Guerra Fria

A Guerra Fria foi uma disputa ocorrida no campo político-ideológico movida pela busca por hegemonia por parte de duas grandes potências mundiais do século XX.

A Guerra Fria foi um período da história contemporânea em que duas das maiores potências mundiais entraram em uma “guerra não declarada“, a fim de ampliar a influência e domínio das nações ao redor do mundo. Pode-se entender esse momento como “a guerra que não houve”, mas ela deixou consequências. Abaixo, entenda mais sobre o tema.

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O que foi a guerra fria

A Guerra Fria deve ser entendida como uma resposta das duas maiores potências mundiais após a perda do prestígio das nações europeias pós Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os Estados Unidos, protagonista do bloco capitalista, e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), líder do bloco socialista, passaram a disputar a hegemonia ideológica e política sobre as nações existentes, com o objetivo de conquistarem a liderança mundial.

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Sendo uma espécie de “guerra não declarada” ou um conflito militar indireto, as duas potências visavam conquistar aliados, expandindo suas áreas de atuação e influência. O ano de 1947 marca o início da Guerra fria, mas é apenas no ano 1953 que o mundo passa a assistir os seus primeiros efeitos e sintomas de amenização.

No cenário internacional, a oposição entre capitalismo e socialismo levada ao extremo pós 1945 fez emergir uma bipolarização política, ideológica, militar e, sobretudo, simbólica – no caso do muro de Berlim – que impactou todo o mundo contemporâneo.

Esse conflito durou até o fim da União Soviética, no ano de 1991, inaugurando no cenário mundial uma nova ordem econômica internacional protagonizada pelos Estados Unidos via capitalismo.

Características

Em mais de 4 décadas de conflito, é possível identificar algumas características que estiveram presentes no desenrolar desse processo histórico ocorrido no século XX. Veja:

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  • Polarização;
  • Antagonismo ideológico;
  • Corrida armamentista;
  • Corrida espacial;
  • Interferência estrangeira;
  • Conflitos indiretos.

É importante entender essas características como inter-relacionadas, visto que o antagonismo existente entre as potências protagonistas do conflito oferece sentido a todas as marcas citadas.

Os objetivos de uma Guerra Ideológica

De modo geral, compreende-se os objetivos dos EUA e da URSS na Guerra Fria ligados a uma busca por hegemonia ideológica e política. Para isso ser alcançado, ambos os protagonistas da disputa criaram recursos e instrumento a fim de legitimar práticas que comprovassem o poderio de cada sistema.

Segundo Hobsbawm, enquanto os norte-americanos possuíam objetivos e aspirações mais ligadas ao campo ideológico com o fim de influenciar as decisões políticas internas das nações, a União Soviética cultivava interesses mais pragmáticos voltados a como manter a influência ideológica no bloco comunista já estabelecido.

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Como foi a guerra fria em suas origens

A ausência de uma guerra bélica entre Estados Unidos e União Soviética foi sentida de forma totalmente distinta nas nas demais nações que sofreram os impactos desse conflito. Ou seja, mesmo considerada uma “guerra que não houve”, muitos países sofreram ataque e violência.

O início

O conflito travado entre Estados Unidos e União Soviética, embora não tenha chegado a acontecer diretamente, gerou inúmeras tensões e até mesmo ameaças de guerra. É nesse ambiente de ameaças que a Guerra Fria ganha o seu nome na história.

Entre 1945 até o ano 1991, existiu dois polos principais no poder, gerando um cenário bipolarizado e altamente competitivo, seja no campo político, econômico, diplomático, tecnológico e nuclear. O marco inicial dessa disputa foi um breve discurso que trouxe sérias consequências.

Declaração da Guerra Fria

O discurso do presidente norte-americano Harry Truman no Congresso americano, no dia 12 de março de 1947, marca o início da Guerra Fria. Em seu discurso, o presidente afirmou que os Estados Unidos estaria em prol das “nações livres” que estariam resistindo às tentativas de dominação. O objetivo de Truman seria o de combater o avanço comunista e a influência soviética. Tais medidas ficaram conhecidas como Doutrina Truman.

Ainda no ano 1947, o secretário de Estado, George Marshall, anuncia o Plano Marshall, fortalecendo ainda mais a posição dos Estados Unidos em ajudar a reconstruir a Europa das consequências do pós-guerra, reforçando sua liderança econômica no cenário internacional.

Por outro lado, os soviéticos estavam cientes do plano desenvolvido pelos norte-americanos e desenvolveram o Kominform – instituição encarregada de reunir os principais partidos comunistas europeus, criando assim a “cortina de ferro”, de modo a afastar a tentativa norte-americana de dominá-los. Ademais, no ano 1949, a URSS também cria o Comecon, com o intuito de integrar economicamente os países socialistas.

Sem dúvidas, um dos momentos mais conflituoso da Guerra Fria foi episódio do Bloqueio de Berlim, entre junho de 1948 e maio de 1949. Um dos desdobramentos desse conflito foi a divisão da Alemanha em zonas de influência: a República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental) em Bonn, aliada aos EUA, e a República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), sob a influência soviética.

Esse rompimento também foi evidenciado na cidade de Berlim, no ano 1961, através do muro de aproximadamente 45 quilômetros de extensão e 3 metros de altura construído pelos alemães orientais juntamente aos soviéticos a fim de impedir quaisquer tentativas de aproximação entre os dois lados da cidade. Segundo os historiadores, esse muro foi um dos maiores símbolos dos conflitos “frios” da guerra.

A declaração de guerra foi um fator essencial para a criação, na mentalidade social, de um clima combativo de ambos os lados. A perseguição e o terror, no campo externo e interno, foram cruciais para que o conflito continuasse sendo alimentado.

OTAN X Pacto de Varsóvia

As crescentes tensões entre as duas potências mundiais contribuíram para a formação de alianças militares protagonizadas pelos protagonistas da Guerra Fria. No mês de abril de 1949, forma-se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), reunindo países capitalistas.

Inicialmente essa aliança foi formada por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Portugal, Itália e Finlândia. Posteriormente, juntaram-se a Otan, Grécia,Turquia e Alemanha Ocidental.

Em suma, a Otan partia da seguinte premissa: um ataque a um país-membro da aliança seria considerado um ataque contra todos os países. Contudo, é em oposição a essa iniciativa que o bloco comunista cria, em 1955, o Pacto de Varsóvia, reunindo forças militares dos seguintes países: Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia e Romênia.

Esse cenário histórico de intensa polarização política revela o ápice das investidas norte-americanas e soviéticas na tentativa de alcançarem a liderança mundial. Por mais que os Estados Unidos tenham se movido, conforme aponta o historiador Eric Hobsbawm, por um discurso alarmista frente à União Soviética, esta última não tinha pretensões expansionistas e não desejava atuar fora da zona de influência própria, no Leste Europeu.

Além das alianças militares, outra forma bastante comum de tirar vantagem dos países lidados a uma das grandes potências da época era a espionagem, seja via satélite ou, nos casos mais corriqueiros, por meio de agentes de espionagem infiltrados nas principais instituições administrativas e de poder político.

Principais conflitos na era do medo

Apesar da tensão existente entre Estados Unidos e União Soviética ter se movido de forma indireta, muitos países asiáticos sentiram os desdobramentos da disputa. Abaixo confira alguns dos principais acontecimentos:

  • Revolução Chinesa: antes do início da Guerra Fria a China já vivenciava um processo de transformação política, devido à influência da ideologia comunista, por meio de Mao Tsé-tung. Ainda na primeira metade do século XX, o país vivia uma disputa movida por dois grupos, os comunistas (apoiados pela União Soviética) e os nacionalistas (apoiados pelos EUA). Após o fim da Segunda Guerra, houve o fortalecimento das forças comunistas no país, levando-os a uma vitória sobre os interesses dos nacionalistas, em 1949.
  • Guerra das Coreias: sendo o primeiro conflito existente no pós-guerra, entre 1950 e 1953, a Guerra da Coréia foi fruto da divisão da península coreana realizada pelos norte-americanos e soviéticos, uma expressão clara da Guerra Fria. Essa divisão fez com que o norte da Coreia, governada por um governo comunista, invadisse a parte sul da península, a fim de reunificar o país. Após uma longa disputa, os conflitos cessaram sem um vencedor.
  • Crise dos Mísseis em Cuba: a Crise dos Mísseis se deu devido à instalação de bases de mísseis em solo cubano. Apesar de não representar uma ameaça aos norte-americanos, foi suficiente para que o governo americano exigisse a retirada dos mísseis soviéticos. Em meio a uma forte crise diplomática, os soviéticos cederam às exigências retirando seus mísseis de Cuba.
  • Guerra do Vietnã: ocorrida entre 1959 e 1975, a Guerra do Vietnã se caracteriza como um dos conflitos mais marcantes do período de Guerra Fria. Estando o país dividido, assim como na Coreia, os norte-americanos enviaram tropa militares para auxiliar o Vietnã do Sul, combatendo, portanto, as forças militares do Vietnã do Norte. Sendo uma investida custosa, os norte-americanos perderam a disputa, retirando-se do Vietnã em 1973. Mas em 1976, o país foi reunificado sob a liderança do Vietnã do Norte.
  • Corrida espacial e armamentista: com o passar das décadas, tornou-se comum perceber as disputas tecnológicas e científicas em torno dos conflitos. A disputa entre os dois protagonistas da guerra conduziu ambos a um investimento pesado em armas de destruição em massa, bombas nucleares, assim como na exploração do espaço, de modo a superar os limites até então existentes.

Consequências da Guerra Fria

A Guerra Fria é considerada pelos historiadores como o evento histórico responsável por configurar o mundo contemporâneo, visto que seus desdobramentos estão presente até hoje em diversas regiões do mundo.

  • Dissolução da União Soviética e do Socialismo: a queda da União Soviética foi um marco final da Guerra Fria, mas ao mesmo tempo sugere que o fim de um dos protagonistas do conflito não tenha anulado totalmente as influências exercidas por este ao longo das décadas. O fim trouxe rompimentos, mas também continuidades.
  • Fortalecimento da Democracia-liberal: ]o fim da União Soviética inaugurou uma nova ordem internacional no cenário mundial, tendo o capitalismo como fundamento maior, protagonizado ainda mais pelos Estados Unidos.
  • Queda do Muro de Berlim: construído em 1961, o Muro de Berlim simbolizou o antagonismo político-ideológico entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. A queda do muro, em 1989, representou a derrubada do bloco comunista da Europa, assim como a diminuição da influencia soviética, levada a cabo pela crise política e econômica que a URSS vivia.
  • Modificação da Geopolítica mundial: assim como a queda do Muro de Berlim que, um ano depois, iria reunificar a Alemanha como um todo, a principal consequência da Guerra Fria no cenário internacional foi, sem dúvidas, a reconfiguração dos territórios nacionais. O colapso da União Soviética, em especial, contribuiu para que muitas repúblicas, outrora socialistas, pudessem definir seus territórios tendo suas soberanias legalmente reconhecidas, como a Ucrânia, Estônia, entre outros.
  • Desenvolvimento tecnológico: com o objetivo de reafirmar o poderio do sistema político-econômico em que estavam envolvidos, EUA e URSS buscaram de todas as formas investir em novas tecnologias, tornando possível muitos recursos ainda presentes nos dias atuais, como as armas nucleares.

As consequências da Guerra Fria ainda são latentes no tempo presente e mesmo que o conflito esteja encerrado seus desdobramentos ainda influenciam o mundo.

Mapa mental

Como forma de resumir todo esse processo histórico complexo e marcado por tantas contribuições, confira um mapa mental esquemático para facilitar e otimizar os seus estudos:

guerra fria

Gostou desse esquema visual bem resumido? Abaixo, assista a alguns vídeos que irá contribuir ainda mais no seu entendimento em torno do tema.

Vídeos sobre a “guerra não declarada”

Com essa seleção de vídeos, você compreenderá melhor o contexto histórico da Guerra Fria e aprenderá mais sobre as suas principais causas e desdobramentos.

A Guerra Fria através das espionagens

Neste vídeo, o professor Felipe Figueiredo do canal “Nerdologia faz um panorama geral da Guerra Fria enquanto conflito ocorrido num cenário geopolítico bipolarizado. Além disso, o vídeo também traz uma característica comum desse processo histórico: a espionagem – utilizada como estratégia política pelos Estados Unidos e União Soviética.

“Uma guerra improvável, uma paz impossível!”

Acima, o canal “Historiar-te” descreve – e desenha- quais foram as principais causas da Guerra Fria, suas principais consequências e impactos no mundo. Um vídeo introdutório e bastante didático para quem deseja conhecer mais sobre o tema!

Resumo da Guerra Fria

A Guerra Fria não se resume a duas potências mundiais, por mais que elas tenham protagonizado o conflito indireto envolvendo várias nações. É sobre isso que o vídeo da professora de história Debora Aladim trata. Confira e se aprofunde no tema!

Estudar a Guerra Fria é um exercício importante que equivale a olhar para o mundo tal como ele é hoje entendendo que ele foi moldado significativamente por esse conflito. Para conhecer mais desse período, não deixe de saber sobre o Vladimir Putin, atual presidente da Rússia.

Referências

História Geral das civilizações (1975) – Maurice Crouzet
História da Guerra Fria (2006) – John Lewis Gaddis

Thiago Abercio
Por Thiago Abercio

Historiador e mentor educacional formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor de História e de Repertório cultural e Ideias, redator e analista de conteúdo. Atualmente realiza pesquisas na área de História da arte e das mentalidades.

Como referenciar este conteúdo

Abercio, Thiago. Guerra Fria. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/guerra-fria. Acesso em: 24 de April de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [Instituto AOCP]

Assinale a alternativa que NÃO se relaciona ao momento histórico denominado Guerra Fria.

a) As bombas atômicas atiradas em Hiroshima e Nagasaki pelos norte-americanos também ajudaram a eclodir o conflito da Guerra Fria.

b) A chamada Doutrina Truman tinha como objetivo impedir a expansão do comunismo no que se considerava como países democráticos.

c) Criou-se o Conselho de Assistência Mútua econômica (COMECON), com o objetivo de integrar as economias da URSS e dos países do Leste Europeu, criando um mercado comum.

d) Os Estados Unidos criaram uma série de programas que foram implementados com o objetivo de recuperar e reformar a economia, além de auxiliar os prejudicados pela Grande Depressão.

e) A tensão diplomática entre Washington e Moscou por conta dos mísseis que estavam sendo instalados na ilha de Cuba.

d) Os Estados Unidos criaram uma série de programas que foram implementados com o objetivo de recuperar e reformar a economia, além de auxiliar os prejudicados pela Grande Depressão.

A Guerra Fria não compreende o momento histórico denominado de “Grande Depressão”, ocorrida em 1929, como fruto da crise econômica da Bolsa de Valores.

2. [CPCON]

A Guerra Fria, iniciada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), polarizou o contraste ideológico entre o capitalismo e socialismo, aprofundando um cenário de disputa internacional por novas tecnologias, armas nucleares, poder econômico, político e militar. Aqueda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991) são fatos que simbolizaram o fim da Guerra Fria.

Sobre o tema, é CORRETO afirmar:

a) Com o fim da bipolarização entre capitalismo e o socialismo, as diferenças econômicas e sociais entre os países ricos e países pobres terminaram, havendo uma hegemonia do capitalismo, que busca desenvolver o princípio da igualdade.

b) A Nova Ordem Mundial assinala o fim da bipolaridade entre União Soviética e Estados Unidos. Contudo, inicia-se uma nova guerra contra o terrorismo cujo principal objetivo é trazer a possibilidade de uma abertura de diálogo entre as grandes potências mundiais e os países periféricos.

c) Após a Guerra Fria, surge uma nova lógica internacional, com novos blocos econômicos regionais; Japão, União Europeia e China destacam-se como centros políticos e econômicos de poder. Além disso, a nova divisão internacional evidencia, sob o crivo econômico, a distinção entre os países do Norte desenvolvido e do Sul subdesenvolvido.

d) Está cristalizada a divisão Norte–Sul, sendo impossível nação subdesenvolvida tornar-se desenvolvida e vice-versa.

e) O Brics apresenta, frente à Nova Ordem Mundial, a polarização econômica que marcou o mundo após a Guerra Fria entre os países imperialistas e as nações neocoloniais.

c) Após a Guerra Fria, surge uma nova lógica internacional, com novos blocos econômicos regionais; Japão, União Europeia e China destacam-se como centros políticos e econômicos de poder. Além disso, a nova divisão internacional evidencia, sob o crivo econômico, a distinção entre os países do Norte desenvolvido e do Sul subdesenvolvido.

O fim da URSS marca o fim da Guerra Fria e dá início a uma nova ordem internacional pautada em moldes capitalistas. Esse novo cenário econômico, é protagonizado por outras países que passam a exercer influencia no mundo.

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