Licença Poética

Licença poética é um recurso muito usado no que se refere à produção de textos, podendo estes serem poesias, propagandas, artigos, entre outros.

Licença poética é um termo bastante popular no que se refere à literatura, e é ainda bastante usado na vida cotidiana, quando explicamos um determinado comentário. Mas o que é, afinal de contas, licença poética?

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Trata-se de uma incorreção de linguagem permitida no contexto de uma poesia, ou ainda em outros campos literários, surgindo, sempre, por meio de afirmações, teorias, opiniões, ou ainda algumas situações que, se não estivessem no contexto do campo da literatura, não seriam aceitas. Trata-se de uma espécie de um erro, porém proposital, que o autor ou poeta faz uso para que um determinado ponto de sua literatura ganhe reforços e mais atenção.

Ao contrário do que parece, essa técnica não demonstra um desconhecimento do autor para o tema específico, mas sim que ele o domina completamente, a ponto de usar uma ideia que aparenta ser indevida para que reforce o seu ponto de vista sobre ele.

Conceito e definição

O conceito de licença poética define que se trata de uma “liberdade que toma o poeta, algumas vezes, de transgredir as normas da poética ou da gramática”. Podemos dizer, portanto, que seu conceito refere-se à liberdade que o artista tem de expressar sua criatividade sem prender-se às regras totalmente. Trata-se, portanto, de uma exceção às regras, permitindo que, por meio de “erros propositais”, o autor faça com que suas ideias sejam melhor compreendidas.

Como exemplo, podemos citar Mário Quintana que, em seu poema “Indivisíveis”, escreveu:

“O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.
Crianças…
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal – ou celestial – inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida…”

Na primeira frase do poema, ele escreve “Meu primeiro amor sentávamos…”. É bastante claro para os conhecedores de literatura, que Mário Quintana não cometeria uma gafe como essa na concordância verbal. Temos, portanto, que a ideia do autor nada mais era do que de reforçar a ideia do poema, refletida, inclusive, no título do poema, “indivisíveis”. Refere-se à sua amada como uma parte de si, e a ele como uma parte de seu “primeiro amor”. É um exemplo bastante claro de licença poética, usada ainda em músicas, artigos, propagandas e outros trabalhos.

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Referências

Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – Domingos Paschoal Cegalla

Natália Petrin
Por Natália Petrin

Formada em Publicidade e Propaganda. Atualmente advogada com pós-graduação em Lei Geral de Proteção de Dados e Direito Processual Penal. Mestranda em Criminologia.

Como referenciar este conteúdo

Petrin, Natália. Licença Poética. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/licenca-poetica. Acesso em: 26 de April de 2024.

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