Dom João VI

Dom João foi um infante que assumiu o trono da corte portuguesa em decorrência de algumas circunstâncias. Confira a biografia e eventos marcantes.

João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, conhecido como Dom João VI, nascido em 13 de Maio de 1767, foi rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1816 a 1822, em decorrência da doença enfrentada por sua mãe, D. Maria I. Dom João VI é caracterizado como um dos últimos representantes do Antigo Regime.

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Biografia

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Juventude e formação

Dom João VI (1767 – 1826) nasceu no dia 13 de Maio de 1767, na cidade de Lisboa, no Palácio Real da Ajuda. Foi filho de D. Maria I e do rei consorte Dom Pedro III de Portugal. Na infância, D. João não foi instruído e treinado para ocupar o trono após a morte de um dos pais, pois esse era o dever so seu irmão mais velho, Dom José.

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Por ser apenas um infante, isto é, filho dos reis, mas não herdeiro do trono real, Dom João ficava em segundo plano nas ocasiões mais importantes vivenciadas pela corte portuguesa. Sua formação abrange o campo das letras, música, religião, etiqueta, história, ciências e legislação.

Casamento e crise sucessória

Em 1785, com 18 anos, o casamento de D. João foi arranjado com a infanta D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha do rei Carlos IV da Espanha e de D. Maria Luísa de Parma. O casamento foi pensado como uma forma de estreitar as relações entre os dois reinos, situação que não foi vista com bons olhos por parte da corte portuguesa, que receava a criação de uma nova União Ibérica.

Ao todo, D. João e D. Carlota tiveram nove filhos. Todos eles assumiram uma posição de destaque na corte portuguesa. Todavia, com a morte de Dom Pedro III em 1785, a corte passava por um período de tensão. Em 11 de setembro de 1788, o irmão mais velho de Dom João, D. José, também morre. Com esse acontecimento, o infante português se tornar herdeiro do trono. Para muitos setores do reino, ter Dom João no poder era algo significativo, pois, ao contrário do seu irmão, ele tinha aspirações favoráveis ao absolutismo.

Em 1971, D. João ficou gravemente enfermo, criando um ambiente de incertezas no reino. Já em 1792, a rainha passou por crises nervosas, demonstrando desequilíbrio, e foi considerada incapaz de governar. Assim, como herdeiro do trono, D. Jõao deveria assumir a posição da mãe.

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Príncipe regente de Portugal

Inicialmente, D. João não queria assumir o trono. Entretanto, diante da instabilidade política, ele acabou cedendo. Assim, durante a Revolução Francesa, Portugal alia-se à Espanha e Inglaterra visando combater os franceses; ambas as alianças levaram as tropas portuguesas com cerca de 6 mil soldados à campanha do Rossilhão e da Catalunha (1793 – 1795). Ambos os conflitos terminaram em total fracasso, aumentando a força dos franceses no cenário político e militar.

Em 1801, em meio à instabilidade vivida por Portugal, a Espanha e França invadem o território português (Guerra das Laranjas), tomando a praça de Olivença. Somado a isso, Dom João enfrentava um conflito mais íntimo, dessa vez com a sua esposa, D. Carlota, que teve um posicionamento favorável aos interesses espanhóis.

Conforme afirmou Jorge Pedreira, D. Carlota, conspirava e ameaçava depor o esposo. Essas intrigas foram rompidas em 1805 com a separação do casal. Em meio ao conflito, Dom João se viu sem saída: atender aos interesses franceses e fechar os portos comerciais para a Inglaterra ou recusar os interesses franceses e aguardar a invasão do território português. A resposta adotada pelo príncipe regente fugiu às opções esperadas.

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Dom João VI no Brasil: Um rei por acaso

Em janeiro de 1808, a esquadra portuguesa chegou ao Brasil, ancorando na Baía de Todos os Santos. No dia 28 de janeiro do mesmo ano, Dom João decreta a abertura dos portos brasileiros ao comércio exterior (às nações amigas), tendo em vista a mudança de caráter político e simbólico pela a qual a colônia passaria, sendo agora uma sede da própria coroa portuguesa.

Dois meses depois, a esquadra se desloca de Salvador e chega ao Rio de Janeiro. Na nova sede do governo português, D. João revogou o alvará assinado por D. Maria I, que havia proibido a liberdade industrial na colônia portuguesa. Todas as ações tomadas pelo príncipe regente tinham o objetivo de melhorar economicamente as condições da colônia. Entretanto, ele também investiu em cultura e política, criando a Academia de Belas Artes, a Biblioteca Real, o Arquivo militar, a Imprensa Régia, o Jardim Botânico, entre outras instituições.

No ano de 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Mas foi apenas no dia 6 de fevereiro de 1818 que o príncipe regente foi coroado rei, devido à morte de D. Maria I. Sob os clamores do povo português, o rei retorna para sua terra.

Regresso à Portugal

Com a derrota das tropas francesas lideradas por Napoleão Bonaparte em 1815, na Batalha de Waterloo, Portugal alcançou, em um primeiro momento, certa estabilidade política e militar. Diante da permanência da família real no Brasil, a situação econômica portuguesa entrou em declínio.

Com a insatisfação do povo português, várias exigências surgiram, dentre elas: o fim da monarquia absoluta, a convocação de uma assembleia, a revogação do decreto que ascendeu o Brasil à categoria de Reino, a recolonização da América portuguesa e a volta de Dom João para Lisboa.

Esse processo ficou conhecido como “Revolução Liberal do Porto”. No dia 26 de abril de 1821, ocorreu a partida de Dom João para Portugal. Antes de ir, o rei deixou o seu filho, Pedro de Alcântara (Dom Pedro), como príncipe regente do Brasil. Ao chegar em Portugal, o rei assinou uma constituição elaborada pela junta provisória do Governo Supremo do Reino.

Após treze anos, D. João encontrava-se de volta às terras portuguesas. Mas o momento histórico não foi de total tranquilidade, visto que sua esposa e filho, D. Carlota Joaquina e o príncipe D. Miguel, não aceitaram a posição tomada por Dom João ao assinar a nova constituição, declaradamente mais liberal e, portanto, contrária aos princípios absolutistas.

Em meio a uma sucessão de instabilidades e tentativas de manter a soberania do trono, Dom João morre sem alcançar a totalidade dos seus ideais, no dia 10 de março de 1826, no Paço da Bemposta, em Lisboa.

5 Curiosidades sobre Dom João VI

Dom João VI pode ser considerado como um infante que, em meio às circunstâncias históricas, tornou-se responsável por conduzir um reino. Entre dois continentes e tantas instabilidades políticas, ele teve uma vida muito interessante. Confira algumas curiosidades:

  1. Dom João tornou-se herdeiro do trono português apenas devido à morte do seu irmão, Dom José. Se não fosse por esse motivo, é até provável que a corte portuguesa nunca tivesse vindo ao Brasil e D. João não tivesse sido rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
  2. Após a morte de Dom João VI, o trono português foi assumido por Dona Maria Izabel de Portugal durante quase dois anos, enquanto D. Pedro e D. Miguel lutavam pelo trono.
  3. Dos 9 nove filhos de Dom João VI, apenas três foram soberanos, ocupando o trono real. Foram eles: D. Pedro I, Dom Miguel e D. Maria Izabel.
  4. Dom João VI decide sair de Portugal nas vésperas da entrada das tropas napoleônicas à Portugal.
  5. Mesmo sendo um rei absolutista, D. João VI soube lidar com as transformações ocorridas ao seu redor. Por exemplo, ele assinou uma constituição com traços liberais para se manter no trono.

Dom João foi um rei com muitas facetas e todas elas revelam um pouco do contexto em que viveu, lançando luz à compreensão do período histórico estudando.

Vídeos sobre um infante que se tornou rei por acaso

Como já foi visto, Dom João foi um infante que se tornou rei devido às circunstâncias históricas, dentre elas a morte do seu irmão. Para compreender mais sobre a vida desse sujeito tão importante para a história do Brasil, confira os vídeos abaixo.

Características de Dom João VI

Nesse vídeo, a pesquisadora Isabel Lustosa fala um pouco sobre as principais características que acompanharam o rei Dom João VI.

Sobre a vida e reinado de Dom João VI

Saiba mais sobre a trajetória de vida e reinado de Dom João VI. O vídeo foi produzido pela TV Câmara no bicentenário da Independência do Brasil. Assista para conhecer um pouco do legado do monarca para a construção do Estado brasileiro.

A vinda de D. João IV para o Brasil

Nesse vídeo, confira o processo histórico que marca a ascensão de Dom João VI ao trono e sua vinda ao Brasil. O vídeo faz parte dos cursos livres da UNIVESP, e foi ministrado por Andréa Slemian, pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

Por fim, todas as ponderações feitas sobre Dom João VI revelam que sua vida e reinado foram marcados por possibilidades e instabilidades. Para analisar mais sobre esse período histórico, conheça o momento da Independência do Brasil, e claro, não deixe de compartilhar com seus amigos esse conteúdo tão rico!

Referências

A Corte e o mundo. Uma história do ano em que a Família Real portuguesa chegou ao Brasil (2008) — Andréa Slemian
D. João VI: um príncipe entre dois continentes (2008) — Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Dom João VI. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/dom-joao-vi. Acesso em: 23 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UDESC]

O ano de 2008 assinala os duzentos anos da chegada da Família Real ao Brasil. Sobre isso assinale a alternativa correta.

A) A monarquia que chegava ao Brasil representava, em realidade, boa parte dos ideais da Revolução Francesa e do liberalismo europeu daquele período.

B) As motivações da vinda da Família Real para o Brasil estão relacionadas mais à realidade europeia do período do que à ideia de desenvolvimento de um Brasil monárquico e posteriormente independente de Portugal.

C) Foi incentivada a manifestação pública de nossos problemas, seguindo as práticas liberais e laicas da monarquia portuguesa.

D) Chegando ao Brasil, o monarca trabalhou muito para a ampliação da cidadania.

E) A política de terras foi imediatamente implementada e, em 1810, o Brasil realizava sua primeira reforma agrária.

Alternativa correta: B

O que motivou a decisão de Dom João VI vir ao Brasil foi os conflitos existentes com as tropas francesas e a não adesão de Portugal aos interesses franceses.

2. [Fuvest]

“… quando o príncipe regente português, D. João, chegou de malas e bagagens para residir no Brasil, houve um grande alvoroço na cidade do Rio de Janeiro. Afinal era a própria encarnação do rei (…) que aqui desembarcava. D. João não precisou, porém, caminhar muito para alojar-se. Logo em frente ao cais estava localizado o Palácio dos Vice-Reis”.

(Lilia Schwarcz. As Barbas do Imperador.)

O significado da chegada de D. João ao Rio de Janeiro pode ser resumido como:

A) decorrência da loucura da rainha Dona Maria I, que não conseguia se impor no contexto político europeu.

B) fruto das derrotas militares sofridas pelos portugueses ante os exércitos britânicos e de Napoleão Bonaparte.

C) inversão da relação entre metrópole e colônia, já que a sede política do império passava do centro para a periferia.

D) alteração da relação política entre monarcas e vice-reis, pois estes passaram a controlar o mando a partir das colônias.

E) imposição do comércio britânico, que precisava do deslocamento do eixo político para conseguir isenções alfandegárias.

Alternativa correta: C

A inversão política e simbólica do Brasil e Portugal teve grande impacto para as dinâmicas históricas posteriores que, inclusive, influenciou o retorno de Dom João VI de volta à Portugal

3. [MACKENZIE]

Podem ser consideradas características do governo joanino no Brasil:

A) a assinatura de tratados que beneficiam a Inglaterra e o crescimento do comércio externo brasileiro devido à extinção do monopólio;

B) o desenvolvimento da indústria brasileira graças às altas taxas sobre os produtos importados;

C) a redução dos impostos e o controle do déficit em função da austera política econômica praticada pelo governo;

D) o não envolvimento em questões externas sobretudo de caráter expansionista;

E) a total independência econômica de Portugal com relação à Inglaterra em virtude de seu acelerado desenvolvimento.

Alternativa correta: A

O crescimento do comércio externo e a abertura dos portos foram ações que marcaram fortemente o governo joanino no Brasil.

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