partir de bases religiosas e de uma conjuntura social, autodeterminar o direito do povo judeu no âmbito político, por meio da existência de um Estado nacional judaico soberano e independente. Sua criação é feita no território onde historicamente esteve localizado a “Terra prometida”, o antigo reino de Israel na atual Palestina.

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História do sionismo

Originado no século XIX na Europa Central e oriental como um movimento religioso-politico, o sionismo surge em defesa de um ideal que almejava a formação de um Estado Nacional israelense que não só abrigasse os judeus, mas fortalecesse e revitalizasse a identidade desse povo. A ideia de “retorno” num contexto onde os judeus, especialmente os europeus e orientais, eram perseguidos e hostilizados motivou toda essa construção.

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Adolf Hitler
Hitler foi um ditador da Alemanha nazista que trouxe o extermínio de judeus, além de outros povos que não pertenciam à "raça ariana".
Nazifascismo
O nazifascismo é conhecido atualmente como uma das grandes tragédias mundiais na história ocidental. Seus efeitos ainda continuam presentes e faz parte de disputas políticas.
Segunda Guerra Mundial
Um dos conflitos bélicos mais relevantes da História, a Segunda Grande Guerra dividiu as maiores potências mundiais entre 1939 e 1945.

Assim como toda história é construída por vivências, interesses e contextos, o sionismo também o foi, não apenas como um conceito, mas como um movimento político. Segundo o historiador e antropólogo, Michel Gherman, o sionismo, em seu contexto de crescimento, é motivado por um caráter nacionalista que, consequentemente, ganha traços colonialistas ao tentar colonizar e moldar o território palestino aos seus ideais.

O terno “sionismo” é oriundo da palavra “Sion”, designando uma colina que cerca Jerusalém. Mas o termo vai além de um conceito qualquer, tendo em vista que ele é citado e frisado nas Escrituras Sagradas diversas vezes, portanto, é incorporado na vivência social e religiosa daqueles que se consideram judeu.

Além disso, segundo os relatos bíblicos, a terra prometida aos judeus corresponderia a cidade sagrada de Jerusalém, tendo em vista que durante séculos antes de Cristo, o povo judeu teria vivido nessa região, até as invasões dos romanos a esse território, quando o povo judeu foi expulso e exilado. Com essa expulsão, os judeus distribuíram-se em várias regiões da Europa e do Oriente, mas a identidade do povo judeu não foi enfraquecida diante disso, pelo contrário.

Há, portanto, um simbolismo significativo buscado pelo movimento sionista. Para os seus idealizadores, o sionismo moderno alega ser um movimento de libertação de todos os judeus, e seus ideólogos buscaram ao máximo formas de tornar os termos “judeu” e “sionista” como quase sinônimos. Mas essa “libertação” não foi alargada a todos.

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Surgimento do sionismo moderno: um movimento mais que religioso

Basta se conectar a algum meio de comunicação e pesquisar sobre Israel que facilmente você verá alguma notícia tratando sobre o conflito entre judeus e os árabes que habitam na região da Palestina. Quase naturalmente a questão religiosa vem à mente para entender o conflito. Mas o aspecto religioso, apesar de ter sido parte da criação do movimento sionista, não foi o único fator.

Com o crescimento do antissemitismo no continente europeu, parte do povo judeu passou a ser visto e considerado com hostilidade e indiferença, principalmente devido às perseguições provocadas pelos movimentos nacionalistas que imergiam no século XIX. O sionismo surge nesse contexto de despertar dos movimentos nacionais em busca de autodeterminação e identidade.

Outro aspecto refere-se ao momento em que os judeus haviam, segundo alguns sionistas, se integrado à sociedade e cultura europeia, deixando suas bases religiosas tradicionais fragilizadas. Diante desse momento, o escritor e jornalista austríaco, Theodor Herzl, fundamenta, por meio do seu livro “O Estado judeu” (Der Judenstaat) lançado em 1896, os ideais do sionismo político.

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O sionismo político visa, além da criação do Estado de Israel, o fim do antissemitismo no continente europeu; outrossim, uma das motivações para tal surgimento foi o caso Dreyfus.

O caso Dreyfus mexeu com a sociedade europeia ocidental, especialmente a francesa; o oficial do Exército francês, Alfred Dreyfus, acusado de trair a França, foi submetido à prisão perpétua e, posteriormente, foi inocentado pelas autoridades responsáveis. Esse processo levantou algumas questões entre os setores da sociedade. Afinal, por qual motivo o oficial teria sido preso? Um dos apontamentos foi o pertencimento de Dreyfus à etnia judaica.

Em 1897, Herzl articulou o primeiro Congresso Sionista Mundial, e nele foram criados os fundamentos do sionismo. Esse conjunto de fatores impulsionou o sionismo enquanto movimento fortemente político.

As origens dos conflitos em torno do Estado de Israel

Com a queda do Império Otomano, em 1918, a Grã-Bretanha domina totalmente o território palestino. Já em 1917, quando a Inglaterra assinou a Declaração de Balfour, ficou claro o apoio e incentivo dos britânicos aos sionistas no processo de criação de um Estado nacional israelita na região da Palestina.

Apesar do apoio britânico e da consolidação das bases do movimento sionista que incentivou a imigração dos judeus à Palestina, surgiram algumas questões que impediram o projeto político sionista em sua plenitude, dentre elas estava a presença dos árabes no território.

O aumento desses povos de etnias distintas na mesma região aumentou significativamente os conflitos em torno do direito e legitimidade da terra. Contudo, apesar disso, o sionismo fortaleceu-se muito politicamente nas décadas de 1930 e 1940, em detrimento do holocausto e da triste e desumana experiência ocorrida durante o regime nazista.

Em 1947, a Organização das Nações Unidas chegou a propor a divisão do território, mas a povo palestino recusou a tentativa de partilha. Diante de tal recusa, os judeus sionistas declararam a sua independência e soberania, fundando um Estado judeu formado através da Resolução 181 da ONU.

Os conflitos aumentam qualitativamente atualmente, e apesar de décadas, continuam tendo como protagonistas os judeus e árabes — um conflito não só religioso e político, mas também simbólico em torno da terra santa.

Divisões do sionismo

Mesmo sendo denominado por um único termo, o sionismo é um movimento multifacetado e polissêmico, isto é, dentro dele existem muitas divisões, diferenças e discordâncias. Mas a primeira questão a ser analisada antes de identificar as divisões sionistas são a distinção entre judaísmo e sionismo. Ser judeu não significa dizer que esse sujeito adere ao movimento sionista.

Ademais, existem distintos grupos sionistas; algumas diferenças são sutis, mas são extremamente importantes para a compreensão desse fenômeno político, conforme se pode ver:

Sionismo religioso

Essa corrente sionista baseia-se na fusão entre princípios sionistas e judaicos; na prática, os integrantes do sionismo religioso norteiam suas práticas religiosas e políticas em torno da Torá, do Talmud (conjunto de ensinamentos judaicos antigos) e outros livros judaicos. Segundo esta corrente, todas as vivências judaicas, inclusive aquelas registradas na torá, apontam para a necessidade do povo judeu ocuparem a terra prometida.

Sionismo socialista

Essa corrente sionista parte do pressuposto de que a criação e manutenção do Estado Nacional de Israel não seria realizado com a ajuda e contribuição da comunidade internacional e potências mundiais, mas sim através da união e luta da classe trabalhadora, especialmente daqueles considerados mais pobres e desamparados. Essa corrente sionista surge a partir do Segundo Congresso Sionista, ocorrido em 1898.

Sionismo político

Esse grupo de sionista surge através de uma ruptura da organização sionista pelos socialistas; segundo essa corrente do movimento sionista, o Estado de Israel deveria tornar-se soberano e independente pela via diplomática com a comunidade internacional.

Sionismo cultural

Essa categoria do movimento sionista foi proposta por Ahad Ha’am, e encontra base principalmente naqueles indivíduos não judeus, isto porque são essas pessoas que apoiam o sionismo na totalidade, pelo menos as suas bases fundamentais no que se refere à existência de um Estado nacional judeu. O sionismo cristão, por exemplo, é um desses grupos que dão mais voz ao movimento.

Essas distinções são essenciais para dimensionar a diversidade do sionismo enquanto movimento na contemporaneidade.

Antissionismo

Geralmente, compreende-se o Antissionismo como aqueles indivíduos que, diferentemente do antissemitismo e do anti-judaísmo, não possuem nenhuma hostilidade nem com a etnia semita e nem com a religião judaica. Mas que rejeitam totalmente o viés político almejado pelos sionistas, isto é, a existência de um estado de Israel legítimo, soberano e independente na região da atual Palestina.

Um grupo considerado antissionista é o Neturei Karta que defende intensamente que o estado de Israel não deve existir. Interessante mencionar que o Neturei Karta é um grupo judaico, revelando haver muitas divisões entre o próprio povo judeu, portanto, reduzir esse grupo a um conjunto uniforme de interesses é retirar a diversidade rica e complexa dos judeus.

Esse grupo judeu antissionista creem que a Diáspora judaica é resultado dos pecados do povo judeu, e que qualquer maneira de tentar reconstruir um estado judeu se configura como uma grande violação à vontade de Deus. Ainda defendem que o holocausto judaico durante a Segunda Guerra Mundial é utilizado como justificativa para a criação do Estado de Israel, e que esse momento tão sombrio na história foi provocado pelo próprio sionismo.

Por fim, partem da ideia de que os judeus devem continuam em exílio até que o Estado judaico seja revitalizado e restaurado não por homens, mas pelo próprio Deus, por meio da vinda do Messias. Perceba como um mesmo grupo pertencente à mesma etnia percebe o Sionismo na atualidade.

Sionismo no Brasil

Desde 1917, pode-se identificar ações em torno do apoio do Congresso Nacional do Brasil à Declaração Balfour, assinada pela Grã-Bretanha, garantindo-a o domínio da região Palestina. Já em 1922, ocorreu a criação da Federação Sionista do Brasil, agindo por meio dos mecanismos culturais e políticos, como os periódicos e jornais. Uma das grandes preocupações seria a de disseminar os ideais em torno do movimento sionista, segundo o historiador israelense Ilan Pappé.

No Brasil, assim como em outros países, o movimento sionista agiu através dos espaços sociais de produção de ideias de modo a propagar as ideias e objetivos do movimento. As iniciativas sionistas ocorridas no Brasil contavam com judeus e não judeus influentes na sociedade, dando prestígio ao movimento.

Atualmente existem algumas organizações que possuem traços e posições sionistas, como a Confederação israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj) e a Federação Israelita de São Paulo (Fisesp). Alguns estudiosos do tema afirmam que todos esses grupos são apoiados parcial ou integralmente pelo governo israelense, ou por associações sionistas ativas nos espaços públicos da sociedade.

Saiba mais sobre sionismo a parte de videoaulas

O assunto é complexo e exige fôlego para um entendimento total, por isso, confira também videoaulas sobre o tema e complemente seu estudo!

Parte 1 – contexto histórico e diáspora judaica

No primeiro de dois vídeos sobre o tema, o professor de geografia Rafael Barreto volta alguns séculos na história para contextualizar os acontecimentos com o povo judeu, desde sua diáspora para a Europa e África, até o início do movimento antissemita, causando a migração do povo judeu para região da Palestina.

Parte 2 – movimento sionista e partilha da Palestina

No segundo e último vídeo que resumi brevemente o tema, o professor da sequência aos acontecimentos históricos abordando agora o movimento sionista e a conquista de Israel de boa parte do território palestino. Confira!

A questão Palestina

Nesse primeiro vídeo de uma série sobre a história da Palestina, a professora, pesquisadora e produtora de conteúdo Sabrina Fernandes traz uma introdução histórica sobre o conflito entre a Palestina e Israel, contemplando o conceito de sionismo, antissionismo e anti-semitismo. Não pare por aí, e assista todos os vídeos da série!

Por fim, compreende-se que o Sionismo é um movimento político complexo e com muitas correntes, mas que partem de um mesmo pressuposto: a busca por uma revitalização e fortalecimento da identidade religiosa e cultural de parte do povo judeu. As vias a serem seguidas para isso é o que torna o tema ainda vivo no tempo presente. Para conhecer mais sobre o tema, conheça a vida e obras da grande pensadora judia, Hanna Arendt

Referências

Os sefarditas em Israel: o sionismo do ponto de vista das vítimas judaicas (2007) — Ella Shohat
O início do sionismo no Brasil (2018) — Michel Gherman
Como curar um fanático? (2016) — Amós Oz

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Sionismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/sionismo. Acesso em: 20 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1.

Na esteira da discórdia entre judeus e palestinos nos territórios por eles disputados está o movimento sionista, apontado por muitos como um dos principais elementos relacionados com o aumento das tensões entre ambos os lados da questão. De toda forma, o sionismo não é a causa do problema em si, mas um de seus fatores históricos mais importantes.

Entende-se por sionismo:

a) a intenção proeminente dos povos árabes de tentar erradicar os judeus do Oriente Médio.

b) a crença religiosa de que judeus e muçulmanos são povos excludentes e que jamais entrarão em paz.

c) a busca dos judeus pela Terra Prometida, nos arredores de Jerusalém, com a consequente criação de seu Estado-Nação.

d) o movimento de resistência dos judeus frente às constantes ameaças árabes promovidas em todo o mundo.

c) a busca dos judeus pela Terra Prometida, nos arredores de Jerusalém, com a consequente criação de seu Estado-Nação.

O movimento sionista tem como fundamento central a busca pela criação e manutenção do Estado-Nação de Israel

2. [IFBA]

“Os Estados Árabes se consideram em estado de guerra com Israel e, desde 1948, não cessam de proclamar sua vontade de lançar os israelitas no mar e de riscar seu Estado do mapa do Oriente próximo (…).”

FRIEDMANN, Georges. Fim do povo judeu? São Paulo: Perspectiva, 1969, p. 243.

Iniciado em 1848, o conflito palestino-israelense constituiu, no Oriente Médio, o que se convencionou chamar de Questão Palestina, que está longe de ser resolvida, ainda hoje, e pode ser relacionada à

a) exigência, pelos países do Oriente Médio, de cumprimento do Plano da ONU de Partição da Palestina, que criava o Estado Palestino no final da Segunda Guerra Mundial.

b) incapacidade dos países vencedores da Segunda Guerra de garantir a paz no Ocidente nos anos posteriores ao conflito, provocando uma fuga em massa de judeus para a Palestina.

c) construção de um padrão de instabilidade nas relações internacionais pelo recém-criado Estado de Israel, que contava com o apoio dos Estados Unidos, da União Soviética e da ONU.

d) recusa árabe à partilha da Palestina, imposta pela ONU, que submeteu a maior parte do território ao controle do recém-criado Estado de Israel, sem que se respeitasse a soberania dos povos desta região.

e) extinção oficial do mandato britânico sobre a Palestina, no final da Segunda Guerra, com reconhecimento imediato pelos países vencedores da independência de todos os países do Oriente Médio.

d) recusa árabe à partilha da Palestina, imposta pela ONU, que submeteu a maior parte do território ao controle do recém-criado Estado de Israel, sem que se respeitasse a soberania dos povos desta região.

A recusa do povo árabe que, a partir da tentativa de partilha do território palestino pela ONU, reforçou o posicionamento desse grupo diverso frente ao conflito israel-palestina

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