Exôdo Rural

A mudança de grande parte da população rural para as cidades em busca de melhores condições de vida foi tão acelerada que culminou em diversos pontos negativos.

1. Industrialização brasileira

No Brasil, durante o século XX, houve um profundo processo de reestruturação do espaço geográfico, motivado pelas mudanças no âmbito das relações econômicas.

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“A indústria, com forte concentração no Sudeste, ganhou o comando da economia e passou a articular as diversas regiões produtivas às suas necessidades, tornando-se responsável pelos novos grandes fluxos migratórios inter-regionais no Brasil.” (SILVA, 2013, p. 166)

A industrialização brasileira levou muitas pessoas às regiões industrializadas em busca de melhores condições de vida, muito embora os trabalhos nas indústrias se mostrassem degradantes, havia um maior acesso à infraestrutura e aos serviços básicos. Neste contexto, com a modernização das atividades agrícolas, há uma intensificação no fluxo de pessoas do campo em direção às cidades. O uso de maquinários na agricultura expulsou as pessoas de suas terras, pois havia uma pressão dos proprietários de grandes áreas, os quais visavam obter mais domínio de terras. Esse processo de inchaço urbano e esvaziamento rural foi mais intenso entre as décadas de 1960 e 1980 no Brasil.

2. Êxodo rural

Como “êxodo” é entendido o processo de retirada, ou ainda emigração. A crescente industrialização, fez com que muitas pessoas deixassem o campo e migrassem para as cidades. Esse fenômeno ocorreu em todas as regiões brasileiras, conforme mostra o gráfico:

Ilustração: Reprodução
Ilustração: Reprodução

Este fenômeno é conhecido como Êxodo Rural, e produz profundas consequências na organização urbana. No Brasil, este teve maior relevância entre os anos de 1960-1980, quando muitas pessoas deixaram o campo, deslocando-se para às cidades em busca de empregos nas fábricas. Com o avanço no meio técnico, a mão-de-obra no campo foi substituída pelos maquinários, expulsando as pessoas da terra, causando um inchaço urbano.

Na cidade, o produto do campo é transformado nas fábricas e, posteriormente revendido aos consumidores.

“A indústria impõe à cidade sua lógica centrada na produção e o espaço da cidade organizado como lócus privilegiado do excedente econômico, do poder político e da festa cultural, legitimado como obra e regido pelo valor de uso coletivo, passa a ser privatizado e subordinado ao valor de troca.” (MONTE-MÓR, 2006, p. 09)

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Assim, os produtos deixam de possuir seu valor original, de uso, e passam a ser valorizados pelo custo de troca. Neste processo, o “homem do campo” se torna mais uma vez subordinado à fábrica, pois vê sua produção ser transformada e acrescida de valor.

No caso brasileiro, o êxodo rural foi motivado por múltiplos fatores, como a expansão das fronteiras agrícolas, mas também o incentivo à formação de médias e grandes cidades, consideradas sinônimos do progresso. Esse fenômeno ocasionou diversos problemas urbanos, uma vez que houve a concentração destes migrantes nas mais desenvolvidas cidades do país. Os espaços que antes ainda preservavam características do urbano são tomados pelas investidas da modernidade.

Ilustração: Reprodução
Ilustração: Reprodução

O êxodo rural não produziu apenas consequências negativas, mas também pontos positivos neste processo.

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“O processo de urbanização influiu positivamente em alguns indicadores nacionais, no decorrer do século XX. Os principais exemplos foram a queda da mortalidade infantil (que passou da taxa de 150 mortes para cada mil nascidos vivos em 1940 para 29,6 em 2000), o aumento da expectativa de vida (40,7 anos de vida média em 1940 para 70,5 em 2000), a queda da taxa de fertilidade (6,16 filhos por mulher em idade fértil em 1940 para 2,38 em 2000) e o nível de escolaridade (55,9% de analfabetos em 1940 para 13,6% em 2000). Foi notável também a ampliação do saneamento e a ampliação da coleta de lixo domiciliar, mas apesar da melhora referida alguns desses indicadores ainda deixam muito a desejar.” (MARICATO, 2005, p. 01)

Embora tenham ocorridos estes efeitos positivos, diversos problemas foram originados pelo êxodo rural desenfreado. Um dos principais problemas foi a dependência do campo em relação à cidade. As pessoas que antes obtinham seu sustento com base nas atividades do campo, agora são forçadas a se submeterem às atividades industriais. Antes consumiam o produto do seu trabalho, agora precisam do dinheiro para comprar os produtos necessários.

Da mesma forma, a questão fundiária é um problema bastante discutido, pois existe uma inadequada distribuição das populações no território brasileiro, conforme mostra o mapa:

Ilustração: Reprodução
Ilustração: Reprodução

Um dos mais complexos desafios diz respeito à mobilidade urbana, uma vez que o uso de automóveis particulares foi disseminado (sociedade de consumo), em detrimento ao uso de transporte público. Além disso, o inchaço das cidades ocasiona a especulação imobiliária, quando as áreas mais centrais são valorizadas em detrimento das periféricas. Assim, as populações de baixa renda são comumente expulsas para as regiões mais marginais. Um dos fenômenos relacionados com a especulação imobiliária é a favelização. Com a valorização de algumas áreas, as pessoas “expulsas” de suas casas são “forçadas” aos espaços inadequados e até ilegais para moradia.

Referências

MARICATO, Ermínia. Questão Fundiária Urbana no Brasil e o Ministério das Cidades. 2005. Disponível em: usp.br
MONTE-MÓR, Roberto Luís. O que é o urbano, no mundo contemporâneo. Belo Horizonte: UFMG, 2006. p. 03-14.
SILVA, Angela Corrêa da (Org.). Geografia: contextos e redes. São Paulo: Moderna, 2013.

Luana Caroline
Por Luana Caroline

Mestre em Geografia (UNIOESTE); Licenciada em Geografia (UNIOESTE), Especialista em Neuropedagogia (ALFA-UMUARAMA) e Educação Profissional e Tecnológica (FACULDADE SÃO BRAZ).

Como referenciar este conteúdo

Künast Polon, Luana Caroline. Exôdo Rural. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/geografia/exodo-rural. Acesso em: 26 de April de 2024.

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1. [UFAC 2009] A intensa e acelerada urbanização brasileira resultou em sérios problemas sociais urbanos, entre os quais podemos destacar:

a) Luta pela posse da terra, falta de infraestrutura e altas condições de vida nos centros urbanos.
b) Falta de infraestrutura, limitações das liberdades individuais e altas condições de vida nos centros urbanos.
c) Aumento do número de favelas e cortiços, falta de infraestrutura e todas as formas de violência.
d) Conflitos e violência urbana, luta pela posse da terra e acentuado êxodo rural.
e) Acentuado êxodo rural, mudanças no destino das correntes migratórias e aumento no número de favelas e cortiços.

2. [UNIFAL 2008] Leia as afirmativas a seguir.

I – O êxodo rural é uma das causas da urbanização acelerada que acarreta, entre outros problemas, o aumento do desemprego e crescimento do setor informal das cidades nos países de industrialização tardia.
II – O crescimento da taxa de urbanização implica uma acentuada melhoria nas condições de vida da população dos países subdesenvolvidos.
III – O aumento das favelas, dos loteamentos clandestinos e da população sem-teto pode ser apontado como consequência do êxodo rural e da crescente urbanização.
Com base nessas afirmativas sobre urbanização, marque a alternativa correta.
A) Apenas I e II estão corretas.
B) Apenas I e III estão corretas.
C) Todas as alternativas estão corretas.
D) Apenas III está correta.

1. [C]

O inchaço urbano ocasionou sérios problemas relacionados ao uso do espaço urbano, com o aumento dos cortiços e das favelas. A falta de infraestrutura foi uma das consequências também, pois as cidades não estavam preparadas para receber tamanho contingente populacional. Com estes problemas, surgem ainda questões de violência, marcas da desestruturação das cidades.

2. [B]

Apenas as opções I e III estão corretas. A opção II não está correta, pois urbanização não significa apenas desenvolvimento. Os problemas acarretados pelo inchaço urbano são um desafio à qualidade de vida.

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