Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro foi um antropólogo, político e romancista, reconhecido internacionalmente como um grande intelectual brasileiro.

Darcy Ribeiro foi um dos mais conhecidos antropólogos brasileiros, sendo também um escritor e engajado na política. Suas reflexões ficaram conhecidas por pensar sistematicamente a questão nacional e os sentidos do desenvolvimento do Brasil.

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Para tanto, Ribeiro estudou desde a população e da questão indígena no país, até os problemas estruturais e históricos do Brasil. Ele escreveu, portanto, sempre sobre o Brasil e os brasileiros. Antônio Cândido escreve que o autor tinha a “incrível capacidade de viver muitas vidas numa só, enquanto a maioria de nós mal consegue viver uma.”

Biografia: quem foi Darcy Ribeiro

Fotografia de Darcy Ribeiro
Fotografia de Darcy Ribeiro.

Marcos Darcy Silveira Ribeiro, conhecido publicamente como Darcy Ribeiro, foi um mineiro nascido em Montes Claros, no dia 26 de outubro de 1922. Seu pai era um pequeno industrial e sua mãe uma professora primária. Seu pai morreu quando tinha apenas 3 anos de idade, o que o fez ir morar com seus avós junto com sua mãe.

Ele fora influenciado por seu tio, um médico intelectual, e Darcy Ribeiro também queria ser um intelectual. Em sua cidade só haviam dois jornais, e foi um jornal, o Pan, trazido por seu tio, que expandiu sua curiosidade sobre o mundo e o ensinou a entender espanhol. Assim, passou a ler os livros do tio e a formar opiniões políticas a partir dos jornais.

Foi com 17 anos, em 1939, que mudou para Belo Horizonte para cursar Medicina. Ele saiu de sua cidade, segundo suas palavras, “com a ignorância que corresponderia a um menino que tinha 17 anos em 1940, ou 39. Minha cidade é do interior de Minas. A ignorância era tão grande…”

No curso de Medicina, Ribeiro parecia desinteressado nos assuntos médicos. Assistia às aulas da Faculdade de Direito. Se interessou sobre a estrutura do governo inglês e a história medieval. Além disso, escreveu um romance de 300 páginas. Já desanimado com a Medicina, em 1944 se matriculou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

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Em 1947 entrou no Serviço de Proteção ao índio (SPI) e, em 1950, publicou um livro chamado Religião e mitologia Kadiweu. Essa obra trouxe os resultados de suas pesquisas com esses indígenas. Foi defensor das causas da população indígena, propondo uma lei que garantiria aos índios uma posse coletiva de suas terras, o que foi recusada.

A partir 1955, passou a se envolver mais com as questões educacionais e institucionais de universidades no país, em conjunto com Anísio Teixeira. Participou da construção da Universidade de Brasília, e em sua inauguração, em 1961, foi nomeado o primeiro reitor da universidade. Em 1962, Ribeiro assumiu o Ministério da Educação e Cultura.

Em 1964, o governo Goulart acabou culminando no golpe militar. Darcy Ribeiro teve então de deixar o país e se exilar no Uruguai. Começou a lecionar em Montevidéu e escrever o Estudos de antropologia da civilização.

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Conseguiu retornar em 1968 ao Brasil, mas com a edição do AI-5 foi preso em dezembro. Assim, ele ficou preso até 1969 e absolvido. Entretanto, seus problemas políticos e institucionais permaneceram, e deixou o país diversas vezes. Retornou definitivamente em 1976, sendo lhe concedido anistia em 1979.

Mais tarde, aliou-se a Leonel Brizola e compuseram o Partido Democrático Trabalhista (PDT) para reavivar o movimento trabalhista pré-1964. Em 1982 se lançou como vice-governador do Rio de Janeiro pelo mesmo partido com a liderança de Brizola, e venceram as eleições. Nesse período, atuou principalmente na área da ciência, da educação e da cultura.

Em 1986, foi candidato a governador como sucessor de Brizola, mas o seu oponente, Moreira Franco (PMDB), acabou sendo eleito. Em 1989, se engajou no apoio à candidatura à presidente de Leonel Brizola, que acabou ficando em terceiro lugar e fora do segundo turno. O período foi marcado por uma polarização ideológica entre Fernando Collor (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT).

Em 1994, com a nova candidatura à presidência de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro foi lançado como candidato à vice-presidência. Nessas eleições, quem venceu foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No mesmo ano, Ribeiro foi internado por estado grave de câncer. Após um mês de internação fugiu do hospital sem ordem médica para terminar o seu livro, O povo brasileiro, no qual trabalhou por 30 anos.

Como teórico da questão nacional e antropólogo, se opôs às ideias de Gilberto Freyre. Ao contrário de um “equilíbrio de antagonismos” defendido por Freyre, Ribeiro mostrou os processos violentos que construíram o Brasil.

Darcy Ribeiro faleceu em 17 de fevereiro de 1997. Suas obras e a sua história de grande engajamento político ficam marcadas seja no pensamento social, nas pesquisas antropológicas, nas disputas políticas ou no povo brasileiro.

Trajetória e pensamento de Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro foi sobretudo um pensador brasileiro dedicado a pensar o Brasil. Sendo um cientista social do “Terceiro Mundo”, sua trajetória intelectual trata-se também da construção de um pensamento autônomo e relevante em relação aos conhecimentos dos países dominantes. Veremos, a seguir, alguns temas de pesquisa e atuação, bem como sua trajetória.

Índios

Em sua obra Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno, Ribeiro logo coloca em xeque o argumento de possibilidade de assimilação ou aculturação dos indígenas na “civilização”.

Conforme o autor, existem pelo menos duas posturas frequentes para com a questão indígena. A primeira é a visão romântica que acredita em um índio intocado e “natural”, defendendo que eles devem ser deixados isolados. A segunda é a integradora, que pretende a todo custo encaixar os indígenas na “sociedade brasileira” – ou seja, em seus moldes ocidentais de civilização.

Do lado dos índios, o que ocorre na realidade não é uma nem outra. Esses povos não são assimilados à “civilização”, e nem suas culturas são objetos estáticos, como algo em extinção. Conforme Ribeiro, o que acontece é uma transfiguração étnica. Em outras palavras, os indígenas se transformam para sobreviver e resistir a uma cultura invasora e violenta. Esse conceito se tornou importante para a antropologia e a sociologia.

Darcy Ribeiro revela as diversas maneiras como os indígenas tiveram que reagir frente à expansão dos brancos pela terra. Esse processo se deu de maneira violenta, com uma sociedade civilizatória tomando posse do território e se consolidando como a sociedade nacional, ou seja, brasileira.

As etnias indígenas são, de fato, plurais, e cada uma teve uma postura diante da aculturação pretendida pelos portugueses. Na visão dos brancos, todos eles seriam “índios genéricos”, sem particularidades. Conforme Darcy Ribeiro, a expropriação das terras ainda continua.

Por isso, para a condição atual de indígenas, ser “civilizado” significa muitas vezes viver em condições de miséria e de pobreza. Para o autor, o capitalismo expansivo leva a destruição desses povos e defendeu a possibilidade de sobrevivência deles. Um dos pontos cruciais para isso é a defesa do território.

Darcy Ribeiro se tornou, em vida, um grande defensor da causa indígena. Em 1953 inaugurou o Museu do Índio e lecionou etnologia em diversas instituições. O autor se posicionou para que se criassem condições de sobrevivência dessas etnias frente à “sociedade brasileira” dominante, que continua seu projeto civilizatório ocidental.

Escola / Universidade / Educação

O engajamento de Darcy Ribeiro na defesa da educação é bastante evidente em sua história. Ele foi, entre tantas, o primeiro reitor da Universidade de Brasília. O autor publicou uma obra, A universidade necessária, defendendo o caráter democrático e crítico que as instituições universitárias deveriam tomar.

Quando foi vice-governador do Rio de Janeiro, coordenou o Programa Especial de Educação e idealizou os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP). Essas eram unidades de ensino que foram construídas com o objetivo de atender o público de classes baixas.

No caminho de democratização e de acesso das classes menos favorecidas à instituição educacional, Ribeiro defendeu também a Educação à Distância. Além disso, perto do fim de sua vida, propôs um projeto, a Universidade Aberta do Brasil (UAB).

O antropólogo defendia o fomento das pesquisas científicas e o incentivo da integração das tecnologias mais avançadas na educação. Para Ribeiro, aprender é um processo indissociável da produção de conhecimento, o que o fez argumentar a favor de uma formação científica de qualidade e engajada. Portanto, esse modelo se difere de um modo tecnicista de ensino.

A Universidade Aberta do Brasil (UAB) foi criada em 2005, focada principalmente na formação de professores da educação básica. A UAB teria como sua principal plataforma a Educação à Distância, com o intuito de democratizar o ensino em parceria com estados e municípios do Brasil.

Além disso, para Darcy Ribeiro, as instituições de ensino não estariam descoladas das manifestações culturais e artísticas. Esses projetos deveriam incentivar a formação de uma consciência nacional crítica para que fosse levada adiante um desenvolvimento social do Brasil. Essa íntima ligação da teoria e a prática revela um lado sociologicamente importante do autor.

Trajetória política

Ribeiro desde cedo se interessou em se posicionar e se engajar em assuntos políticos. Participou de partidos de esquerda durante a universidade, mas foi em 1962, quando se tornou ministro da educação no governo de João Goulart, que passou a ter uma projeção pública e institucional.

Darcy Ribeiro se posicionava explicitamente como um intelectual de esquerda. Em 1954, esteve aliado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Entretanto, um episódio que marcou o autor foi o suicídio de Getúlio Vargas. Conforme Ribeiro, esse acontecimento o fez sair de um comunismo utópico para pensar no ‘aqui e agora’, nas questões reais que ele poderia agir.

Em 1963, Darcy Ribeiro se tornou chefe do Gabinete Civil. Se posicionava como um político trabalhista e defendeu reformas de base, concentradas na administração, finanças, tributação e a reforma agrária. Esse e outros contextos sociais e políticos favoreceram o Golpe Militar de 1964. Nesse momento, Darcy Ribeiro teve de se exilar e sair do país.

Com o início do processo de redemocratização, Darcy Ribeiro continuou se engajando no Brasil nas causas indígenas e denunciando, sobretudo, as falsas promessas de emancipação do governo militar em relação aos índios. Em 1979, publicou um romance, Maíra, que se tornou bastante conhecido.

Foi vice-governador do Rio de Janeiro pelo PDT com a liderança de Leonel Brizola. Foi candidato seguinte a governador, sendo derrotado nas eleições. Nas eleições presidenciais, apoiou a candidatura de Leonel Brizola, que nunca chegou a atingir a vitória. Em 1990, ele foi eleito senador pelo estado do Rio de Janeiro.

Tanto como vice-governador como senador, trabalhou ativamente em políticas educacionais. Em 1992, votou favoravelmente para a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor, o então presidente naquele ano.

Exílio na ditadura

Darcy Ribeiro foi uma das lideranças políticas influentes no governo precedente ao Golpe Militar de 1964. Ele acabou sendo um dos últimos a partir para o exílio como consequência da tomada do poder pelos militares nessa época, extinguindo as instâncias democráticas do país.

Inicialmente Ribeiro foi para o Uruguai, onde foi professor de antropologia na Universidade da República Oriental do Uruguai e se envolveu com a organização da universidade. Quando voltou ao Brasil em 1968, acabou sendo preso em decorrência da edição do AI-5.

Depois de ficar preso por quase um ano e ser absolvido, foi para Venezuela, onde foi professor. Em 1971 foi para o Chile assessorar o presidente Salvador Allende e lecionar na Universidade do Chile. Foi ainda ao Peru e desenvolveu suas pesquisas, sempre atuando na prática política institucional.

Foi durante seu exílio no Uruguai que Darcy Ribeiro escreveu a sua obra Estudos de antropologia da civilização, consistindo em 5 volumes, cada um deles com um título: O processo civilizatório, As Américas e a civilização, O dilema da América Latina, Os brasileiros e Os índios e a civilização.

Essa pluralidade de experiências vividas pelo autor em contextos diferentes na América Latina deu subsídios para suas pesquisas. Assim, Darcy Ribeiro é um dos grandes nomes na antropologia e na sociologia brasileira pela sua capacidade de captar problemas e situações concretas da nação, renovando a teoria social.

O Povo Brasileiro

Em uma das obras mais importantes e conhecidas de Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro, há uma continuidade de um empreendimento intelectual que se estende até atualmente: entender o Brasil.

No final do século XIX surgiram autores como Gilberto Freyre que deixaram de ver a população brasileira miscigenada como um sinônimo de rebaixamento em relação à raça branca. Freyre, no entanto, defendeu que a mistura de raças e etnias no Brasil se deu de maneira harmoniosa, sendo a verdadeira marca da identidade nacional.

Darcy Ribeiro revela, em seu livro, como essa miscigenação ocorreu na verdade de maneira violenta. Em outras palavras, no âmago da formação da identidade brasileira está presente uma série de lutas, guerras e sangue. Esses conflitos se deram com base em etnia, raça e classe.

No capítulo Aventura e Rotina, Darcy Ribeiro argumenta que conflitos entre etnias sempre existiram, como entre tribos indígenas. Entretanto, com a chegada dos colonos, surgiu um novo tipo de conflito: o tipo europeu, com o objetivo de dominar e exterminar a outra etnia e a incorporar dentro sua própria cultura. Nessa guerra não é possível uma paz, já que indígenas não podem “deixar de ser eles mesmos” e viver uma “forma de existência” que não é a sua.

A população negra trazida da África para viverem sob a escravidão só podia ser também sangrenta, uma vez que é só por meio da força que se impõe essa condição. Mesmo após a Abolição, pessoas negras enfrentam a situação de ter de lutar incessantemente por sua liberdade, já que as discriminações continuam. Um exemplo dado é a de Palmares, uma tentativa de formar uma sociedade alternativa e contra o escravismo.

Os conflitos de classe ficam também evidentes, por exemplo, na Guerra de Canudos, no qual o grupo oprimido tenta reagir às suas condições precárias e a classe dominante, que controla as forças institucionais, burocráticas e militares, visando manter a ordem. Essa minoria que detém a hegemonia é aquela que controla os bens que ficam sob a sua posse, agente de sua própria prosperidade.

Os objetivos dessa classe dominante foi justamente fazer emergir uma nova entidade étnica, “destribalizando índios, desafricanizando negros, deseuropeizando brancos.” O resultado desse processo é o povo brasileiro, conforme Darcy Ribeiro.

O Brasil, assim é caracterizado por uma “classe dominante de caráter consular-gerencial, socialmente irresponsável, frente a um povo-massa tratado como escravaria, que produz o que não consome e só se exerce culturalmente como uma marginália, fora da civilização letrada em que está imersa.”

Darcy Ribeiro questiona, assim, o caráter dito como “cordial” do povo brasileiro e revela a violência, os conflitos e a dominação existentes na formação na nação. Os projetos de futuro do Brasil, assim, precisam levar em conta essas condições formativas para entender as condições atuais do país.

Principais obras de Darcy Ribeiro

Além de O Povo Brasileiro, é possível elencar outras obras de Darcy Ribeiro que também são muito relevantes. Seu volume de publicações é grande, e dentre elas estão tanto livros de interesse teórico como político, bem como alguns literários. Sua produção na literatura lhe conferiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Confira uma lista com algumas obras principais.

  • Religião e mitologia Kandiweu (1950): é o primeiro livro publicado do autor. Trata-se dos primeiros resultados de sua pesquisa trabalhando com indígenas.
  • O processo civilizatório (1968): é o primeiro volume da série Estudos de antropologia da civilização, escrito durante o seu exílio no Uruguai.
  • Maíra (1976): um dos romances publicados pelo autor, no qual é retratada a questão indígena e a relação com a civilização hegemônica, contendo também um material autobiográfico.
  • Diários índios (1996): é um livro premiado com o Prêmio Sérgio Buarque de Holanda como um ensaio social em que o autor registra a experiência com os urubu-caapor.
  • Confissões (1997): é o último livro do autor e trata-se de uma autobiografia tardia em sua obra.

Reconhecido tanto cientificamente como na literatura, Darcy Ribeiro possui uma obra vasta e alguns livros bastante reconhecidos e vendidos. Entretanto, até os livros mais desconhecidos podem trazer aspectos importantes de seu pensamento e formas originais de pensar a respeito do Brasil.

10 frases de Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro, além de pesquisador, foi também uma liderança política. Desse modo, suas afirmações revelam tanto um desenvolvimento teórico como também um projeto político intencional e explícito, diagnosticando as condições da nação brasileira. Abaixo, há uma lista com algumas de suas frases que podem melhorar a compreensão do autor.

  1. “[…] é o caráter capitalista do sistema econômico vigente e a ordenação sócio-política a ele correspondente que lança a sociedade nacional contra as etnias tribais”.
  2. “[…] as mitologias são corpos de representação cuja função consiste menos em explicar racionalmente o mundo do que motivar os homens para viver e amar a vida”.
  3. “As empresas escravistas integram o Brasil nascente na economia mundial e asseguram a prosperidade secular dos ricos, fazendo do Brasil, para eles, um alto negócio.”
  4. “Esta classe dominante empresarial‐burocrático‐eclesiástica, embora exercendo‐se como agente de sua própria prosperidade, atuou também, subsidiariamente, como reitora do processo de formação do povo brasileiro.”
  5. “O Estado brasileiro não tem nenhum programa de reestruturação econômica que permita garantir pleno emprego a essas massas dentro de prazos previsíveis. Que fazer?”
  6. “Até quando este país continuará sem seu projeto próprio de desenvolvimento autônomo e auto‐sustentável?”
  7. “Os tecnocratas dos últimos governos só vêem saída na venda a qualquer preço das indústrias criadas no passado com tão grandes sacrifícios, seguida do mergulho da indústria brasileira no mercado global, confiante em que ele nos dará a prosperidade, se não para o povo trabalhador, ao menos para os que estão bem integrados no sistema econômico.”
  8. “O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não-índios, não-europeus e não-negros, que eles se veem forçados a criar a sua própria identidade étnica: a brasileira.”
  9. “Por isso, a totalidade da estrutura do subdesenvolvimento não pode ser rompida senão através da gestação de uma sociedade capaz de se acelerar evolutivamente para se incorporar autonomamente às sociedades futuras.
  10. “Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos.”

De fato, acessar na íntegra e diretamente os textos do autor pode ajudar a uma ampla e aprofundada compreensão de suas ideias. Ainda hoje, as teorias e interpretações de Darcy Ribeiro podem ser estudadas, pesquisas, criticadas e reinterpretadas na perspectiva dos contextos mais atuais.

Entenda mais sobre Darcy Ribeiro

Abaixo, foi preparada uma lista com materiais audiovisuais a respeito dessa figura intelectual e política importante no Brasil, Darcy Ribeiro. Vê-lo e ouvi-lo falar, bem como conhecer as opiniões de outras pessoas a respeito do autor é uma maneira de expandir seus conhecimentos a respeito dele.

Último discurso de Darcy Ribeiro

Confira um discurso proferido por Darcy Ribeiro na Universidade de Brasília, que acabou sendo a última fala registrada do antropólogo.

Darcy Ribeiro sobre o Golpe de 1964

O autor foi proeminente na carreira política, o que faz com que seus discursos chamem atenção. Nesse vídeo, Darcy Ribeiro fala sobre o Golpe Militar de 1964 e Leonel Brizola.

Sobre “O Povo Brasileiro”

Nesse vídeo, Dr. Saulo Goulart, da Unicamp, fala a respeito da obra mais conhecida de Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro.

Do romance “Maíra”

Uma parte interessante da obra de Darcy Ribeiro é seu romance publicado, intitulado Maíra. Esse vídeo dá atenção a alguns aspectos desse livro.

Dessa forma, Darcy Ribeiro foi uma figura multifacetada, mas sempre posicionada politicamente e interessado no desenvolvimento social e autônomo da nação brasileira. É possível dizer que, em todas as direções que lhe foram possíveis, tentou produzir materiais que dessem sustentação para a compreensão e a transformação do Brasil e do povo brasileiro.

Como relata Antônio Cândido, Darcy Ribeiro viveu várias vidas dentro de apenas uma. Esse é um aspecto que talvez diz respeito ao seu empreendimento profissional enquanto antropólogo e cientista social. Assim, é importante conhecê-lo para entender a história do desenvolvimento do pensamento social no Brasil.

Referências

Darcy Ribeiro e o enigma Brasil: um exercício de descolonização epistemológica – Adelia Miglievich Ribeiro;

Darcy Ribeiro – Cláudia Galvão;

O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil – Darcy Ribeiro;

Darcy Ribeiro (depoimento, 1978) – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC);

A trajetória de Darcy Ribeiro: poder e culturas políticas de esquerda no Brasil e na América Latina nas décadas de 1960 e 1970 – Edi de Freitas Cardoso Júnior;

Pensamento pedagógico de Darcy Ribeiro: da Universidade Necessária à proposta de criação da Universidade Aberta do Brasil – Rosana Amaro e Welinton Baxto da Silva;

Darcy Ribeiro e os povos indígenas: acertos e equívocos – Elaine Tavares;

Darcy Ribeiro: o intelectual e o espaço autobiográfico – Arthur Orlando Mendes Caria Filho;

Narrativa e reconciliação em “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro – Adelia Maria Miglievich Ribeiro.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Darcy Ribeiro. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/darcy-ribeiro. Acesso em: 26 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UNIOESTE]

O antropologo brasileiro Darcy Ribeiro, em sua obra O Povo Brasileiro, afirma: “Nós, brasileiros, somos um povo sem ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela, fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros.”
RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. 1995, p.453.
Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a alternativa INCORRETA.
a.A identidade nacional brasileira nasceu do encontro e mestiçagem entre diversos grupos étnicos.
b.A miscigenação do povo brasileiro se deu fisicamente e principalmente no seu modo de ser e agir.
c.A mestiçagem no Brasil foi um erro histórico e um obstáculo para a construção de uma identidade nacional.
d.As identidades não são coisas com as quais nascemos, são formadas e transformadas no interior das representações coletivas.
e.O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado, é herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e as experiências adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam.

Resposta: C

Justificativa: é incorreto afirmar que, para Darcy Ribeiro, a mestiçagem seja um erro histórico ou um obstáculo para a criação de uma identidade nacional, já que é essa mestiçagem que caracteriza a identidade brasileira. A desapropriação dos contextos culturais de determinados povos foi um dos processos levados adiante pela classe dominante para a criação de uma nova nação.

2. [IBFC]

A formação da realidade brasileira é marcada pela complexidade de fatos sociais, históricos, econômicos e culturais. Com o intuito de melhor compreender estes processos e de elaborar uma visão sobre os mesmos que partisse, sobretudo, de dentro desta mesma realidade e não a mera importação de explicações estrangeiras, autores como Darcy Ribeiro, Celso Furtado e Caio Prado Jr. lançaram suas obras, “O Povo Brasileiro: Formação e sentido do Brasil”, “Formação Econômica do Brasil” e “Formação do Brasil Contemporâneo”. A respeito do que é apresentado em “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro assinale a alternativa correta.
a.Segundo o autor a ideia de pureza étnico cultural é cabível apenas para a “matriz portuguesa”.
b.Darcy Ribeiro demonstra que em sua gênese a população brasileira deriva de matrizes multiculturais desde o princípio.
c.O sentido da empreitada colonizadora foi o de promover o avanço intelectual aos povos nativos do novo mundo.
d.O autor vai defender a tese que a constituição do “povo brasileiro” se deu através da miscigenação racionalmente induzida entre os diferentes grupos que compuseram a população brasileira.
e.A obra de Darcy Ribeiro acaba por criticar a ideia de “Povo-Nação”.

Resposta: B

Justificativa: Darcy Ribeiro dá ensejo à tese de que a identidade brasileira advém de uma convergência de diversas matrizes culturais que, entretanto, foram forçadas a serem descaracterizadas com o tempo em detrimento da cultura dominante.

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