Alfred Hitchcock é conhecido como “mestre do suspense”, justamente por marcar a História do Cinema com as suas criações, esse diretor. Sua vida, sua obra e suas produções cinematográfica sempre foram uma curiosidade inerente ao público. Então, confira alguns detalhes sobre cada um desses aspectos nessa matéria.
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Biografia
Nascido em Londres, no dia 13 de agosto de 1899, Alfred Joseph Hitchcock era filho único de William e Ema Hitchcock. Seu pai sempre esteve mais presente em suas falas, ao contrário de sua mãe, de modo que se sabe mais detalhes sobre ele do que sobre ela. William era um vendedor de hortaliças, possuía um perfil rígido e desempenhava uma educação severa. Com isso, as escolhas dos colégios na infância de Alfred também seguiam essa doutrina, passando primeiro por um convento e depois para um colégio jesuíta. Pelas declarações do próprio cineasta (que foram muitas, já que Hitchcock era bastante aberto a entrevistas, apesar de não muito sociável), a punição foi algo recorrente em sua vida, o que o fez ver as instituições (religiosas, políticas, policiais etc.) com um temor quase traumático.
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Hitchcock cresceu dentro desse contexto e chegou à vida adulta como uma pessoa excêntrica, sabendo pouco sobre situações corriqueiras do ser humano. De acordo com Ruy Castro (2002, p. 158), o diretor não tinha conhecimentos básicos sobre sexo, sobre mulheres ou qualquer outro tipo de relação mais íntima. O pesquisador atesta que o cineasta “nunca ouvira falar em menstruação. Quando lhe explicaram, caiu das nuvens. Também não sabia de onde vinham os bebês, nunca beijara uma mulher e era o único virgem no jardim dos prazeres”.
O artista confessava que a sua libido era destinada à comida. Tanto que, mesmo sabendo que precisava de uma dieta, por ter 1,65m e 136kg (CASTRO, 2002), dizia que restrição alimentar era a coisa mais odiosa de sua vida. Ainda assim, muito sem tato e sem saber lidar com relações, forçava, à sua maneira, algum tipo de intimidade com algumas mulheres, com clara preferência pelas loiras. A montadora Alma Reville acabou casando-se com o diretor em 1920, e tiveram uma filha, Patrícia. Depois, ele e sua esposa chegavam a aderir a uma greve de sexo em seu relacionamento. Hitchcock tinha relações extraconjugais, sem receio algum de descobertas e Alma mantinha-se esposada.
É notável que Alfred Hitchcock jogou para seus filmes situações de embate do contexto em que foi criado. Os impulsos sexuais, retraídos no puritanismo e perfeccionismo nos quais foi criado, lançam-se livremente em seus filmes. Ou pautas como a sexualidade tendem a aparecer em suas obras, longe de serem negativas. Em 1938, com o filme “A Dama oculta”, Hitchcock lança dois personagens gays, que formam um casal coadjuvante na trama. A homossexualidade, no enredo, é tratada de forma positiva e sem estereótipos, fazendo com que esse detalhe discorra com naturalidade. Em “Rebecca, a Mulher Inesquecível”, de 1940 e ganhador do Oscar, a governanta tem uma certa paixão pela protagonista de modo implícito. Já em “Festim Diabólico”, de 1948, é explícito que o desejo de Hitchcock em tornar visível e natural a homossexualidade em seus enredos, contrariando a sua formação conservadora.
No mundo cinematográfico, Hitchcock ficou conhecido por passar de designer de intertítulos e diretor de arte a diretor. Já no seu segundo filme, “O inquilino” (1927), alcançou sucesso de crítica e público. No Oscar, recebeu cinco indicações como diretor e uma como produtor. Nunca venceu. Em 1968, recebeu o prêmio Irving Thalberg pela sua carreira.
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Os segredos do mestre
Certamente, Alfred Hitchcock não seria reconhecido se não fosse um diretor com uma assinatura artística, ou seja, características próprias que o fazem relevante na história do cinema. Veja a seguir algumas delas:
- Suspense: o diretor é o responsável pela divulgação desse gênero. O mestre compreendeu bem o que faz o espectador se manter apreensivo, criando situações de tensão e intriga, como uma bomba prestes a explodir na mão de quem assiste. Ainda que muita coisa tenha apenas alcançado o público daquela época, até hoje muitos de seus enredos têm efeitos tensos e surpreendentes.
- Voyeurismo: o trabalho de câmeras do diretor fazia com que o espectador se sentisse dentro do filme como pleno observador. Em “Janela Indiscreta” (1954), o voyeurismo é evidente, por ser simplesmente um homem olhando pela janela a rotina da vida de várias pessoas, em especial a de um homem. Em “Vertigo: um corpo que cai” (1958), aspectos do voyeur são presentes, pois Scottie não assume apenas o olhar de detetive sobre o marido de Madeleine, “mas o olhar de voyeur que vê nela um objeto de desejo em potencial. Assim, o autor faz uma reflexão entre nós espectadores que vão ao cinema não apenas para ver a cena que está diante dos nossos olhos, mas satisfazer a demanda pulsional do nosso olhar” (GOIS, 2012, p. 12).
- Espectador onisciente: em “Janela Indiscreta” (1954), a trama se desenvolve com Jefferies desconfiando que seu vizinho matou a esposa. Vigia-o dia e noite almejando a certeza desse ocorrido. Porém, há um momento chave em que o suposto assassino saiu de sua casa, em uma madrugada chuvosa, com uma mala na mão, enfraquecendo a hipótese de ele ser o criminoso. Porém, só o espectador vê esse momento. Jeff dorme e não observa. Nesse contexto, percebe-se a onisciência do espectador que sabe mais do que o herói da trama. Outro exemplo semelhante ocorre em “Festim diabólico” (1948), pois somente os assassinos e quem assiste sabem que há um corpo escondido no apartamento, local em que acontece uma festa com várias outras pessoas. Enredos que giram em torno de um crime estão presentes na grande maioria das obras de Hitchcock, pois assim o espectador permanece com noção do todo do enredo.
- Mais imagens, menos diálogos: Hitchcock defende a concepção do “cinema puro”, tendo a imagem como maior informante da história. Mais do que as palavras, os diálogos e atuações, a câmera, o cenário, os objetos em cena e a fotografia iriam sempre dizer mais do que qualquer outra coisa. Em “Um corpo que cai” (1958), essa linguagem é extremamente apurada.
- Personagens ambíguos: o cineasta não fixava suas personagens nem como inteiramente boas, nem como completamente más. Os vilões tinham seus encantos, assim como as vítimas os seus traços antipáticos. Essa estrutura tornava toda a narrativa incerta, deixando o espectador intrigado e desconfiado.
- Som e música: o diretor trabalhou na época do cinema mudo e não pareceu contestar a chegada do som, como muitos outros diretores. Em “Festim diabólico” (1948), Hitchcock usa do som ambiente (ou som diegético) para criar tensão, com o barulho de um metrônomo, em diálogo tenso entre dois personagens em um momento crucial da trama. Quanto à música, a composição de Psicose (1960) é uma das obras-primas da história da trilha sonora no cinema. Som e música eram mais um dos artifícios para alcançar a tensão almejada em suas obras. O diretor optou por inserir músicas em 34 cenas do filme.
Essas são as características que aparecem de modo mais comum em suas obras, ainda que outras remetam ao cineasta e não apareça com tanta frequência na em seus filmes. E se você gostou de conhecer um pouco mais sobre as marcas do cinema de Hitchcock, que tal conferir isso assistindo alguns filmes?
10 filmes de Hitchcock: tente escolher o melhor e falhe miseravelmente
Até 1960, Hitchcock era um dos poucos diretores que já possuía 4 filmes dentre os melhores de todos os tempos. Quais seriam eles? Encontre-os a seguir:
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Janela Indiscreta (1954)
Jeff costuma espiar os vizinhos através da janela de seu apartamento. Foi dessa forma que o personagem passou a desconfiar que um homem matou a esposa e escondeu o corpo. Com a ajuda de sua noiva, Lisa, Jeff vai tentar provar a todo custo que está certo. O filme lista entre os melhores de todos os tempos, nas mais importantes revistas e sites sobre cinema. Além disso, o longa está disponível no streaming Oldflix, e para aluguel pela Amazon e AppleTv.
Psicose (1960)
Depois de furtar milhares dólares na imobiliária onde trabalha, Marion foge e acaba tendo que passar a noite em um motel na beira da estrada, mas cruzará seu caminho com alguém que comete crimes piores que o dela. A obra é considerada por muitos críticos a maior do diretor. Também lista entre os melhores filmes já feitos e está disponível no Telecine e GloboPlay.
Um corpo que cai (1958)
Depois de aposentado, Scott é contratado por Gavin Elster para vigiar sua mulher, que possui tendências suicidas e supostamente tem várias personalidades. Só que tudo se complica quando a situação se mostra infinitamente mais complexa do que parecia ser à primeira vista. O envolvimento entre essas pessoas sai do campo do profissional e se tornam íntimas, tornando-se tudo imprevisível. Esta é outra obra que fica entre as melhores da história do cinema e encontra-se disponível na Neet Now.
Os pássaros (1963)
O terror é instaurado em Bodega Bay, quando pássaros passam a ser predadores e começam a atacar a população da cidade. Sem saber, Melanie vai até a cidade para encontrar com um homem a qual ela tinha interesse amoroso. A fúria dos pássaros é uma boa metáfora visual, que entra de maneira simbólica para falar sobre amor e violência. Disponível na GloboPlay, Telecine e Neet Now.
Intriga internacional (1959)
Confundido com um agente do governo, Roger é perseguido por uma gangue de espiões. Não basta apenas tentar dizer que é um engano, o publicitário tem de fugir desse grupo antes que o pior aconteça. Esse é mais um dos quatro longas que figuram dentre os melhores filmes de todos os tempos. Disponível na HBO Max.
Festim Diabólico (1948)
Um assassinato ocorre logo na primeira cena do filme. O corpo é escondido dentro de um baú, que servirá como mesa para um banquete de uma festa. Duas pessoas cometeram o crime: uma sádica, que se delicia com a brincadeira de ter um morto escondido ao centro da sala. O outro, um medroso, cheio de ansiedade com medo de que descubram o crime. Algum convidado perceberá algo errado? Além de uma história intrigante, este filme foi feito para dar a impressão de que nenhum corte foi feito, como um plano-sequência de quase duas horas. Assisti-lo é ter uma experiência cinematográfica ímpar. Disponível no Belas Artes A la carte.
Disque M para matar (1954)
Para ficar com todo o dinheiro da mulher, um homem chantageia um amigo para matá-la, fazendo todos pensarem que foi resultado de um assalto. Porém, o plano não sai como esperado e o rapaz parte para um plano B. Será que a mulher escapa? Apesar de lançado no mesmo ano que Janela Indiscreta, este filme agradou a crítica e o público e é um dos mais relembrados hoje em dia. Disponível na HBO Max.
Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940)
Uma jovem mulher, de classe média baixa, casa-se com um homem muito rico. Ao mudar para a mansão do marido, vê que há muitas lembranças da ex-mulher do rapaz, tanto por parte dele, quanto por parte dos trabalhadores da casa. Mas, a mulher começa a se surpreender conforme passa a conhecer o passado do atual cônjuge. O longa foi indicado a 11 Oscars e levou o prêmio de melhor filme. Disponível no Looke e na Neet Now.
Interlúdio (1946)
Uma mulher se casa com um espião nazista e se apaixona por um agente americano, que combate o nazismo. Então, ela é convidada a ajudar o governo americano a identificar nazistas no Rio de Janeiro. Com essas relações complicadas, fica difícil não imaginar a tensão que é essa história. O filme encontra-se disponível na Amazon Prime e gratuitamente no YouTube.
O Inquilino (1927)
Filme da era muda, que marca a estreia de Hitchcock na direção. O longa também é considerado o primeiro exemplar do suspense e o modelo que viria a ser seguido nos filmes de serial killer. Em seu enredo, trata-se de mortes em séries que passam a acontecer, sendo que todas as vítimas eram mulheres loiras. Um policial prende um suspeito, por vê-lo flertando com a sua filha e assim tenta incriminá-lo pelos assassinatos em série.
Até mesmo os filmes considerados os mais fracos do diretor, possuem ao menos premissas interessantes que não fazem ser um desperdício de tempo. Assim, assista aos filmes e encontre as características marcantes do cinema de Hitchcock.
Videoaulas sobre o Hitchcock
Alfred Hitchcock é um dos cineastas mais estudados do mundo. Não é possível sequer precisar a quantidade de livros que se tem sobre ele. Sabe-se que ele supera Proust, nos livros de pesquisadores. Então, há muito o que saber sobre o diretor. Confira mais nos vídeos a seguir.
50 fatos sobre Hitchcock
Você já sabe que o diretor tem uma história muito excêntrica e polêmica, não é mesmo? Por este motivo, assista ao vídeo e confira outras curiosidades que comprovam a formação de uma mente brilhante.
Uma entrevista: Hitchcock por ele mesmo
Como visto, Hitchcock até que tinha paciência para dar entrevistas. Dessa forma, assista uma das entrevistas mais famosas do diretor para o renomado François Truffaut, jovem diretor da Nouvelle Vague francesa. Confira aqui as visões do artista por ele mesmo.
O humor ácido de Hitchcock
Em meio a tantas transgressões, violência e tensão, há também o humor bem peculiar que exala do diretor. Confira nesse vídeo a forma como ele utiliza o recurso do humor em suas obras.
Esse excêntrico diretor trabalhou tanto na era muda do cinema, quanto na sonora. Aproveite para ver o texto sobre Cinema Mudo para conhecer a história desse momento da linguagem cinematográfica.
Referências
Saudade do século 20 (2012) – Ruy Castro.
Cinema e Voyeurismo em Hitchcock:Do Olhar à Apropriação do Desejo (On-line) – https://www.revistas.usp.br/anagrama/article/view/35614/38333. Acesso em: 20 de junho. de 2022.
Janela Indiscreta (On-line) – https://www.cineplayers.com/filmes/janela-indiscreta. Acesso em: 20 de junho. de 2022.
Por Alyson Santos
Professor, mestre em Letras, especialista em Cinema e Linguagem Audiovisual e História do Cinema.
Santos, Alyson. Alfred Hitchcock. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/artes/alfred-hitchcock. Acesso em: 13 de December de 2024.