Essa escola literária tem influência direta dos “troubadours provençais”, os trovadores da região de Provença, na França.
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A poesia trovadoresca era uma espécie de poesia cantada, chamada de cantiga, acompanhada por instrumentos musicais, tais quais o alaúde, a citara e a harpa, por exemplo, caracterizando uma tradição oral e coletiva.
É importante lembrarmos que numa época em que a população era majoritariamente analfabeta, a cultura era difundida principalmente pela oralidade, fato que garantiu a popularidade do Trovadorismo.
De modo geral, podemos dizer que o Trovadorismo se tratava de uma reunião de cantigas para serem performadas em celebrações, feiras, assim como também nos castelos durante o apagar das luzes da Idade Média.
Os autores das cantigas eram chamados de trovadores, que eram homens sempre muito cultos ou da nobreza. Inclusive, alguns reis também foram trovadores, como é o caso de D. Afonso X e D. Dinis.
Além do trovador, havia os jograis, que interpretavam e musicavam as cantigas dos trovadores, e o segrel e o menestrel, que se uniam aos jograis tocando instrumentos e interagindo com o público.
Contexto histórico
Os historiadores especialistas no assunto costumam limitar o Trovadorismo entre os anos de 1189 (ou 1198) e 1385, período esse que coincide com a formação de Portugal como reino independente.
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Portanto, para compreendermos melhor o Trovadorismo, devemos compreender certas características desse período histórico que é contemporâneo à dinastia de Borgonha, a primeira dinastia portuguesa.
Devemos ter em mente que o sistema feudal se encontrava em declínio, isto é, as classes sociais tão bem delimitadas no auge do feudalismo agora estavam em decadência e uma nova classe surgia: a burguesia mercantil.
Esses aspectos refletiam na linguagem amorosa de algumas canções trovadorescas assim como o espírito heroico pois, nessa época, o reino de Portugal passava pela reconquista de seu território ocupado pelos árabes.
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Por último, mas não menos importante, devemos lembrar que durante toda a Idade média, a Igreja Católica possuía influência absoluta o que também refletiu em várias cantigas de cunho religioso.
Primeira Época (1189 ou 1198 a 1418)
Considera-se como marco inicial dessa escola literária uma cantiga chamada Cantiga da Ribeirinha (ou Cantiga de Guarvaia) escrita por Paio Soares Taveirós. Sua data é incerta, podendo ser 1189 ou 1198.
Essa cantiga foi feita para Maria Pais Ribeiro (a ribeirinha), uma desejada mulher da corte portuguesa.
Segunda Época (1418 a 1527)
A segunda época é marcada pela transição de temas e de estilo. Pouco a pouco, o Trovadorismo foi dando lugar à Poesia Palaciana, que se afastou do acompanhamento musical e se tornou mais erudita, mais elaborada e, portanto, menos popular.
Esse período é também considerado a transição entre o mundo medieval para o moderno, pois em XVI se inicia o Renascimento e, consequentemente, o humanismo.
Características do Trovadorismo
- Galego-português como língua utilizada;
- Tradição coletiva e oral;
- Reflexo direto do ambiente político e religioso;
- Visão teocêntrica;
- Trovadores eram homens da nobreza;
- Acompanhamento de instrumentos musicais.
Cantigas trovadorescas
Dividimos as cantigas trovadorescas em dois subgêneros: lírico-amoroso e satírico. As cantigas lírico-amorosas são subdividas em “canções de amor” e “canções de amigo”, enquanto as satíricas, são subdivididas em “cantigas de escárnio” e “cantigas de maldizer”.
Cantigas de Amor
A principal característica dessas cantigas é o eu lírico masculino e seu sofrimento por amor. Nelas, o eu lírico se apresenta à dama, humilde e paciente, exaltando a beleza da mulher amada. Leia a seguir um exemplo de cantiga de amor escrita por Dom Dinis.
Preguntar-vos quero, por Deus,
senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom prez,
que pecados forom os meus
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem
..
Pero sempre vos soub’amar
des aquel dia que vos vi,
mais que os meus olhos em mi;
e assi o quis Deus guisar
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
Cantigas de Amigo
Embora sempre cantada por homens, as cantigas de amigo apresentavam eu lírico feminino. Utilizando de uma linguagem mais simples, essas canções narravam histórias de saudade e amor pelo amado que partiu em virtude das lutas de reconquista do território ocupado pelos árabes. Confira abaixo um exemplar das cantigas de amigo por Pai Soares de Taveirós,
Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?
-Vós me preguntades polo voss’amigo,
e eu ben vos digo que é san’e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss’amado,
e eu ben vos digo que é viv’e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san’e vivo
e seerá vosc’ant’o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv’e sano
e seerá vosc’ant’o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
Cantigas de Escárnio e Maldizer
Se os subgêneros anteriores louvam o amor e as boas qualidades, aqui as características são opostas.
As cantigas de escárnio se ocupavam em criticar os costumes sociais e indivíduos, sobretudo com uso de ironia, configurando muitas vezes uma sátira social. Em sequência, veja a seguir exemplos de cantiga de escárnio e de maldizer, ambas da autoria João Garcia de Guilhade.
[..]
Um cavalo nom comeu
há seis meses, nem s’ergeu;
mais proug’a Deus que choveu,
creceu a erva,
e per cabo si paceu,
e já se leva!
..
Seu dono nom lhi buscou
cevada, nen’o ferrou;
mailo bom tempo tornou,
creceu a erva,
e paceu, e arriçou,
e já se leva!
..
Seu dono nom lhi quis dar
cevada, nen’o ferrar;
mais, cabo d’um lamaçal,
creceu a erva,
e paceu, arriçou [ar],
e já se leva!
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv’en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Todas essas cantigas são apenas exemplos, pois os cancioneiros, que reuniram as cantigas trovadorescas posteriormente, possuem mais de mil composições cada um. Os principais cancioneiros de cantigas trovadorescas portuguesas são: Cancioneiro da Vaticana, Cancioneiro da Ajuda e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
Referências
Trovadorismo – Gloria Galli
Trovadorismo – Agostina A. Sasaoka
Por Luana Bernardes
Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela mesma Universidade.
Bernardes, Luana. Trovadorismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/trovadorismo. Acesso em: 05 de October de 2024.
1. [MACKENZIE]
Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo.
(…)
a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres camponesas.
b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura antropocêntrica.
c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis.
d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente.
e) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões estéticos greco-romanos
Resposta: D
As cantigas trovadorescas se inserem no contexto medieval onde a grande maioria das pessoas era analfabeta. Desse modo, a musicalização era um fator que facilitava a memorização das cantigas pelo povo.
2. [MACKENZIE]
Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em Portugal.
a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação entre poesia e a música.
b) Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros.
c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do relacionamento entre o senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e extrema submissão.
d) Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do ponto de vista feminino.
e) A influência dos trovadores provençais é nítida nas cantigas de amor galego-portuguesas.
Resposta: A
No trovadorismo poesia e música não foram separados, ao contrário, o trovadorismo tem por principal característica a musicalização de suas poesias.