Uso das reticências

As reticências marcam uma interrupção, indicando suspensão na melodia frásica.

Segundo o gramático Domingos Paschoal Cegalla, são três as finalidades dos sinais de pontuação: assinalar as pausas e as inflexões da voz (entonação) na leitura; separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; e, por fim, esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.

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Em sua Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, Cegalla afirma que não é possível traçar normas rigorosas sobre o emprego dos sinais de pontuação, uma vez que não há uniformidade entre os escritores a respeito do assunto. No entanto, é possível tracejar as normas que o uso geral vem sancionando na atual língua escrita.

Neste artigo, veremos quais são os usos das reticências, sinal de pontuação que marca uma interrupção, indicando suspensão na melodia frásica.

O emprego das reticências

Na escrita, as reticências são a sequência de três pontos (…) que podem aparecer no fim, no início ou no meio de uma frase.

As reticências são utilizadas, principalmente, nos seguintes casos:

  • Para indicar suspensão ou interrupção do pensamento.

    Exemplos: Vim até aqui pensando que…
    “- Mas essa cruz, observei eu, não me disseste que era teu pai que…” (Machado de Assis)

    As reticências podem indicar, ainda, corte da frase de um personagem pelo interlocutor, nos diálogos. Observe o exemplo a seguir:

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    “- A instrução é indispensável, a instrução é uma chave, a senhora não concorda, dona Madalena?
    – Quem se habitua aos livros…
    – É não habituar-se, interrompi.” (Graciliano Ramos)

  • No meio do período, servindo para indicar certa hesitação ou breve interrupção do pensamento.

    Exemplos:

    “Porque… não sei, porque… porque é a minha sina…” (Machado de Assis)
    Não sei se ele vai, mas… mas… creio que será muito bom!

  • No fim de um período gramaticalmente completo, sugerindo certo prolongamento da ideia.

    Exemplo:

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    “Ninguém… A estrada, ampla e silente,
    Sem caminhantes adormece…” (Olavo Bilac)

  • Para indicar palavras suprimidas numa frase transcrita.
    Exemplo:

    “… o chefe dos pescadores… se arroja nas ondas…” (José de Alencar)

  • Para sugerir movimento ou continuação de determinado fato.

    Exemplo:

    “E a Vida passa… efêmera e vazia.” (Raul de Leoni)

  • Para realçar uma palavra ou expressão.

    Exemplo:

    Não há motivo para tanta… gritaria.

Referências

CEGALLA, Domingos P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 48. ed. rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

Débora Silva
Por Débora Silva

Formada em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas) pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com certificado DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera. Produz conteúdo web, abrangendo diversos temas, e realiza trabalhos de tradução e versão em Português-Espanhol.

Como referenciar este conteúdo

Silva, Débora. Uso das reticências. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/uso-das-reticencias. Acesso em: 28 de March de 2024.

Teste seu conhecimento

1. [CIAAR-2012] Leia os trechos abaixo e, em seguida,indique a alternativa que justifica o uso de reticências (“…”).

“Estamos cansados de saber disso, alguns de nós não se cansam em denunciar isso, mas…”

“É humano e é até melhor que assim seja para que o amargor não prevaleça 24 horas por dia e o ceticismo não se transforme em desesperança e simples niilismo,mas…”

a) Realizar citações incompletas
b) Representar hesitações da língua falada.
c) Indicar continuidade de uma ação ou fato.
d) Deixar em suspenso a ideia que está sendo apresentada.

2. [FCC-2009]
Atenção: A questão baseia-se no texto apresentado abaixo.

Liberdade minha, liberdade tua

Uma professora do meu tempo de ensino médio, a propósito de qualquer ato de indisciplina ocorrido em suas aulas, invocava a sabedoria da frase “A liberdade de um termina onde começa a do outro”. Servia-se dessa velha máxima para nos lembrar limites de comportamento. Com o passar do tempo, esqueci-me de muita coisa da História que ela nos ensinava, mas jamais dessa frase, que naquela época me soava, ao mesmo tempo, justa e antipática. Adolescentes não costumam prezar limites, e a ideia de que a nossa (isto é, a minha…) liberdade termina em algum lugar me parecia inaceitável. Mas eu também me dava conta de que poderia invocar a mesma frase para defender aguerridamente o meu espaço, quando ameaçado pelo outro, e isso a tornava bastante justa… Por vezes invocamos a universalidade de um princípio por razões inteiramente egoístas.
Confesso que continuo achando a frase algo perturbadora, provavelmente pelo pressuposto que ela encerra: o de que os espaços da liberdade individual estejam distribuídos e demarcados de forma inteiramente justa. Para dizer sem meias palavras: desconfio do postulado de que todos sejamos igualmente livres, ou de que todos dispomos dos mesmos meios para defender nossa liberdade. Ele parece traduzir muito mais a aspiração de um ideal do que as efetivas práticas sociais. O egoísmo do adolescente é um mal dessa idade ou, no fundo, subsiste como um atributo de todas?
Acredito que uma das lutas mais ingentes da civilização humana é a que se desenvolve, permanentemente, contra os impulsos do egoísmo humano. A lei da sobrevivência na selva – lei do instinto mais primitivo – tem voz forte e procura resistir aos dispositivos sociais que buscam controlá-la. Naquelas aulas de História, nossa professora, para controlar a energia desbordante dos jovens alunos, demarcava seu espaço de educadora e combatia a expansão do nosso território anárquico. Estava ministrando-nos na prática, ao lembrar os limites da liberdade, uma aula sobre o mais crucial desafio da civilização.
(Valdeci Aguirra, inédito)

Os dois casos de emprego de reticências, no primeiro parágrafo, têm em comum o fato de servirem a um enunciado

a) independente e sem consecução lógica.
b) cuja intenção é expressar uma ironia.
c) que ratifica a afirmação imediatamente anterior.
d) sem conexão lógica com a afirmação anterior.
e) que conclui a lógica da argumentação em curso.

1. [D]
2. [B]

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