Álvares de Azevedo

Autor das obras "Lira dos Vinte Anos" e "Macário", Álvares de Azevedo integra o rol dos principais nomes do Romantismo brasileiro de segunda geração.

Poeta, contista e ensaísta, Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, no ano de 1831, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1852, com apenas 21 anos, vítima de tuberculose. Antes de falecer, deixou como legado a obra Lira dos Vinte Anos, entre outros célebres trabalhos. É um dos principais nomes do Romantismo brasileiro. Saiba mais sobre o autor:

Publicidade

Índice do conteúdo:

Biografia de Álvares de Azevedo

Álavres de Azevedo

Manuel Antônio Álvares de Azevedo, mais conhecido como Álvares de Azevedo, nasceu em São Paulo no dia 12 de setembro de 1831 e era filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Mota de Azevedo. Aos dois anos de idade, em 1833, mudou-se com os pais para o Rio de Janeiro; no ano de 1836, o irmão mais novo do autor faleceu, acontecimento que o assolou profundamente.

Relacionadas

Literatura hispano-americana
A literatura hispano-americana foi dividida, basicamente, em quatro fases, e teve nomes importantes conhecidos mundialmente, como Gabriel García Márquez.
Romantismo
O movimento representa uma quebra em relação aos valores neoclássicos, perdurando entre o fim do século XVIII e a segunda metade do século XIX.
Gonçalves Dias
Principal nome da poesia na primeira geração do Romantismo no Brasil, Gonçalves Dias apresentou uma obra focada na natureza, no indígena e no lirismo amoroso.

Em 1840, iniciou os estudos no Colégio Stoll, onde mostrou ser um aluno muito aplicado. Já em 1844, foi para São Paulo, junto do tio, mas no ano seguinte voltou para o Rio de Janeiro e foi matriculado no internato do Colégio Pedro II.

Aos 17 anos de idade, em 1848, retornou novamente para a cidade de São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, onde se revelou um estudante diligente, participou constantemente da vida literária e fundou a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico e Paulistano. Foi grande amigo de Aureliano Lessa e de Bernardo Guimarães, formando uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses.

Quanto ao meio literário em que se inseria, teve profundas influências de autores como Lord Byron, Musset e Heine, além de William Shakespeare, Dante e Goethe. Tais referências o auxiliaram a compor uma poética cujos componentes são a melancolia, a ironia, a solidão, a tristeza, a saudade, o amor e a própria morte. Aliás, Azevedo tinha uma obsessão com a própria morte, previsão que o acompanharia por toda a vida.

O autor até realizou orações fúnebres para os enterros de dois de seus companheiros de escola, fato que teria alimentado ainda mais as intuições com relação à própria morte. Sofreu um acidente ao andar de cavalo, em 1852, o que lhe causou um abscesso na fossa ilíaca e, devido à operação a que se submeteu por conta disso, teve uma septicemia.

Publicidade

Morreu em 25 de abril de 1952, em um domingo de ressurreição, vítima de tuberculose que agravou ainda mais seu estado. Um mês antes, como que prevendo sua morte, Álvares de Azevedo escreveu seu último poema, Se eu morresse amanhã, que foi lido por Joaquim Manuel de Macedo em seu enterro.

Azevedo e o Romantismo

Apenas a Lira dos Vinte Anos teve a edição organizada pelo escritor e foi idealizada para fazer parte do conjunto As Três Liras – livro que seria composto por Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, mas o projeto nunca se consumou.

Após a primeira edição de Lira dos Vinte Anos, outros poemas foram acrescidos conforme foram encontrados. Ainda em vida, entre 1848 a 1851, o poeta publicou alguns poemas, discursos e artigos. As Poesias (1853 e 1855) foram publicadas com outras produções.

Publicidade

Dentre suas obras, encontra-se a Lira dos Vinte Anos, O poema do frade, O Conde Lopo e Poesias Diversas, que são poemas de cunho narrativo. Além dessas, há também Macário, que se trata de um texto dramático, e Noite na Taverna, composta por contos fantásticos. O autor também traduziu a obra Parisina, de Byron, e o quinto ato de Otelo, de Shakespeare.

Álvares de Azevedo compõe o rol de autores que integraram a escola literária do Romantismo, que foi um movimento estético que ocorreu entre os séculos XVIII e XIX. O escritor é classificado como principal nome da segunda geração do Romantismo, nomeada também como Ultrarromantismo e Mal do século, que é caracterizada pelo sentimentalismo acentuado, pelo pessimismo, pelo egocentrismo, pelos problemas existenciais e pela exaltação da morte.

Características literárias

Para compreender melhor a forma como Álvares de Azevedo engendra suas produções, faz-se necessário focar em algumas características que são recorrentes em seus escritos. Muitas delas são frutos de influências do movimento em que se insere, das suas preferências literárias (autores como Byron e Musset) e de suas próprias experiências de vida. Dentre elas, encontram-se:

  • Pessimismo: seus poemas são marcados por forte pessimismo, desesperança, melancolia, tristeza, apatia e tédio. São linhas repletas de tons sombrios e de escuridão, que revelam a postura do eu-lírico diante da vida que não tem mais nada de bom ou interessante para oferecer. O autor também apresenta temas sombrios, macabros e até satânicos (presente em Macário). Um poema em que o pessimismo é notadamente assinalado é Adeus, meus sonhos.
  • Egocentrismo: outro aspecto presente nas linhas do poeta é o egocentrismo, que também é uma herança do movimento literário, em que a escrita é voltada essencialmente para dentro, no interior do eu. Revela-se uma profunda subjetividade, que nada mais é que o espaço da intimidade do indivíduo, seus sentimentos, seus desejos, suas emoções e a sua forma de se relacionar com o mundo, carregando, inclusive, certo egoísmo.
  • Sentimentalismo: o sentimentalismo é o carro-chefe do Romantismo e também é destaque na poesia de Álvares de Azevedo. Um excesso de emoções percorre os versos e compromete a razão, elemento que não se faz presente na obra de Azevedo. Muito pelo contrário: o abalo afetivo e a comoção são os grandes guias do poeta.
  • Idealização amorosa: fruto do sentimentalismo, a idealização do amor também se faz presente na poética do autor. A incansável busca pela mulher amada, o único e verdadeiro amor, quase sempre inalcançável, inatingível e tão distante e ausente que somente a utopia e a idealização a trazem para perto do eu-lírico. Dentre os poemas que destacam a lírica amorosa estão Amor e É ela! É ela! É ela! É ela!.
  • Escapismo: corresponde à forte tendência a fugir da realidade e da rotina, evitando as situações desagradáveis e, principalmente, a dor de viver. O poeta romântico sempre tentará escapar da realidade que o cerca, seja para o mundo dos sonhos e para a fantasia, seja para a morte. Os poemas Um canto do século, Se eu morresse amanhã e Lembranças de morrer refletem bem a temática do escapismo e da morte.
  • Existencialismo: o conflito entre ser e estar presente em um mundo hostil reverbera nas estrofes de Azevedo. Além disso, revela certa instabilidade emocional e certos conflitos internos que reforçam o sentimento de solidão, de tristeza e de melancolia.
  • Ironia e sarcasmo: o sarcasmo e a ironia também são as formas encontradas pelo poeta para lidar com o sofrimento presente em seus versos.

É possível perceber que a poética de Álvares de Azevedo é carregada de elementos que são muito recorrentes na estética do Romantismo e em autores como Byron e Goethe. Tais aspectos são fundamentais para entender e apreciar os escritos do poeta, bem como se aprofundar na estética romântica e reconhecê-la enquanto herança na Literatura Brasileira em geral.

Principais obras

Como dito anteriormente, a única obra em que o autor participou efetivamente da organização e da publicação foi a Lira dos Vinte Anos; as demais produções foram publicadas postumamente. Dentre as obras do escritor mais conhecidas nacionalmente, estão:

  • Lira dos Vinte Anos (1853)
  • Noite na Taverna (1855)
  • Macário (1855)
  • O Conde Lopo (1866)

Macário (1855)

A tentativa de texto dramático (peça de teatro) de Álvares de Azevedo é divida em dois episódios (não atos). No primeiro, Macário, jovem estudante, está em uma taverna, onde se depara com um estranho e começam a conversar sobre vários assuntos; mais tarde, esse estranho diz ser Satanás e o leva para uma cidade onde há prostitutas e devassidão.

Macário tem uma alucinação assustadora com a mãe em um túmulo e acorda assustado em uma estalagem, acreditando que tudo não passava de um sonho. Em seguida, vê marcas queimadas de pés de cabra no chão.

O segundo episódio se passa na Itália: Macário e outros estudantes aparecem confusos, tristes e em busca de um amor. Penseroso, um deles, vive um romance com Italiana e sofre de amores, pois prefere morrer de amor a viver a amar, e decide se suicidar, enquanto Macário encontra Satã. A peça se encerra com Macário levado pelo Diabo para ver pela janela um encontro entre amigos em uma taverna devassa.

Poemas de Álvares de Azevedo

Depois de conhecer sobre a vida e sobre as características literárias de Álvares de Azevedo, é importante ler alguns poemas do autor para fixar o conteúdo. Acompanhe:

Se Eu Morresse Amanhã


Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alma
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito,
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Publicado em 1853
AZEVEDO, Álvares de. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995, p. 96.

Adeus, Meus Sonhos!


Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto…
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?!… morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

Publicado em 1853
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 152.

Amor


Quand l a mort est si belle,
Il est doux de mourir.

V. HUGO

Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minh’alma, meu coração…
Que noite! que noite bela!
Com o é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Publicado em 1853
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 102.

Vamos conhecer mais sobre Álvares de Azevedo?

Álvares de Azevedo é o escritor mais lembrado da segunda geração do Romantismo brasileiro. Para conhecer mais sobre essa escola literária e os livros do autor, confira os vídeos abaixo:

Romantismo no Brasil

Além de ler a obra dos principais autores brasileiros, é importante saber em qual contexto literário eles estavam inseridos. Nesse vídeo, você poderá aprender um pouco mais sobre o Romantismo no Brasil.

Lira dos Vinte Anos

Considerada a principal obra de Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos demonstra a qualidade poética do autor, além de propiciar uma viagem pelo existencialismo e pela melancolia características da segunda geração do Romantismo. Assista ao vídeo para conhecer mais sobre a obra em questão.

Noite na Taverna

Noite na Taverna é uma coletânea de contos de Álvares de Azevedo. Perceba que, além de poesia, o autor também se dedicou à prosa. Veja o vídeo e aprenda mais sobre essa importante obra.

Autor de grandes títulos como a Lira dos Vinte Anos, Macário e Noite na Taverna, Álvares de Azevedo compõe o quadro dos grandes nomes da Literatura Brasileira, deixando um legado na literatura como um todo. Continue seus estudos com nossa matéria sobre a estética do Romantismo no Brasil.

Referências

Álvares de Azevedo – Academia Brasileira de Letras;
Curso de literatura brasileira – Sergius Gonzaga;
História concisa da literatura brasileira – Alfredo Bosi;
Lira dos vinte anos – Álvares de Azevedo;
O estudante Manuel Antônio Álvares de Azevedo – Manoel Cerqueira Leite.

Leonardo Ferrari
Por Leonardo Ferrari

Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. É professor assistente em colégio de ensino médio. Nas horas livres, dedica-se à família, aos amigos, à sétima arte e à leitura.

Como referenciar este conteúdo

Ferrari, Leonardo. Álvares de Azevedo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/alvares-de-azevedo. Acesso em: 20 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [FUVEST]

Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno-me vaporoso… e só de ver-te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.
(Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos)

Nesse excerto, o eu lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu lírico manifesta a:

a) ironia romântica.
b) tendência romântica ao misticismo.
c) melancolia romântica.
d) aversão dos românticos à natureza.
e) fuga romântica para o sonho.

Resposta: a)

Justificativa: A ironia se encontra em, primeiramente, descrever a sensação sublime do contato com a lua (uma descrição quase romântica) para, em seguida, quebrar a expectativa do leitor e dizer o contrário do que inicialmente se dá a entender (“e só de ver-te/Eu sinto os lábios meus se abrir de sono”).

2. [PUC]

“Já de morte o palor me cobre o rosto
Nos lábios meus o alento desfalece.
Surda agonia o coração fenece
E devora meu ser mortal desgosto!
do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!”

A relação mórbida com a morte demonstra que parte da poesia de Álvares de Azevedo prende-se ao:

a) idealismo amoroso.
b) saudosismo inconformado.
c) misticismo religioso.
d) negativismo filosófico.
e) mal do século.

Resposta: e)

Justificativa: O mal do século é visível no poema, visto que se trata de um pessimismo exacerbado e uma apatia completa, por conta de uma mágoa.

3. [UNESPAR]

Com base no poema “Lembrança de Morrer”, do livro Lira dos 20 anos, de Álvares de Azevedo, pertencente à estética romântica brasileira, escolha a alternativa correta.

a) Uma das características românticas é o objetivismo, nesse sentido, a realidade é revelada através da atitude impessoal do escritor. O artista traz à tona o mundo exterior com plena liberdade;
b) No culto da natureza, percebe-se que esta é apenas pano de fundo ou cenário, onde o poeta romântico mergulha para encontrar a paz de espírito necessária para compor seus poemas;
c) Decorrente de sua adaptação ao mundo “real” o poeta romântico não tem consciência da solidão. Então, ele mergulha no mundo exterior, pois não compreende o mundo interior;
d) A paisagem descrita pelo poeta permanece impassível, não apresentando qualquer vínculo de expressividade e significação;
e) Na evasão ou escapismo, o poeta romântico procura fugir para um mundo imaginário, idealizado a partir dos sonhos e das emoções pessoais. Podendo evadir-se ainda para a solidão, para o desespero e para a evasão das evasões: o suicídio, a morte. Azevedo, pertencente à estética romântica brasileira, escolha a alternativa correta.

Resposta: e)

Justificativa: Escapismo é um dos temas principais da estética romântica brasileira, presente, principalmente, em Álvares de Azevedo. Caracteriza-se pela tentativa de fuga para os sonhos ou para a morte.

Compartilhe

TOPO