O livro Senhora, publicado em 1875, é uma das obras mais conhecida de José de Alencar. Ambientado no século XIX, esse romance urbano contribuiu para a construção de uma feição da literatura brasileira. No enredo, é possível perceber os costumes e as intrigas que permeavam a vida social da burguesia fluminense. A seguir, saiba mais sobre essa pérola literária!
Publicidade
Resumo da obra
A protagonista Aurélia Camargo vive humildemente ao lado de seu irmão e de sua mãe, a costureira D. Emília, no bairro de Santa Tereza, do Rio de Janeiro. O pai de Aurélia, filho de um rico fazendeiro que o fez se afastar da família, repentinamente morre. Preocupada com o futuro da filha, D. Emília deseja que ela se case. De todos os pretendentes, Aurélia gostou de Fernando Seixas, um moço bom. No entanto, por interesse, o rapaz desiste do casamento para se casar com Adelaide Amaral, que possuía um dote de trinta mil réis.
Relacionadas
Aurélia sofre muito com o duro golpe. Entretanto, seu avô morre e ela herda mil contos de réis. Nessa época, a beleza é realçada pela riqueza, assim, a atenção da sociedade fluminense se volta para Aurélia. No entanto, ela decide se vingar do ex-noivo e compra-o como marido por cem contos de réis. Depois de sucessivas humilhações, Fernando trabalha e recupera o dinheiro do seu resgate. Então, Aurélia declara o seu amor, os dois fazem as pazes e o casamento é consumado.
Personagens
As personagens são típicas da sociedade fluminense do século XIX, gerando um contraste entre a pobreza e a burguesia, que expõe os problemas sociais da época. Por meio das ações realizadas, é possível perceber a tensão entre o “ter” e o “ser”. A seguir, confira as características de cada personagem:
- Aurélia Camargo: uma moça de dezoito anos, bela e inteligente. Depois de ser emancipada e de receber uma notória herança, ela desperta a atenção dos rapazes.
- Fernando Seixas: servidor público, namorado de Aurélia, que decide romper o noivado por interesses financeiros. Não era rico, mas tinha um lugar de respeito na sociedade.
- Adelaide: moça rica, apaixonada por Torquato, porém, por ele ser pobre, é obrigada a noivar com Fernando. No fim, com a ajuda de Aurélia, ela se casa com o amor da sua vida.
- Torquato Ribeiro: amigo de Aurélia dos tempos de pobreza e é apaixonado por Adelaide.
- D. Emília: mãe de Aurélia. Deixa a família para se casar com Pedro, seu grande amor.
- Lemos: irmão mais velho de D. Emília. Quando a sobrinha Aurélia herda uma valiosa quantia, ele aparece e arruma o casamento dela com Fernando.
- Pedro Camargo: pai de Aurélia. Filho bastardo do fazendeiro Lourenço Camargo. Casa-se escondido com D. Emília. Tempos depois, morre.
- D. Firmina: é companheira de Aurélia e mora com ela.
- Eduardo Abreu: é apaixonado por Aurélia. Mesmo sem ser correspondido, paga as despesas do sepultamento de D. Emília.
Além das personagens citadas, também aparecem no romance: D. Camila, mãe de Seixas, Mariquinha e Nicota, suas irmãs. A mendiga Bernardina, Lísia Soares, Tavares do Amaral e Alfredo Moreira, bem como o avô e o irmão de Aurélia. No entanto, essas são personagens de participação ínfima que só contribuem para construir a cotidianidade do enredo.
Análise
O romance é narrado por um narrador heterodiegético, isto é, ele conta a história de terceiros, no entanto, sua onisciência permite que ele interfira no enredo quando quiser, ou seja, a história não é sobre ele, mas o discurso e ponto de vista são. Com um zigue-zague entre presente, passado e futuro, não há uma definição clara do tempo, porém, sabe-se que os fatos narrados estão situados na segunda metade do século XIX. A seguir, entenda um pouco mais sobre essa época.
Publicidade
Contexto histórico
O romance foi escrito na segunda metade do século XIX, ou seja, no segundo império. A burguesia estava em ascensão e a sociedade vivia de aparências e contradições. Um dos costumes muito comum na época era o matrimônio por interesse financeiro. O amor sacramentado e o individualismo burguês, recorrentes na obra, são traços do Romantismo que se sobressai no decorrer do enredo.
Importância da obra
Embora esteja claro que Senhora pertence ao Romantismo, é preciso ressaltar que esse romance possui grande importância literária por já apresentar alguns traços do Realismo e do Naturalismo. As personagens têm os seus destinos condenados pelo fator financeiro e há uma crítica aos valores sociais distorcidos da época (característica do Realismo). Entretanto, não há perspectiva de mudanças e soluções aparentes (por isso, não é um romance realista).
O mundo ficcional é uma representação do Rio de Janeiro. Entre os elementos que aparecem no enredo, dois se sobressaem: a questão do matrimônio e a questão do dinheiro. A seguir, confira mais algumas características importantes desse romance.
Publicidade
Características do romance Senhora
Dividido em quatro partes: O preço; Quitação; Posse; e Resgate, o romance é construído por etapas de uma transação mercantil. Além dessa, há outras características que merecem destaque, confira:
- É recorrente o uso de vocabulários pertencentes ao mundo econômico, por exemplo: mercado matrimonial, ágio de suas ações, empresa nupcial, dividendo das apólices, entre outras.
- O narrador caracteriza Aurélia como uma rainha, formosa e encantada. Um esteriótipo da mulher intocada do Romantismo.
- Se a crítica aos valores sociais é uma antecipação do Realismo, a idealização das personagens é predominantemente do Romantismo, ou seja, na própria forma do romance há contradições.
- Na aparente punição e humilhação de Fernando Seixas, que se entrega ao trabalho com um afinco que nunca tivera antes, é possível perceber o aspecto moralista de Senhora.
- Entre desejo e vingança, Aurélia não só pune Fernando Seixas por recusar seu amor anteriormente, como também esculpe o marido dos seus sonhos.
- Na essência da obra, encontra-se a sede de uma sociedade capitalista, na qual o dinheiro é razão. Patrimônio, matrimônio e ser humano são alinhados no mesmo nível, trados como mercadorias.
- Aurélia é a verdadeira Senhora do romance, não só do seu destino, mas também do destino das outras personagens.
Percebe-se que o enredo gira em torno das aparências, ou seja, a vida social é uma encenação. Os valores burgueses são hipócritas e tudo se resume ao poder de aquisição. Que tal aprender mais? Então, a seguir, confira uma seleção de vídeos que te ajudarão a fixar o conteúdo.
Vídeos sobre a Senhora de si e de todos
Assista os vídeos abaixo e conheça, na perspectiva de alguns professores, a análise da obra. Ainda, aprofunde-se na vida do autor para compreender suas influências.
Quem foi José de Alencar?
Nesse vídeo, o professor Moacir Vedovato fala sobre a vida e obra de José de Alencar, apontando as características do Romantismo presentes nos romances do autor. Assista!
Análise da obra Senhora
Senhora frequentemente está entre as leituras obrigatórias dos vestibulares. Nesse vídeo, Mel Ferraz faz uma análise dos pontos mais importantes do romance que te ajudarão a reter as informações pertinentes. Confira!
A fantástica história de Senhora
Não há nada mais legal do que aprender de modo atrativo, não é mesmo? Por isso, nesse vídeo, confira e se divirta com o resumo de Senhora apresentado por meio de uma animação.
Senhora é um patrimônio literário do Brasil. Sua trama, repleta de reviravoltas, já serviu de inspiração para várias adaptações, entre elas, a novela global Senhora, que foi ao ar em 1975. Para conhecer outro clássico da literatura brasileira, confira também a matéria sobre Grande Sertão: Veredas e continue estudando.
Referências
Senhora – José de Alencar;
A expressão do romance em Senhora, de José de Alencar – Loide Nascimento de Souza;
História concisa da literatura brasileira – Alfredo Bosi.
Por Suélen Domingues
Domingues, Suélen. Senhora, de José de Alencar. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/senhora-jose-de-alencar. Acesso em: 13 de December de 2024.
1. [PUC]
A questão central, proposta no romance Senhora, de José de Alencar, é a do casamento. Considerando a obra como um todo, indique a alternativa que não condiz com o enredo do romance.
a) O casamento é apresentado como uma transação comercial e, por isso, o romance estrutura-se em quatro partes: preço, quitação, posse, resgate.
b) Aurélia Camargo, preterida por Fernando Seixas, compra-o e ele, contumaz caça-dote, sujeita-se ao constrangimento de uma união por interesse.
c) O casamento é só de fachada e a união não se consuma, visto que resulta de acordo no qual as aparências sociais devem ser mantidas.
d) A narrativa marca-se pelo choque entre o mundo do amor idealizado e o mundo da experiência degradante governado pelo dinheiro.
e) O romance gira em torno de intrigas amorosas, de desigualdade econômica, mas, com final feliz, porque, nele, o amor tudo vence.
Resposta: C
Embora o casamento, inicialmente seja um plano de vingança elaborado por Aurélia, no fim, tudo se resolve e ela e Fernando Seixas ficam juntos e felizes.
2. [PUC]
Nos romances Senhora e Lucíola, José de Alencar dá um passo em relação à crítica dos valores da sociedade burguesa, na medida em que coloca como protagonistas personagens que se deixam corromper por dinheiro. Entretanto, essa crítica se dilui e ele se reafirma como escritor romântico, nessas obras, porque
a) Pune os protagonistas no final, levando-os a um casamento infeliz;
b) Justifica o conflito dos protagonistas com a sociedade pela diferença de raça: uns, índios idealizados; outros, brasileiros com maneiras europeias;
c) Confirma os valores burgueses, condenando os protagonistas à morte;
d) Resolve a contradição entre o dinheiro e valores morais tornando os protagonistas ricos e poderosos;
e) Permite aos protagonistas recuperarem sua dignidade pela força do amor.
Resposta: E
Tanto em Lucíola quanto em Senhora, no desfecho, as personagens são redimidas dos seus erros pela força do amor e têm um final feliz.
3. [UFV-MG]
A respeito de Senhora, romance de José de Alencar, todas as alternativas abaixo estão corretas, exceto:
a) Amor verdadeiro redime a mulher de seu orgulho e o homem de seu interesse.
b) Espaço é o Rio de Janeiro, especificamente o Centro, Laranjeiras e Santa Tereza.
c) Narrador é onisciente, de terceira pessoa.
d) Sentimento da natureza, comum aos românticos, faltava ao herói.
e) Não se analisa no romance a psicologia da personagem principal.
Resposta: E
Em Senhora, o narrador não está preocupado em expor a psicologia da personagem principal, mas sim de abordar o casamento mercantil.