Sérgio Buarque de Holanda

Um dos intérpretes do Brasil, Holanda identificou os problemas da nação a partir do conceito de cordialidade.

Conhecido entre a Geração de 1930, Sérgio Buarque de Holanda produziu reflexões interessantes sobre quem nós somos como brasileiros. Atualmente, suas ideias são utilizadas em muitos campos – sobretudo a ideia da cordialidade. A seguir, entenda mais sobre o assunto para adentrar também no debate.

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Índice do conteúdo:

Biografia

Sérgio Buarque de Holanda viveu quase 80 anos completos: nasceu em julho de 1902 e faleceu em abril de 1982. Paulista, é um dos autores do pensamento social brasileiro e foi também pai de sete filhos – dentre eles, Chico Buarque, Heloísa Maria ou Miúcha, e Cristina Buarque.

O autor foi um historiador e professor da Universidade de São Paulo. Em 1936, publicou o livro Raízes do Brasil – um clássico para refletir sobre a formação histórica do país. Além disso, em 1962 se tornou o primeiro diretor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), que existe até hoje.

Além de sua obra mais conhecida, publicou também livros importantes como Visão do Paraíso e História Geral da Civilização Brasileira. Assim, é possível notar a preocupação de Holanda em realizar grandes interpretações sobre o Brasil, bem como em sugerir caminhos ou possíveis soluções aos nossos problemas.

Sérgio Buarque de Holanda e a sociologia

Holanda era historiador, mas também foi um ensaísta e crítico literário. Apesar de não ser sociólogo, influenciou os estudos nesse campo assim como Gilberto Freyre o fez. Afinal, eles pensaram questões importantes; dentre elas, sobre o que faz do Brasil, Brasil, ou seja, qual é a nossa identidade e qual marca cultural e histórica nos distingue das demais nações.

Para refletir sobre o assunto, o autor se inspirou nas ideias de um conhecido sociólogo: Max Weber, sobretudo no método do tipo ideal. Em resumo, os tipos ideais são modelos teóricos para pensar a realidade que, na prática, é muito complexa e pode não se encaixar completamente no conceito.

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Portanto, o autor ofereceu uma interpretação geral do Brasil e, além disso, proporcionou um modo de estudar essa história. A relação entre suas teorias e a sociologia é, como consequência, bastante estreita.

Raízes do Brasil

A obra Raízes do Brasil foi publicada em 1936. Nela, Sérgio Buarque de Holanda apresenta algumas das raízes da formação brasileira: a colonização portuguesa e o patriarcado rural que se formou.

Nesse ambiente, o liberalismo e a democracia foram importados para o país, transformando-se ambos em um fenômeno bastante distinto daquele modelo europeu.

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Conforme o autor, “A democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido”. Em outras palavras, a democracia em seu sentido original propõe a igualdade entre os indivíduos e uma separação entre o público e o privado. Contudo, no Brasil, essa distinção é difícil de ser realizada, e é nesse momento que Holanda apresenta o seu conceito de cordialidade.

O homem cordial

Conforme o autor, o tipo brasileiro é o do homem cordial. No senso comum, cordialidade pode significar ser afável, bondoso, acolhedor e receptivo – características que muitos costumam atribuir de fato às pessoas do Brasil.

No entanto, o cordial no sentido de Sérgio Buarque de Holanda vem do cor de coração. Ou seja, significa a nossa incapacidade, inabilidade e até uma repulsa em lidar com a esfera pública e burocrática do Estado sem envolver o lado pessoal, do coração.

Portanto, se a democracia no modelo europeu impõe que assuntos pessoais fiquem separados da vida pública, aqui no Brasil isso não acontece. Isso explica, por exemplo, o favorecimento de familiares e amigos quando alguém ocupa um cargo público – somente aos outros é aplicada a lei, mas aos íntimos não: o famoso jeitinho brasileiro.

Além disso, a política brasileira é frequentemente feita com afeto, e as pessoas se identificam com líderes que se colocam na ordem do familiar e da intimidade. Assim, debates políticos são levados também para o lado pessoal, e se reage com violência aos que discordam de opiniões.

O problema desse aspecto, para Holanda, é que ele dificulta a entrada na modernidade. Desse modo, o homem cordial não é necessariamente bondoso e polido, mas exerce seu autoritarismo por meio da intimidade e leva o lado pessoal para a vida pública.

Videoaulas sobre as principais ideias do autor

Holanda foi original em suas ideias e inspirou muitas reflexões a respeito de quem nós somos como brasileiros. Assim, é importante escutar e debater o tema, de modo que o conteúdo faça mais sentido:

Introduzindo a obra: Raízes do Brasil

Para além do seu sentido científico na sociologia, esse livro de Sérgio Buarque de Holanda é atualmente lido por um público diverso – frequentemente, pessoas que não necessariamente se interessam por sociologia. Assim, assista a uma resenha literária da obra.

Contexto geral das ideias de Holanda

A partir do vídeo acima, revise sobre alguns aspectos da vida do autor e como foi que ele produziu suas reflexões sobre o Brasil. Afinal, ele não estava sozinho – Holanda fez parte da Geração de 30, conhecida pelas suas interpretações inovadoras sobre a nação.

O que é cordialidade?

Qual é o sentido de cordial dado por Sérgio Buarque de Holanda em sua teoria? Atualmente, muitas pessoas utilizam essa ideia de modos bastante variados. Portanto, torna-se importante entender exatamente o que o autor quis dizer com esse termo.

Ainda somos cordiais?

A cordialidade é ainda um conceito útil para pensar um tipo de personalidade existente no Brasil. Principalmente, esse personagem aparece no campo da política e no controle do poder econômico. Assim, veja por quais razões o homem cordial é também negativo nesse âmbito.

Para aprofundar

Se as ideias de Holanda te instigaram a pensar o Brasil e, particularmente, algumas personalidades políticas, vale a pena aprofundar no assunto. Acima, confira um vídeo completo para refletir sobre as raízes brasileiras que fazem quem nós somos.

Portanto, Sérgio Buarque de Holanda ofereceu não apenas uma teoria e um método, mas um imaginário sobre o tipo brasileiro na vida pública. Mais do que descrever apenas uma personalidade cultural, isso diz respeito aos nossos problemas políticos e sociais.

Referências

O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda – Sérgio Costa;

Sérgio Buarque de Holanda e essa tal de “cordialidade” – Lilia Moritz Schwarcz.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Sérgio Buarque de Holanda. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/sergio-buarque-de-holanda. Acesso em: 26 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [CEPERJ]

Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil”, dedica um capítulo à cordialidade do povo brasileiro. Para o autor, os brasileiros geralmente pensam e fazem tudo a partir de uma espécie de conduta básica:
a) racionalidade
b) afetividade
c) orgulho brasileiro
d) formalização política
e) formalização nas relações

Resposta: b

Justificativa: a cordialidade vem “do coração”, conforme Holanda, na dificuldade do brasileiro em separar o público do privado e colocar sua afetividade na vida política.

2. [UEL]

Leia o texto a seguir.
Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes.
(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 160.)
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de Sérgio Buarque de Holanda sobre a tradição política brasileira.
A esse respeito, considere as afirmativas a seguir.
I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservando elementos patrimonialistas e paternalistas que dificultam a consolidação democrática.
II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a recusa das relações hierárquicas, as quais são incompatíveis com regimes democráticos.
III. As relações pessoais entre governantes e governados inviabilizaram a instauração do fenômeno democrático no país com a mesma solidez verificada nas nações que adotaram o liberalismo clássico.
IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou que se enraizassem, no país, práticas sociais opostas aos princípios do clientelismo político.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas
b) Somente as afirmativas I e III são corretas
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas

Resposta: b

Justificativa: a cordialidade, ou seja, as relações pessoais e afetivas com raízes no paternalismo e patrimonialismo no Brasil, dificulta a consolidação da democracia no país. Essa intimidade na vida pública, contudo, não significa que não há hierarquia ou autoritarismo nas relações.

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