Cartas Chilenas

As Cartas Chilenas formam um poema satírico que narrou de forma irônica o governo corrupto de Minas Gerais no final do século XVIII.

As Cartas Chilenas, constituem uma espécie de “romance epistolar” em versos onde Critilo, pseudônimo de Tomás Antonio Gonzaga, descreve ao amigo Doroteu a corrupção, crueldade e os desmandos existentes na fictícia capitania de Chile.

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As cartas, que ao todo são treze, narram na verdade o governo de d. Luís da Cunha Meneses, governador da capitania de Minas Gerais de 1783 a 1788.

O inconfidente Tomás Antônio Gonzaga escreve comentários satíricos e mordazes contra o governo daquele que em seu texto nomeia “Fanfarrão Minésio” e, por intermédio da ironia, descreve e critica os mandos e desmandos ocorridos nas Minas Gerais durante o final do século XVIII.

Cartas Chilenas
Imagem: Reprodução

Análise e crítica sobre as Cartas Chilenas

Cartas Chilenas tem características árcades: Essas cartas foram escritas em 13 cartas de forma poética em versos decassílabos sem rima – sendo a sétima carta e a décima terceira, inacabadas.

Acredita-se que o autor tenha adotado o pseudônimo de “Critilo” pois o que o que escrevia era considerado crime e poderia condená-lo à morte.

Gonzaga queria criticar a forte exploração de ouro e diamantes em Vila Rica, sobretudo os juros cobrados em cima de cada riqueza.

Com a entrada de Luís Meneses no governo, a corrupção aumentou significativamente bem como a crueldade do governador passou a ser conhecida por todos.

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O governador desrespeitava as decisões da Justiça, vendia cargos, títulos, escravizava pessoas, castigava-as até a morte, aumentou exageradamente a tropa e usou a força militar para a cobrança da taxa dos dízimos etc.

A primeira carta trata da chegada do Fanfarrão Minésio ao Chile e mostra sua postura prepotente e soberba.

A partir daí, Tomás Gonzaga começa a narrar os episódios decorrentes do governo do Fanfarrão, suas ilegalidades e corrupção.

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É interessante notar que iodos esses acontecimentos são narrados de maneira bem óbvia para que o leitor da época soubesse exatamente do que se tratava apesar das trocas de nomes.

Trecho da Primeira Carta abaixo:

“CARTA lª Em que se descreve a entrada que fez
Fanfarrão em Chile.

Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
5 – Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha
Acorda, se ouvir queres coisas raras.
“Que coisas, ( tu dirás ), que coisas podes
Contar que valham tanto, quanto vale
10 – Dormir a noite fria em mole cama,
Quando salta a saraiva nos telhados
E quando o sudoeste e outros ventos
Movem dos troncos os frondosos ramos?”
É doce esse descanso, não te nego.
15 – Também, prezado amigo, também gosto
De estar amadornado, mal ouvindo
Das águas despenhadas brando estrondo,
E vendo, ao mesmo tempo, as vãs quimeras…”

A sátira dá o tom da obra, o narrador também, durante a narrativa, refere-se ora a Doroteu (seu destinatário amigo), ora ao Fanfarrão e outras personagens, invocando-os com suas perguntas e exigindo respostas.

Dessa forma, com Cartas Chilenas, Gonzaga ultrapassa a crítica ao governo de Fanfarrão para o autoritarismo colonial em si, fazendo com que a obra ganhe a importância e o prestígio que tem até hoje.

Referências

Cartas Chilenas: Texto integral com comentários – Tomás Antônio Gonzaga
Os (des)mandos do Fanfarrão: Uma análise histórico-literária da administração nas Minas Gerais Setencentistas – Luciana de Campos

Luana Bernardes
Por Luana Bernardes

Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela mesma Universidade.

Como referenciar este conteúdo

Bernardes, Luana. Cartas Chilenas. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/cartas-chilenas. Acesso em: 25 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ITA]

Uma das afirmações abaixo é incorreta. Assinale-a:

a) O escritor árcade reaproveita os seres criados pela mitologia greco-romana, deuses e entidades pagãs. Mas esses mesmos deuses convivem com outros seres do mundo cristão.

b) A produção literária do Arcadismo brasileiro constitui-se sobretudo de poesia, que pode ser lírico-amorosa, épica e satírica.

c) O árcade recusa o jogo de palavras e as complicadas construções da linguagem barroca, preferindo a clareza, a ordem lógica na escrita.

d) O poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão, tem como assunto o descobrimento da Bahia, levado a efeito por Diogo Álvares Correia, misto de missionários e colonos português.

e) A morte de Moema, índia que se deixa picar por uma serpente, como prova de fidelidade e amor ao índio Cacambo, é trecho mais conhecido da obra O Uruguai, de Basílio da Gama.

Resposta: B
As características descritas na alternativa fazem referência ao Parnasianismo

2. [UFSCAR]

Texto 1

Eu quero uma casa no campo

do tamanho ideal

pau-a-pique e sapê

Onde eu possa plantar meus amigos

meus discos

meus livros

e nada mais

(Zé Rodrix e Tavito)

Texto 2

Se o bem desta choupana pode tanto,

Que chega a ter mais preço, e mais valia,

Que da cidade o lisonjeiro encanto;

Aqui descanse a louca fantasia;

E o que té agora se tornava em pranto,

Se converta em afetos de alegria.

(Cláudio Manuel da Costa)

Embora muito distantes entre si na linha do tempo, os textos aproximam-se, pois o ideal que defendem é

a) o uso da emoção em detrimento da razão, pois esta retira do homem seus melhores sentimentos.

b) o desejo de enriquecer no campo, aproveitando as riquezas naturais.

c) a dedicação à produção poética junto à natureza, fonte de inspiração dos poetas.

d) o aproveitamento do dia presente – o carpe diem-, pois o tempo passa rapidamente.

e) o sonho de uma vida mais simples e natural, distante dos centros urbanos.

Resposta: A
O Arcadismo propõe uma literatura compromissada com a simplicidade. Nesse sentido, os escritores valorizaram quatro palavras: clareza, razão, verdade e natureza.

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