Santo Agostinho

Santo Agostinho uniu filosofia e teologia na defesa da racionalidade e da fé como o modo de alcançar a felicidade.

Tanto para a história da filosofia como para a teologia e a fé cristã atual, Santo Agostinho é uma figura relevante. Ele possuía uma origem africana e romanizada, e tornou-se um dos grandes representantes do que se conhece hoje como filosofia medieval. A seguir, entenda mais sobre a vida, as ideias e a obra do autor.

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Índice do conteúdo:

Quem foi Santo Agostinho

Pintura de Santo Agostinho
“The Four Doctors of the Western Church”, Gerard Seghers.

Aurelius Augustus, mais tarde conhecido como Santo Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, em uma região da África romanizada, em 14 de novembro do ano 354. Antes de se converter ao cristianismo, Agostinho vivia uma vida pagã e ligada aos prazeres carnais.

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Uma das figuras que o influenciou foi sua mãe, Mônica, que era uma cristã devota. Assim, suas preces parecem ter surtido efeito – após a conversão e a maturidade na religião, Agostinho se tornou bispo de Hipona no ano 395.

Em vida, ele se dedicou a pensar e a ministrar sobre temas como o amor, a incompatibilidade de Deus com o mal e o livre-arbítrio. Apesar de não viver propriamente na Idade Média, é considerado o primeiro autor da filosofia medieval.

O filósofo cristão faleceu em 29 de agosto do ano 430 com 76 anos de idade, em decorrência de uma doença. Ele foi canonizado e, somente em 1292, ele foi considerado Doutor da Igreja por papa Bonifácio VIII.

Teorias

As ideias de Santo Agostinho influenciaram gerações de pensadores cristãos após a sua época, principalmente nas questões sobre a moral. Nesse contexto, filosofia e religião são aspectos que andaram muito juntos. A seguir, serão explanados alguns dos pensamentos do autor:

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Teologia

Foi com Santo Agostinho que a teologia ou o pensamento religioso ganhou propriamente uma forma e preocupações filosóficas. Em vida, o autor refletiu sobre questões como: “se Deus é todo bom, por que o mal existe?”.

Além disso, um de seus esforços se concentrou em argumentar contra as heresias cristãs de sua época: o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo. A primeira doutrina foi especialmente criticada por Agostinho, já que ele mesmo a havia seguido antes de sua conversão.

Desse modo, ele é uma das figuras responsáveis por sistematizar o que viria ser o cristianismo ortodoxo. Para o autor, as questões teológicas deveriam ser pensadas com o maior esforço intelectual humano, pois a racionalidade não se oporia a Deus.

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Filosofia

Para Santo Agostinho, não havia uma incompatibilidade entre fé e razão – na verdade, a primeira podia ir mais além, onde a segunda não conseguiria. Portanto, a racionalidade é um dom divino que se encontra nos humanos, e ela deve ser utilizada com a fala e o intelecto.

Nesse sentido, o autor propõe que o homem é um ser moral, devendo preocupar a ele o viver para si, para o Outro, e para Deus. Entretanto, a verdadeira felicidade só é alcançada em Deus, em oposição às preocupações meramente divinas.

Partindo de si, os indivíduos devem procurar estabelecer uma relação fraternal com os outros e, ambos, uma comunhão com Deus. Desse modo, essa relação triádica – o eu, o Outro e Deus – reflete a própria imagem da Trindade, que é a perfeita comunidade.

Portanto, filosofia e teologia andam lado a lado em Agostinho, e é com o seu pensamento que essa relação se torna mais concreta. Logo, é possível entender a importância que a disciplina filosófica ainda possui para o cristianismo atual.

Curiosidades

A vida do filósofo possui várias peculiaridades. Para conhecer apenas algumas das curiosidades de sua trajetória, confira uma seleção de fatos listados abaixo:

  1. 28 de agosto é a data oficializada pela Igreja Católica como o Dia de Santo Agostinho de Hipona;
  2. A mãe de Santo Agostinho, Santa Mônica, também foi canonizada e sua data comemorativa é 27 de agosto;
  3. Agostinho se converteu apenas aos 32 anos, e sua mãe faleceu quatro anos depois. Para ela, seu propósito estava cumprido – a de ver o filho como um cristão;
  4. As produções do autor concentram cerca de 100 livros, além de aproximadamente 750 obras que incluem cartas e sermões;
  5. Antes de se dedicar à religião, Agostinho era professor de retórica em Catargo.

Assim, um dos fatos marcantes da vida de Santo Agostinho foi a sua conversão. Na verdade, ele próprio enfatizava essa sua transição e a influência de sua mãe no processo. Conforme o autor, ela era uma intermediária entre o mundo terreno e Deus.

Obras

A obra do autor é vasta, considerando todos os seus sermões e cartas, além de livros escritos que foram perdidos. Entretanto, há algumas que recebem maior destaque por seu impacto na filosofia e na teologia. Conheça alguns:

  • Confissões de Santo Agostinho: é um livro autobiográfico, contando especialmente o processo de sua conversão. Assim, é nessa obra também que o papel de sua mãe é ressaltado.
  • De Civitate Dei: também traduzido como “Cidade de Deus”, é uma obra em que o autor expõe as suas ideias sobre a separação entre a cidade de Deus e a cidade terrena, sendo a primeira habitada pelos cristãos.
  • O livre-arbítrio: o livre-arbítrio é uma das questões caras à teologia até hoje, e é um tema de debate que foi promovido por Agostinho desde a sua época.
  • Trindade – De Trinitate: é nesse contexto que o autor expõe sua filosofia moral e, ao mesmo tempo, apresenta uma parte da doutrina ortodoxa cristã;
  • A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristã: essa é uma obra que mais explicitamente contribui para as regras e as doutrinas do cristianismo ortodoxo.

Sendo assim, as obras de Santo Agostinho contribuíram de dois lados: na consolidação de uma filosofia que partia do lugar da teologia; e na formação de um pensamento religioso organizado pelo pensamento filosófico.

5 vídeos sobre a filosofia de Santo Agostinho

Santo Agostinho é considerado um dos autores representantes da filosofia medieval. Nessa época, a centralidade de Deus e os embates em relação à razão eram um dos temas filosóficos. A seguir, saiba mais sobre esse pensador e algumas de suas principais ideias:

Introduzindo o autor

Santo Agostinho possui uma história peculiar e continua influenciando a teologia e o pensamento cristão até hoje. Assim, seus escritos são considerados importantes para a fé no mundo atual. No vídeo acima, amplie seus conhecimentos sobre o filósofo.

Santo Agostinho e filosofia medieval

O filósofo em questão fez parte de um período da história conhecida como filosofia medieval. Assim, entenda mais sobre a relação do pensamento do autor com essa época e seus autores contemporâneos.

Santo Agostinho e a patrística

Ainda dentro da classificação da filosofia medieval, há a categoria da patrística. Confira no vídeo as razões dessa categorização e sua conexão com a filosofia de Santo Agostinho.

Sobre a obra: Confissões

Uma das obras mais conhecidas do autor é “Confissões”. Para entender seu pensamento, pode ser bastante útil assistir ao vídeo acima. Nele, o filósofo também é contextualizado em seu tempo e são descritos alguns acontecimentos de sua vida.

Reflexões sobre o livre arbítrio

O livre arbítrio é ainda uma temática atual no debate teológico cristão. Entretanto, Santo Agostinho já produziu reflexões significativas sobre esse assunto há alguns séculos. Confira uma explanação de alguns dos argumentos dessa obra do filósofo.

Portanto, Santo Agostinho é um dos representantes de uma filosofia nascente e medieval, pautada na relação moral e ética com o Deus cristão. Entender mais do autor pode ajudar também na compreensão de aspectos do pensamento ocidental na atualidade.

Referências

A filosofia/teologia moral de Santo Agostinho: dos antecedentes gregos à apropriação e interiorização do elemento cristão e sua recepção no Brasil colonial (1500-1808) – Antonio Patativa de Sales;

Elementos de história da filosofia medieval – Jorge Coutinho;

Os fundamentos ético-morais da paz no De Civitate Dei de Santo Agostinho e sua contribuição para a atual construção da paz – Paulo Hamurabi Ferreira Moura;

Santo Agostinho: a vida e as ideias de um filósofo adiante de seu tempo – Gereth B. Matthews.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Santo Agostinho. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/santo-agostinho. Acesso em: 29 de March de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM]

Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”
AGOSTINHO. Confissões, São Paulo: Abril Cultural, 1984.
A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo de reflexão filosófica sobre a(s)
a) essência da ética cristã.
b) natureza universal da tradição.
c) certezas inabaláveis da experiência.
d) abrangência da compreensão humana.
e) interpretações da realidade circundante.

Resposta: d

Justificativa: tratando de questões sobre a eternidade, Santo Agostinho está discutindo sobre até que ponto a compreensão e a razão humana consegue chegar por meio da filosofia.

2. [ENEM]

Se os nossos adversários, que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dosbens quanto dos males. pois sendo Ele fonte suprema de Bondade, nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza.
AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado).
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque
a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus.
b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus.
c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má.
d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal.
e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal.

Resposta: d

Justificativa: conforme Santo Agostinho, há uma incompatibilidade intrínseca entre Deus e o mal, já que não existe o mal em Deus – que, por sua vez, é absolutamente bom. Nesse contexto, ele se contrapõe aos maniqueístas, que pregavam um equilíbrio entre o bem e o mal.

3. [UFU]

A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão).
(PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p.77.)
Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão.
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças:
a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.
d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um.

Resposta: d

Justificativa: para Santo Agostinho, o conhecimento provêm de Deus e é dado por ele; para Platão, o conhecimento é uma lembrança da alma.

4. [UFU]

Considere o trecho abaixo.
“Quando, pois, se trata das coisas que percebemos pela mente (…). estamos falando ainda em coisas que vemos como presentes naquela luz interior da verdade, pela qual é iluminado e de que frui o homem interior.
Santo Agostinho. Do Mestre. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 320. (Os Pensadores)
Segundo o pensamento de Santo Agostinho, as verdades contidas na filosofia pagã provêm de que fonte? Assinale a alternativa correta.
a) De fonte diferente de onde emanam as verdades cristãs, pois há oposição entre as verdades pagãs e as verdades cristãs.
b) Da mesma fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois não há oposição entre as verdades pagãs e cristãs.
c) De Platão, por ter chegado a conceber a ideia Suprema do Bem.
d) De Aristóteles, por ter concebido o Ser Supremo corno primeiro motor imóvel.

Resposta: b

Justificativa: se o conhecimento provém de Deus, há apenas uma verdade e, portanto, não há diferentes verdades conforme o autor.

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