Demagogia

A demagogia pode ser uma ferramenta política de persuasão e convencimento do povo para fins individuais.

Demagogia é um conceito utilizado na tradição do pensamento político que possui um sentido geralmente negativo: ela significa manipulação, persuasão e apelo a uma grande quantidade de pessoas por meio dos sentimentos. Por isso, a demagogia é considerada o contrário da argumentação que, por sua vez, visa apresentar apenas ideias racionais e ponderadas sobre um tema, sem persuadir o ouvinte.

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Assim, um demagogo, em seu exercício político, tenta conquistar a simpatia das pessoas usando mentiras, emoções e distrações, escondendo suas reais intenções. Conheça mais sobre esse estilo e estratégia política a seguir:

Significado

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Demagogia vem do grego e significa, literalmente, “a arte ou a técnica de conduzir um povo.” Podem existir, porém, pelo menos dois sentidos diferentes para a demagogia: um mais geral e outro mais específico.

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No sentido genérico, a demagogia pode ser qualquer tipo de técnica de discurso ou mesmo um estilo político que tem o objetivo de seduzir as pessoas. Para isso, um político demagogo pode apelar para os sentimentos, as vontades e os anseios de um povo (geralmente os mais pobres), criando promessas que não serão cumpridas e falsas informações.

No sentido mais específico, a demagogia pode ser uma forma de governo que surge da crise ou decadência de um sistema governado pelo povo. Originalmente, a demagogia como forma de conduzir um povo não tinha um sentido negativo, dependendo das intenções do demagogo. Entretanto, na Grécia Antiga, Platão e Aristóteles apontaram a demagogia como um risco para um governo do povo.

Aristóteles defendeu que a demagogia era o oposto da democracia: enquanto a demagogia diz respeito aos interesses privados, irracionais e manipuladores dos demagogos, a democracia é feita por meio do debate racional e da argumentação pensando no bem público.

Populismo e demagogia

Populismo é um termo utilizado para descrever uma política de governo que exerce ações para agradar o povo, mas apenas com o interesse de manter-se no poder. Portanto, esse fenômeno visa manter as desigualdades entre Estado e sociedade, pelo menos em seu sentido mais tradicional.

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Por isso, populismo e demagogia muitas vezes estão na mesma frase, porque ambas dizem respeito a um dirigente político interesseiro e que conduz o povo ao engano. Porém, para alguns autores, o populismo descreve um período político em particular: no Brasil, de 1930 a 1964. Assim, este termo possui uma conotação historicamente mais específica.

Demagogia e hipocrisia

A hipocrisia é o ato de dissimular duas vezes: uma, por fingir ou mentir sobre as verdadeiras intenções, sentimentos ou o que se é; outra, por tentar encobrir que é hipócrita. Em outras palavras, o indivíduo no discurso diz que é algo, mas não o é.

Consequentemente, apesar de ter diferenças, a hipocrisia e a demagogia estão relacionadas. As duas palavras divergem também porque a demagogia faz uma referência mais específica ao campo político, enquanto a outra é de uso mais geral.

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Exemplos de demagogia

Sendo a demagogia um conjunto de técnicas ou um estilo político, podemos listar alguns exemplos de estratégias de persuasão utilizadas pelos demagogos:

  • Falácia: significa engano. Resumidamente, são argumentos que se passam por verdadeiros, mas levam as pessoas ao equívoco, má compreensão e decisões ruins. Exemplo: “Devemos aceitar a nova política econômica. As pessoas não podem mais viver na miséria, sem ter condições de alimentar os seus próprios filhos.” Uma pessoa pode considerar ruim viver na miséria, mas isso não quer dizer que ela concorde com a nova política econômica.
  • Táticas de distração: é uma maneira de trazer a atenção do público para assuntos que não estão ligados ao tema principal e não tratar de questões indesejadas. Exemplo: “Pergunta: como você pretende combater a caça ilegal em seu governo?”. “Resposta: Eu adoro animais, cresci no sítio. Minha filha tem três cachorros.” A pergunta sobre quais serão as medidas para combate à caça não foi respondida.
  • Bajulação: é elogiar, adular, prestigiar uma pessoa com a intenção de receber algo em troca. Exemplo: “Os moradores dessa cidade são pessoas honestas. Tenho um grande carinho por esse lugar. Quando eu estiver no poder, trabalharei para beneficiá-los.” Não foi apresentado um projeto político para a cidade que garantisse o trabalho do candidato político. O que esteve presente no discurso foram apenas elogios aos moradores.
  • “Discursos vazios”: ocorre quando alguém usa jargões ou palavras consideradas difíceis, a fim de causar um impacto emocional no público – mas sem um conteúdo real. Exemplo: “Nesse Dia Internacional das Mulheres quero louvar o trabalho de todas as brasileiras. As mulheres são importantes em qualquer sociedade. Seus méritos são notórios.” Nada foi dito, ao final, sobre qual é a importância das mulheres, quais os seus méritos ou a razão de serem homenageadas.
  • Mentiras: quando o objetivo é difamar o adversário e causar revolta no público, mentiras são utilizadas. Exemplo: “A candidata que concorre ao cargo comigo é uma mulher antipática, infeliz e é envolvida com corruptos.” Nesse caso, nada do que foi dito é comprovado e tem o objetivo de causar uma comoção negativa contra a pessoa adversária.

Portanto, são muitas as maneiras de se apelar para os sentimentos do público, seja de forma positiva – como fazendo promessas falsas – ou negativa – difamando o adversário. No limite, é possível que em um debate político todos os candidatos utilizem em alguma medida esses discursos. Entretanto, quando alguém faz isso consistentemente, pode ser rotulado como demagogo.

Entenda mais sobre

A demagogia está presente em diversos discursos políticos. Para entender melhor sobre o assunto e aprender a identificar alguns discursos demagógicos, foram selecionados três vídeos que falam acerca da temática:

O sucesso das demagogias

Nesse vídeo, é reiterada a ideia de Aristóteles sobre a demagogia, ou seja, que se trata de discursos irracionais visando apelar apenas aos sentimentos das pessoas, levando ao engano. Para se “imunizar” desses discursos, o debate racional e ponderado seriam as “vacinas”.

Demagogia na prática: sobre o sistema carcerário

Os discursos demagógicos ocorrem na prática em diversos assuntos. No vídeo acima, são exemplificadas tais falas sobre o sistema carcerário. Além disso, são apresentadas razões para criticar tais discursos enganosos.

Demagogia e ideologia

Ideologia, populismo, personalismo… Todas essas palavras são conceitos importantes na ciência política, descrevendo fenômenos específicos. No vídeo, é apresentado como as pessoas acabam não se atentando para as ideologias políticas e se emocionam com os discursos demagógicos.

Atualmente, a demagogia possui geralmente uma conotação negativa, sendo usada até para ofender um adversário político, por exemplo. Entender o seu conceito é importante para compreender o pensamento político ocidental e a filosofia por trás da nossa democracia. Além disso, conhecer as suas estratégias pode nos ajudar a eventualmente até identificar um discurso demagógico.

Referências

Sergio Ortiz Leroux – Demagogia;

Melliandro Mendes Galinari – Logos, ethos e pathos: “três lados” da mesma moeda;

Stephen Downes – Guia das falácias;

O nome e a coisa: o populismo na política brasileira – Jorge Ferreira;

Reflexões sobre a natureza do poder político: o problema da hipocrisia – Flávio Eduardo Silveira.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Demagogia. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/demagogia. Acesso em: 29 de March de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UFLA]

Discurso político de Odorico Paraguaçu*

“Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a confirmação, ratificação, a autenticação e por que não dizer a sagração do povo que me elegeu. Eu prometi que meu primeiro ato como prefeito seria ordenar a construção do cemitério. Botando de lado os entretantos e partindo pros finalmentes, é uma alegria poder anunciar que prafrentemente vocês já poderão morrer descansados, tranquilos e desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim, basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que tem enterro e cova de graça, conforme prometido.” (GOMES, 1992, p. 31).

*O prefeito Odorico Paraguaçu, um político corrupto e cheio de artimanhas, tem como meta prioritária em sua administração na cidade fictícia de Sucupira, litoral baiano, a inauguração do cemitério local. Maquiavelicamente, o prefeito arma tramas para que morra alguém, sendo sempre malsucedido. Para obter êxito, Odorico traz de volta a Sucupira um filho da terra: Zeca Diabo, um pistoleiro redimido, que recebe a missão de matar alguém para a inauguração do cemitério. Afinal, uma irônica surpresa: Zeca Diabo, revoltado, mata Odorico, que, finalmente, inaugura o cemitério!

Com demagogia, o prefeito Odorico apresenta um discurso:

(A) construtivo e comprometido.
(B) objetivo e tradicionalista.
(C) destemido e persuasivo.
(D) vazio e retórico.

Resposta: D

Justificativa: Discursos vazios e retóricos, ou seja, sem uma argumentação ou conteúdo racional, são uma das características da demagogia. Nela, o político apela para as emoções e as paixões que podem ser despertadas no público para dissuadi-lo.

2. [FUVEST]

Na atualidade, praticamente todos os dirigentes políticos, no Brasil e no mundo, dizem-se defensores de padrões democráticos e de valores republicanos. Na Antiguidade, tais padrões e valores conheceram o auge, tanto na democracia ateniense, quanto na república romana, quando predominaram:

A) a liberdade e o individualismo.
B) o debate e o bem público.
C) a demagogia e o populismo.
D) o consenso e o respeito à privacidade.
E) a tolerância religiosa e o direito civil.

Resposta: B

Justificativa: Dois dos principais pensadores da Antiguidade, Aristóteles e Platão, criticavam a demagogia e o populismo como fatores que colocavam em risco a democracia. Seus valores democráticos estavam pautados no debate e no bem público, nas argumentações racionais que se contrapõem aos interesses individuais e manipuladores dos demagogos.

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