Biblioteca de Alexandria

A Biblioteca de Alexandria foi um dos maiores centros culturais da antiguidade, contendo um número imenso de manuscritos em seu acervo. Aprenda sobre o contexto em que foi construída e muito mais!

“Adquirir um exemplar de cada manuscrito existente entre todos os povos da terra” era uma das finalidades da maior e mais notável biblioteca do mundo antigo, a Biblioteca de Alexandria. A construção da biblioteca foi fruto de um processo cultural que se originou da integração de valores distintos dos mundos grego, persa e egípcio, sob hegemonia grega, o helenismo.

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Biblioteca de Alexandria: resumo

A Biblioteca de Alexandria só pode ser compreendida corretamente ao analisar o processo que antecede a sua construção, isto é, a formação do helenismo, fruto de algumas fusões de valores e aspectos culturais ocorridos lentamente após a conquista de Alexandre, O Grande, de alguns territórios do mundo antigo, atividade já iniciada por seu pai, Felipe II.

Relacionadas

Alexandre, o Grande
Alexandre, o Grande, em pouco tempo expandiu o Império macedônico para um território que incluía a Grécia, o Egito, todo o antigo Império Persa e tudo o que hoje consideramos como o Oriente Médio.
Helenismo
Helenismo designa a fusão da cultura grega com a egípcia e persa, entre os século IV e I a.C. Tal fusão foi possível pelas conquistas territoriais de Alexandre, O Grande.
Imperadores Romanos
O Império Romano foi marcado por alguns imperadores importantes que trouxeram avanços significativos para Roma.

Em 338 a.C., Felipe, até então rei da Macedônia, dominou a Grécia após a batalha de Queroneia, em que atenienses e tebanos foram totalmente subjugados pelo exército macedônio. Porém, com a morte de Felipe II, assassinado por parte da aristocracia, o seu filho, Alexandre, assumiria o governo da Macedônia. Numa série de investidas militares, Alexandre e seu exército passaram a derrota e ocupar o território persa, dentre eles o porto de Tiro, considerado como um dos principais centros do poderio marítimo persa.

Após esse momento de conquista, Alexandre marchou para um dos maiores territórios dominados pelos persas desde 525 a.C., o Egito, conquistando-o, mas não sem resistência. Em seguida, a Babilônia, também governada pelos persas, foi tomada e conquistada, possibilitando o próprio Alexandre de ser o imperador dos persas. Foi dentro desse processo histórico de dominação e de um império marcado por um forte poder centralizado que a Biblioteca de Alexandria surgiu.

Após a conquista das regiões já mencionadas, houve, por parte do novo imperador macedônio, a criação de 33 novas cidades, centros comerciais e, sobretudo, de difusão cultural, e o mais notável dentre elas foi a cidade de Alexandria, localizada no litoral norte do Egito. Com cerca de meio milhão de habitantes por volta de 200 a.C., a cidade de Alexandria presenciou a construção de um dos maiores centros de cultura já existentes na história humana.

Fundada no século III a.C., a ideia de construir uma biblioteca de grande porte na cidade de Alexandria veio de Ptolomeu I (366 a.C. – 283 a.C.), que governou a região do Egito logo após a morte de Alexandre, O Grande.

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Somado a isso, é importante mencionar que a biblioteca de Alexandria foi mais do que um lugar repleto de manuscritos; foi também um importante centro de pesquisa, contendo cerca de aproximadamente dez laboratórios, em que frequentavam diversos estudiosos de diferentes áreas: Astronomia, Matemática, Geometria, dentre outras.

Em suma, a biblioteca foi um centro de ideias, criado a partir de alguns componentes políticos, dentre eles o desejo de difundir a cultura helênica nos territórios conquistados por Alexandre.

Sua importância para o mundo antigo

A biblioteca de Alexandria desempenhou um papel fundamental no campo intelectual como um todo e, especificamente na filosofia, o centro cultural rivalizou com a Escola de Atenas. Como forma de incentivar esse centro cultural, a biblioteca contou com mais de 400.000 rolos de papiro podendo chegar até mesmo a meio milhões de manuscritos, conforme aponta alguns historiadores do período, contendo, por exemplo, obras de grandes pensadores da antiguidade, como Sócrates, Platão, Homero, entre outros.

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Esse acervo riquíssimo de papiros e manuscritos atraiu diversos estudiosos influentes não só para a época estudada, visto que muitos trabalhos escritos por eles continuam tendo sua importância até os dias atuais, como as obras de astronomia, geometria, etc. Dentre os frequentadores da Biblioteca de Alexandria estavam: Zenódoto de Éfeso, Camímaco, Euclídes de Alexandria, Arquimedes, Dionísio de Trácia, Ptolomeu, Hiparco, Apolônio de Rodes, Eratóstones de Cirene, dentre outros estudiosos.

A importância da Biblioteca reside na sua influência exercida no mundo helenístico, não se limitando apenas aos manuscritos da época, tendo em vista a crescente valorização do conhecimento escrito, mas também do surgimento de diferentes obras e tratados pelos estudiosos que frequentaram esse centro intelectual. A influencia desses escritos na história alcança, por exemplo, os autores e pintores renascentistas, que tomam por base a “herança” helenística para a criação de suas obras.

Além disso, afirma-se que um grupo de judeus responsável por transpor o Livro Sagrado do hebraico para o grego, resultando na tão conhecida Septuaginta, efetuaram essa atividade reunindo-se na Biblioteca de Alexandria.

Percebe-se que, em todos os âmbitos do conhecimento até então estudados e praticados, a biblioteca era um significativo centro de estudos e de difusão de ideais. E claro, ideias moldam a mentalidade de uma sociedade e cultura, daí reside sua relevância para a época.

O incêndio da Biblioteca de Alexandria: hipóteses de um desaparecimento desastroso

É fato que a Biblioteca de Alexandria foi incendiada e muitos manuscritos importantes foram totalmente destruídos e queimados. Contudo, as causas de tal acontecimento ainda são discutidas pelos estudiosos – e claro, como em todos os casos, existem muitos “mitos” em torno deste evento.

Por ser um assunto bastante controverso e inexato, é difícil chegar a uma conclusão única e acabada do incêndio à Biblioteca de Alexandria; entretanto, a hipótese mais aceita por historiadores é a de que as causas de tal incêndio foram sendo geradas gradualmente até atingir o seu estopim em seu principal suspeito: o imperador Júlio Cesar.

Em 47 a.C., a biblioteca sofreu um grande incêndio de proporções gigantescas, destruindo , segundo o filosofo Sêneca, cerca de 40 mil de seus manuscritos. Conforme afirma alguns documentos do período, após Júlio Cesar ocupar Alexandria, o mesmo ficou totalmente cercado pelas tropas egípcias no porto. Devido a isso, o mesmo ordenou que incendiassem os navios egípcios, porém, parte desse fogo e alastrou e comprometeu partes da cidade, dentre elas a Biblioteca de Alexandria.

Mas não se deve observar esse momento como um fato isolado, visto que, conforme consta no próprio site bibalex da atual Biblioteca de Alexandria – sim, ela foi reerguida após muitos séculos – há outras versões. Uma delas é a de que nos anos 415 d.C. uma grande quantidade de manuscritos tenha sido queimada por ordem de Cirilo, bispo católico de Alexandria, por considerar os manuscritos pagãos.

Ademais, outra hipótese também afirma que o incêndio que realmente comprometeu a biblioteca foi provocado em 642 d.C., quando os árabes mulçumanos ocuparam Alexandria sob a liderança do general Omar, destruindo a parte existente do acervo da biblioteca mencionada.

São hipóteses aceitáveis e não devem ser reduzidas a momentos isolados, visto que, segundo aponta o estudioso Derek Adie Flower, foi esse conjunto de fatores na história que contribuiu para o desaparecimento desastroso de um dos maiores centros culturais da antiguidade.

A Biblioteca de Alexandria atualmente

Atualmente, os únicos vestígios da Biblioteca de Alexandria são as suas ruínas e alguns túneis do Serapeu (Templo de Serápis) em que foram guardados alguns manuscritos pertencentes à Biblioteca. Os vestígios existentes apontam para fragmentos não só da Biblioteca, mas do Museu e de alguns espaços circundantes ao centro intelectual da cidade.

Os arqueólogos dedicados ao estudo da Antiguidade Clássica enfrentaram, no século XIX em diante, diversas dificuldades para encontrar vestígios dessa instituição. Foi apenas na década de 1990 que a Arqueologia passou a encontrar e catalogar vestígios históricos pertencentes ao período, mas sem exatidão precisa quanto a Biblioteca em si.

A nova Biblioteca de Alexandria

Wikimediacommons

A Biblioteca de Alexandria não deve ser lembrada apenas por sua destruição, mas por sua reconstrução também. De modo a imortalizar a biblioteca de Alexandria, o governo egípcio decidiu construir na cidade de Alexandria a Biblioteca Alexandrina, no ano de 2002. Mas a ideia de reconstruir a biblioteca surgiu pela primeira vez no ano de 1974 e foi gradualmente amadurecida e sistematizada.

A construção contou com o financiamento da ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da Unesco. Foi edificada no mesmo local em que havia sigo erguida a Biblioteca anterior. A nova biblioteca ocupa um edifício de dez pavimentos e tem capacidade para 7 milhões de livros e documentos, além de contar com um museu e centros de pesquisa.

A reconstrução de Alexandria reforça ainda mais a importância de preservar a memória e os vestígios de um passado repleto de experiências grandiosas.

Curiosidades sobre a Biblioteca de Alexandria

Wikimediacommons

A Biblioteca de Alexandria também era repleta de curiosidades que revelam ainda mais a sua grandeza. A seguir confira algumas delas:

  • A Biblioteca de Alexandria não era composta apenas por manuscritos, mas por ser um centro de pesquisa e discussão, um observatório astronômico e um local de descanso;
  • Internamente, a biblioteca contava com cerca de 400.000 rolos de papiro podendo chegar até mesmo a meio milhões de manuscrito;s
  • A biblioteca de Alexandria tinha como objetivo guardar cada manuscrito de todos os povos da terra;
  • A cidade em onde a biblioteca se encontra era a segunda maior cidade do Império Romano;
  • Estima-se que mais de cem funcionários trabalhavam na biblioteca que abrigava em média 700 mil manuscritos.

Até aqui pode-se compreender que a Biblioteca de Alexandria foi mais do que um local de debates e discussões de ideias. Conforme foi visto, ela desempenhou um papel cultural e político na sociedade de então, reforçando para os dias atuais tanto a relevância da circulação e armazenamento do conhecimento como o quanto as dinâmicas políticas podem afetar o conhecimento produzido e materializado. Para conhecer mais sobre esse período tão rico em história e cultura, estude sobre a grécia antiga.

Referências

A Biblioteca de Alexandria: as Histórias da Maior Biblioteca da Antiguidade (2010) – Derek Adie Flower
Bibliotecas do Mundo Antigo (2018) – Lionel Casson

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Biblioteca de Alexandria. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/biblioteca-de-alexandria. Acesso em: 26 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [IF - RO]

A biblioteca de Alexandria, no Egito, desde o século IV a.C., foi a mais célebre e grandiosa biblioteca da Antiguidade. O objetivo dessa biblioteca era:

A) Reunir em um só lugar todo o conhecimento humano.
B) Ter impresso um exemplar de cada livro existente na face da terra.
C)Difundir a imprensa, criação de Gutenberg, aumentando a produção de livros.
D)Reunir todos os livros de arquitetura para a construção do Grande Império Alexandrino.
E)lém de disponibilizar seus escritos, formar escritores e teóricos da Grécia, do Egito, da Assíria e da Babilônia.

A) Reunir em um só lugar todo o conhecimento humano.

O objetivo da Biblioteca de Alexandria era ser um centro cultural em que todo o conhecimento humano pudesse estar reunido num só lugar.

2. [ENEM (2010)]

São Paulo: Abril. ed. 81, abr. 2010 (adaptado).

A biblioteca de Alexandria exerceu durante certo tempo um papel fundamental para a produção do conhecimento e memória das civilizações antigas, porque

A)eternizou o nome de Alexandre, o Grande, e zelou pelas narrativas dos seus grandes feitos
B)funcionou como um centro de pesquisa acadêmica e deu origem às universidades modernas.
C)preservou o legado da cultura grega em diferentes áreas do conhecimento e permitiu sua transmissão a outros povos.
D)transformou a cidade de Alexandria no centro urbano mais importante da Antiguidade.
E)reuniu os principais registros arqueológicos até então existentes e fez avançar a museologia antiga.

C)preservou o legado da cultura grega em diferentes áreas do conhecimento e permitiu sua transmissão a outros povos.

O maior legado da Biblioteca de Alexandria foi manter os mais diversos conhecimentos e ideias existentes na antiguidade, cumprindo a sua finalidade de transmissão dessa mesma cultura a outros lugares e tempos.

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