Bumba meu boi

Cores, diversidade, movimento e musicalidade compõem essa manifestação popular que é patrimônio cultural do Brasil e do mundo.

O bumba meu boi, também conhecido como “boi bumbá” ou “boi de reis” (dentre diversos outros nomes), é uma manifestação formadora da cultura brasileira e acontece em vários estados. Por sua criatividade e riqueza cultural, essa festa cheia de cor, som e movimento é uma das mais importantes do Brasil e tem, inclusive, reconhecimento como patrimônio da humanidade. A seguir, conheça melhor a cultura do bumba meu boi.

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História

O bumba meu boi surgiu no século XVIII no Maranhão como uma dança. Devido ao ciclo econômico do gado, o boi era importante para a região e virou tema dessa manifestação que se transformou em uma festa tradicional, só no Maranhão existem cerca de 450 grupos. Por ter origem negra, o bumba meu boi já foi censurado e perseguido pelas elites nordestinas, chegando a ser proibido de 1861 a 1868.

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A história da dança envolve um casal de escravizados, Pai Francisco e Mãe Catirina (ou Catarina): grávida, ela desejava comer língua de boi e, para atender essa vontade, o marido precisou matar o boi mais bonito do seu senhor. Após a morte do animal, o escravocrata chamou curandeiros e pajés para ressuscitá-lo e quando o boi voltou à vida, toda a comunidade festejou.

Em 2012, o bumba meu boi foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural do Brasil. Assim, no dia 30 de junho é comemorado o Dia Nacional do Bumba Meu Boi. Em 2019, a manifestação também foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Características

As festividades do bumba meu boi envolvem pessoas de todas as idades, de crianças a idosos, incorporando quem passa pelo caminho. Conheça outras características dessa festa popular:

  • Multiartístico: o bumba meu boi reúne diversas vertentes artísticas, como performances musicais e teatrais, design e artesanato, em uma única manifestação;
  • Itinerância: os grupos percorrem localidades rurais e urbanas, visitando as casas dos moradores e dançando em desfile pela rua;
  • Enredo: um narrador conta a história e os personagens encenam os fatos. Atualmente, os festejos não narram mais a história completa, ele cedeu lugar a enredos simplificados, conhecidos como “meia-lua”;
  • Diversidade: o festejo do bumba meu boi é realizado por vários grupos em diferentes regiões do Brasil, assim, cada grupo tem características próprias desde as roupas, os instrumentos e o ritmo da música, até as coreografias. No Maranhão, por exemplo, os grupos são subdivididos em “sotaques” a partir de seus traços;
  • Musicalidade: a percussão guia toda a festa do bumba meu boi e os instrumentos utilizados são populares em cada região. Dentre eles estão: matraca, tambor, tambor de onça, maracá, pandeiro, chocalho e cuica. Alguns festejos podem ter até saxofone, banjo e instrumentos de sopro.

Com tais características, o bumba meu boi expressa o rico repertório cultural do Brasil que precisa ser cada dia mais preservado.

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Festas pelo Brasil

Conforme você já leu, as festas do bumba meu boi têm suas particularidades em cada região, inclusive, a manifestação ganha até outros nomes. As celebrações atraem turistas do Brasil e do mundo, movimentando a vida das comunidades e a economia no norte e no nordeste do Brasil. Abaixo, conheça melhor as festas do bumba meu boi nos diferentes estados:

Maranhão

Mais do que uma festa, o bumba meu boi é um movimento cultural com vários estilos e grupos no Maranhão. A manifestação popular estabelece uma relação entre fé, festividade e diferentes vertentes artísticas. Isso tudo com base na devoção aos santos juninos (São João, São Pedro e São Marçal) e às divindades de matriz africana, além das lendas regionais. Assim, a festa acontece entre junho e julho.

Pernambuco

Em Pernambuco, o bumba meu boi acontece tradicionalmente em Recife e outras cidades do interior, durante o ciclo natalino e até no carnaval. A representação da história do boi dura oito horas, em média, e o espetáculo acontece em uma arena na qual o público participa de pé, formando uma roda. Quando a roda fica pequena, os personagens a reabrem dando investidas e bexigadas nas pessoas.

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Amazonas

A cultura chegou ao Amazonas no século XIX por influência dos maranhenses, desenvolveu-se em Manaus e depois desceu o rio Amazonas. No estado, a manifestação é chamada de boi bumbá e há três principais versões: o Boi de Terreiro, o Boi de Rua e o Boi de Arena. A festa mais famosa acontece no Festival Folclórico de Parintins, em junho, quando as pessoas vão ao Bumbódromo ver a disputa entre os bois Garantido e Caprichoso.

Esses são alguns exemplos de como a manifestação cultural do bumba meu boi acontece em múltiplas formas, épocas e lugares do Brasil. Agora, aprenda sobre os personagens que guiam a festa!

Personagens do bumba meu boi

Cada região do Brasil tem as suas particularidades com relação aos personagens que podem se dividir em humanos, animais e fantásticos. Conheça os principais, a seguir:

  • Boi: figura mitológica central da festa, o boi era considerado pelos indígenas e escravizados como um companheiro de trabalho. Sua fantasia tem uma armação que molda o corpo do boi, por cima dela vai uma capa de veludo enfeitada com paetês, bordados e pinturas, além de uma saia colorida, pregada ao pano. Quem faz o papel do boi fica por baixo dessa vestimenta e recebe o nome de “miolo”.
  • Pai Francisco: também conhecido como pai Chico, é um vaqueiro que brinca durante a festa, provocando risos na plateia. Ele usa roupas muito simples e cada boi pode ter vários personagens desse.
  • Mãe Catirina: mulher grávida, com o pai Francisco ela ocupa lugar de destaque na festa, e é representada por um homem vestido de mulher.
  • Dono da Fazenda: é o dono do boi. Ele usa roupas com muitos detalhes e sopra um apito para organizar a festa, assim, também é o cantador ou puxador do enredo que guia os demais personagens.
  • Vaqueiros: empregados que avisam o dono da fazenda sobre a morte do boi. Eles usam roupas de veludo e chapéus de pena com miçangas e fitas coloridas.
  • Caboclo de fita: personagens brincantes que usam chapéus de longas fitas coloridas e se misturam aos vaqueiros durante a festa.
  • Índios e índias: personagens que encontram Pai Francisco ao longo da história. Eles usam pouca roupa, mas elas são ricas em detalhes de penas. Esses personagens também apresentam coreografias muito bonitas na dança.
  • Caboclo de pena: homens cobertos por penas e com um grande chapéu, eles são os homens da tribo nos rituais.

Em algumas regiões do Brasil, há outros personagens no bumba meu boi que representam sujeitos do século XVIII, como: escravizado fugitivo, capitão do mato, vigário, cobrador de impostos, etc.

O Brasil do bumba meu boi

Para revisar o que você aprendeu até aqui, veja três vídeos com diferentes informações sobre a manifestação do bumba meu boi. Assista e aprofunde os seus conhecimentos!

A lenda do bumba meu boi

Nesse vídeo, a professora Renata Lima apresenta algumas características do bumba meu boi, comenta quando surgiram os primeiros registros sobre essa manifestação popular no Brasil e conta a lenda que deu origem à festa. Acompanhe!

O bumba meu boi e a cultura popular

Revise com o professor Deividy Silva porque o bumba meu boi é uma das festas folclóricas mais importantes da cultura popular brasileira. Além disso, conheça outras características dos festejos, como o humor, a sátira, o drama e a tragédia.

Brincadeiras do bumba meu boi

Nesse vídeo, você confere imagens sobre a festa do bumba meu boi. Veja como o evento possui fantasias coloridas e como as coreografias dos personagens e a musicalidade animam os foliões.

Agora que você já conhece a cultura do bumba meu boi, continue aprendendo sobre as lendas e manifestação do Folclore brasileiro.

Referências

Bumba meu boi – Palmares Fundação Cultural
Bumba meu boi do Maranhão é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade – IPHAN (2019)
Bumba meu boi – Secretaria de Cultura de Recife
Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins – IPHAN

Érica Paiva Rosa
Por Érica Paiva Rosa

Professora, redatora e produtora cultural. Mestre em Letras pela UEM.

Como referenciar este conteúdo

Paiva Rosa, Érica. Bumba meu boi. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/artes/bumba-meu-boi. Acesso em: 20 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM]

O folclore é o retrato da cultura de um povo. A dança popular e folclórica é uma forma de representar a cultura regional, pois retrata seus valores, crenças, trabalho conhecê-la, é de alguma forma se apropriar dela, é enriquecer a própria cultura.
BREGOLATO, R. A. Cultura Corporal da Dança. São Paulo: Ícone, 2007.

As manifestações folclóricas perpetuam uma tradição cultural, é obra de um povo que a cria, recria e a perpetua. Sob essa abordagem deixa-se de identificar como dança folclórica brasileira:

A) o Bumba-meu-boi, que é uma dança teatral onde personagens contam uma história envolvendo crítica social, morte e ressurreição.
B) a Quadrilha das festas juninas, que associam festejos religiosos a celebrações de origens pagãs envolvendo as colheitas e a fogueira.
C) o Congado, que é uma representação de um reinado africano onde se homenageia santos através de música, cantos e dança.
D) o Balé, em que se utilizam músicos, bailarinos e vários outros profissionais para contar uma história em forma de espetáculo.
E) o Carnaval, em que o samba derivado do batuque africano é utilizado com o objetivo de contar ou recriar uma história nos desfiles.

Resposta: D
Justificativa: A dança é considerada uma manifestação folclórica quando retrata a cultura de uma determinada região. Dentre as opções, o Balé não é uma dança folclórica brasileira, pois é uma dança que pode contar qualquer história em forma de espetáculo.

2. [FUVEST]

O texto a seguir é base para responder à questão.

O Bumba-Meu-Boi

Entre os autos populares conhecidos e praticados no Brasil — pastoril, fandango, chegança, reisado, congada, etc. — aquele em que melhor o povo exprime a sua crítica, aquele que tem maior conteúdo jornalístico, é, realmente, o bumba-meu-boi, ou simplesmente boi.
Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do Brasil, o folguedo brasileiro de maior significação estética e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu turno, observou a sua superioridade porque “enquanto os outros autos cristalizaram, imóveis, no elenco de outrora, o bumba-meu-boi é sempre atual, incluindo soluções modernas, figuras de agora, vocabulário, sensação, percepção contemporânea. Na época da escravidão mostrava os vaqueiros escravos vencendo pela inteligência, astúcia e cinismo. Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram confissões estertóricas. O capitão-do-mato, preador de escravos, assombro dos moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros que fugiram, depois da morte do Boi, e em vez de trazê-los é trazido amarrado, humilhado, tremendo de medo. O valentão mestiço, capoeira, apanha pancada e é mais mofino que todos os mofinos. Imaginem a alegria negra, vendo e ouvindo essa sublimação aberta, franca, na porta da casa-grande de engenho ou no terreiro da fazenda, nos pátios das vilas, diante do adro da igreja! A figura dos padres, os padres do interior, vinha arrastada com a violência de um ajuste de contas. O doutor, o curioso, metido a entender de tudo, o delegado autoritário, valente com a patrulha e covarde sem ela, toda a galeria perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias, cacoetes, olhada por uma assistência onde estavam muitas vítimas dos personagens reais, ali subalternizados pela virulência do desabafo”.
Como algumas outras manifestações folclóricas, o bumba-meu-boi utiliza uma forma antiga, tradicional; entretanto, fá-la revestir-se de novos aspectos, atualiza o entrecho, recompõe a trama. Daí “o interesse do tipo solidário que desperta nas camadas populares”, como o assinala Édison Carneiro. Interesse que só pode manter-se porque o que no auto se apresenta não reflete apenas situações do passado, “mas porque têm importância para o futuro”. Com efeito, tendo por tema central a morte e a ressurreição do boi, “cerca-se de episódios acessórios, não essenciais, muito desligados da ação principal, que variam de região para região… em cada lugar, novos personagens são enxertados, aparentemente sem outro objetivo senão o de prolongar e variar a brincadeira”. Contudo, dentre esses personagens, os que representam as classes superiores são caricaturados, cobrindo-se de ridículo, o que torna “o folguedo, em si mesmo, uma reivindicação”.
Sílvio Romero recolheu os versos de um bumba-meu-boi, através dos quais se constata a intenção caricaturesca nos personagens do folguedo. Como o Padre, que recita:
“Não sou padre, não sou nada
Quem me ver estar dançando
Não julgue que estou louco;
secular sou como os outros”.

Ou como o Capitão-do-Mato que, dando com o negro Fidélis, vai prendê-lo:
“CAPITÃO — Eu te atiro, negro
Eu te amarro, ladrão,
Eu te acabo, cão.”

Mas, ao contrário, quem vai sobre o Capitão e o amarra é o Fidélis:
“CORO — Capitão de campo
Veja que o mundo virou
Foi ao mato pegar negro
Mas o negro lhe amarrou.
CAPITÃO — Sou valente afamado
Como eu não pode haver;
Qualquer susto que me fazem
Logo me ponho a correr”.

(Luiz Beltrão. Comunicação e folclore. são Paulo: Edições Melhoramentos, 1971.)

Considere a seguinte passagem:
“Chibateava a cupidez, a materialidade, o sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-os cantar versinhos que eram confissões estertóricas”.

Nesta passagem, Luís da Câmara Cascudo, mencionado pelo autor, explica que, em apresentações do bumba meu boi da época da escravidão:

A) as pessoas da plateia eram convidadas a participar do bumba-meu-boi para declamar versinhos ridículos.
B) o auto era uma forma de fazer as pessoas presentes confessarem estertoricamente os seus pecados.
C) havia uma personagem que usava uma chibata para agredir pessoas da plateia, enquanto apontava seus defeitos.
D) todos os presentes participavam do auto, improvisando falas e declamações.
E) o bumba-meu-boi satirizava em seu enredo personagens que apresentavam os mesmos defeitos de pessoas reais.

Resposta: E
Justificativa: Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, o bumba meu boi funde as dimensões estética e sociológica por incorporar tipos sociais do tempo da encenação numa estrutura de enredo de origem imemorial. Na época do cativeiro, por exemplo, tornavam-se personagens figuras como o escravo negro, o capoeira valentão e o capitão do mato. Num procedimento estético típico da sátira, o folguedo inverte os lugares-comuns do imaginário (o capataz, “em vez de trazer, é trazido”; o valentão não dá, mas “apanha pancada”, etc.), para acentuar e expor os casos desviantes de determinado quadro moral. Note-se apenas que, ao contrário do que diz Cascudo, não se trata exatamente de “defeitos de pessoas reais”, mas de imoralidades exageradas que o folguedo associa a tipos sociais.

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