Os sertões

"Os sertões", de Euclides da Cunha, descreve a Guerra de Canudos, sendo uma importante fonte histórica e sociológica do espaço e das pessoas que habitavam o local.

Os sertões é uma obra de Euclides da Cunha, publicada em 1902. O autor, que era jornalista, foi enviado aos sertões da Bahia para cobrir a Guerra de Canudos que ocorria no final do século XIX. Assim, seu objetivo era descrever o local, as pessoas e os conflitos que estavam acontecendo.

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Esse livro é considerado uma obra-prima brasileira, sendo já de domínio público. Além de seu valor literário, é, para muitos, o precursor do pensamento sociológico no Brasil. Em 1966, já havia mais de 800 artigos científicos estudando o livro. Consequentemente, ele mantém sua importância até hoje. Conheça mais sobre Os sertões a seguir.

Personagens

  • Antônio Conselheiro: personagem principal, era um líder religioso e um profeta em Canudos.
  • Prudente de Morais: presidente do Brasil, decretou Antônio Conselheiro como um revolucionário contra a República.
  • Tenente Pires Ferreira: comandou a primeira expedição contra Canudos.
  • Coronel Moreira César: comandou a terceira expedição contra Canudos, saindo derrotado.
  • General Artur Oscar: comandou a quarta expedição que resultou no fim da guerra sangrenta.

Organização da obra e resumo

Euclides da Cunha viajou até os sertões da Bahia para cobrir o caso de Canudos. Assim, no caminho, descreveu a paisagem e o cenário que encontrou até chegar no destino. Lá, o autor analisou com bastante atenção as pessoas e os conflitos que existiam. Portanto, o livro é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta.

A Terra

Os capítulos reunidos nessa parte fazem, a princípio, uma descrição física e geográfica do sertão da Bahia. Assim, Euclides da Cunha escreve sobre o clima de dia quente e noite gelada, a seca, bem como a fauna e a flora. Entretanto, estudos mostram que o autor frequentemente relacionou esse espaço com os modos que as pessoas lidavam com ele.

O Homem

Nessa parte, Euclides da Cunha narra as pessoas – jagunços, sertanejos, e principalmente o Antônio Conselheiro, líder da região de Canudos. É nesse ponto que fica mais evidente o determinismo biológico e geográfico do autor. Ou seja, ele explica diversos comportamentos e modos de vida das pessoas em função de sua raça. Além disso, há também uma descrição dos costumes, da religião e dos rituais presentes entre a população.

A Luta

O vilarejo formado em Canudos sob a liderança de Antônio Conselheiro incomodava o governo. O primeiro conflito explícito começou em 1896, quando o juiz de Juazeiro, uma cidade próxima, não encontrou madeiras encomendadas para construir uma igreja em Canudos. Com medo de uma possível invasão, soldados de Juazeiro foram atacar o vilarejo, e foram recebidos com uma emboscada.

No total, quatro expedições militares foram feitas contra a população de Canudos, se estendendo até 1897. Em todas as ocasiões, houve confronto e resistência pelos moradores. O conflito foi sangrento e acabou quando a região foi cercada por soldados, encurralando e dizimando a população. Consequentemente, o caso ficou conhecido como Guerra de Canudos.

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Análise da obra e contexto histórico

  • Narrador: terceira pessoa.
  • Espaço: os sertões da Bahia.
  • Tempo: 1896 a 1897.
  • Foco narrativo: os sertões, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos.
  • Fatores externos: Primeira República jovem, crise e aumento de impostos, ausência de reinserção social após a abolição da escravidão.

O início da Primeira República foi marcado por diversos problemas. A nação que se erguia prometia o progresso e a modernização, mas marginalizava a maioria da população – principalmente, aquela que acabava de ser liberta do sistema escravista.

Nesse cenário, Canudos tornou-se um abrigo para indígenas, sertanejos e pessoas negras que foram anteriormente escravizadas. Assim, formou-se um vilarejo com cerca de 30 mil pessoas que viam ali um espaço possível para sobrevivência.

Entretanto, como esse lugar funcionava sem a regulação do Estado, sua própria existência significava uma ameaça à hegemonia da nação. Ainda, Antônio Conselheiro, um líder religioso, era contra a República por retirar a autoridade da Igreja. Como resultado, diversas expedições militares foram feitas em Canudos com o objetivo de sua destruição.

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Os Sertões não é a única obra a mostrar esses conflitos sociais no momento da instauração da República. Por exemplo, de um modo mais crítico, o Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, mostra as contradições de uma nação que tenta a todo custo ter uma identidade. Todavia, a população majoritária é marginalizada e serve como um símbolo apenas em situações convenientes.

Aprenda mais sobre Os Sertões

Como a obra trata de acontecimentos reais do final do século XIX, ela ganhou bastante notoriedade e importância. Assim, foram feitas adaptações cinematográficas e até histórias em quadrinhos. Conheça mais sobre Os Sertões na lista de vídeos abaixo:

Filme: Guerra de Canudos (1996)

Dirigido por Sérgio Rezende e lançado em 1996, o filme é um dos mais conhecidos baseados na obra de Euclides da Cunha. Portanto, é interessante conferir essa adaptação cinematográfica para estudar a história sob outras plataformas.

Os Sertões em um minuto

Confira esse vídeo produzido pelo próprio Estadão falando sobre a viagem de Euclides da Cunha aos sertões.

Sobre a Guerra de Canudos

Para entender melhor como ocorreu a Guerra de Canudos e seu contexto histórico, confira esse vídeo do Nerdologia. Nele, fica explícita a importância de Euclides da Cunha como uma fonte historiográfica.

Em suma, o livro retrata um episódio da história brasileira que acabou ganhando uma repercussão nacional. Principalmente, a violência e o aspecto sangrento que a batalha acabou tomando revoltaram muitas pessoas e fez com que o governo recebesse diversas críticas.

Sobre o autor

Fotografia de Euclides da Cunha
Euclides da Cunha / Flip

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em 20 de janeiro de 1866, no Rio de Janeiro. Além de engenheiro e historiador, era um jornalista. Portanto, foi essa última profissão que lhe deu a oportunidade de escrever uma de suas obras mais conhecidas: Os Sertões.

No entanto, mesmo enquanto escrevia o livro, Euclides da Cunha continuou exercendo sua carreira como engenheiro. Desse modo, boa parte da obra foi escrita na cidade de São José do Rio Pardo, onde ele era encarregado da construção de uma ponte.

Euclides da Cunha faleceu em 15 de agosto de 1909, no Rio de Janeiro. Antes, em 1906, tomou posse na Academia Brasileira de Letras e escreveu o prefácio de diversos livros. Assim, sua percepção e a atenção aos problemas sociais são reconhecidos até hoje.

Os Sertões é uma obra que marcou a geração por seu caráter realista. A experiência vivida por Euclides da Cunha para escrever o livro inspirou também muitos estudos sociológicos e antropológicos.

Referências

Euclides da Cunha, Os sertões;

Gustavo Martins do Carmo Miranda e Victor Augusto Araújo Silva, Determinismo e relativismo nas obras de Euclides da Cunha e Gilberto Freyre: duas concepções, duas realidades interpretativas acerca da temática racial do Brasil

Maria José de Rezende, Os sertões e os (des)caminhos da mudança social no Brasil

Rodolpho José DelGuerra, Os sertões para principiantes;

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Os sertões. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/os-sertoes. Acesso em: 27 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UFC]

Na manhã do dia seis
Canudos foi destruída
Com bombardeios e incêndios
Não ficou nada com vida
Dizem que o Conselheiro
Tinha morrido primeiro
Na Belo Monte Querida

FRANÇA, A.Q. de; RINARÈ, R. do. Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Fortaleza; Tupynanquim, 2002, p. 32.

Em relação aos movimentos como o de Canudos, é correto afirmar que:

a. foram movimentos que se limitaram às regiões Norte e Nordeste do Brasil, marcadas pela presença dos latifúndios.

b. foram movimentos sem grande repercussão, visto que se situavam no campo e a maior parte dos trabalhadores do país encontrava-se nas cidades.

c. no campo o domínio dos coronéis era absoluto, e esses movimentos sociais tiveram que se disfarçar como um movimento de conteúdo religioso, para evitar a repressão.

d. foram movimentos nos quais se combinavam conteúdos religioso e social, pois questionavam o poder das autoridades civis e religiosas.

e. foram movimentos de conteúdo exclusivamente religioso, marcados pelo fanatismo, reprimidos por Pedro II e pelos republicanos que se esforçavam para construir um país civilizado.

Resposta: d

Justificativa: na Guerra de Canudos, havia uma contestação das condições sociais de miséria e marginalidade a que eram deixadas as populações que viviam no local. Esse movimento era organizado em torno de uma figura religiosa – o Antônio Conselheiro.

2. [FUVEST]

Não é por acaso que as autoridades brasileiras recebem os aplausos unânimes das autoridades internacionais das grandes potências, pela energia implacável e eficaz de sua política saneadora […]. O mesmo se dá com a repressão dos movimentos populares de Canudos e do Contestado, que, no contexto rural, […] significam praticamente o mesmo que a Revolta da Vacina no contexto urbano.
Nicolau Sevcenko. A Revolta da Vacina.

De acordo com o texto, a Revolta da Vacina, o movimento de Canudos e o do Contestado foram vistos internacionalmente como:

a. provocados pelo êxodo maciço de populações saídas do campo rumo às cidades logo após a abolição.

b. retrógados, pois dificultavam a modernização do país.

c. decorrentes da política sanitarista de Oswaldo Cruz.

d. indícios de que a escravidão e o Império chegavam ao fim para dar lugar ao trabalho livre e à República.

e. conservadores, porque ameaçavam o capital norte-americano no Brasil.

Resposta: b

Justificativa: a reivindicação da população de Canudos foi vista como algo retrógrado, já que iam contra a República que estava sendo instaurada. Nesse momento, um governo republicano era o símbolo de modernidade e desenvolvimento.

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