Milagre econômico

O Milagre Econômico trouxe significativos crescimentos para o Brasil em um período de dificuldade, entretanto, deixou marcas como a desigualdade social e a dívida externa elevada.

O período de crescimento econômico elevado durante o período da Ditadura Militar no Brasil, ficou conhecido como Milagre Econômico, ou ainda como “anos de chumbo”. A taxa de crescimento do PIB brasileiro pulou de 9,8% a.a. em 1968 para 14% a.a. em 1973, enquanto a inflação passou de 19,46% em 1968 para 34,55% em 1974. Apesar de ficar conhecido como Milagre Econômico, o período aumentou a concentração de renda e a desigualdade no país.

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Placa faz propaganda do 'Milagre Econômico'. Foto: Reprodução
Placa faz propaganda do ‘Milagre Econômico’. Foto: Reprodução

Durante esse período ficou bastante comum a ideia de que o Brasil poderia ser uma potência, o que esteve em evidência com a conquista da Terceira Copa do Mundo no ano de 1970 no México, período em que foi criada a famosa frase mote “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Nesse período, a alta na bolsa ao final dos anos 1960, acabou trazendo uma sensação de euforia generalizada que acabou sendo incentivada por algumas canções, como o caso de “Pra Frente Brasil”. O período foi o que mais trouxe crescimento econômico para o Brasil desde a Proclamação da República, segundo o professor da UERJ e economista Reinaldo Gonçalves, mas também foi um grande paradoxo para a História do Brasil, segundo Elio Gaspari, autor da obra “A Ditadura Escancarada”. Para ele, “O milagre Brasileiro e os Anos de Chumbo foram simultâneos. Ambos reais, coexistiam negando-se. Passados mais de trinta anos, continuam negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve o outro”.

O milagre econômico do início ao fim

Durante o governo de Juscelino Kubitschek, entre os anos de 1956 e1961, o país teve um período de grande crescimento econômico que esteve baseado no Plano de Metas, cujos objetivos envolviam dar conta de 50 anos de progresso em apenas 5. Kubitschek defendia o ideal desenvolvimentista, que assentava-se na política de substituição de importações sob a inspiração da CEPAL trazendo, além de outras coisas, a criação da cidade de Brasília. A forte pressão inflacionária, entretanto, começou a ser sentida no Brasil ao final do Governo, o que ficou agravado com a renúncia de Jânio Quadros e com os impasses institucionais que marcaram o governo de João Goulart, entre os anos de 1961 e 1964. Os déficits do governo subiram em uma proporção absurda, o que fez com que houvesse uma intensa inflação de demanda.

Em abril de 1964 houve o Golpe Militar que foi seguido do governo de Castelo Branco, em que foi criado o PAEG, Programa de Ação Econômica do Governo, objetivando principalmente formular as políticas conjunturais de combate à inflação que fossem associadas às reformas estruturais para permitir o equacionamento dos problemas inflacionários. Era necessário, entretanto, um segundo passo, que era a expansão da indústria de base para evitar que o aumento da produção de bens industrial de consumo final acabasse provocando um aumento insustentável de insumos básicos por parte dos brasileiros.

Depois do período de ajuste, entre março de 1964 até o final de 1967, houve a reorganização do sistema financeiro do Brasil, assim como a recuperação da capacidade fiscal do Estado e uma estabilidade monetária, dando início, em 1968, a um período de grande expansão econômica no país. Em análises posteriores, o crescimento do PIB brasileiro, assim como a oscilação da inflação, foi justificado com os investimentos concentrados em mercados novos de atuação. O resultado do que ficou conhecido como “Milagre Econômico”, foi o aumento considerável na renda da classe média brasileira, enquanto havia um aumento significativo no abismo social do Brasil, deixando um aumento na desigualdade social e uma dívida externa absurdamente grande, heranças que deixam rastros até os dias atuais na história econômica do Brasil.

O “milagre econômico” começou a entrar em decadência no ano de 1974 quando houve uma crise mundial que foi provocada pelo aumento elevado do petróleo no mercado mundial, afetando diretamente a economia brasileira em decorrência do aumento ainda maior da inflação. O Brasil ficou com um déficit elevado em decorrência da importação de petróleo com os preços altos, e os investimentos externos e internos acabaram tendo uma queda significativa, causando prejuízo em empresas nacionais que eram voltadas ao mercado nacional.

Aspectos positivos e negativos para o Brasil

Houve um grande crescimento do PIB, entre 7% e 13% ao ano, além de melhorias significativas na infraestrutura do país e um aumento no nível de empregos, que foram proporcionados principalmente pelos investimentos na infraestrutura e na indústria do Brasil. Além disso, houve um grande desenvolvimento industrial que acabou trazendo investimentos nos setores de siderurgia, geração de eletricidade e indústria petroquímica.

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Entretanto, a inflação estava bastante elevada, ficando entre 15% e 20% ao ano, assim como houve um significativo aumento da dívida externa, já que o desenvolvimento econômico foi bancado principalmente com os empréstimos feitos no exterior. A dívida acabou trazendo danos para o Brasil nos anos seguintes, gerando uma dependência aos credores e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), comprometendo ainda o orçamento que deveria ser direcionado ao pagamento de juros dessa dívida. Não houve também a distribuição de renda, o que acabou aumentando as desigualdades sociais no país com o aumento da quantidade de dinheiro concentrada nas mãos dos mais ricos.

Referências

Determinantes do milagre econômico brasileiro (1968 – 1973): uma análise empírica – FA Veloso, A Villela, F Giambiagi

Reformas, endividamento externo e o milagre econômico (1964 – 1973) – J Hermann

Natália Petrin
Por Natália Petrin

Formada em Publicidade e Propaganda. Atualmente advogada com pós-graduação em Lei Geral de Proteção de Dados e Direito Processual Penal. Mestranda em Criminologia.

Como referenciar este conteúdo

Petrin, Natália. Milagre econômico. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/milagre-economico. Acesso em: 09 de May de 2024.

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01. [UDESC] Assinale a alternativa correta sobre a expressão “Milagre Econômico”.

a) Remete a um período em que houve de fato crescimento econômico no país, mas o preço foi elevado: inflação, endividamento ao FMI e redução drástica das liberdades individuais.
b) Remete a um período em que o crescimento econômico ocorreu junto com o avanço de projetos sociais criados pelo Estado Brasileiro preocupado em “dividir melhor o bolo”.
c) Remete especificamente à década de 1980, a de maior crescimento econômico do país.
d) O Milagre foi, na realidade, uma grande revolução social tomada como meta de campanha pelos governos militares.
e) A luta armada é uma forte expressão da política do “Milagre Econômico”.

02. [Unesp] Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, a economia brasileira obteve altos índices de crescimento. O fenômeno se tornou conhecido como milagre econômico e derivou da aplicação de uma política que provocou, entre outros efeitos,
a) êxodo rural e incremento no setor ferroviário.
b) crescimento imediato dos níveis salariais e das taxas de inflação.
c) aumento do endividamento externo e da concentração de renda.
d) estatização do aparato industrial e do setor energético.
e) crise energética e novos investimentos em pesquisas tecnológicas.

01. [A]
02. [C]

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