Castro Alves

Castro Alves foi o mais importante poeta da terceira geração do Romantismo, conhecido como o "poeta dos escravos".

Castro Alves é conhecido como o “o poeta dos escravos” devido aos seus posicionamentos abolicionistas, contudo sua produção poética aborda tanto temas sociais quanto amorosos. Saiba mais nesta matéria!

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Índice do conteúdo:

Biografia

Castro Alves (Fonte: Wikimedia)

Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) foi um poeta que fez parte da terceira geração do Romantismo brasileiro, conhecida por apresentar maior liberdade formal e uma visão social mais ampla, sobretudo em relação às identidades negra e indígena no país. Não por acaso, o poeta é conhecido como “poeta dos escravos”, que falava em nome dos aflitos.

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Foi na escola que seu gosto por literatura começou a nascer. Pouco depois do falecimento de sua mãe, em 1859, recitou sua primeira poesia em público, aos 13 anos. Anos mais tarde, estudou Direito em Recife, época na qual passou a apresentar os primeiros sintomas de sua tuberculose. Em função da doença e do tratamento, transferiu-se para São Paulo, finalizando seus estudos na capital.

Em 1866, aos 19 anos, Castro Alves perdeu o pai, que deixou mais cinco filhos menores de 14 anos, que ficaram sob a responsabilidade do escritor e de sua madrasta. Também nessa época, conheceu seu grande amor, Eugênia Câmara, uma atriz dez anos mais velha. Ela atuou no drama em verso escrito pelo autor, chamado O Gonzaga ou a Revolução de Minas, apresentado na Bahia em 1987.

O relacionamento amoroso acabou em 1968. Tempos depois, o escritor se feriu com um tiro no pé durante uma caçada. Cirurgias foram feitas, mas sem sucesso, e ele teve de amputar o pé. Aos 24 anos, em 1871, acabou falecendo em decorrência da tuberculose.

Poesia lírica e abolicionista de Castro Alves

Embora seja conhecido mais por seus poemas de cunho social, em função de ter sido um poeta abolicionista, Castro Alves também produziu poemas líricos, nos quais figuravam temas como amor e sensualidade, principalmente em decorrência da paixão que teve por Eugênia Câmara. Essa poesia lírica do autor apresentava amores inacessíveis (como em Álvares de Azevedo), além de reflexões sobre morte e natureza.

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Todavia é na poesia abolicionista que Castro Alves demonstra toda a sua habilidade poética, chegando a ser reconhecido por José de Alencar e Machado de Assis como um grande poeta brasileiro.

Em boa parte de seus poemas, o escritor era porta-voz da causa abolicionista. Nesse sentido, com uso de expressões bastante imperativas e emprego de vocativos, expunha a vergonhosa e desumanizadora escravização que havia no Brasil. A linguagem apelativa de seus versos tocava os leitores da época de tal maneira que muitos passaram a lutar em prol da justiça e da liberdade do povo negro.

A seguir, confira as principais obras do autor, bem como comentários a respeito delas.

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Principais obras

As obras de destaque do escritor romântico são Espumas Flutuantes e Os escravos – também conhecida como Navio Negreiro. A primeira apresenta poemas tanto líricos quanto sociais, com temas como América, natureza, existência e ideias republicanas de progresso, bem como o amor, a mulher e a sedução, sobretudo no poema “Boa noite”.

Por sua vez, a segunda obra mencionada trata especificamente de questões sociais, como se pode notar em “Tragédia do lar”, poema em que o eu lírico convida o leitor para conhecer o horror da escravização dentro de uma senzala. Na sequência, leia os dois poemas mencionados.

Boa noite
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio…
Boa noite, Maria! É tarde… é tarde…
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!… E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos…
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve… a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?… pois foi mentira…
…Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-dalva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo dalvorada:
“É noite ainda em teu cabelo preto…”

É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua nua –
o globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua…

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas…
– São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos…
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora…
Marion! Marion!… É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!…

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo…
E deixa-me dormir balbuciando:
– Boa noite! –, formosa Consuelo…

Tragédia do lar (trecho)
[…]
Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas… cuidado…
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.

Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tualma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?
E o coração – tredo lodo,
Fezes dânfora doirada
Negra serpe, que enraivada,
Morde a cauda, morde o dorso
E sangra às vezes piedade,
E sangra às vezes remorso?…

Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! senhores, não mancheis…
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.

Porém vós, que no lixo do oceano
A pérola de luz ides buscar,
Mergulhadores deste pego insano
Da sociedade, deste tredo mar.
Vinde ver como rasgam-se as entranhas
De uma raça de novos Prometeus,
Ai! vamos ver guilhotinadas almas
Da senzala nos vivos mausoléus.
[…]

Confira a lista completa de obras de Castro Alves:

  • Gonzaga ou a Revolução de Minas (1867) – teatro/drama;
  • Espumas Flutuantes (1870) – poesia;
  • A Cachoeira de Paulo Afonso (1876) – poesia;
  • Os Escravos ou Navio Negreiro (1883) – poesia;
  • Hinos do Equador (1921) – poesia e obra póstuma.

Que tal aprofundar seus conhecimentos adquiridos até aqui sobre Castro Alves? Confira as videoaulas que separamos para você!

Saiba mais sobre Castro Alves e sua produção literária

A seguir, assista às videoaulas que falam não só sobre a vida de Castro Alves, mas também acerca da participação do autor no Romantismo no Brasil.

Castro Alves, o poeta dos escravos

Nesse vídeo, Priscilla Dalledone fala sobre Castro Alves, situando-o no Romantismo da terceira geração. Além disso, comenta sobre o seu grande poema “Navio negreiro”, uma denúncia social.

Castro Alves e o Romantismo

Aprofunde seus conhecimentos acerca do Romantismo com o professor Rafael Menezes. Aqui, você verá a relação de Castro Alves com essa escola literária, mas também terá acesso à leitura e à análise de “Mãe penitente”, outro poema de denúncia social do autor.

O poeta abolicionista do Romantismo

Nesse vídeo do Seja Livro, você terá acesso a mais informações sobre a vida de Castro Alves. Além disso, verá poemas comentados que mostram o espírito inquieto desse poeta que não aceitava injustiças sociais, mas que também escrevia sobre relações amorosas e erotismo.

Quer conhecer outros poetas brasileiros do Romantismo? Comece por Gonçalves Dias e, depois, leia também sobre Álvares de Azevedo!

Referências

História concisa da literatura brasileira (1994) – Alfredo Bosi
Romantismo – Rodrigo Marques de Oliveira

Estela Santos
Por Estela Santos

Doutoranda em Letras - Estudos Literários (UEM), professora, redatora e mediadora do #LeiaMulheres - Maringá.

Como referenciar este conteúdo

Santos, Estela Pereira dos. Castro Alves. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/castro-alves. Acesso em: 27 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [FUC - MT]

Considerando os seguintes itens:
I. Autor da obra Cantos e Fantasias e O Estandarte Auriverde.
II. Foi chamado o poeta dos escravos por seus textos contra a escravidão.
III. Autor de I-Juca Pirama, belo poema de inspiração indianista.
IV. Sua poesia é extremamente egocêntrica e sentimental, exprimindo um pessimismo doentio, uma descrença generalizada, um tédio de vida que impregna tudo de tristeza e desilusão.
V. Seu estilo vibrante e oratório empolgava os ouvintes, popularizando seus poemas de caráter social.

Referências a Castro Alves encontram-se apenas em:

a) I e II
b) II e IV
c) I, II e IV
d) II, III e V
e) II e V.

Resposta correta: E

Justificativa: Castro Alves, de fato, é conhecido como “poeta dos escravos”, em função de seus posicionamentos abolicionistas, expressos na sua produção poética. Além disso, o escritor cativava seus leitores e ouvintes, fazendo que seus poemas de temáticas sociais ficassem populares. As demais afirmativas da questão não correspondem ao poeta e sua poesia.

2. [UFV - 2010]

Leia as duas estrofes abaixo, extraídas do poema “Boa-Noite”, do poeta romântico Castro Alves:

BOA-NOITE, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde… é tarde…
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa-noite!… E tu dizes – Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos…
Mas não mo digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.
(ALVES, Castro. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004, p. 122.)

Nas estrofes acima, a visão que o eu lírico deixa transparecer do amor que sente é repleta de:

a) sensualidade.
b) melancolia.
c) platonismo.
d) religiosidade.

Resposta correta: A

Justificativa: A poesia de Castro Alves é grande parte social, contudo, conforme abordado em nosso conteúdo, parte dela é lírica, repleta de erotismo – como no poema “Boa noite”, em que a sensualidade e o desejo são imperativos na voz do eu lírico.

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