Domingo Sangrento

Domingo Sangrento representou mais do que um ato de violência do Estado para com grupos de manifestantes que protestava por algumas pautas. Para saber mais, leia o texto e aprenda sobre o tema!

O Domingo Sangrento, mesmo sendo uma junção de termos no singular, refere-se a dois acontecimentos históricos, ambos marcados pela ação do Estado em reprimir violentamente grupos sociais manifestantes. O primeiro ocorre em São Petersburgo, na Rússia, no dia 9 de janeiro de 1905, e o segundo designa um massacre igualmente violento cometido na Irlanda do Norte, em 30 de janeiro de 1972.

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Índice do conteúdo:

Domingo Sangrento na Rússia

Talvez seja um exercício difícil pensar sobre um Domingo, ainda mais sendo sangrento, diferente do que você provavelmente vive nos dias atuais. Pensar o domingo é, geralmente, uma forma de lembrar de lazer e descanso. Mas essa não foi a realidade vivida por um grupo de manifestantes russos no ano de 1905.

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No dia 9 de janeiro de 1905 reside, segundo os historiadores, o grande ensaio da Revolução Russa de 1917, e é nele que se pode identificar os primeiros indícios de tentativa de rompimento com a ordem czarista existente, mas ainda de forma muito sutil.

Movidos pela insatisfação diante da crise econômica e política existente no Império Russo, um grande grupo de operários juntamente às suas famílias, marcharam em direção do Palácio de Inverno, residência oficial da família real, a fim de entregar algumas petições ao czar Nicolau II.

Sendo uma manifestação amplamente pacífica tendo traços até mesmo religiosos, visto que o ato foi liderado pelo padre cristão ortodoxo russo George Gapon, o grupo reivindicava: redução da jornada de trabalho para 8 horas, a existência de um salário mínimo de um rublo por dia, instrução gratuita e obrigatória, eleições para uma Assembleia Constituinte, dentre outros pontos.

A resposta do czar a esse momento foi um Domingo Sangrento, pois a ordem do imperador naquele momento foi que seus soldados atirassem contra a multidão, resultando em mais de mil mortos num só dia.

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Diante desse ocorrido, inúmeros operários, camponeses e marinheiros se mobilizaram contra a autocracia russa, provocando levantes e manifestações em oposição ao czarismo. Os mais marcantes dentre eles foi a Revolta dos Marinheiros do encouraçado Potemkin e as primeiras mobilizações de personagens centrais na história da Revolução Russa, como os soviets.

Mas afinal, quais foram as causas que impulsionaram tamanha revolta dos operários nesse evento sangrento e cruel?

Causas e Consequências

Ao contrário do que muitos pensam, as manifestações ocorridas no ano de 1905 na cidade de São Petersburgo não tinha um tom radical ou mesmo revolucionário. Elas pediam apenas melhorias nas condições de trabalho dos operários, somado ao fato de que a petição possuía um caráter simpatizante para com o czar Nicolau II.

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Sendo assim, o movimento era mais reformista do que revolucionário. Mas a causa ligada ao ambiente de trabalho não foi a única. O grupo em si também protestou para com a economia e decisões políticas tomadas na época.

No campo econômico, a Rússia passava por um processo de industrialização, modernização econômica e urbanização, e isso trouxe impactos consideráveis na estrutura social russa. Além de ter incentivado minimamente a economia, o Estado adotou medidas econômicas protecionistas usando, por exemplo, os tributos como forma de dificultar a importação de produtos e maquinários importantes.

Como consequência, houve uma enorme migração da população para as cidades, tendo em vista os desafios de se trabalhar nas áreas rurais com o desenvolvimento da agricultura. Com a superlotação de pessoas nas principais cidades, como São Petersburgo, houve uma vasta mão de obra e uma grande desvalorização salarial.

Por outro lado, no campo político, o autoritarismo do regime czarista se fortalecia frente ao contexto social então existente. Um retrato disto é o próprio Domingo Sangrento, formado por pessoas que, em sua maioria, apoiavam o czar, ainda assim foram brutalmente reprimidas, feridas e, no caso de algumas, mortas.

Como consequência desse processo histórico, houve o surgimento de oposições políticas ao czar, como o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) juntamente aos soviets – conselhos e organizações políticas formadas pelo proletariado. Como afirma a pesquisadora Mirele Hashimoto Siqueira, é após o Domingo Sangrento que os soviets deixam de representar as massas em luta para ascender a partir do campo político no ano de 1917.

É no centro da mobilização desses grupos insatisfeitos que a Revolução Russa ganha voz e vez em 1917.

Domingo Sangrento na Irlanda

Mais de 70 anos depois do massacre ocorrido em São Petersburgo, a história registra outro episódio de violência política, só que dessa vez na Irlanda do Norte, no dia 30 de janeiro de 1972, na cidade de Derry.

Neste contexto social irlandês surge o que ficaria conhecido posteriormente como “Bloody Sunday” – Domingo Sangrento. A cidade irlandesa de Derry foi reivindicada pelo estado britânico, e de forma contrária às aspirações do governo inglês, mihares de civis saíram pelas ruas numa manifestação pacífica, porém considerada ilegal pelo Estado.

Causas e consequências

Rumo à Câmara Municipal, os manifestantes acusavam o governo inglês pelas decisões tomadas de prender sem qualquer justificativa plausível pessoas suspeitas de participarem do Exército Republicano Irlandês (IRA). O conflito se iniciou no momento em que o Exército Inglês buscou proibir os manifestantes de se aproximar da Câmara, fazendo com que parte do grupo seguisse outra direção.

Contudo, nem todos os indivíduos refizeram a rota diante da impossibilidade de passagem, e muitos manifestantes enfrentaram a força militar inglesa reagindo com pedras, garrafas e outras ferramentas. Os militares ingleses responderam brutalmente atirando balas de borracha e canhões de água.

O resultado dessa rápida resposta militar foi a morte de 14 pessoas e o ferimento de 12 manifestantes. Entre os feridos estavam um menino de apenas 15 anos de idade e uma mulher adulta. Como justificativa para tal ação, o governo britânico afirmou que todos os manifestantes agiram objetivando o terrorismo.

Durante décadas, os familiares das vítimas se reuniram no dia 30 de janeiro a fim de rememorar o acontecimento e cobrar das autoridades britânicas a reparação de um Domingo Sangrento e violento nunca esquecido.

Foi apenas no ano de 2010, que o caso foi julgado no âmbito público, chegando a conclusão de que fora injustificável as ações tomadas pelo governo inglês, reconhecendo as ações de todas as vítimas como inocentes. É sob esse cenário que, em 1982, uma das principais bandas irlandesas, U2, escreve a sua canção imortalizada, Sunday Bloody Sunday, cantando e refletindo sobre um ato cruel que nunca será esquecido pelos irlandeses.

Por dentro do contexto dos Domingos Sangrentos

De modo a profundar os temas aqui estudados, assista os vídeos abaixo e entenda mais sobre quão violentas podem ser as ações do Estado diante do exercício livre de manifestação e protesto.

Uma visão geral do Domingo Sangrento russo

Neste vídeo, o canal “História Contada” faz um panorama geral sobre as origens do Domingo Sangrento ocorrido no ano de 1905, abordando também quais foram as principais consequências desse evento histórico.

O Bloody Sunday irlandês através de suas causas

Como forma de melhor entender esse acontecimento histórico violento, o historiador Felipe Figueiredo analisa as causas desse conflito de forma didática e ilustrativa.

A história por trás da música “Sunday Bloody Sunday

É possível uma canção relevar uma determinada realidade histórica? A resposta é sim, e é isso que a banda irlandesa U2 faz na sua música “Sunday Bloody Sunday”. Neste vídeo você irá compreender mais sobre a história por trás da música.

Se você gostou de entender e aprender sobre o tema e os seus desdobramentos na história humana, clique aqui e conheça mais sobre a tirania, um tema igualmente relevante para analisar as dinâmicas políticas da sociedade no tempo presente.

Referências

História concisa da Revolução Russa (2008) – Richard Pipes
Os soviets na Revolução Russa: um balanço da experiência de 1905 e 1917 (2019) – Mirele Hashimoto Siqueira
O conflito na Irlanda do Norte o consocioativismo (2016) – Poliana G. Ribeiro, Raquel T. Spiri

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Domingo Sangrento. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/domingo-sangrento. Acesso em: 13 de December de 2024.

Exercícios resolvidos

1.

O contexto histórico russo no início do século XX foi marcado por uma grande crise de origem econômica, e reforçada pela instabilidade do sistema político czarista. Com a crescente fome e o avanço da industrialização, milhares de operários russos marcharam rumo ao Palácio de Inverno a fim de protestar em prol de melhores condições de vida.

Esse momento conhecido como Domingo Sangrento, devido à forte repressão do Exército russo aos manifestantes, buscou levar ao czar algumas pautar de melhorias sociais. Assinale abaixo as petições apresentadas pelos manifestantes:

A) redução da jornada de trabalho para 8 horas, a existência de um salário mínimo de um rublo por dia, instrução gratuita e obrigatória e eleições para uma Assembleia Constituinte

B) fim do regime czarista, a redução dos impostos e a perseguição aos donos do capital

C) a manutenção da jornada de trabalho junto com o aumento salarial, instrução educacional privada e o direito político de protestar

D) o fim do regime czarista, a implementação do regime socialista e a adoção dos princípios marxistas

A) redução da jornada de trabalho para 8 horas, a existência de um salário mínimo de um rublo por dia, instrução gratuita e obrigatória e eleições para uma Assembleia Constituinte

Conforme visto no texto, a manifestação de 1905 foi conduzida de forma pacífica e tinha por objetivo cobrar novas melhorias de vida e trabalhistas, mantendo o apoio ao czar.

2. [CONTEMAX]

And it’s true we are immune
É verdade que somos imunes

When fact is fiction and TV reality
Quando o fato é ficção e a TV realidade

And today the millions cry
E hoje milhões choram
We eat and drink while tomorrow they die
Comemos e bebemos enquanto eles morrerão amanhã

The real battle just begun
A batalha real apenas começou

To claim the victory Jesus won
Para reivindicar a vitória de Jesus

On Sunday, bloody Sunday
No domingo, sangrento domingo.

(Sunday Blood Sunday – U2).

“Sunday Bloody Sunday” é uma canção da banda irlandesa U2. É a primeira faixa e terceiro single do álbum War, sendo lançada em 21 de março de 1983, na Alemanha e na Holanda. “Sunday Bloody Sunday” é conhecida pela sua batida militarista, guitarra dura, e harmonias melódicas. Uma das músicas mais abertamente políticas do U2, a letra descreve o horror sentido por um observador do chamado “conflito na Irlanda do Norte”, com destaque no incidente do Domingo Sangrento, em que as tropas britânicas atiraram e mataram manifestantes pelos direitos civis. Durante três décadas, a Irlanda do Norte sofreu grande violência entre os católicos e protestantes. A respeito desse conflito, assinale a alternativa CORRETA:

A) A maioria protestante defendia a permanência da Irlanda como Parte do Reino Unido, enquanto a católica defendia a reunificação com a República da Irlanda.

B) A Irlanda do Norte era dominada pelos católicos, e a minoria protestante tinha pouco poder.

C) Na tentativa de lutar contra o domínio britânico, o Exército Republicano Irlandês (IRA), grupo terrorista protestante, iniciou ataques terroristas contra católicos.

D) O Acordo de Belfast tinha como objetivo reforçar os ataques promovidos pelo grupo IRA.

E) Católicos se uniram aos protestantes para lutar contra o domínio britânico.

A) A maioria protestante defendia a permanência da Irlanda como Parte do Reino Unido, enquanto a católica defendia a reunificação com a República da Irlanda.

O conflito ocorrido na cidade de Derry foi marcado por uma disputa não só territorial, mas política com raízes até mesmo religiosas.

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