Eduardo Galeano

Eduardo Galeano foi um dos grandes escritores latino-americanos, tendo sido importantíssimo para o contexto do continente no século XX.

Eduardo Hugles Galeano, ou apenas Eduardo Galeano, foi um escritor nascido na capital uruguaia de Montevidéu, no dia 3 de setembro de 1940. Em sua juventude, já aos 14 anos de idade, vendeu uma charge política para o jornal “El Sol”, pertencente ao Partido Socialista Uruguaio.

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Além de escritor, também foi pintor de letreiros na capital uruguaia, caixa de banco e datilógrafo. Uma curiosidade interessante sobre Eduardo Galeano é que, apesar de ter dado um passo importante aos 14 anos publicando em um jornal, ele se consolidaria como jornalista apenas na década de 1960.

Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.

No período em que se firmou como jornalista, chegou ao cargo de chefe de redação de um jornal semanal. Durante esse momento orquestrou diversos nomes atualmente consagrados no jornalismo, além de também ser editor, posteriormente, do jornal Época.

eduardo galeano
(Imagem: Reprodução)

Eduardo Galeano durante regime militar uruguaio

Após instauração do regime militar no país, vigente nos anos 1970, Galeano foi perseguido. A repressão do governo se deu, sobretudo, pelo livro “As veias abertas da América Latina”, de 1971, considerada uma obra-referência da esquerda política latina.

No livro, o autor faz uma análise da América Latina desde o colonialismo espanhol até o século XX. No ano de 1973, Eduardo Galeano acabou preso pelo regime, e, logo em seguida, foi exilado para a Argentina.

Três anos mais tarde, Galeano vai para a Espanha, devido à violência decorrente da ditadura instaurada na Argentina. Em 1985, ainda na Espanha, lança o livro “Memória do Fogo”, retornando ao Uruguai no mesmo ano.

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Já no século XXI, em 2006, ganha o Prêmio Internacional de Direitos Humanos por meio de uma instituição humanitária, a Global Exchange. Eduardo Galeano acaba morrendo em Montevidéu, no dia 13 de abril de 2015.

Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.

Características do autor

  • Linguagem analítica e narrativa ao mesmo tempo;
  • Incorpora diversos gêneros literários em uma mesma obra;
  • A obra inicia com narrativa, apresenta um caráter ensaísta e passeia entre poesia e crônica;
  • Em 2014, Galeano declarou não se identificar mais com sua obra perseguida durante a ditadura;

Principais obras

  • As veias abertas da América Latina;
  • Dias e Noites de Amor;
  • Memórias do Fogo;
  • Mulheres;
  • O Livro dos Abraços;
  • Guerra de Pernas pro Ar;

Obra: Os ninguéns

As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

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Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

Referências

Eduardo Galeano muda de ideia sobre ‘As Veias Abertas da América Latina’ – Folha SP apud The New York Times.

Mateus Bunde
Por Mateus Bunde

Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Especialista em Linguagens pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul) e Mestrando em Comunicação pela Universidade do Porto, de Portugal (UP/PT).

Como referenciar este conteúdo

Bunde, Mateus. Eduardo Galeano. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/eduardo-galeano. Acesso em: 26 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UFRGS]

Milton Friedman aprendeu a explorar os choques e crises de grande porte em meados da década de 1970, quando atuou como conselheiro do ditador chileno, o general Augusto Pinochet. Enquanto os chilenos se encontravam em estado de choque logo após o violento golpe de Estado, o país sofria o trauma de uma severa hiperinflação. Friedman aconselhou Pinochet a impor uma reforma econômica bastante rápida – corte de impostos, livre-comércio, serviços privatizados, corte nos gastos sociais e desregulamentação. (…). Foi a estratégia mais extrema de apropriação capitalista jamais tentada em qualquer lugar, e ficou conhecida como a “revolução da Escola de Chicago”(…).

KLEIN, Naomi. A Doutrina de Choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 17.

O segmento faz menção à política econômica imposta pela ditadura de Augusto Pinochet no Chile (1973-1990), sob a orientação dos economistas da chamada “Escola de Chicago”, entre eles Milton Friedman.

Assinale a alternativa que indica essa política e suas características.

a) Adoção de uma política econômica socialista de democratização da renda nacional, com a realização de reformas, como a agrária e a bancária, e o aumento de salários para os trabalhadores.

b) Implementação de uma política econômica neoliberal de transferência de serviços públicos a empresas privadas, de contração da renda dos trabalhadores e de abertura econômica ao capital financeiro internacional.

c) Favorecimento a um programa econômico de reforço do capital industrial nacional e de conciliação entre os interesses de grupos empresariais, proprietários rurais e trabalhadores do campo e da cidade.

d) Incentivo a uma política nacionalista de substituição de importações no setor industrial, com a reestatização de diversas empresas que haviam sido privatizadas na década anterior.

e) Aplicação de medidas liberais em diversas áreas da vida econômica do país, com a manutenção das proteções e reformas sociais implementadas pelos governos anteriores.

Resposta: B

2. [FGV]

É a América Latina, as regiões das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital estrangeiro e como tal acumula-se até hoje. A causa nacional latino-americana é, antes de tudo, uma causa social.

(Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina, 1978, p. 14 e 281. Adaptado)

A partir do texto, é correto afirmar que

a) a luta na América pela ruptura do domínio espanhol manteve o poder econômico dos criollos, somado ao poder político que preservou a estrutura colonial, inclusive a escravidão, e garantiu o livre comércio aos britânicos, enquanto a maioria desapropriada, que lutou pela terra, continuou pobre e excluída, submetida à elite, dominante internamente e dominada externamente.

b) o processo de independência da América Latina transformou a estrutura colonial, na medida em que a elite criolla aboliu a escravidão e promoveu a reforma agrária, diminuindo as distâncias sociais, ou seja, elaborou um projeto social próprio, o que afastou os interesses britânicos, estimulou os investimentos nacionais e fez o Estado assumir sua própria identidade latino-americana.

c) o movimento de emancipação latino-americano restringiu-se aos aspectos culturais, ou seja, não ocorreu a descolonização, pois a estrutura colonial permaneceu, exceção à escravidão, obstáculo ao avanço do liberalismo, abolida pelos criollos para garantir o consumo dos produtos franceses, já que o projeto político dos proprietários estava em sintonia com os interesses externos capitalistas.

d) a ruptura latino-americana com a metrópole espanhola foi revolucionária, na medida em que as classes dominantes locais, os criollos, perderam o poder que tinham na estrutura colonial, graças à luta social dos não-proprietários que promoveram a descolonização e implantaram um projeto político identificado com os interesses populares, como o fim da escravidão, a reforma agrária e o voto universal.

e) o movimento de quebra dos laços coloniais ocorreu de forma violenta, no qual a maioria não-proprietária teve papel decisivo, transformando a luta em uma causa social, destruindo a estrutura colonial e construindo um projeto político que atendeu tanto aos interesses dos criollos como aos dos ingleses, isto é, fornecer produtos para o mercado externo e consumir os produtos industrializados.

Resposta: A

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