Literatura negra no Brasil

Com o processo diaspórico e de colonização, a literatura dos povos negros se iniciou por meio da oralidade. Agora, obras de autores negros estão sendo mais reconhecidas e estudadas.

A literatura negra no Brasil, afro-brasileira, ou de autoria de pessoas negras, é parte fundamental da cultura nacional. Possui uma diversidade de vozes, estilos e gêneros literários. Além disso, ganha cada vez mais força devido ao aumento de estudos acadêmicos com alvo em tais obras e a disseminação na mídia do debate sobre racismo, fazendo com que mais pessoas busquem por essas obras. Para entender um pouco mais sobre o assunto, continue na matéria.

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Índice do conteúdo:

História da literatura negra no Brasil

Momentos iniciais

A necessidade de ouvir e contar histórias e o ritmo da poesia estão presentes nas mais diversas comunidades humanas; e em solos africanos, isso não era diferente. Desde lá, os sons dos tambores guiavam o movimento das poesias e cantigas, e os griots eram os grandes contadores de história. Com o processo diaspórico e de colonização, estes fazeres artísticos e literários, ainda que com dificuldade e tomando outras roupagens, sobreviveram no Brasil. Por isso, dizemos que a literatura feita pelos povos negros, desde muito tempo, se deu por meio da oralidade, o que os teóricos chamam de oralitura ou oratura.

Partindo para as obras escritas em língua portuguesa no Brasil, temos em alguns autores do século XIX um marco do que conhecemos hoje por literatura negra. Uma das primeiras romancistas do Brasil, Maria Feminina dos Reis (Maranhão 1822 – 1917) era negra e seu livro “Úrsula”, publicado em 1859 ficou por muito tempo apagado. Nesta obra, a autora teve a primazia de narrar o horror da escravidão, a partir da perspectiva dos escravizados, em um momento pré-abolição no qual vigorava a estética Romântica, e o sujeito eleito como “Herói da nação” era o indígena, e não o negro.

Ainda naquela época, autores como Luiz Gama, filho de Luísa Mahin, grande libertador de escravos, jornalista e também poeta, junto de Machado de Assis e Lima Barreto, grandes narradores do Brasil, criticaram a estrutura social e racial da sociedade brasileira, a partir de uma perspectiva bastante ácida, e dando novos moldes à construção das personagens negras que, naquele período, e em outros, eram representadas apenas de modo estereotipado e racista. Por isso a importância de marcar a autoria negra como um lugar de escrita que se afasta destas formas preconceituosas.

É importante lembrar que, além destes, escritores consagrados do cânone nacional, como Gonçalves Dias, Gonçalves Crespo, Cruz e Souza, entre outros, também foram sujeitos negros que, em maior ou menor medida, deixavam marca ou vestígios de identidade em seus poemas.

O Século XX e o início da contemporaneidade

Nomes como Solano Trindade (1908-1974), Abdias Nascimento (1914 -2011), Carolina Maria de Jesus (1914-1977) e Carlos Assumpção (1927- ) fizeram história em nossa literatura. Abdias, poeta, dramaturgo, artista plástico e político, além de ter publicado poesias e livros ensaísticos, fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), cuja proposta era inserir o sujeito negro em primeiro plano na cena dramatúrgica brasileira, e não seguindo esteriótipos (e blackfaces) que por muito tempo estiveram presentes em importantes peças de teatro.

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Num período muito próximo, a autora de “Quarto de Despejo” (1960), “Diário de Bitita” (1986), “Casa de Alvenaria” (2021), e de outras obras a serem publicadas, também representou um grande marco na história da literatura de autoria negra no Brasil, haja vista que vendeu milhares de exemplares, e foi traduzida para 13 idiomas. Esse fato foi inédito porque se trata de uma escritora negra e pobre, que morou na favela, viu a fome de perto, e refletia em seus livros sobre essas questões no mesmo país que difundia o mito da democracia racial, ou seja, que negros e brancos conviviam harmonicamente. Além disso, Carolina escreveu poemas sobre amor.

Um pouco mais tarde, em 1978, um grupo de escritores negros contemporâneos, a exemplo de Oswaldo de Camargo (1936), Oliveira Silviera (1941 – 2009) e Cúti (1951 – ), para citar alguns, fizeram a primeira publicação dos Cadernos Negros. A coletânea surgiu a partir de um esforço coletivo, e de um desejo que estes escritores e escritoras tinham de reunir suas obras e criar uma vida literária negra no Brasil. Foi a partir dessas publicações coletivas que autoras como Conceição Evaristo, muito conhecida nos dias de hoje, começaram a publicar. Os Cadernos Negros congregam poemas e contos e continuam a ser publicados, somando mais de 40 edições.

Desde o século XIX, sobretudo com a reunião de escritores promovida a partir dos Cadernos, uma base muito sólida da literatura negra no Brasil foi construída, o que abriu caminhos para que muitos escritores e escritoras contemporâneas possam publicar e ter sua obra apreciada por um público leitor que vem se desenvolvendo a cada dia. O Século XX, em especial, possui muita importância, pois diversos autores e pesquisadores iniciaram os estudos acadêmicos sobre a literatura negra, afro-brasileira ou de autoria negra – todos estes termos existem e têm suas respectivas justificativas teóricas.

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O mais importante é que se compreenda que este tipo de literatura, que versa sobre absolutamente todos os temas, conta a história da população negra pelo seu próprio viés. Trata-se, então, de uma perspectiva negra a partir da qual os sujeitos narram a partir de si, com dignidade e humanidade, expondo, dessa maneira, questões que muitas vezes um olhar branco, exterior, não dá conta.

16 principais autores da literatura negra brasileira

Do século XIX até os dias atuais, não são poucos os nomes que marcaram e seguem marcando a literatura de autoria negra no Brasil. Na lista abaixo, você conhece mais escritoras e escritores, de diferentes estilos e gêneros literários, e suas respectivas obras.

Geni Guimarães

Geni Guimarães

Paulista de São Manoel, Geni Guimarães é professora, autora de uma série de livro de poemas, a exemplo de “A cor da Ternura” (1989) e também publicou contos nos Cadernos Negros. Sua obra possui forte traço autobiográfico e versa sobre família, afetos e resistências.

  • A cor da ternura (1998) é um livro que aborda de forma crítica, por meio da visão de uma mulher negra, os efeitos do racismo na construção da vida de uma pessoa de cor.

Guimarães escreveu outras obras de suma relevância para a história da literatura negra no Brasil, desde contos a poemas, confira algumas.

  • Leite do peito (1988)
  • O pênalti (2019)

Eliana Alves Cruz

Eliana Alves

Romancista de mão-cheia, trata sobre o período da escravidão em seus livros, recheados de informações históricas, como é o caso de “O crime do Cais do Valongo (2018)

  • O crime do Cais do Valongo (2018) é um romance histórico-policial, que acontece no século XIX e relata sobre a vinda dos escravos de Moçambique para o Rio de Janeiro.

Outros romances e aventuras foram escritas por Cruz, explorando a temática do período da escravidão de forma responsável e intrigante.

  • Água de Barrela (2018)
  • Nada digo de ti, que em ti não veja (2019)

Elisa Lucinda

Elisa Lucinda

Capixaba de nascença e carioca de coração, Elisa Lucinda é poeta, atriz, cantora, e dona de um texto tanto profundo, quanto bem-humorado. Entre seus temas mais destacados, está a sexualidade das mulheres e a vida do cotidiano.

  • Parem de falar mal da rotina (2011) é uma peça de teatro de muito sucesso, que posteriormente virou livro.

A artista explora o mundo do cotidiano e sentimentos como amor, dor, luto e paixão. Confira outras obras dela.

  • Vozes Guardadas (2016)
  • Livro do avesso, o pensamento de Edite (2019)

Cidinha da Silva

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Grande nome da literatura contemporânea, a mineira Cidinha da Silva gravita entre a crônica e conto, e possui um texto enigmático que aborda desde temas relacionados à ancestralidade, até vivências nas cidades mais agitadas do mundo.

  • Um exu em Nova York (2019) percorre, a partir de uma visão contemporânea, temas como política, racismo religioso e ética no cotidiano.

Carregando sempre sua ancestralidade nas escritas, outros textos foram publicados pela escritora e jornalista.

  • Os pentes d’Africa (2008)
  • O homem azul do deserto (2018)

Cristiane Sobral

Instagram

Poeta, seus livros e poemas abordam temas relacionados à estética negra, a vida das mulheres negras, amor, entre outros. Além de escritora, Cristiane Sobral também é atriz e editora.

Não vou mais lavar os pratos
Nem vou limpar a poeira dos móveis.
Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um livro
e uma semana depois decidi.
Não levo mais o lixo para a lixeira. Nem arrumo
a bagunça das folhas que caem no quintal.
Sinto muito.
Depois de ler percebi
a estética dos pratos, a estética dos traços, a ética,

A estática.
Olho minhas mãos quando mudam a página
dos livros, mãos bem mais macias que antes
e sinto que posso começar a ser a todo instante.
Sinto.

Qualquer coisa.
Não vou mais lavar. Nem levar. Seus tapetes
para lavar a seco. Tenho os olhos rasos d’água.
Sinto muito. Agora que comecei a ler quero entender.
O porquê, por quê? e o porquê.
Existem coisas. Eu li, e li, e li. Eu até sorri.
E deixei o feijão queimar…
Olha que feijão sempre demora para ficar pronto.
Considere que os tempos são outros…

Ah,
esqueci de dizer. Não vou mais.
Resolvi ficar um tempo comigo.
Resolvi ler sobre o que se passa conosco.
Você nem me espere. Você nem me chame. Não vou.
De tudo o que jamais li, de tudo o que jamais entendi,
você foi o que passou
Passou do limite, passou da medida,
passou do alfabeto.

Desalfabetizou.
Não vou mais lavar as coisas
e encobrir a verdadeira sujeira.
Nem limpar a poeira
e espalhar o pó daqui para lá e de lá pra cá.
Desinfetarei minhas mãos e não tocarei suas partes móveis.
Não tocarei no álcool.
Depois de tantos anos alfabetizada, aprendi a ler.
Depois de tanto tempo juntos, aprendi a separar
meu tênis do seu sapato,
minha gaveta das suas gravatas,
meu perfume do seu cheiro.
Minha tela da sua moldura.
Sendo assim, não lavo mais nada, e olho a sujeira
no fundo do copo.
Sempre chega o momento
de sacudir,
de investir,
de traduzir.
Não lavo mais pratos.
Li a assinatura da minha lei áurea
escrita em negro maiúsculo,
em letras tamanho 18, espaço duplo.

Aboli.
Não lavo mais os pratos
Quero travessas de prata,
Cozinha de luxo,
e jóias de ouro. Legítimas.
Está decretada a lei áurea.

A escritora ganhou diversos prêmios com suas obras, como o Prêmio de montagem GDF e o Prêmio do Ministério da Saúde. Além de poemas, Sobral contem livros de contos, confira mais de sua produção.

  • O Tapete Voador (2016)
  • Terra Negra (2017)

Conceição Evaristo

Wikipedia

Conhecida como a Dama da literatura negra, Conceição Evaristo iniciou suas publicações nos Cadernos Negros, e é autora de romances, contos e poemas. Sua obra versa sobre afetos, ancestralidade, violência, dentre muitos outros temas. Seus livros estão traduzidos em vários idiomas, e também possui relevante trabalho acadêmico sobre Literatura Negra.

  • Olhos d’água (2014)é o volume de contos mais famosos da autoria e foi agraciado com o prêmio Jabuti. As histórias têm como personagem a população afro-brasileira, a pobreza e a violência urbana que as atingem.

Seu trabalho é marcado por suas experiências de vida como mulher negra no Brasil. Confira outras produções de Evaristo.

  • Ponciá Vicêncio (2003)
  • Poemas da recordação e outros movimentos (2017)

Edimilson de Almeida Pereira

Edmilson de Almeida

Autor de dezenas de livros de poesias, romances e também ensaios, Edimilson é dono de uma linguagem extremamente sensível e apurada. Suas reflexões, entre outros temas, se voltam para a relação dos sujeitos com a natureza, a memória, a ancestralidade e as religiosidades afro-brasileiras. Além disso, ele também escreve livros para crianças. Recentemente, foi lançada a antologia Poesia + (2019), que reúne poemas publicados de 1985 a 2019.

Tear
O amor é farto.
Nas terrinas foge sob
olhos que cercam
(encarcerados).
o amor vige,
ao resto, embornal.

A sobra tem pegadas
do amor: por isso sobra
no campo.

Amor se debruça
no vão das costelas.

E após, se configura
em renda, texto,
memória.

O autor mineiro é um dos mais premiados da literatura brasileira. Confira outras obras do poeta.

  • Poemas para ler com palmas (2017)
  • O ausente (2020)

Ricardo Aleixo

Ricardo Aleixo

Amante da poesia concreta e um artista multilinguagens, Ricardo Aleixo é autor de uma série de livros que tratam de temas diversos, como crítica social, religiosidades afro-brasileiras, além de muita metalinguagem. O que mais chama atenção em seus textos é o modo como estão dispostos nas página e nas telas. O livro “Pesado demais para ventania” (2018) é uma antologia de sua obra.

Alheio
escolhi ouvir,
sei muito bem que o risco não é pequeno, meio

adormecido no banco do
ônibus, a não ser que ela voltasse a cabeça, não

pensamos palavras,
mas a cada novo

ângulo descortinado, sempre a ponto
de cair, é

quando o sujeito retorna, escolho
não falar, não

considero prudente
falar, ela insiste,

a imagem fixa na retina,
rastros na areia, chega

um momento em que já não se pode
recuar, um garoto sonha e ri muito

alto, guardar sigilo,
uma página em branco

pensamento um corte,
animais de corpos cilíndricos,

imaginar o que há
dentro de uma árvore,

escolho olhar o fogo, ainda ontem, o todo inacabado,
dois seixos na beira do lago, falava alheio,

uma sequência de desvios, ouvia sem entender,
estou só, aqui, escrito

A partir de uma visão crítica da sociedade, sua poesia é carregada de sarcasmo e acidez.

  • Modelos vivos (2010)
  • Mundo palavreado (2013)

Grace Passô

Wikipedia

Importante nome do teatro contemporâneo, Gracê Passô é atriz, dramaturga e diretora. Seus textos dramáticos abordam as relações humanas em diferentes dimensões e são recheados de metalinguagem.

  • Por Elise (2005) é uma peça de teatro e a primeira criação do grupo espanca!(MG). Agora em formato de livro, a obra as contradições de sentimentos vividas nas relações humanas.

Suas peças, por vezes, ultrapassam o formato teatro e são desenvolvidos como livros, devido sua relevância para a literatura negra no Brasil.

  • Congresso internacional do medo (2012)
  • Mata teu pai (2017)

Itamar Vieira Júnior

Wikipedia

Nascido em Salvador, Itamar Vieira Júnior é Graduado e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. Uma grande revelação da literatura contemporânea, é autor do premiadíssimo romance “Torto Arado” (2019). Além de romancista, Itamar também é autor de livros de contos.

  • Torto Arado (2019) explora o interior do sertão baiano, a relação dos povos negros com a terra, a luta por ela, a religiosidade, afetos, entre outros temas

Sua relação com o estado em que nasceu está presente em todas as suas obras, e assim foi o vencedor do XI Prêmio Projeto de Arte e Cultura da Bahia.

  • Dias (2012)
  • Doramar ou a odisseia: Histórias (2021)

Lima Barreto

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Com muita acidez e ironia, o carioca fez um retrato da sociedade brasileira em fins do século XIX e início do XX. Seus romances e contos falam sobre a loucura, o engano disfarçado de inteligência, a família, além de criticarem as hipocrisias da sociedade brasileira.

  • Triste fim de policarpo quaresma (1915) é um romance pré-modernista brasileiro, considerado uma das principais obras do movimento. Conta a história de um militar patriota brasileiro e desenvolve todas suas contradições durante a narrativa.

O autor e jornalista brasileiro foi um dos críticos mais assíduos da Primeira República Brasileira e traz em suas obras essa posição.

  • Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909)
  • Clara dos Anjos (1948)

Mel Duarte

Instagram

Poeta, Mel Duarte encontrou sua dicção no slam, modalidade poética que tem como centralidade a expressão vocal. Seus temas giram em torno das vivências das mulheres negras brasileiras e de questões relativas ao empoderamento. Em 2019, organizou a antologia “Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta” (2019).

minha condição
Eu não escrevo pra incendiar casas
mas pra ascender faíscas aos olhos de quem me lê
não escrevo pra matar a fome de multidões
mas espero que minhas palavras preencham um vazio que te ajude a se manter de pé
não escrevo pra governar um povo
eu ouço o que ele diz e utilizo minha voz para propagar sua mensagem
não escrevo pra obter a sua aprovação
mas pra registrar minha trajetória e de tantas mulheres negras que já foram silenciadas.

Eu escrevo pra acessar lugares em mim que são invisíveis aos olhos
pra expurgar pensamentos que não me deixam dormir
escrevo, pois, cada palavra é um atestado da minha condição poeta
e sendo poeta, ainda miúda que sou
escrevo porque a palavra é o que me resta

Num mundo conduzido por falsos profetas
nessa briga de egos e dialética
me apego num sopro de esperança
que me permite o papel e a caneta

Escrevo pra sobreviver
e sobrevivendo eu luto
escrevo se adoeço
e escrevendo me curo

E você? Pra quê escreve?

E pra onde você escorre,
quando esse mar palavra transborda?

Para conhecer mais trabalhos da poeta, confira suas obras mais antigas.

  • Fragmentos dispersos (2013)
  • Negra nua crua (2016)
  • Jarid Arraes

    Instagram

    Cordelista de mão-cheia, ela também é poeta e contista. Violências e afetos são temas que permeiam sua escrita, trazendo para cena protagonistas negras.

    • Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (2017) é uma obra prestigiada, em que a autora resgata a história de mulheres postas de lado da História deste país.

    Vencedora dos prêmios Biblioteca Nacional 2020 e APCA da literatura 2019 na categoria contos, a autora também entrou para lista de melhores livros de 2019 com duas de suas obras.

    • Um buraco com meu nome (2018)
    • Redemoinho em dia quente (2019)

    Marcelo D’Salete

    Marcelo D’Salete

    O grande artista Marcelo D´Salete, por meio de suas histórias em quadrinhos, esta arte sequencial, (re)conta importantes momentos da História.

    • Angola Janga (2017), a partir de muita pesquisa e criação verbal e visual, apresenta “uma história de palmares”, como enuncia o subtítulo.s

    Suas ilustrações dão vida a momentos históricos da humanidade. Confira suas outras obras.

    • Encruzilhada (2011)
    • Cumbe (2014)

    Miriam Alves

    Miriam Alves

    Nome importante para a Literatura Negra no Brasil, Miriam Alves narra e leva à poesia a condição da mulher negra em um país racista. Além de seu trabalho ficcional, tem também textos no campo da crítica. Iniciou suas publicações nos Cadernos Negros, e é autora de romances e livros de poesia, a exemplo do Mulher mat(r)iz (2011).

    Com vida (ainda)
    Agora me afogo
    em cerveja.
    Fumo cigarros de cravo.
    Acalma ensinam.
    Acalme-se!
    Mas não me acalmo
    Dizem que um novo surgirá.
    Um novo?
    A dúvida me alucina
    Um novo….
    Sobre os nossos corpos
    Mortos empilhados
    (De novo)
    Vala comum
    Adubando o capital($)
    Mortes
    Sem estatísticas
    Geram lucros brancos
    Nos banco$
    Não me acalmo
    Alucino

    Além de escritora, é ativista na luta antirracista. Suas obras permeiam as experiências de pessoas negras na sociedade.

    • Momentos de busca (1983)
    • Maréia (2019)

    Além destas autoras e autores com suas respectivas obras, há muito mais da Literatura Negra no Brasil que merece ser conhecido, apreciado, e tem de fundamental relevância neste campo de estudos. Confira mais algumas obras:

    • Primeiras Trovas Burlescas de Getulino (1859), de Luiz Gama
    • Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves
    • Eles: contos (2018), de Vagner Amaro
    • Um corpo negro (2019), de Lubi Prates
    • O pequeno príncipe preto (2020), de Rodrigo França

    Vídeos sobre as Literaturas Negras no Brasil

    Agora, você vai conhecer este tema pela ótica de outros professores(as) e estudiosos(as) de literatura e das relações raciais no Brasil

    O que é Literatura Negra?

    Neste vídeo, Alê Garcia questiona do que se trata isto que chamamos Literatura Negra. Traz para o debate autores negros, que muitas vezes são lidos como brancos, e apresenta clássicos da literatura brasileira.

    Literatura Negra: uma discussão teórica

    Nesta aula, você pode conhecer de modo mais aprofundado sobre este campo da literatura brasileira, inclusive, a partir de discussões teóricas

    Literatura Negra Brasileira

    A professora Luiza Venina, além de debater os nomes da literatura negra no Brasil, reflete a maneira com que os negros são representados como personagem nas obras e escritos. Desta forma, é possível compreender mais profundamente as consequências de tal esteriótipo na sociedade brasileira.

    Por que estudar Literatura Negra?

    O professor Esdras Soares responde, de forma breve e didática, 6 perguntas sobre a literatura negra no Brasil e explica o por quê estudar sobre o tema. Por que falar em literatura negra brasileira? Por que não falar apenas literatura? Entenda isso e muito mais!

    Quer entender um pouco mais da literatura brasileira? Confira a matéria sobre o movimento modernista no Brasil e suas influências.

    Referências

    A trajetória do negro na literatura brasileira (On-line) – Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/mJqCRgkgYfJzbmnfBJVHR9x/?lang=pt. Acesso em: 25 de abril de 2021.
    Literatura Negro-brasileira (On-line) – Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/. Acesso em: 25 de abril de 2021.

    Por Bruno Barra
    Como referenciar este conteúdo

    Barra, Bruno. Literatura negra no Brasil. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/literatura-negra-no-brasil. Acesso em: 18 de April de 2024.

    Exercícios resolvidos

    1. [UNB]

    Ponciá Vicêncio se lembrava pouco do pai. O homem não parava em casa. Vivia constantemente no trabalho da roça, nas terras dos brancos. Nem tempo pra ficar com a mulher e filhos o homem tinha. Quando não era tempo de semear, era tempo de colheita e ele passava o tempo todo lá na fazenda.
    O pai de Ponciá sabia ler todas as letras do alfabeto. Sabia de cor e salteado. Em qualquer lugar que visse as letras, as reconhecia. Não conseguia, porém, formar as sílabas e muito menos as palavras. Aprendera a ler numa brincadeira com o sinhô-moço. Filho de ex-escravos, crescera na fazenda levando a mesma vida dos pais. Era pajem do sinhô-moço. Tinha a obrigação de brincar com ele. Era o cavalo onde o mocinho galopava sonhando conhecer todas as terras do pai. Tinham a mesma idade. Um dia o coronelzinho, que já sabia ler, ficou curioso para ver se negro aprendia os sinais, as letras de branco e começou a ensinar o pai de Ponciá. O menino respondeu logo ao ensinamento do distraído mestre. Em pouco tempo reconhecia as letras. Quando sinhô-moço se certificou de que o negro aprendia, parou a brincadeira. Negro aprendia sim! Mas que negro ia fazer com saber de branco? O pai de Ponciá Vicêncio, em matéria de livros e letras, nunca foi além daquele saber.
    Conceição Evaristo. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza, 2003, p. 14 (com adaptações).
    Considerando o fragmento do romance Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, julgue os itens que se seguem.

    1. Narrado em primeira pessoa, o texto conta a história de como um agricultor aprendeu a ler as letras do alfabeto.
    2. A situação de desigualdade existente entre sinhô-moço e Ponciá é evidenciada, entre outros fatores, pelo papel de cavalo que o menino negro representa nas brincadeiras.
    3. Na narrativa, há uma divisão social explícita entre brancos, donos da terra e do saber, e negros, trabalhadores e sem acesso à educação formal.

    Resposta correta: 3
    Justificativa: ao se dar conta de que o pai de Poncicá estava aprendendo, o sinhô parou de ensiná-lo. Tal atitude revela a vontade dos senhores de manter a população negra na ignorância, e revela uma nítida desigualdade social e racial no que diz respeito ao acesso à educação formal.

    2. [PUC-Campinas Direito 2017]

    Luiz Gama (1830-1882) foi um dos raros intelectuais negros brasileiros do século XIX, o único autodidata e também o único a ter sofrido a escravidão antes de integrar a república das Letras, universo reservado aos brancos. Em São Paulo, em 1859, lançou a primeira edição de seu único livro – Primeiras trovas burlescas de Getulino –, uma coletânea de poemas satíricos e líricos até bem pouco rara. Pela primeira vez na literatura brasileira, um negro ousara denunciar os paradoxos políticos, éticos e morais da sociedade imperial. (…) Jamais frequentou escolas, pois, como afirmara, “a inteligência repele os diplomas, como Deus repele a escravidão”. Luiz Gama converteu-se no incansável e douto “advogado dos escravos”. O poeta então se eclipsa, cedendo lugar ao abolicionista e militante republicano.

    (FERREIRA, Lígia Fonseca. “Luiz Gama por Luiz Gama: carta a Lúcio de Mendonça”. Revista Teresa de Literatura Brasileira (8/9). São Paulo: Editora 34/Universidade de São Paulo, 2008, p. 301)

    O caso de Luís Gama, abordado no texto, faz ver que

    a) a sátira foi apenas um primeiro passo para uma militância de caráter político.
    b) mesmo na condição de escravo é possível aprimorar-se como intelectual.
    c) a alforria permitiu-lhe sublimar na força lírica o que sofrera como escravo.
    d) ele enfrentou literariamente o paradoxo de ser ao mesmo tempo abolicionista e republicano.
    e) ele abraçou a religião tão logo alforriado, dedicando-se com fé à sua missão de escritor.

    Resposta correta: a
    Justificativa: A sátira de fato era muito presente na obra de Luiz Gama e, como mostra sua biografia, além de poeta, foi também um grande abolicionista, o que caracteriza sua militância política.

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