Crônica Argumentativa

A crônica argumentativa é um texto de opinião que explora acontecimentos e fatos do cotidiano e da atualidade. É veiculado por jornais e revistas, e contém um caráter crítico.

A Crônica Argumentativa é um texto curto e sua principal característica é a reflexão de temáticas do cotidiano com olhar crítico. Ela é geralmente veiculada pelos meios de comunicação como jornais, revistas e sites. A seguir, estão expostas algumas considerações sobre o que é este gênero e algumas de suas principais características. Confira!

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O que é crônica argumentativa

A crônica argumentativa é um texto argumentativo curto, que figura em diferentes espaços, como revistas literárias, jornais, antologias, livros, sites e revistas acadêmicas. Um dos possíveis pontos de partida – e talvez o principal deles – que impulsionam os cronistas são as notícias. Em outras ocasiões, a crônica é caracterizada como uma espécie de comentário de fatos ou pela exposição de ideias ou sentimentos.

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Crônicas
Gênero tipicamente brasileiro, a crônica é descontraída e pode esbarrar em outros gêneros, como o poético, o narrativo e o ensaístico.
Figuras de linguagem
Conhecer as diversas estratégias para a construção dos textos pode proporcionar uma maior expressividade na interpretação do leitor.
Romance Regionalista
O romance regionalista tem como objetivo redescobrir o Brasil a partir de sua diversidade sócio-cultural.

Entre os grandes nomes deste gênero no Brasil estão: Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta, Luis Fernando Verissimo, Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade. E, mais recentemente, outros, como Gregório Duvivier. No que se refere à classificação da crônica, alguns autores defendem que as crônicas se dividem nas seguintes categorias: narrativa, poética e argumentativa. Nesta matéria, o enfoque é neste último tipo de crônica.

2 crônicas argumentativas famosas

Nesta seção, estão expostas duas crônicas. Uma de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte (apenas um trecho) e outra de Gregório Duvivier, para que você possa visualizar melhor o que é uma crônica argumentativa e comparar estas produções com as características gerais do gênero textual. Boa leitura!

Trecho de “Leituras de um brasileiro: ‘As cores da literatura’”
Em um país como o Brasil, em que predominam negros e mestiços, um cânone literário no qual abundam homens brancos é, no mínimo, historicamente enviesado.
Certo dia, caminhando pelos corredores do prédio de Letras da FFLCH-USP, vi nos murais o aviso de inauguração do Grêmio Literário Luiz Gama. Isso faz tempo, foi nos primeiros anos deste século XXI. Eu havia sido aprovado recentemente no concurso para professor de linguística e semiótica […]. Lamentavelmente, eu era professor da USP, da área de Letras, e não sabia quem havia sido Luiz Gama.
Fui ao evento e pela primeira vez eu ouvi falar em Literatura Negra. A inauguração consistiu da mesa redonda com militantes do movimento negro brasileiro; os debatedores contaram, sucintamente, a história da Literatura Brasileira do ponto de vista dos negros. Para mim, foi uma aula excepcional e digo isso referindo-me, principalmente, aos conteúdos históricos e acadêmicos discutidos naquele dia.
[…] Em um país como o Brasil, em que predominam negros e mestiços, um cânone literário no qual abundam homens brancos e católicos é, no mínimo, historicamente enviesado. Não se trata de expulsar Gonzaga e Castro Alves, mas de incluir Caldas Barbosa e Luiz Gama, entre tantos excluídos. Não se trata, ainda, apenas de incluir autores negros – Machado de Assis e Mario de Andrade são negros –, mas de tematizar a cultura negra além dos costumeiros preconceitos racistas que ainda insistem no negro “macumbeiro”, “malandro”, “batuqueiro”, “lascivo”.
(Antonio Vicente Seraphim Pietroforte)

O Brasil não pode ter bandido de estimação
Vamos ser sinceros: não dá pra ter bandido de estimação. A gente precisa parar de proteger os corruptos com os quais a gente tem afinidade ideológica. Vocês sabem de quem eu tô falando. Não é só porque um candidato à Presidência é querido por muita gente que ele tá imune à Justiça. Tô falando, claro, do Alckmin, citado três vezes pela Odebrecht. “Ah, mas eu gosto dele!” Dane-se. “Ah, mas quem mandou votar nele foi a Opus Dei.” Não importa. Esta eleição só vai ter ficha limpa, meu amigo.
Claro, Alckmin não é o único que parece estar envolvido em escândalos de corrupção. Não se pode esquecer dele, o candidato mais popular entre os jovens, o homem, o mito. Bolsonaro surgiu no PP de Maluf e está entre os beneficiados da “lista de Furnas”, junto com Aécio, Cunha e muitos outros. Recentemente revelou-se que emprega funcionária fantasma vendedora de açaí e que a família dele multiplicou o patrimônio desde que entrou pra política. Como diz o bordão, é melhor Jair se acostumando… à cadeia. “Ah, mas ele é bom de meme.” Dane-se. “Ah, mas ele vai valorizar nosso nióbio.” Amigo, ele entende tanto de nióbio quanto de açaí.
Mas agora vamos falar daquele que todos querem ver preso: o candidato de origem nordestina que tem aquele imóvel suspeito na beira da praia. Segundo os “Panama Papers”, João Doria usou offshore pra comprar apartamento em Miami. Presidiu a Embratur durante o governo Sarney –precisa dizer mais? Sua revista “Caviar Lifestyle” (sic) recebeu um milhão e meio de reais do governo Alckmin em publicidade. Sim, o candidato tinha uma revista chamada “Caviar Lifestyle”.
Henrique Meirelles, além de presidente do Banco Central no governo Lula, presidiu o conselho da JBS. Sim, a empresa dos Irmãosley. Será mesmo que não sabia de nada? Rodrigo Maia, além de fiel escudeiro de Temer e filho de Cesar Maia, atendia pelo nome de Botafogo na lista da Odebrecht –será mesmo que não sabia de nada? Luciano Huck é (era?) BFF de Aécio –será mesmo que não sabia de nada? Alvaro Dias protagonizou o escândalo da farra das passagens, Marina passou 20 anos no PT, Ciro trocou de partido como Fábio Jr. trocou de esposa. Será mesmo que não sabiam de nada?
“Calma”, você diz. “Tem muito crime aí que ainda não foi provado. Ah, porque a presunção de inocência blá-blá-blá.” Gosta de bandido? Leva pra casa. Mas é melhor você morar num latifúndio, senão vai faltar espaço.
(Gregório Duvivier)

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Com estes dois textos ficou mais fácil entender a Crônica Argumentativa, concorda? Para elucidar ainda mais o que é este gênero, veja a seguir as diferenças entre a crônica argumentativa e a crônica narrativa e, por fim, as características da crônica argumentativa.

Crônica argumentativa X crônica narrativa

Uma crônica argumentativa objetiva a articulação de argumentos a partir da apresentação de uma tese a respeito de determinado tema.

A crônica narrativa, por sua vez, tem como foco a narração de fatos. Para tanto, ela se vale de elementos da narrativa como o espaço, o tempo, os personagens e o desenlace dos fatos.

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Como fazer uma crônica argumentativa

O primeiro passo para desenvolver uma crônica narrativa é assegurar-se de tratar de um tema da atualidade, haja vista que este gênero, embora circule em vários meios, é veiculado especialmente em jornais ou revistas. Assim, a atualidade dos temas constitui um elemento central para o gênero.

Além disso, o autor ou autora da crônica deve se assegurar de que delimitou, de forma efetiva, um posicionamento a respeito do tema escolhido, a fim de que possa angariar, dentro dos limites dessa tese, argumentos que possam defendê-la de modo coerente e coeso. Para entender um pouco melhor sobre a Crônica Argumentativa, veja as características elencadas a seguir!

Características da Crônica Argumentativa

  • Não apresenta um conteúdo temático específico;
  • É normalmente encontrada em veículos de comunicação, como: jornais, revistas, ambientes virtuais (sites/portais);
  • Há uma delimitação de espaço imposta pelo veículo de circulação – em geral, os jornais –, portanto é um texto curto, breve;
  • Emprega uma linguagem simples, econômica em adjetivos e faz poucas inversões sintáticas, privilegiando o uso da ordem direta;
  • Há marcas de oralidade e, neste gênero, se estabelece um diálogo direto com o leitor (tom de conversa, bate-papo);
  • Perguntas retóricas, ironia, metáforas e discurso indireto livre são recursos linguísticos presentes na crônica;
  • Usa-se muito a primeiro pessoa do singular;
  • Alguns cronistas utilizam parte da estrutura da notícia e dão uma espécie de “lide” à crônica, situando o leitor, e depois desenvolvem os argumentos; entretanto, outros não utilizam uma estrutura fixa e escrevem de forma “livre”;
  • Flexibilidade, a mobilidade, a irregularidade são pressupostos estruturais da crônica;
  • Pode-se indicar como estrutura genérica para o gênero a seguinte ordem: 1. a apresentação da premissa/tese; 2. exposição dos argumentos; 3. inserção dos contra-argumentos e apresentação dos argumentos; e 4. a conclusão (reafirmação da tese).

Agora que você aprendeu tudo sobre Crônica Argumentativa, assista os vídeos a seguir para ampliar e consolidar os seus conhecimentos!

Vídeos sobre Crônica Argumentativa

Os vídeos a seguir foram garimpados para você aprender ainda mais sobre este gênero e consiga treinar seus conhecimentos nos exercícios propostos. Assista já e bons estudos!

Saiba o que é crônica argumentativa em menos de 4 minutos!

A professora Viviane Rodrigues explica o que é a Crônica Argumentativa a partir uma explicação sobre a origem da palavra crônica e de um histórico do gênero crônica. Ela apresenta as principais características da crônica e, por fim, expõe as características distintivas da crônica argumentativa.

Crônica argumentativa: leitura e análise

Neste vídeo, a professora Ana Rita explica o que é a Crônica Argumentativa em menos de 10 minutos! Ela ainda lê junto com você um exemplo de crônica argumentativa a fim de destacar as suas características! Imperdível!!!

CRÔNICA ARGUMENTATIVA X CRÔNICA NARRATIVA

Neste vídeo, a professora Melline Lima diferencia as crônicas argumentativa e narrativa e explica as suas características. Ela traz ainda um exemplo de crônica argumentativa para explicar melhor as características deste gênero.

Agora que você já aprendeu TUDO sobre Crônica Argumentativa, confira um pouco sobre Artigo de Opinião!

Referências

Sequências Didáticas para o argumentar em curso de Pedagogia: a produção escrita da crônica argumentativa e da resenha crítica (2019). Marta Aparecida Broietti Henrique.

Leituras de um brasileiro: ‘As cores da literatura’ (2016). Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. Disponível em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Literatura/Leituras-de-um-brasileiro-As-cores-da-literatura-/57/36834

O Brasil não pode ter bandido de estimação (2018). Gregório Duvivier. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2018/01/1954000-o-brasil-nao-pode-ter-bandido-de-estimacao.shtml

Beatriz Yoshida Protazio
Por Beatriz Yoshida Protazio

O bom e velho Guimarães Rosa definiu bem: “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita”. Doutoranda em Letras (PLE/UEM).

Como referenciar este conteúdo

Yoshida Protazio, Beatriz. Crônica Argumentativa. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/cronica-argumentativa. Acesso em: 19 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM, 2008]

São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:

— Quantos são aqui?

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:

— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.

E outro:

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor… (…)

E outro:

— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu quarto e de meu peito!

(Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3. São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).

O fragmento acima, em que há referência a um fato sócio-histórico — o recenseamento —, apresenta característica marcante do gênero crônica ao:

a) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra.

b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço.

c) contar história centrada na solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e revelando-os pouco a pouco.

d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as pessoas informadas.

e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto que recebe tratamento estético.

A alternativa correta é a letra E, haja vista que o texto aborda um tema do cotidiano como ponto de partida para tecer considerações sobre ele de forma “poética”, assim, o texto transforma em matéria estética (crônica) um conteúdo da vida social (o recenseamento).

2. [ENEM, 2012]

Desabafo

Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.

CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento)

Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois

a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.

b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.

c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.

d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.

e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.

A alternativa correta é letra B), pois a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. Por isso, notamos que a função emotiva ou expressiva da linguagem prevalece, posto que o texto ilumina mais o enunciador do que o dito.

3.

Com relação ao gênero crônica, é correto afirmar que:

a) parte do assunto cotidiano e cria reflexões mais amplas a partir de determinado acontecimento;
b) apresenta um texto sempre distópico e usa exclusivamente uma linguagem metafórica;
c) apresenta uma linguagem formal e respeita sempre a gramática normativa;
d) tem um modelo fixo que consiste em narração seguida de argumentação;
e) tem como função informar o leitor sobre os problemas do dia a dia.

A alternativa correta é a letra A, pois a crônica argumentativa nem sempre é distópica, apresenta linguagem coloquial, não tem uma estrutura preestabelecida e não tem o objetivo de informar o leitor.

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