Max Weber

Considerado um dos grandes fundadores da Sociologia, Max Weber oferece sua própria forma de entender a sociedade.

Max Weber é um dos grandes sociólogos modernos, mais conhecido ainda pela sua Sociologia compreensiva. Tratou de temáticas como a racionalização, a burocracia, a política, o papel da Ciência e formulou metodologias próprias para a pesquisa sociológica.

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Outros temas, como a cultura, eram ainda bastante importantes para Weber. Por isso, o sociólogo acabou influenciando outras disciplinas, como a Antropologia – principalmente em autores como Clifford Geertz. Weber ainda é importante, por exemplo, em estudos sobre administração pública, sendo sua teoria ainda bastante estudada e aplicada.

Quem foi Max Weber?

Fotografia de Max Weber

Max Weber nasceu em 21 de abril de 1864, na Alemanha. Foi contemporâneo de Karl Marx e Émile Durkheim, sendo considerados, os três, os grandes fundadores da Sociologia. Weber faleceu em 1920, como uma consequência de uma pandemia de gripe que se alastrou em 1918.

A família de Weber era de uma classe média abastada, fortemente ligada ao protestantismo. Os seus antepassados paternos eram refugiados luteranos do Império Austríaco. Em 1892, Weber se casou com Marianne, uma prima de segundo grau de sua família paterna.

Na época em que Weber viveu, a racionalização, o progresso como ordem econômica e a burocracia estavam bem desenvolvidos. As grandes empresas se multiplicavam. Weber era muito interessado em Bolsas de Valores, o que permitiu que o autor estudasse esses temas com profundidade.

As primeiras obras de Weber foram sobre questões de administração pública. Em 1905, publicou seu trabalho intitulado A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Assim, em 1911, Weber havia atingido o ápice da sua atividade intelectual, ficando bastante consolidado em sua carreira acadêmica.

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Weber é considerado por muitos um antagonista de Marx. Essa oposição pode aparecer em diversos aspectos das teorias de ambos, como no posicionamento sobre a relação entre ciência e política, ou mesmo na explicação sobre o surgimento do sistema capitalista.

Além disso, Weber viveu na época do grande debate entre positivistas e seus críticos. A Sociologia ainda estava em seus primeiros desenvolvimentos. Portanto, uma das polêmicas era os critérios de separação entre as ciências naturais e as ciências humanas, ou do espírito (ou seja, que lidam com aspectos sociais, culturais e históricos).

Para alguns, Weber não foi muito reconhecido intelectualmente em vida. Foi após sua morte que, de fato, seu trabalho foi disseminado. Afinal, em sua época, a Sociologia ainda não estava plenamente institucionalizada nas universidades e, para isso ocorrer, as obras de Weber foram bastante importantes.

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Max Weber e a teoria da ação social

O trabalho intelectual de Weber é influenciado por Kant e, sobretudo, por Nietzsche. Assim, Weber introduz uma Sociologia compreensiva, como uma forma de entender quais são as motivações, as vontades, desejos e os sentidos relativos às ações sociais.

Para pensar as ações sociais, portanto, Weber parte dos indivíduos. A explicação sociológica das ações se volta para os sentidos e os efeitos da ação de um indivíduo no âmbito social. Assim, a Sociologia não visa julgar a ação, nem de analisar uma pessoa – em sua personalidade, por exemplo –, mas de pensar como suas ações operam na sociedade.

Portanto, também não é qualquer comportamento que é de interesse sociológico. Essas ações precisam ser significativas, ou seja, não serem simples reações. São ações com uma significância social.

Ao estudar as ações sociais, Weber classificou alguns tipos delas conforme o seu sentido. Veja alguns abaixo.

Ação racional com relação a fins

Uma ação racional ocorre quando um indivíduo age com uma intenção definida e com um grau de controle ou consciência sobre o que está fazendo.

Uma ação racional com relação a fins ocorre quando o indivíduo usa, racionalmente, do meio necessário mais adequado para atingir um determinado objetivo. Esses meios são geralmente lógicos ou técnicos, ou seja, calculados.

Por exemplo, se uma estudante deseja passar de ano, ela estuda para uma prova. Ela irá organizar seu tempo de maneira que possa separar um momento específico para estudar e, assim, atingir o seu objetivo: conseguir uma boa nota na prova.

Ação racional com relação a valores

Assim como a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores possui objetivos definidos e a análise da forma mais adequada para atingi-los. Entretanto, nesse caso, essa ação se justifica pela convicção do indivíduo em valores, crenças, ética, moral, ou mesmo a religião.

A ação racional com relação a valores diz respeito àqueles comportamentos que podem ser descritos como uma “crença consciente”. São muitas vezes “deveres” cumpridos pelo indivíduo de maneira consciente.

É possível ilustrar essa ação também com uma estudante. Porém, nesse caso, a menina acredita em um dever como aluna: para honrar seu título acadêmico, ela quer tirar uma boa nota na prova. Assim, ela irá organizar seu tempo para estudar e atingir seu objetivo: conseguir valorizar sua posição como estudante por meio de uma boa nota.

Ação afetiva

A ação afetiva, ao contrário das ações racionais, não possui uma intencionalidade tão definida. Ao invés de uma intenção, ela possui uma motivação. Ou seja, ela ocorre em situações emocionais que exigem uma satisfação, como o sentimento de vingança, alegria, ciúme e ódio.

Portanto, esse tipo de ação é mais espontâneo. Não há, aqui, um cálculo dos meios mais adequados para se atingir um fim. Por exemplo, uma mãe que deseja que a filha estude, diante da preguiça da estudante, pode ficar zangada e gritar descontroladamente com ela.

Neste exemplo, a mãe não agiu pensando de que maneira seria mais efetivo fazer sua filha estudar. Ela simplesmente se comportou diante de sua ira, ao ver a negligência da menina em relação aos estudos. A ação afetiva está, assim, mais próxima ao plano da irracionalidade.

Ação tradicional

A ação tradicional também ocorre próximo da irracionalidade. Esse tipo de comportamento acontece quando o indivíduo age orientado por hábitos ou costumes. São atitudes muito arraigadas culturalmente que são repetidas rotineiramente pelas pessoas.

Essa ação pode ser considerada um caso-limite porque ela é, em maior parte, irracional, mas não toda. Isso porque, mesmo ocorrendo por hábito, os indivíduos que agem tradicionalmente ainda podem possuir algum grau de consciência sobre sua ação.

Como exemplo, uma estudante que acorda todas as manhãs em um horário e vai à escola pode fazê-lo simplesmente por hábito. Ou seja, ela age pela força da tradição de que todos os indivíduos de sua idade devem frequentar essa instituição.

A partir dessas definições e exemplos, é possível notar que nunca existe uma ação exclusivamente racional, ou puramente afetiva. Weber explica que esses são tipos “puros”, ou seja, ideais, e a realidade social sempre é mais complexa e desorganizada.

As ações sociais são, portanto, comportamentos de diversos indivíduos que se aglomeram, se afetam, e formam uma “teia” de significados compartilhados em uma sociedade. Classificar os sentidos dessas ações em tipos ajuda a compreendê-las a partir dessa desordem que é a realidade.

Max Weber e a racionalização do mundo social

O processo de racionalização do mundo moderno se dá, conforme Weber, pelo crescente desenvolvimento científico e tecnológico que permite à humanidade o domínio da natureza. Com isso, as causas dos fenômenos naturais anteriormente atribuídas a seres transcendentes vão desaparecendo, fazendo com que ocorra um desencantamento do mundo.

Paradoxalmente, essa racionalização do mundo só foi possível pela substituição da racionalidade mágica antiga pela racionalidade judaico-cristã. Essa segunda forma de racionalidade retirou, progressivamente, práticas mágicas e rituais, para dar lugar à visão de salvação pautada no desempenho individual e racionalizado.

Essa cada vez maior racionalização e o avanço do conhecimento científico retirou os significados do mundo, uma vez que a Ciência, para Weber, não pode responder perguntas como “para onde vamos?” ou “qual o sentido da vida?”. Esse desencantamento do mundo é uma das consequências da racionalização.

A racionalização, assim, é um processo que torna todos os aspectos da vida cada vez mais calculada, ponderando os fins e os meios a serem seguidos para atingir tais objetivos. São os trabalhos se tornando técnicos, as relações interpessoais se burocratizando, e a perda da individualidade pela padronização da sociedade.

Nesse processo de racionalização, Weber identifica dois tipos de racionalidade: formal e substantiva.

Racionalidade formal

A racionalidade formal diz respeito à forma como os sistemas jurídico e econômico se constituem. São hierarquias da organização, as especialidades de cada setor, as regras de funcionamento da instituição, os treinamentos necessários para a atuação técnica.

Esses são aspectos que permitem que as organizações burocráticas tornem o seu trabalho previsível e calculável. Trata-se, de fato, de um cálculo dos meios para atingir os fins.

Racionalidade substantiva

Por sua vez, a racionalidade substantiva se refere ao conteúdo valorativo, aos sentidos desses sistemas racionalizados. Em outras palavras, são os valores como de comunidade, de igualitarismo, ou de que o trabalho é necessário à vida humana.

Assim, a racionalidade substantiva é oposta e ao mesmo tempo complementar à racionalidade formal. A primeira dá sentido à segunda, permitindo também ao indivíduo julgar determinados acontecimentos em sua vida conforme esses valores racionalizados.

A racionalização, que é um processo, tende a se disseminar e se desenvolver cada vez mais pela sociedade de maneira irreversível. Esse é um aspecto central dos fenômenos sociais modernos, bem como do capitalismo que Weber testemunhava em sua época.

Principais obras de Max Weber

Para Weber, a realidade social é complexa, multifacetada e desordenada. Assim, ela nunca pode ser reduzida a um conceito prévio e definido. Os conceitos tentam apenas captar uma parte, uma faceta dessa realidade que é por natureza complicada de ser entendida.

Assim, Weber tenta fazer uma Sociologia sem dar definições prévias e últimas sobre um fenômeno social. Na obra weberiana, um conceito é construído conforme suas análises e raciocínios se desenvolvem.

A partir dessa perspectiva – de uma Sociologia compreensiva –, Weber estuda uma variedade de temas, como a racionalização do mundo, a burocracia, a ética protestante e do que se trata a pesquisa sociológica. Algumas de suas obras estão listadas abaixo.

  • A história da sociedade comercial na Idade Média (1889)
  • A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905);
  • A política como vocação (1919);
  • Sociologia da religião (1920);
  • Economia e sociedade (1922);

As obras de Weber, em conjunto com Marx e Durkheim, figuram como as principais fundadoras da Sociologia moderna. Entre os três, uma das categorias centrais é a do trabalho. Nas obras citadas, essas temáticas que preocupavam autores de sua época estão presentes.

5 frases de Max Weber

Weber evitou formular definições e conceitos prévios ou definitivos. Sua preocupação, afinal, é com a realidade social complexa e sempre difícil de apreender completamente. Parte dessas suas ideias podem ser expressas em algumas de suas frases.

  • “O que o capitalismo criou, em definitivo, foi a empresa duradoura e racional, a contabilidade racional, a técnica racional, o direito racional”
  • “Um filho da moderna civilização europeia sempre estará sujeito à indagação de qual a combinação de fatores a que se pode atribuir o fato de na civilização ocidental, e somente na civilização ocidental, haver aparecido fenômenos culturais dotados (como queremos crer) de um desenvolvimento universal em seu valor e significado”
  • “Explicação significa, portanto, para uma ciência ocupada com o sentido da ação, algo como: apreensão da conexão de sentido a que pertence uma ação compreensível de maneira atual, segundo seu sentido subjetivamente visado.”
  • “A interpretação da ação deve tomar nota do fato fundamentalmente importante de que aquelas formações coletivas, que fazem parte tanto do pensamento cotidiano quanto do jurídico […], são representações de algo que em parte existe e em parte pretende vigência, que se encontram na mente de pessoas reais […] e pelas quais orientam suas ações.”
  • “Um ‘Estado’ moderno existe em grande medida dessa maneira – como complexo de específicas ações conjuntas de pessoas – porque determinadas pessoas orientam suas ações pela ideia de que este existe ou deve existir dessa forma”

Uma das preocupações centrais em Weber era justamente com os valores e os sentidos das ações das pessoas que, em conjunto, formam os fenômenos sociais. Essa Sociologia compreensiva de Weber permanece relevante até atualmente.

Entenda mais sobre o pensamento de Max Weber

As teorias de Weber são bastante extensas e complexas. Para complementar o seu estudo e aprofundar sobre as ideias weberianas, sugerimos alguns vídeos listados abaixo.

A ação social em Weber

O primeiro ponto tratado neste texto sobre a teoria de Weber foi sobre a ação social. Que tal recapitular essa temática?

Sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo

A ética protestante e o espírito do capitalismo é uma das obras mais importantes e reconhecidas de Weber. Nesse vídeo, o prof. Anderson apresenta um resumo específico sobre esse tema.

Max Weber e a burocracia

É possível notar que a burocracia é um fenômeno importante em Weber, como um dos aspectos do processo de racionalização. Confira uma explicação audiovisual desse assunto no vídeo.

Listamos algumas das principais temáticas em Max Weber neste resumo. Entretanto, esse sociólogo é ainda um clássico na Sociologia não apenas por ser um dos seus fundadores, mas pela importância e aplicabilidade ainda atual de suas teorias.

Referências

As ideias de Weber – Donald G. MacRae

Crítica e resignação. Fundamentos da sociologia de Max Weber

Max Weber: o processo de racionalização e o desencantamento do trabalho nas organizações contemporâneas – Hermano Roberto Thiry-Cherques

Marx, Weber e a modernidade: capítulos de um (des)encontro histórico – Fabio Mascaro Querido

A racionalização do mundo sob a perspectiva de Weber e Lukács e suas limitações a partir dos estudos ergológicos: um estudo de caso na FJP – Luciana Bonfim; Maria do Rosário Pinheiro de Carvalho Melo; Márcio Luiz do Nascimento; Pedro Portella Ornelas de Melo; e Renato Somberg Pfeffer

Racionalidade substantiva na administração pública: estudo de caso na sede administrativa da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Ezequiel Nunes Pacheco

A racionalidade na teoria da ação social de Max Weber – Júlia Monseff Rodrigues da Silva

Ação social weberiana: o perfil político da população da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá (ALAP) e o regime democrático – Miquéias Serrão Marques

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Max Weber. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/max-weber. Acesso em: 29 de March de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UEL]

O conceito de ação social desempenha papel fundamental no conjunto teórico construído por Max Weber. Sobre este conceito utilizado por Max Weber, considere as afirmativas a seguir:
I. A ação social foca o agente individual, pois este é o único capaz de agir e de atribuir sentido à sua ação.
II. Interpretar a reciprocidade entre as ações sociais possibilita ao cientista social a compreensão sobre as regularidades nas relações sociais.
III. A imitação e as ações condicionadas pelas massas são exemplos típicos de ação social, pois são motivadas pela consciência racional da importância de viver em sociedade.
IV. O que permite compreender o agir humano enquanto ação social é o fato de ele possuir um sentido único e objetivo para todos os agentes envolvidos.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

Resposta: A
Justificativa: As duas últimas afirmações (III e IV) contradizem a primeira, que situa o indivíduo como o principal foco e determinante do conceito de ação social em Weber. A ação individual é sempre singular pela sua complexidade e nunca será uniforme. Assim, só é possível entender a regularidade nas relações sociais a partir do conjunto de ações sociais que constroem uma teia de significados entre os indivíduos.

2. [Unicentro]

Max Weber, um dos fundadores da Sociologia, tinha amplo conhecimento em muitas áreas afins a essa ciência, tais como economia, direito e filosofia. Assim, ao analisar o desenvolvimento do capitalismo moderno, buscou entender a natureza e as causas da mudança social. Em sua obra, existem dois conceitos fundamentais, ou seja,
a) cultura e tipo Ideal.
b) classe e proletariado.
c) anomia e solidariedade.
d) fato social e burocracia.
e) ação social e racionalidade.

Resposta: E
Justificativa: O tipo ideal e a burocracia são, de fato, termos centrais na obra weberiana. Entretanto, classe e proletariado fazem parte mais propriamente do universo teórico de Marx; anomia, solidariedade e fato social, de Durkheim. Apesar de cultura ser importante para Weber, não constitui um conceito próprio do ator; ao contrário de ação social e racionalidade, dois conceitos que remetem caracteristicamente à obra weberiana.

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