Inconfidência Mineira

A Inconfidência Mineira foi uma revolta de caráter separatista com ideais assentados nos princípios iluministas. Por causa dos altos impostos, a revolta ganha vida.

Pensar a Inconfidência Mineira é um exercício de compreensão da dinâmica histórica do Brasil Colônia no século XVIII. Isso engloba a descoberta do ouro no setor econômico, a manutenção do regime político colonial ligado à Corte Portuguesa e a difusão dos ideais republicanos que, aos poucos, ganhava adeptos. Essa rebelião separatista marcou a história brasileira.

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O que foi inconfidência mineira: a conjuração republicana

Em linhas gerais, a Inconfidência Mineira foi uma revolta de caráter separatista com o objetivo de instaurar o regime republicano no Brasil. A partir disso, seria possível conquistar a independência brasileira. Essa revolta envolveu a elite socioeconômica da capitania de Minas Gerais, contando com poetas, comerciantes, padres e outros sujeitos.

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Ocorrida no final do século XVIII, essa revolta baseava os seus ideias nos princípios Iluministas, especialmente o francês, que vigorava no Brasil por meio do contrabando de livros. A seguir, entenda os entremeios da revolta.

Características da Inconfidência Mineira

Entre as características que marcaram a Inconfidência Mineira, destacam-se os aspectos políticos e a mentalidade social da época. Conheça as principais:

  • Movimento de caráter separatista;
  • A Inconfidência Mineira baseou-se nos ideais republicanos iluministas;
  • Insatisfação social devido aos altos e recorrentes impostos, como a derrama;
  • Participação de poetas, padres, comerciantes, alfeires, entre outros, mas todos ligados à elite da capitania mineira;
  • Proclamação de uma república federalista aos moldes dos Estados Unidos;
  • Busca por diversificação comercial.

Todas essas características retratam, em partes, os objetivos da Inconfidência, assim como o caráter que ela assumiu durante meses.

Como foi a inconfidência mineira: o sonho de Tiradentes

A Inconfidência Mineira contou com a participação ativa da sociedade contra a ordem vigente. A capitania de Minas Gerais, por sinal, também foi palco de outras revoltas coloniais marcadas pelo descontentamento e insatisfação contra a Coroa Portuguesa, por exemplo, a Revolta de Vila Rica em 1720.

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Em meio ao desenvolvimento econômico, especialmente em Minas Gerais, com a extração de ouro e diamante (ciclo do ouro), houve uma maior valorização das atividades produtivas, bem como o aumento dos impostos, desencadeando a insatisfação social. Continue a leitura para entender como a Inconfidência Mineira ganhou forma.

Antecedentes históricos

Dois eventos em especial influenciaram diretamente o desencadeamento da Inconfidência. O primeiro aponta para o desenvolvimento produtivo da colônia e da capitania. De acordo com as historiadoras Lilia Schwarz e Heloísa Starling, nesse período, Minas era a capitania mais próspera de todas por causa da atividade mineradora, superando a produção de cana de cana na região do atual Nordeste.

O segundo aspecto diz respeito à ascensão de Marquês de Pombal ao trono português. Na década de 1750, sob a administração de Pombal, parte do território português foi destruído pelo terremoto de 1755. Grande parte das políticas do período pombalino tinha por objetivo reconstruir Portugal. A ação mais imediata foi o aumento dos impostos sobre todas as atividades da colônia. Assim, lentamente, a insatisfação crescia e a Inconfidência Mineira estava para nascer.

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Principais causas, inspiração e objetivos

A Inconfidência Mineira foi inspirada, principalmente, na colônia recém-independente da América do Norte, os Estados Unidos. Os princípios republicanos de liberdade e autonomia se tornaram os fundamentos dos revoltosos mineiros. Assim, os altos impostos instituídos pela Coroa era apenas a ponta do iceberg, havia algo maior.

Conforme afirmou Lilia Schwarz, “a conjuração foi resultado do ressentimento, mas também da percepção de que as Minas Gerais tinha condições para existir sem a presença de uma Coroa controladora”. A escritora Cecília Meireles (participante ativa da formação da revolta) também destaca que o contrabando de livros iluministas revela a natureza da Inconfidência.

As políticas fiscais das administrações de Luís da Cunha Meneses e de Visconde de Barbacena foram o estopim da Inconfidência. O primeiro teve uma administração considerada instável e contrária aos interesses da elite local. O segundo instaurou a cota de ouro anual e a “derrama”, cobrança obrigatória para alcançar cem arrobas de ouro.

O que defendiam os inconfidentes

Os inconfidentes desejaram, conforme aponta as fontes históricas, concretizar a rebelião no dia e na hora exata do recolhimento da derrama. O objetivo era começar a revolta na região de Vila Rida e, a partir daí, difundir os seus efeitos em toda a capitania.

Segundo o pesquisador José Martino, os inconfidentes pretendiam impor a guerra de desgaste, utilizando da escassez econômica e produtiva para negociar com a Coroa portuguesa. Livre das amarras coloniais, os revoltosos pretendiam instaurar uma república espelhada no sistema dos Estados Unidos, com eleições anuais, diversificação econômica da capitania por meio da instalação de manufaturas, a formação de uma milícia nacional e o perdão das dívidas dos inconfidentes.

Principais participantes

Os ideais nutridos pelos participantes da Inconfidência Mineira indicam o lugar social que esses ocupavam. Por exemplo, o trabalho escravo não foi uma questão central da revolta, pois parte dos participantes era comerciantes e senhores de escravos.

Padres, poetas, comerciantes, médicos, fazendeiros, alfeires, entre outros envolvidos, todos eles formavam a elite socioeconômica local. Tiradentes é a exceção, ele não pertencia à elite. Assim, a “cúpula da sociedade de Minas” foi regra na constituição da revolta separatista, mas foi a exceção que teve grande relevância nesse processo.

Consequências de uma revolta que não iniciou

Embora não tenha acontecido, por causa das delações de 18 de maio de 1789, a Inconfidência Mineira marcou a história do Brasil. As principais autoridades da capitania receberam algumas denúncias da conspiração, assim, a revolta foi combatida rapidamente e findou por desgastes.

O administrador Visconde de Barbacena recebeu seis denúncias de uma suposta “conspiração perigosa“. Entre elas, a mais efetiva foi realizada por um integrante da revolta, Joaquim Silvério dos Reis, motivado por uma promessa de perdão de suas dívidas pela Coroa portuguesa. Ele revelou cada estratégia dos revoltosos, contribuindo, inclusive, para a repressão de Tiradentes.

Com a suspensão do derrama, houve o início das prisões e dos interrogatórios, que duraram pouco mais de dois anos, com penas de degredo (expulsão para a África), enforcamento, prisão perpétua etc. Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro enquanto propagava os ideais da Inconfidência. Condenado à morte pela rainha D. Maria I, ele foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, e sua cabeça foi exposta na praça central de Vila Rica.

Por fim, cabe mencionar que até mesmo o termo “Inconfidência” deve ser problematizado, visto que remete a uma perspectiva colonizadora, onde os indivíduos pertencentes ao movimento são compreendidos como desordeiros e desleais à ordem vigentes. Pensar historicamente, nesse caso, é um exercício essencial!

Vídeos sobre a Conjuração Mineira

Com o intuito de complementar o tema estudado até aqui, confira alguns vídeos selecionados para você. É só dar um clique e continuar aprendendo.

A Inconfidência Mineira resumida!

Nesse vídeo, a historiadora Débora Aladim traz um ótimo resumo sobre a Inconfidência ou Conjuração Mineira e Tiradentes! Vale a pena assistir.

Inconfidência ou Conjuração Mineira?

Assista a esse vídeo curto, produzido pela TV Senado, e entenda o movimento de conspiração contra o domínio colonial português e o papel de Tiradentes, seu mais conhecido representante.

Tiradentes: o mito nacional?

Nesse vídeo, o historiador Felipe Figueiredo discute a história e a atuação de Tiradentes na Inconfidência, bem como analisa os motivos desse sujeito ter sido escolhido como mito nacional, a ponto de existir um feriado com o seu nome.

Falou em Tiradentes e a primeira coisa que vem em sua mente é o feriado, certo? Mas que tal conhecer mais sobre essa figura tão emblemática na história do Brasil e na Inconfidência Mineira? Clique aqui e saiba mais sobre Tiradentes.

Referências

Brasil: uma biografia (2015) — Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Starling
Romanceiro da Inconfidência (2015) – Cecília Meireles
1789: A Inconfidência Mineira e a Vida Cotidiana nas Minas do Século XVIII (2020) – José Martino

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Inconfidência Mineira. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/inconfidencia-mineira. Acesso em: 25 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [URCA]

Sobre o movimento historicamente conhecido como Inconfidência Mineira de 1788-9, pode-se corretamente afirmar:

A) O conflito em Minas Gerais foi o resultado das divergências sócio-econômicas entre Minas Gerais e Portugal e da contradição de grupos de interesses coloniais e metropolitanos;

B) O movimento, de fato, é sem significância, e não mereceria fazer parte da História do Brasil, sendo seu significado adquirido apenas por conta da propaganda republicana em torno da figura de Tiradentes;

C) Apesar de ocorrer no século XVIII, a Inconfidência Mineira, por seu caráter local, não deve ser analisada considerando fatos da época como a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a haitiana;

D) A Inconfidência Mineira pode ser explicada, dentre outros fatores, pelo crescimento da indústria portuguesa que passou a demandar cada vez mais o ouro brasileiro como forma de pagamento das matérias-primas necessárias;

E) A Inconfidência Mineira agregou participantes de diversas partes da colônia, insatisfeitos por conta do rigoroso controle sobre o comércio das especiarias do Pará e Maranhão, sobre o tráfico negreiro e sobre as missões jesuíticas.

A) O conflito em Minas Gerais foi o resultado das divergências sócio-econômicas entre Minas Gerais e Portugal e da contradição de grupos de interesses coloniais e metropolitanos;

Justificativa: assentada na contradição entre os grupos locais e o descontentamento das elites socioeconômicas, a Inconfidência Mineira ganhou vida em oposição à Corte Portuguesa.

2. [URCA]

Sobre a obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, é correto afirmar:

A) Inconfidência é um poema lírico-narrativo de viés histórico que evoca em versos os personagens e o contexto da Inconfidência Mineira;

B) É o ápice da poética de Cecília Meireles enquanto poetisa neo-simbolista;

C) É um extenso poema em que o eu poético reflete sobre uma temática sem que haja elementos narrativos;

D) Tiradentes, o alferes que a história transformou em herói, é apresentado na obra como indivíduo ambíguo e de moral discutível, numa clara contraposição literária à imagem apresentada pelos historiadores mais conservadores;

E) Representa grande inovação na construção dos versos, marcando-se sua obra por experimentalismo radical da linguagem e referência a fontes vivas da língua popular.

A) Inconfidência é um poema lírico-narrativo de viés histórico que evoca em versos os personagens e o contexto da Inconfidência Mineira;

Justificativa: baseada em uma sólida pesquisa histórica, a escritora Cecília Meireles escreve um poema que revela os traços mais característicos da Inconfidência e dos inconfidentes, dentre eles o próprio Tiradentes.

3. [UECE]

Leia atentamente o seguinte excerto:

“O papel de herói da Inconfidência Mineira cabe ainda a Tiradentes porque ele foi o inconfidente que recebeu a pena maior: a morte na forca, uma vez que o próprio réu, durante a devassa, assumiu para si toda a culpa. Sabe-se, no entanto, que sua morte se deve também em grande parte à acusação dos demais inconfidentes, bem como a sua condição social: pertencente à camada média da sociedade mineira, sem importantes ligações de família, sem ilustração nem boas maneiras”.
Cândida Vilares Gancho & Vera Vilhena de Toledo. Inconfidência Mineira. São Paulo, Editora Ática, Série Princípios,1991. p.45.

Sobre a Inconfidência Mineira, ocorrida em Vila Rica no período da mineração aurífera, é correto afirmar que

A) representou o exemplo de revolta popular contra a dominação colonial portuguesa no Brasil, uma vez que, oriunda das camadas mais humildes de Minas Gerais, inclusive escravos, chegou a contagiar indivíduos pertencentes às mais altas posições sociais.

B) foi uma representação dos interesses de grupo da elite local, intelectuais, religiosos, militares fazendeiros, em livrarem-se do controle e dos impostos cobrados pela coroa portuguesa na região, mas não havia consenso em relação à libertação dos escravos.

C) marcou o início do processo de independência do Brasil, baseado na luta armada do povo contra as forças leais a Portugal, e em defesa dos ideais liberais e republicanos, como o fim da escravidão, direito ao voto universal masculino e governo presidencialista.

D) apesar de bem sucedida, com a proclamação da independência de Minas Gerais, teve pouco impacto na história do Brasil, uma vez que seus objetivos extremamente populares não foram bem aceitos pelas elites econômicas de outras regiões da colônia.

B) foi uma representação dos interesses de grupo da elite local, intelectuais, religiosos, militares fazendeiros, em livrarem-se do controle e dos impostos cobrados pela coroa portuguesa na região, mas não havia consenso em relação à libertação dos escravos.

Justificativa: os participantes da revolta mineira uniram-se em prol da mudança da ordem política vigente. Romper era o lema dos inconfidentes.

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