Romantismo no Brasil

O Romantismo no Brasil foi um movimento literário iniciado com a publicação de “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães em 1836.

A Revolução Francesa de 1799 que chacoalhou a Europa trouxe consigo os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, mas trouxe também a ascensão da burguesia com seus anseios de ser legitimada, a criação da imprensa e o liberalismo econômico.

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E é em meio a tantas mudanças políticas e sociais que surge o Romantismo em oposição ao Arcadismo e ao Neoclassicismo anteriores, respondendo aos interesses culturais da burguesia, que desejava se sentir representada também nesse aspecto.

Aqui no Brasil, esse movimento literário chegou um pouco mais tarde, mais precisamente em 1836, com a publicação de “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães, pouco tempo depois que nossa independência havia sido proclamada. Portanto, esse tema será bastante explorado pelos primeiros poetas românticos brasileiros.

Características do Romantismo no Brasil

Cata o Livro

Entre as principais características desse movimento podemos elencar:

  • Visão teocêntrica
  • Visão idealizada do amor
  • Culto à natureza
  • Subjetividade
  • Patriotismo
  • Individualismo
  • Pessimismo
  • Escapismo

Poesia romântica

Os primeiros poetas do Romantismo brasileiro se ocuparam de entender e ajudar a criar o imaginário dessa nação recém-independente. É por esse mesmo motivo que são conhecidos como a Geração Nacionalista.

As gerações de poetas que vêm a seguir são conhecidas como a Geração do Mal do século e a Geração Condoreira, como veremos mais adiante.

1ª geração – Nacionalista ou Indianista

Se na Europa os poetas foram buscar no passado seus heróis e se voltaram para o cavaleiro medieval, aqui no Brasil eles encontraram na figura de um índio idealizado o antepassado a ser louvado.

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Essa geração também incluiu entre seus temas mais importantes a religiosidade e o sentimentalismo.

Principais poetas:

  • Gonçalves Dias (1823 – 1864)
  • Gonçalves de Magalhães (1811 – 1882)
  • Araújo Porto Alegre (1806 – 1879)

2ª geração – Mal do Século

A segunda geração de poetas do Romantismo brasileiro se voltou a temas relacionados ao seu próprio eu, sendo, portanto, impregnada egocentrismo, negativismo e pessimismo em relação à pessoa amada e à vida.

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Desse modo, constantemente esses poetas apelaram para o escapismo, isto é, fuga da realidade, através de versos que falam de um passado distante, sonhos e até mesmo da morte.

Principais poetas:

  • Álvares de Azevedo (183 – 1852)
  • Casemiro de Abreu (1839 – 1860)
  • Junqueira Freire (1832 – 1855)
  • Fagundes Varela (1841 – 1875 )

3ª geração – Condoreira

Na terceira geração do romantismo, o sofrimento individual dá lugar a preocupações de cunho social. A luta pelo abolicionismo no país passa a ser um tema recorrente e a influência de romancistas franceses como Victor Hugo e Lord Byron também pode ser sentida.

O termo “condoreiro”, inclusive, é em alusão ao condor, ave capaz de voar sobre altas altitudes, por isso, um símbolo de liberdade.

Principais poetas:

  • Castro Alves (1847-1871)
  • Joaquim Manuel de Sousa Andrade – Sousândrade (1833-1902)

Prosa Romântica no Brasil

Os romances em prosa que começaram a ser produzidos no Brasil buscaram retratar e se identificar com seu público leitor: a burguesia feminina que estava presente principalmente nos grandes centros.

Essas publicações, antes de se formatarem em livros, foram publicadas nos jornais da época, capítulo a capítulo. O primeiro romance brasileiro é a Moreninha, de Joaquim Manuel Macedo, publicado em 1844.

É importante lembrar que diferente da poesia romântica que se divide em gerações, a prosa se divide em núcleos temáticos. São eles: romance indianista, romance urbano, histórico e regionalista. Confira a seguir suas principais características:

  • Indianista: o protagonista é o índio herói e o passado nacional é retratado de modo idealizado.
  • Romance social-urbano: nessas obras o cenário são as cidades e os costumes e dilemas burgueses são retratados.
  • Romance histórico: o foco desse núcleo temático é retratar o passado histórico do Brasil, podendo possuir características da prosa indianista.
  • Prosa regionalista: as paisagens, bem como os costumes e valores regionais das mais distintas regiões do Brasil, são o foco na prosa regionalista.

Entre os autores mais importantes da prosa romântica no Brasil estão José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães e Visconde de Taunay.

José de Alencar (1829 – 1877)

Sempre muito lembrado em concursos e vestibulares, José de Alencar é um dos principais representantes do Romantismo brasileiro.

O cearense, que além de escritor foi jornalista e político, possui obras que pertencem aos quatro estilos desse movimento literário.

É bastante característico da prosa de Alencar a preocupação em retratar o povo brasileiro em seus costumes e tradições, com alguma profundidade psicológica em suas personagens fazendo desses aspectos seus principais atributos.

São obras de José de Alencar:

  • Cartas sobre a Confederação dos Tamoios (1856)
  • O Guarani (1857)
  • Cinco minutos (1857)
  • Verso e reverso (1857)
  • A noite de São João (1857)
  • O demônio familiar (1858)
  • A viuvinha (1860)
  • As asas de um anjo (1860)
  • Mãe (1862)
  • Lucíola (1862)
  • Os filhos de Tupã (1863)
  • Escabiosa (1863)
  • Diva (1864)
  • Iracema (1865)
  • Cartas de Erasmo (1865)
  • As minas de prata (1865)
  • A expiação (1867)
  • O gaúcho (1870)
  • A pata da gazela (1870)
  • O tronco do ipê (1871)
  • Sonhos d’ouro (1872)
  • Til (1872)
  • O Garatuja (1873)
  • A alma de Lázaro (1873)
  • Alfarrábios (1873)
  • A Guerra dos Mascates (1873)
  • Voto de graças (1873)
  • O ermitão da Glória (1873)
  • Como e por que sou romancista (1873)
  • Ao correr da pena (1874)
  • O nosso cancioneiro (1874)
  • Ubirajara (1874)
  • Senhora (1875)
  • Encarnação (1893)

Joaquim Manuel de Macedo (1820 – 1882)

Carioca de Itaboraí, Joaquim Manuel de Macedo inaugurou a prosa romântica no país com “A Moreninha”. Sucesso na época, essa obra lhe trouxe posses e prestígio.

A prosa de Manuel de Macedo é caracterizada pela superficialidade e previsibilidade das personagens quase sem profundidade psicológica.

Numa linguagem clara e bastante acessível e segundo, a crítica, abusando de sentimentalismos, o autor escreveu romances ambientados na cena urbana que serviram de pano de fundo para suas histórias de amor burguês sempre com final feliz.

São obras de Joaquim Manuel Macedo:

  • A moreninha (1844)
  • O moço loiro (1845)
  • Os dois amores (1848)
  • Rosa (1849)
  • Vicentina (1853)
  • O forasteiro (1855)
  • Os romances da semana (1861)
  • Rio do Quarto (1869)
  • A luneta mágica (1869)
  • As Vítimas-algozes (1869)
  • As mulheres de mantilha (1870-1871)

Bernardo Guimarães (1825 – 1884)

Bernardo Guimarães é conhecido por seus romances regionalistas. De fato, o autor iniciou esse estilo com a publicação de “O ermitão de Muquém”, em 1868.

No entanto, sua obra mais famosa é “A escrava Isaura” de 1875, romance que se consagrou durante a campanha abolicionista no país que viria assinar a Lei Áurea em 1888.

Em suas obras, esse autor mineiro de Ouro Preto (MG), cidade onde viveu parte de sua juventude, nos apresenta enormes riquezas de detalhes sobre o interior de Minas Gerais e também de Goiás, estado em que chegou a ser juiz municipal.

São romances de Bernardo Guimarães:

  • Cantos da solidão (1852)
  • Poesias (1865)
  • O ermitão de Muquém (1868)
  • Lendas e romances (1871)
  • O garimpeiro (1872)
  • Histórias da província de Minas Gerais (1872)
  • O seminarista (1872)
  • O índio Afonso (1873)
  • A morte de Gonçalves Dias (1873)
  • A escrava Isaura (1875)
  • Novas poesias (1876)
  • Maurício ou os paulistas em São João Del-Rei (1877)
  • A ilha maldita (1879)
  • O pão de ouro (1879)
  • Rosaura, a enjeitada (1883)
  • Folhas de outono (1883)
  • O bandido do Rio das Mortes (1904)

Visconde de Taunay (1843 – 1899)

Carioca da cidade do Rio de Janeiro, Visconde de Taunay, nascido Alfredo D’Escragnolle Taunay, foi, além de escritor, engenheiro militar, professor, político, historiador e é o autor do principal romance regionalista, Inocência, de 1872.

Nessa obra, Taunay apresenta uma descrição minuciosa dos sertões do Mato Grosso onde a trama se passa, mesclando uma prosa de escrita acessível, típica do Romantismo, com toques de realismo, uma vez que apresenta bastante precisão em suas descrições.

São romances de Visconde de Taunay:

  • Mocidade de Trajano (1870)
  • A retirada da Laguna (1874)
  • Inocência (1872)
  • Lágrimas do coração (1873)
  • Histórias brasileiras (1874)
  • Da mão à boca se perde a sopa (1874)
  • Ouro sobre azul (1875)
  • Narrativas militares (1878)
  • Por um triz, Coronel (1880)
  • Céus e terras do Brasil (1882)
  • Estudos críticos (1881 e 1883)
  • Amélia Smith (1886)
  • O Encilhamento (1894)
  • No declínio (1899)
  • Reminiscências (1908)
  • Trechos de minha vida (1911)
  • Viagens de outrora (1921)
  • Visões do sertão (1923)
  • Dias de guerra e do sertão (1923)

Já o fim do Romantismo no Brasil é marcado pela publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881, obra pertencente a outro movimento literário: o Realismo.

Referências

O Romantismo no Brasil – Antonio Candido
Academia Brasileira de Letras

Luana Bernardes
Por Luana Bernardes

Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela mesma Universidade.

Como referenciar este conteúdo

Bernardes, Luana. Romantismo no Brasil. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/romantismo-no-brasil. Acesso em: 19 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM]

TEXTO A

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.

[…]

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, a noite –
Mais prazer eu encontro la;
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o Sabiá.

DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998.

TEXTO B

Canto de regresso à Pátria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita
Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo

ANDRADE, O. Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Círculo do Livro. s/d.

Os textos A e B, escritos em contextos históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo motivo poético: a paisagem brasileira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que:

a) O ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente do país em que nasceu, e o tom de que se revestem os dois textos.

b) A exaltação da natureza é a principal característica do texto B, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto A.

c) O texto B aborda o tema da nação, como o texto A, mas sem perder a visão crítica da realidade brasileira.

d) O texto B, em oposição ao texto A, revela distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria.

e) Ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira.

Resposta: C
Os escritores da Primeira Geração do Romantismo possuíam grande preocupação nacionalista, desse modo, por meio da exaltação da pátria, esses autores buscavam a própria criação de uma sociedade patriota.

2. [FAU]

O indianismo de nossos poetas românticos é:

a) Uma forma de apresentar o índio em toda a sua realidade objetiva; o índio como elemento étnico da futura raça brasileira.

b) Um meio de reconstruir o grave perigo que o índio representava durante a instalação da capitania de São Vicente.

c) Um modelo francês seguido no Brasil; uma necessidade de exotismo que em nada difere do modelo europeu.

d) Um meio de eternizar liricamente a aceitação, pelo índio, da nova civilização que se instalava.

e) Uma forma de apresentar o índio como motivo estético; idealização com simpatia e piedade; exaltação da bravura, do heroísmo e de todas as qualidades morais superiores.

Resposta: E
O indianismo é profundamente marcado pela busca de um antepassado heroico, assim como o cavaleiro medieval na Europa. No Brasil, esse herói é o índio idealizado.

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